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2.6 ULTRASSONOGRAFIA RENAL

2.6.2 Ultrassonografia Doppler

A inespecificidade de alguns achados na ultrassonografia modo- B sugere que a ultrassonografia Doppler pode ser útil para auxiliar a interpretação das imagens em escala de cinza (CARVALHO, 2004).

A avaliação das doenças vasculares viscerais através da técnica Doppler representa um dos grandes desafios da tecnologia não invasiva, exibindo um potencial positivo na sua aplicação clínica (CERRI et al, 1998).

2.6.2.1 Princípios físicos

No exame ultrassonográfico Doppler, a onda sonora é refletida por células e outros componente do sangue que estão em movimento em determinada velocidade e direção, em relação ao transdutor. A frequência da onda emitida é alterada após ser refletida por estas partículas. A diferença entre a onda sonora transmitida e refletida é denominada mudança de frequência Doppler. A frequência aumenta quando o fluxo vai em direção ao transdutor (mudança positiva) e diminui quando em direção contrária (mudança negativa). Sendo assim, quanto maior a velocidade do fluxo, maior será a mudança de frequência (SZATMÁRI et al, 2001).

Quanto maior a mudança de frequência Doppler, maior será a velocidade que a hemácia está se deslocando. Entretanto, o vaso deve estar paralelo ao feixe de ultrassom para que a velocidade seja acurada (Nyland et al, 2005). Quando estes estão perpendiculares (ângulo 90º), não há detecção de fluxo. Este ângulo não deve exceder 60º para que a estimativa de velocidade detectada não represente um erro (SZATMÁRI et al, 2001).

2.6.2.2 Doppler espectral ou pulsado

Uma melhor avaliação do fluxo sanguíneo tornou-se possível com a introdução da técnica de ultrassonografia Doppler de onda pulsada ou Doppler espectral, a qual, nos equipamentos modernos, fornece imagem Doppler associada a uma imagem em modo B. Por unir as duas formas de imagem, a técnica é também conhecida como duplex Doppler. A união dos dois métodos fornece diagnósticos anatômico e funcional concomitantes (CERRI et al, 1998).

A limitação do Doppler pulsado é devido à profundidade e orientação dos vasos, pois, em muitos casos, é difícil examinar os vasos abdominais com o ângulo ideal ( < 60º) para obter um sinal fidedigno (SZATMÁRI et al, 2001; CARVALHO, 2009).

Nesta técnica, o transdutor possuí apenas um cristal piezoelétrico que transmite pequenos pulsos de onda sonora a intervalos regulares, o que permite que seja realizada a avaliação e mensurações de uma região específica do vaso, a qual é chamada de volume de amostra. A quantidade de vezes que o pulso é emitido é denominada de frequência de repetição de pulso (PRF) (SZATMÁRI et al, 2001). A PRF deve ser adequada às características de frequências dos sinais captados, ou seja, quanto maior a variação de frequência gerada pelo fluxo de alta velocidade, maior deve ser a PRF (CERRI et al, 1998; GINTHER ; UTT, 2004; NYLAND et al, 2005).

O fluxo sanguíneo é representado por um gráfico chamado espectro Doppler, onde o eixo horizontal demonstra o tempo e o eixo vertical a velocidade. O fluxo em direção ao transdutor é representado acima da linha de base (linha zero) e o fluxo em direção contrária, abaixo da linha de base (FINN-BODNER; HUDSON, 1998; SZATMÁRI et al, 2001).

O Doppler espectral nos fornece então, avaliações qualitativas da onda gerada, ou seja, a presença ou ausência de fluxo sanguíneo, a direção do fluxo em relação ao transdutor e a identificação das características do fluxo em arterial ou venoso, laminar ou turbilhonado, e avaliações quantitativas da onda, visto que é possível mensurar a velocidade de pico sistólico (VPS), velocidade diastólica final (VDF), e calcular índices de resistividade (IR) e índices de pulsatilidade (IP) (CERRI et al, 1998). Cerri et al (1998) ainda referem que estes índices são calculados de forma automática nos aparelhos, porém consistem de um resultado de: IR= VPS- VDF/ VPS. , e IP= VPS- VDF/ velocidade média.

O índice de resistividade tem grande aplicabilidade na medicina em diversos órgãos, e já é amplamente estudado no diagnóstico e prognóstico de diversas doenças renais. Um aumento da resistência vascular reduz o fluxo diastólico em uma proporção maior que do fluxo sistólico, ocasionando um aumento no valor do IR. No caso da avaliação Doppler dos rins, valores alterados do IR podem ser encontrados em casos de falência renal aguda, necrose tubular aguda, isquemia renal, endotoxemia, obstrução uretral e insuficiência renal induzida por contraste (NYLAND et al, 2005). Um IR renal aumentado também pode estar associado com anemia e hipotensão devido aos efeitos secundários na resistência e circulação sanguínea. Sabe-se que a anemia pode ocasionar hipóxia ao rim,

levando a uma vasoconstrição, aumentando então a resistência vascular e consequentemente o IR (FINN-BODNER ; HUDSON,1998).

RIVERS et al (1996) referem que a sedação do animal avaliado pode influenciar no cálculo do IR realizado pelo Doppler espectral.

Algumas drogas anestésicas utilizadas para contenção química dos animais silvestres, como a Ketamina, durante o pico plasmático, exercem influência sobre a pressão arterial (SILVA et al, 2010).

2.6.2.3 Doppler colorido

O Doppler colorido segue os mesmos princípios do espectral, porém há múltiplos volumes de amostra dentro de uma região circunscrita, denominada “Box” (SZATMÁRI et al, 2001).

O mapeamento Doppler colorido evidencia a arquitetura vascular do órgão, facilitando a localização dos vasos de interesse, produzindo imagens concomitantes com a imagem do modo B em tempo real (CARVALHO, 2004).

Esta modalidade Doppler permite saber a direção do fluxo sanguíneo (o fluxo em direção ao transdutor é designado vermelho, e o fluxo contrário azul) e a velocidade do fluxo, a qual é determinada pela intensidade da cor, sendo que o azul e o vermelho demonstram fluxos de baixa velocidade e, as mesmas cores claras, fluxo mais rápido (FIIN-BODNER; HUDSON, 1998; SZATMÁRI et al, 2001).

2.6.2.4 Power Doppler

O Power Doppler é a mais recente inovação do Doppler colorido, e consiste-se em uma técnica mais sensível que permite detectar fluxos de baixa intensidade e vasos de menor calibre. No entanto, sua escala é de uma única cor, a qual varia apenas em intensidade, sendo assim, assim ele fornece informações apenas de velocidade e não demonstra o sentido do fluxo. O Doppler contínuo é utilizado para avaliação ultrassonográfica cardíaca (BOOTE, 2003).

2.6.3 Doppler Renal

O Doppler colorido renal mapeia prontamente as artérias e veias renais, as artérias e veias interlobares e as arqueadas. A diferenciação entre fluxo arterial e venoso é feita de maneira mais criteriosa com o auxílio do Doppler espectral (FIIN-BODNER; HUDSON, 1998).

A artéria e veia renal podem ser observadas desde a região hilar renal até sua origem da aorta e da veia cava caudal, respectivamente. As artérias interlobares podem ser vistas ao redor do complexo ecogênico central, sendo um total de 4 a 7, irradiando-se da pelve em direção à junção córtico medular. As artérias interlobares ramificam-se em artérias arqueadas cursando na mesma direção da junção córtico medular (CARVALHO, 2009). As artérias arqueadas dividem-se em múltiplos ramos interlobulares que irradiam em direção à periferia da cortical e são visíveis ao Doppler colorido (SZATMÁRI et al, 2001).

As veias correm paralelamente às artérias e usualmente são mais largas que as artérias adjacentes (CARVALHO, 2009).

O índice mais utilizado na avaliação da vascularização renal é o índice de resistividade (IR). A alteração deste índice auxilia na identificação de alterações na resistividade vascular. É importante salientar que estes índices podem ter variações com a frequência cardíaca e a pressão arterial, e geralmente refletem a impedância vascular. A impedância vascular é definida como o impedimento a passagem do fluxo sanguíneo em um vaso (CERRI et al, 1998).

Um aumento do IR pode ser útil para detectar alterações renais antes que doenças parenquimatosas possam ser observadas ao modo B, e antes que a perda da função renal possa ser detectada pelos achados laboratoriais (MORROW et al, 1996).

Já existe em literatura a padronização do IR normal para cães não sedados, sendo IR da artéria renal direita 0,64 + 0,04 e para a esquerda de 0,63 + 0,028, sem diferença estatística significante entre os lados (MELO, 2006). Nyland et al (2005) referem que um IR renal menor que 0,7 é considerado normal para cães e gatos.

Posniak et al (1982) referem que o limite superior do IR para as artérias intrarenais em cães não sedados seja de 0,73 e para cães sedados seja 0,57.

Em felinos sedados com Cloridrato de Ketamina, a média do IR das artérias arqueadas foram de 0,59 + 0,05 para rim direito e 0,56 + 0,06 para rim esquerdo. Com estes valores, foi padronizado para felinos sedados com Cloridrato de Ketamina um limite de 0,69 como limite superior de normalidade (RIVERS et al, 1996).

Não há referências na literatura quanto aos valores de IR renal e velocidade de fluxo sanguíneo nos vasos renais em Sapajus apella.

3 OBJETIVOS

Diante do exposto, com o presente trabalho objetivou-se realizar ultrassonografia renal modo B e Doppler de macacos- prego (Sapajus apella) para definir os seguintes valores de referência para a espécie:

- Comprimento, altura, largura e volume renal; - Espessura cortical renal;

- Velocidade de pico sistólico (VPS), velocidade diastólica final (VDF) e índice de resistividade da vasculatura renal (artéria renal, artéria interlobar, artéria arqueada) normal.

4 MATERIAL E MÉTODOS

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