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2 TEORIA GERAL DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

3.4 TUTELA ESPECÍFICA DAS PESSOAS JURÍDICAS

Não apenas as pessoas físicas, mas também as jurídicas são titulares de direitos da personalidade. É lógico que estas últimas não se equiparam integralmente às pessoas físicas, sendo-lhes aplicável tão somente os direitos da personalidade compatíveis com sua própria natureza e essência. Também por isso, não há como se atribuir razão aos que entendem ter ocorrido certa subversão do escalonamento hierárquico-axiológico esculpido no ordenamento legal.

BITTAR97, por seu turno, afirma serem os direitos da personalidade plenamente compatíveis com a pessoa jurídica pois, como entes dotados de personalidade pelo ordenamento positivo, fazem jus ao reconhecimento de atributos intrínsecos à sua essencialidade, como por exemplo, os direitos ao nome, à marca, a símbolos e à honra.

As pessoas jurídicas, desta forma, são investidas de direitos análogos aos direitos da personalidade, sendo privadas somente daqueles direitos cuja existência esteja intrinsecamente ligada à personalidade humana, vez que nem todos os direitos da personalidade harmonizam-se com a feição e a natureza própria das pessoas jurídicas.

Walter Moraes98, objetivando sanar dificuldades, em torno dessa limitação, propõe a construção de um direito da personalidade jurídica inteiramente distinto da natural, reduzindo a tutela para o direto à honra, à intimidade e à autoria em obra intelectual. Embora não desça a pormenores, Código Civil de 2002, por seu turno, afastou qualquer dúvida quanto á extensão protetiva, ainda que se observe, no seu art 52 que “aplica-se as pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”.

Assim, diante dessa inovadora disposição legal, não mais há espaço para controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais acerca do tema, estando a pessoa jurídica e a pessoa física no mesmo patamar no tangente a titularidade aos direitos da personalidade e sua respectiva tutela, respeitada, é claro, a limitação retro mencionada. O direito ao nome, portanto, integra a personalidade da pessoa jurídica, constituindo-se um elemento de identificação que visa sua individualização perante a sociedade, sendo tutelado pela Constituição Federal em seu artigo 5, XXXIX e no artigo 33 da Lei 8934/94.

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97 - BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 2. 98 - MORAES, Walter. apud. REZENDE, Márcio Leite de. O dano moral e a pessoa jurídica (2002). Disponível em <http://www.apese.org.br/abrir.asp?id=32>. Acesso em: 20/04/2003.

Ao proteger o nome da pessoa jurídica, a lei permite, em conseqüência, que esta não apenas utilize o nome, mas também que possa defendê-lo de quem injustamente o usar ou macular, sendo-lhe permitido pleitear respectiva reparação, mediante a supressão do uso impróprio do nome, além de compensação pecuniária e indenização pelos danos morais e materiais porventura sofridos.

Acresça-se que identidade da pessoa jurídica é composta, ainda, do título do estabelecimento. Ou seja do nome empregado pelo empresário para identificar o local onde a atividade é exercida, podendo ser um nome de fantasia, um termo relativo à atividade empresarial ou o próprio nome empresarial. Essa identidade é tutelada de forma indireta pela Lei 9279/96, em seu artigo 209 por exemplo, que também alcança através dos seus artigos 122 a 182 o símbolo figurativo da pessoa jurídica, constituído pela marca, sinal ou expressão destinados a sua individualização, a de seus produtos ou serviços..

Da mesma forma, o direito à imagem também é titulado pela pessoa jurídica, sendo este compreendido como conceito abstrato e não visual desta. Diz respeito à sua honra objetiva que deve ser resguardada, vez que a imagem da pessoa jurídica constitui-se fator de sucesso, por exemplo, de uma empresa perante seus consumidores.

BITTAR99 reconhece incidir em favor da pessoa jurídica o direito à intimidade e ao segredo, afirmando que a violação a tais direitos oferece à reparação por dano material e moral daí resultantes. O direito ao segredo faz parte da tutela relativa à preservação da vida interna da pessoa jurídica, vedando-se a divulgação de informações de âmbito restrito. Por seu turno, o direito à intimidade abrange também a privacidade de local, englobando, por exemplo, conversas reservadas, escritos sigilosos, guardados e gavetas fechadas.

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Também é titular a pessoa jurídica de direito ao sigilo comercial e industrial, sendo considerados violação atos de intromissão, divulgação e uso indevido dos fatos ou atos considerados confidenciais. A importância desse direito revela-se significativa uma vez que recai sobre a reserva que deve ser mantida na atividade negocial, como corre, por exemplo, na hipóte de transferência de tecnologia. O direito moral do inventor encontra amparo na Magna Carta, artigo 5, XXIX e na Lei 9279/96, artigo 44. Observa-se que, ao contrário do direito moral do autor, cuja lei veda ser a pessoa jurídica titular de forma originária, a pessoa física pode ser titular de patente de invento, conforme dispõe os artigos 88 e 91 da Lei de Propriedade Industrial.

Por fim, BITTAR100 considera a pessoa jurídica titular do direito à liberdade, afirmando tratar-se, no caso, de liberdade de associação e de exercício de sua atividade, respeitada a intervenção do Estado, quando necessária, dentro dos modelos do neoliberalismo. O bem jurídico protegido consiste, portanto, na liberdade, a prerrogativa de fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

Em síntese, o reconhecimento jurisprudencial de que a pessoa jurídica pode ser titular de direitos da personalidade não mais pode ser afastado. Hoje, sobranceira, desponta a palavra firme e forte do diploma civil de 2002, não mais havendo espaço para discussões sobre o tema.