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Apesar de toda a força contrária às políticas de saúde mental antimanicomial, seguimos resistindo. Antes de concluir os caminhos históricos da saúde mental após 2015, jamais poderemos deixar de citar um marco importante que ocorreu nos dias 8 e 9 de dezembro de 2017 na cidade de Bauru, estado de São Paulo. Neste período, realizou-se um evento para propor discussões e debates sobre as políticas públicas atuais no campo da saúde mental, no entanto, a data e o local escolhidos foi em menção ao primeiro encontro de Bauru, que ocorreu em dezembro de 1987. Há 30 anos, o primeiro Encontro de Bauru foi organizado por trabalhadores ligados aos hospitais psiquiátricos e que se posicionavam contra as políticas públicas vigentes, incluindo aumento de leitos nos manicômios. No evento de 1987, iniciava- se um importante movimento e um manifesto foi assinado por 350 profissionais da área de saúde, a chamada Carta de Bauru36. Nela, continha as principais reivindicações para transformar

a política manicomial e garantir direitos básicos aos pacientes. Esse documento tornou-se conhecido internacionalmente e é o principal manifesto na luta contra as instituições da violência. Também em Bauru, em 1987, ocorreu a primeira passeata pelo fim dos hospitais psiquiátricos.

Segundo noticiado pelo sito do CFP (2017), a tônica dos discursos de abertura do evento intitulado “Encontro de Bauru: 30 anos de luta por uma sociedade sem manicômios” foi: “Nenhum passo atrás! Manicômio nunca mais". O local de realização do movimento foi na Universidade Sagrado Coração, contando com a participação de mais de 1,8 mil pessoas, entre usuários da saúde mental, profissionais, professores e estudantes de todo o Brasil. Ainda, contou com representantes da Articulação Nacional do Encontro de Bauru e de movimentos da luta antimanicomial, como o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial (MNLA) e a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila). Os representantes da articulação

36 A carta foi disponibilizada pelo site do CFP, podendo ser lida na íntegra acessando o link:

nacional do encontro fizeram um histórico apresentando os desafios atuais da luta antimanicomial, salientando, inclusive, que não basta racionalizar os serviços, é necessário combater a opressão e a discriminação nas instituições e lutar pelos direitos de cidadania e por melhores condições de vida dos doentes mentais, para isso, urge inventar novos diálogos e uma nova política pública de saúde mental.

A programação foi marcada por atividades culturais e homenagens póstumas a militantes da luta antimanicomial que ajudaram a redigir a Carta de Bauru, de 1987; prosseguiu com rodas de conversa e a apresentação pública da Escola de Samba carioca Viradouro, que levou ao sambódromo em 2018 o samba enredo: “a loucura como potência criadora”.

Por fim, foi redigida nova carta37, apresentando as conquistas nesses últimos anos,

dentre eles, a redução significativamente dos leitos em hospitais psiquiátricos, possibilitando exercer no território o cuidado em liberdade; a criação de novos serviços e redes, arranjos e experiências, dentre eles, a construção de milhares de CAPS, ações na atenção básica, o Programa de Volta Pra Casa, entre outros; a construção de uma política de cuidado às pessoas em uso de álcool e outras drogas, antiproibicionista, na perspectiva da redução de danos, atrelada à defesa de seus direitos. No cuidado à infância e juventude, o documento aponta os enfrentamentos à medicalização e à criminalização. A carta denuncia a globalização e a hegemonia da ideologia neoliberal, produtoras de desigualdades (1% da população mundial tem mais riquezas que os outros 99%) que, consequentemente, ferem o cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Ainda, evidencia o golpe de 201638, que resultou na ampliação do processo vigente

37 A carta foi disponibilizada pelo site do CFP, podendo ser lida na íntegra acessando o link:

https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2017/12/CARTA-DE-BAURU-30-ANOS.pdf. Visualizada em 31 maio 2018.

38Segundo o site do Senado (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/12/28/impeachment-de-dilma-

rousseff-marca-ano-de-2016-no-congresso-e-no-brasil, acesso em 09 mar. 2018), publicado em 28 de dezembro de 2016, “o processo de impeachment de Dilma Rousseff teve início em 2 de dezembro de 2015, quando o ex- presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha deu prosseguimento ao pedido dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Com uma duração de 273 dias, o caso se encerrou em 31 de agosto de 2016, tendo como resultado a cassação do mandato, mas sem a perda dos direitos políticos de Dilma. Na justificação para o pedido de impeachment, os juristas alegaram que a então presidente havia cometido crime de responsabilidade pela prática das chamadas "pedaladas fiscais" e pela edição de decretos de abertura de crédito sem a autorização do Congresso”. No início letivo do ano de 2018, várias universidades brasileiras, implementaram em suas ementas a disciplina que compreende o impeachment como Golpe de Estado, conhecido como o “Golpe de 2016”. O Jornal O Povo publicado em 08/03/2018 (https://www.opovo.com.br/noticias/politica/2018/03/aula- sobre-golpe-de-2016-na-ufc-tem-criticas-a-moro-e-a-intervencoes.html, acesso em 09 mar. 2018), noticiou o início da disciplina na Universidade Federal do Ceará (UFC). Oferecida pelo curso de História, a turma "Tópicos Especiais em História IV" em sua primeira aula denunciou o "ilegítimo governo" de Michel Temer (PMDB), e teceu críticas ao juiz Sérgio Moro e a intervenções militares nos estados. O jornal apresenta a fala do professor Newton Albuquerque, do curso de Direito da UFC: "O golpe, que começou com o Judiciário no centro, agora vai se desdobrando e já transita para o militarismo". Um dos 27 juristas que assinam livro criticando condenação do ex-presidente Lula (PT) por Moro, defendeu a tese de que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) foi, sim, um

de privatização e na redução de recursos para as políticas públicas sociais, da previdência, educação, trabalho e renda e saúde; salienta o ataque ao SUS, com a diminuição do financiamento e a desfiguração de seus princípios de universalidade, equidade e integralidade. Conclama a sociedade a fortalecer a luta por um processo de educação permanente contra: o retrocesso da saúde mental, o avanço do conservadorismo e a criminalização dos movimentos sociais. Aponta a importância de articulação da Luta Antimanicomial com os movimentos feministas, negro, LGBTTQI, entre outros.