• Nenhum resultado encontrado

Tutorias: reflexões semanais sobre o percurso educativo

Capítulo IV – Percurso de investigação e procedimentos metodológicos

4. Observação não participante

4.1. Tutorias: reflexões semanais sobre o percurso educativo

As tutorias são configurações de em média oito estudantes de um mesmo núcleo (Iniciação, Consolidação ou Aprofundamento), que ficam vinculados a um professor (tutor).

O tutor é escolhido pelos próprios educandos nas primeiras semanas do ano letivo, e acompanha diretamente o seu desenvolvimento, sendo o principal canal de comunicação da escola com as famílias48. Cada aluno apresenta uma lista com três nomes de orientadores educativos, na ordem da sua preferência, para que um destes seja o seu tutor.

Na Escola da Ponte há um planeamento quinzenal de afazeres e semanalmente os grupos de tutoria se reúnem durante a manhã para elaborá-lo e/ou para o seu monitoramento.

É nesse momento que se abrem e se fecham as quinzenas de trabalho, arquivam-se os exercícios finalizados, tiram-se dúvidas, compartilham-se propostas, estimula-se a reunião com os grupos de Responsabilidade49, a participação nas assembleias e nas atividades externas.

48 RIEP: Artigo 11.º - Tutoria

1. O acompanhamento permanente e individualizado do percurso curricular de cada aluno caberá a um Tutor escolhido pelos alunos, designado para o efeito pelo Coordenador de Núcleo de entre os Orientadores Educativos do respetivo Núcleo. (...) 3. Incumbe ao Tutor, para além de outras tarefas que lhe venham a ser atribuídas pelo Conselho de Gestão, ouvido sempre o Conselho de Projeto:

a. Providenciar no sentido da regular a atualização do dossier individual dos alunos tutorados, especialmente, dos respetivos registos de avaliação;

b. Acompanhar e orientar, individualmente, o percurso educativo e os processos de aprendizagem dos alunos tutorados; c. Manter os Encarregados de Educação permanentemente informados sobre o percurso educativo e os processos de aprendizagem dos alunos tutorados;

d. Articular com os Encarregados de Educação e com os demais Orientadores Educativos as respostas a dar pela Escola aos problemas e às necessidades específicas de aprendizagem dos alunos tutorados;

e. Comunicar com os Encarregados de Educação no sentido destes conhecerem o grau de assiduidade/pontualidade do seu educando;

f. Estabelecer nas situações de ausência justificada às atividades escolares, em articulação com os restantes Orientadores Educativos do Núcleo, medidas adequadas à recuperação das atividades não realizadas.

49 Tais grupos foram mencionados no tópico 2 do presente capítulo e serão analisados mais detalhadamente no item 3 do capítulo V.

94 Como esclarece Pacheco (2004:104) “a liberdade permitida a cada criança é concedida na proporção do que ela é capaz de utilizar. O plano da quinzena dos alunos é muito negociado com os professores”.

Durante a observação que realizamos nesses encontros semanais, vimos educadores e educandos lado a lado em mesas redondas, conversando sobre o dia-a-dia, dialogando sobre a evolução dos estudantes no cumprimento das tarefas com as quais se comprometeram e identificando conjuntamente suas principais dificuldades.

São momentos de balanço e de pontos de situação, que propiciam a interação não só entre os elementos de um mesmo grupo como também entre os grupos diversos, aproximando todos os que integram o núcleo e promovendo a comunicação mais estreita com as famílias, pois nesta ocasião é também revisado o caderno de recados.

Ali também são divulgadas iniciativas educativas do Concelho, recolhidas sugestões para festividades da escola e organizada a forma pela qual cada um se envolverá.

Como os grupos de tutoria reúnem-se em um mesmo espaço por núcleo (Iniciação, Consolidação e Aprofundamento) e cerca de 60 pessoas se veem e circulam continuamente, também o trabalho colaborativo entre os professores-tutores é uma constante.

Presenciamos várias situações em que os tutores dialogam entre si e com alunos de outras tutorias, promovem atividades lúdicas com estes, incentivam trabalhos de grupo como a elaboração conjunta de power points sobre temas escolhidos pelos alunos e verificam a necessidade de reposição do material escolar, que é de uso coletivo.

Pacheco (2004:105-106) afirma que “na Ponte, não estando os alunos divididos por turmas, os professores são professores de todos os alunos”, mas alerta que “não há neutralidade na relação” e que “os professores e os alunos manifestam livremente as suas preferências, sem que isso afecte negativamente o sistema de relações”50.

Observamos que professores que não são tutores de determinado aluno também podem convidá-lo para que participem de alguma atividade, em função de alguma sua habilidade ou característica específica. Tudo isso acontece de forma muito natural na rotina da escola.

Por outro lado, foi rotina vermos estudantes auxiliando-se mutuamente, por iniciativa deles próprios, tanto nas tarefas escolares quanto em questões relacionais, inclusive em momentos difíceis de disputa, resistências e choro, por vezes envolvendo crianças com necessidades educativas especiais.

95 Por vezes alunos e professores de outros núcleos adentram a sala, pedem a palavra e dão avisos sobre questões coletivas como visitas de estudo, alterações na cantina e projetos dos grupos de Responsabilidade.

Há sempre uma funcionária que passa recolhendo com os tutores informações sobre os alunos que não compareceram e em regra as visitações à escola não são agendadas para as quartas-feiras.

Observamos que não há sinais sonoros a demarcar os horários de intervalo e de encerramento das tarefas e o que se vê são alunos muito concentrados durante a maioria do tempo, mesmo quando o professor tutor não está na mesa. Quando alguém ou algum grupo interfere de maneira inapropriada é logo instado por outra pessoa (aluno, professor ou funcionário, indistintamente) a retomar uma atitude colaborativa com o trabalho coletivo.

As quartas-feiras, dia dedicado às tutorias, funcionam então como “pausas” no meio da semana para (re)colocar as coisas em ordem e para a apropriação do tutor quanto ao estágio de desenvolvimento dos seus tutorados no plano da quinzena, inclusive para posterior realização de reuniões com os encarregados de educação.