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Maurício de Sousa trabalhava como repórter policial do jornal Folha de São Paulo quando começou a criar histórias em quadrinhos, nos anos 50. De acordo com Álvaro de Moya, a primeira tira – que tinha como personagens o cachorrinho Bidu e seu dono Franjinha – foi publicada em 1959, pela Folha de S. Paulo.

(A publicação inaugurou) a galeria de tipos de Maurício que viria a ser o absoluto criador de maior resposta popular no Brasil, com merchandising, revistas, tiras de jornais (em distribuição e estilo norte-americano), televisão, cinema, publicidade e brinquedos, conhecido pela totalidade das crianças brasileiras. Um fenômeno (MOYA, 1993, p. 177).

Em 1963, o quadrinista criou Mônica, a menina que viria a ser a estrela de sua galeria de personagens. No princípio, a garota baixinha e dentuça seria apenas uma personagem feminina com a função de contracenar com Cebolinha, Franjinha e Bidu, que já faziam parte das histórias de Maurício de Sousa nas tiras de jornais. O desenhista conta como surgiu a personagem:

A inspiração veio da minha filha Mônica de 2 anos. De personalidade forte e dentucinha, ela não se separava de seu coelho de pelúcia e usava sempre um vestidinho vermelho. Um dia, a Mônica apareceu com o cabelo cheio de falhas, resultado de uma brincadeira de ‘cabeleireira’ da irmã. Quando vi aquele corte de cabelo todo escorridinho, me lembrei das suas outras características, soltei a imaginação e achei que tinha encontrado a minha personagem. Depois de alguns esboços eu me tornei pai de uma outra Mônica, a dos quadrinhos (SOUSA, 2002, p. 06).

A menina dentuça conquistou os leitores e foi ganhando espaço, não só nas tiras, mas nas páginas semanais do Cebolinha, publicadas em jornais. Com o sucesso, a personagem acabou estrelando a primeira revista de Maurício de Sousa: Mônica e sua Turma, publicada em 1970. Cebolinha – o menino de cabelos espetados, que troca o “R” pelo “L” ao falar – teve sua primeira revista em 1973. As revistas do Cascão – menino que tem aversão a água e nunca tomou banho –

e do Chico Bento – o caipira que vive na roça – foram publicadas em 1982. Em 1989, foi a vez de Magali – garota comilona, também inspirada em uma das filhas do desenhista – ter a sua própria revista. As publicações não se restringem às histórias dos personagens principais. Contam com a participação de outras figuras no elenco, como o dinossauro Horácio, os adolescentes Tina, Rolo, Pipa e Zecão, a turma do Penadinho e o índio Papa Capim.

As revistas da Turma da Mônica começaram a ser publicadas pela Editora Abril. Foram para a Editora Globo em 1986, onde ficaram por 20 anos, até Maurício de Sousa assinar contrato com a editora multinacional Panini, a partir de janeiro de 2007. Antes de tudo isso, em 1960, o quadrinista participou da montagem de uma gráfica formada exclusivamente por desenhistas brasileiros – a Continental, que passou a se chamar Outubro, e depois Gep. Lá, Maurício de Sousa fez uma tentativa frustrada de publicar seu primeiro gibi – Bidu (MOYA, 1993). A revista, com desenhos em preto-e-branco, circulou poucas vezes. Sem dinheiro, o quadrinista voltou a se dedicar à produção e comercialização de tiras de jornais (GUSMAN, 2006).

O trabalho de Maurício de Sousa, segundo ele afirmou em entrevista à Folha de São Paulo, no dia 18 de março de 2006, se divide por décadas. A década de 1960 teve como marco a distribuição de tirinhas para jornais. Os anos 70 foram marcados pelas revistas em quadrinhos. Na década de 80, os estúdios de Maurício de Sousa investiram nos desenhos animados e, em 90, nos parques temáticos. A década de 2000 foi definida pelo desenhista como a “década da internacionalização”.

Os desenhos de Maurício de Sousa, há muito, têm fama internacional. Em 2002, os personagens da Turma da Mônica eram conhecidos em mais de 60 países (SOUSA, 2002). De acordo com o desenhista, as histórias da Turma são publicadas em, aproximadamente, 18 idiomas, em quase 30 países – o que, segundo ele, comprovaria a tese de que as histórias são

universais e aplicáveis a qualquer mercado do mundo.10 O contrato com a editora Panini, que é

uma empresa multinacional italiana, teve como objetivo facilitar a publicação e a distribuição das revistas fora do país, principalmente na Europa.

No universo representacional de Maurício de Sousa, as histórias giram em torno de crianças que vivem no fictício bairro do Limoeiro (com exceções, como o caipira Chico Bento, que vive na zona rural; o Astronauta, que viaja pelo espaço; e os personagens pré-históricos, como o Piteco).

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Entrevista a Sydney Gusman, na publicação Maurício de Sousa – Biografia em Quadrinhos (Panini Comics/ Estúdios Maurício de Sousa, setembro de 2007)

À medida que se popularizaram, os personagens passaram a fazer parte de um esquema industrial e começaram a ser produzidos por uma grande equipe – e não apenas pelo criador da Turma da Mônica. Em Apocalípticos e Integrados, Umberto Eco alerta para a industrialização dos quadrinhos. “A melhor prova de que a estória em quadrinhos é produto industrial de puro consumo é que, embora uma personagem seja inventada por um autor genial, dentro em pouco esse autor é substituído por uma equipe, sua genialidade se torna fungível, e sua invenção, produto de oficina” (ECO, 2001 p. 285).

Inseridos na indústria cultural, os personagens do desenhista não se restringem às histórias em quadrinhos. Diversificam-se e inspiram outros produtos. “A galeria de tipos criados por Maurício de Sousa adequa-se tanto às exigências da cultura de massa que suas histórias são publicadas em vários países e seus personagens são licenciados como marca para inúmeros produtos, além de terem sido transformados em desenhos animados, brinquedos e em parque temático” (OLIVEIRA, 2007, p. 132). Maurício de Sousa contabiliza mais de 300 personagens,

sendo 60 comerciais11.

Em janeiro de 2007, Maurício de Sousa deu início a uma nova fase. As revistinhas passaram a ser publicadas pela editora italiana Panini – multinacional que detém também os direitos dos super-heróis Marvel e DC e que, com a nova parceria, tornou-se a maior editora de quadrinhos infantis do Brasil. Maurício de Sousa deixou a Editora Globo – com quem manteve contrato por 20 anos – para tentar uma expansão no mercado internacional. A parceria com a Panini também proporcionou a criação de novos produtos, como a revista Turma da Mônica Jovem – na qual os personagens aparecem já adolescentes. As histórias da Turma crescida são produzidas em estilo Mangá, em uma proposta diferente das revistas infantis, que continuam sendo produzidas sem alterações.

O resgate do passado de Maurício de Sousa é outra proposta dessa nova fase dos estúdios do desenhista. A Panini lançou no início de 2008 a coleção histórica da Turma da Mônica, com a republicação dos primeiros números das revistas da Mônica, do Cebolinha, do Cascão, da Magali e do Chico Bento. As tiras publicadas por Maurício de Sousa na década de 1960, no jornal Folha de S.Paulo, também foram reeditadas. O material está compilado na coleção “As tiras clássicas da Turma da Mônica”, que já teve quatro volumes publicados.

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As revistas em quadrinhos de Maurício de Sousa têm como característica um grande sucesso editorial. Mesmo nos momentos em que a venda em bancas de revista sofre uma retração, a Turma da Mônica se destaca, em comparação com outras publicações. De acordo com artigo escrito por Gonçalo Júnior na revista Cult (ano 10, número 111, março de 2007, p. 44), em 2002, Maurício de Sousa somava três milhões de revistas por mês. Esse número teria caído a um terço em 2007. A queda é brusca, mas menor do que a registrada pelas revistas de super-heróis vendidas no Brasil. Atualmente, estas publicações circulam com 20 mil exemplares. De acordo com Gonçalo Júnior, nos anos 80, eram 150 mil exemplares. O novo produto de Maurício de Sousa, a revista Turma da Mônica Jovem, mal chegou às bancas e já surpreendeu as expectativas dos editores. A tiragem inicial seria de 50 mil exemplares, mas a procura foi tanta que o primeiro número teve 220 mil exemplares rodados.