• Nenhum resultado encontrado

Um centenário para recordar e instituir novos espaços de memória

CATÍTULO 2 UMA CIDADE MONUMENTALIZADA DE SOBRENOME

2.2 A toponímia dos Pessoa nos espaços urbanos

2.2.6 Um centenário para recordar e instituir novos espaços de memória

Em 1978, um conjunto de solenidades foram promovidas em toda a Paraíba75. No dia 24 de janeiro desse mesmo ano comemorou-se o centenário do aniversário natalício de João Pessoa em Umbuzeiro. Foi a ocasião em que a “cidade mãe” celebrou o nascimento de seu egrégio filho, fazendo-o com muita pompa. Várias comemorações somaram-se para abrilhantar o evento: missa, desfile cívico estudantil, apresentação de coral e banda de música, além de numerosos discursos e inauguração de alguns melhoramentos urbanos na cidade.

Com uma programação extensa e diversificada, os citadinos iniciaram aquele dia por volta das 8h30min da manhã, participando da missa na Matriz. Em seguida, as ruas da cidade deram lugar a um desfile cívico com a participação das cidades de Orobó, Aroeiras e Natuba, e acompanhamento da Banda de Música da Polícia Militar da Paraíba. Ao seu término, os presentes dirigiram-se para a casa da Fazenda Prosperidade.

Em sua varanda, foi estendida a bandeira do estado e proferidos inflamados discursos, em memória do homenageado, pelas seguintes autoridades: “Dr. Ivan Bichara Sobreira, Desembargador Dr. Osias, ex-auxiliar do Presidente, e a Sra. Isa Pessoa Gurgel Valente” (GOMES, 1995, p. 117). O primeiro destes era o então “governador biônico” da Paraíba e a última, a filha de João Pessoa. Encerrando os discursos “falou o ex-chefe político Dr. Carlos Pessoa Filho”, primo do ex-presidente e esposo da então prefeita da cidade, Terezinha Pessoa.

75 As notícias sobre as comemorações do centenário do nascimento de João Pessoa em diversas cidades paraibanas

foram amplamente divulgadas pelo jornal A União (nos dias, 19, 24, 25 e 26 de janeiro de 1978), O Norte (dias 18, 24 e 26 de janeiro de 1978) e O Momento (dias 22 a 28, caderno B e 29 de janeiro de 1978). O evento também teve destaque na reportagem da revista Veja (8 fev. 1978). Ao contrário da visão exposta em A União, a Veja propõe alguns questionamentos sobre uma espécie de “revisão do mito” João Pessoa, buscando avaliar os dois lados do contexto de sua morte e repercussão para o Brasil.

IMAGEM 28 - DISCURSO NA VARANDA DA CASA ONDE NASCEU JOÃO PESSOA

Fonte: Acervo da família Pessoa. 1978.

Nesta fotografia é possível verificar a presença de uma banda marcial, bem como de uma significativa quantidade de homens, mulheres, crianças e colegiais. Igualmente estavam presentes os primos, sobrinhos, parentes, conterrâneos e ex-auxiliares do homenageado, assim como vários políticos paraibanos e de outros locais.

Diante da simbólica casa, a filha de João Pessoa fez a aposição da placa comemorativa do centenário, seguida do discurso do governador da Paraíba, que abriu oficialmente as comemorações em todo o estado. Para o jornal A União, ali aconteceu o momento “mais sentimental do programa, envolvendo os discursos mais inflamados e emotivos” (25 jan. 1978, p. 8). Isso porque naquele instante emblemático, diante do “berço esplêndido”, a imagem de João Pessoa como um herói paraibano ganharia novos contornos e cores, e seria extensamente reforçada.

Naquele ensejo a casa foi instituída e oficializada como um “lugar de memória”, não só de João Pessoa, mas de toda a sua genealogia. Também se tornou uma espécie de certidão de nascimento para o homenageado, a certidão de “nascido em Umbuzeiro”. É o que revela a placa que guarnece a parede de entrada, e contém a seguinte inscrição: “Nesta casa nasceu em 24-01- 1878 o Dr. João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, Presidente do estado da Paraíba e mártir da revolução de 1930”. Conforme vê-se na fotografia adiante:

IMAGEM 29 - PLACA AFIXADA NA PAREDE DA ENTRADA DA CASA ONDE NASCEU JOÃO PESSOA

Fonte: Acervo da família Pessoa. 1978.

Desde então, a simbologia da casa ganhou nova roupagem. Quem chegasse para visitá- la, antes mesmo de adentrar, já era informado pela placa de que aquela não era uma residência comum. Era, portanto, dotada de uma importância sentimental e memorialística, não só para aquela pequena cidade, mas também para toda a Paraíba. Era dessa forma que aquele espaço queria ser concebido.

No tocante aos discursos proferidos naquela ocasião, merecem destaque as palavras emitidas pelo então governador do estado. Ele elaborou em sua mensagem política uma forte imagem do habitante local. E, assim, instituiu-se diretamente, já na década de 1970, a representação generalizada da força política e histórica da cidade:

Que mistério, que força, que energias latentes se escondem nestes ares e nesta terra generosa e fecunda, matriz inigualável, geratriz de inteligências privilegiadas, de heróis espartanos temperados nas lutas da vida desde a mais tenra idade?

A seiva que reverdece os umbuzeiros nas primeiras chuvas deve guardar, também, a força dos dínamos adormecidos ou inaproveitados de que falava o poeta, gerando estadistas, o Presidente Epitácio, o Imperador Assis Chateaubrind, os heróis e mártires que foram João Pessoa e Napoleão Laureano. (A UNIÃO, 24 jan. 1978, p. 9)

Ivan Bichara enalteceu a figura daqueles homens nascidos em Umbuzeiro, como também reconheceu que aquela cidade havia gerado figuras importantes para o cenário brasileiro. Contribuiu para a sedimentação da concepção da figura dos chamados filhos ilustres,

dos quais a urbe genitora ia se apropriando cada vez mais. Este discurso já vinha sendo construído paulatinamente ao longo dos anos. Estava sendo reelaborado, reproduzido e cristalizado pelos umbuzeirenses e era utilizado sempre que a ocasião se mostrava conveniente, principalmente em dias como este, em que a cidade se enchia de festa e orgulho.

Naquela manhã, as atenções voltaram-se para a casa onde o homenageado havia nascido e fora transformada em museu. Não um museu no sentido e dimensão atual, dotado de “potencialidades educativas” (ALMEIDA; VASCONCELLOS, 2008), com um amplo significado e que interage com o visitante. Mas sim, na “velha” acepção de espaço que serve de depósito de memórias intocáveis e eternas. Aquele “berço esplêndido” guardava em sua materialidade espacial a memória dos Pessoa e, dessa forma, era também registro de um passado fundante da história de Umbuzeiro.

Na placa alusiva ao evento, assentada no terreiro da entrada da casa, lê-se o seguinte dizer: Marco comemorativo do centenário do nascimento do Dr. João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, presidente do Estado da Paraíba e mártir da revolução de 1930. Na fotografia que segue é possível identificar a prefeita Terezinha Pessoa, seu esposo Carlos Pessoa Filho, que naquele instante representava a figura política da família Pessoa, e o então Governador do estado, Dr. Ivan Bichara.

IMAGEM 30 - INAUGURAÇÃO DO “MUSEU CASA DE JOÃO PESSOA”

Com este gesto, aquela residência foi instituída como “Museu casa de João Pessoa”. Seguiu-se uma visita em seu interior, onde os visitantes puderam observar quadros, fotografias, pertences da família e alguns objetos pessoais de João Pessoa, como uma efígie, a bengala e a máscara mortuária feita minutos após sua morte. Esta última certamente era a peça mais simbólica naquela visita. Confeccionada no exato momento em se tem um último registro do rosto do falecido, “a máscara mortuária constitui uma homenagem póstuma, cujo sentido consiste em reter o derradeiro momento do sujeito – limiar entre a vida e a morte, divisa entre dois tempos: o da vida na terra e o da eternidade” (ABREU, 1996, p. 68).

IMAGEM 31 - VISITA AO INTERIOR DA CASA DE JOÃO PESSOA

Fonte: Acervo da família Pessoa. 1978.

IMAGEM 32 - MÁSCARA MORTUÁRIA E EFÍGIE DE JOÃO PESSOA

Conta-nos Regina Abreu (1996, p. 69) que a confecção de máscaras mortuárias era um costume que ficou “restrito a pequenos grupos da elite, mais especificamente a personalidades desses grupos”. Isso evidenciava o papel e o lugar que João Pessoa e sua família ocupavam na elite política daquela época. Nesse sentido, essa máscara possui uma importância simbólica incomensurável. Para a autora, além de representar o fim da vida em sociedade, ela “contém o sopro de uma nova vida, no templo dos imortais”. E era exatamente esse o objetivo do centenário e tantos outros empreendimentos, ou seja, imortalizar a imagem de João Pessoa como um herói para a Paraíba. Imagem esta que sua cidade natal fazia questão de alimentar orgulhosamente.

O espaço íntimo da casa se transformou num ambiente de lembranças compartilhadas que buscavam estimular a memória daqueles que ali viveram. A casa seria consagrada como um monumento em memória dos Pessoa e acessível a todos que quisessem visitar. É nesse sentido que a casa é capaz de manter a existência de coisas remotas, ela é a detentora dessas lembranças. E, portanto, naquele dia se tornava também um monumento turístico da cidade.

Embora a solenidade de inauguração do Museu casa de João Pessoa tenha acontecido na data da comemoração do seu centenário, um fato nos chama atenção. Ao contrário do que afirma o memorialista local do que se convencionou popularmente na história da cidade, ou mesmo do que revelam os registros fotográficos daquele dia, a instituição do museu não se deu exclusivamente por esforço da família ou interesse da prefeita Terezinha Pessoa. Sua concretização na forma legal ocorreu quase um ano depois de sua inauguração, por intermédio da Lei Estadual nº 4.071 de 29 de junho de 1979, sancionada por Tarcísio Burity76.

Diante sua transformação em “lugar de memória”, a casa foi tombada pelo IPHAEP como sendo a “Casa onde nasceu João Pessoa”. O processo ocorreu por meio do Decreto nº 23.311 de 23 de agosto de 200277. Reconhecida como merecedora de preservação, agora aquela morada parecia estar salvaguardada e protegido dos abalos do esquecimento.

Entretanto, passados mais de dez anos de seu tombamento, a casa parece ter perdido sua funcionalidade enquanto museu. Atualmente encontra-se fechada e praticamente abandonada por aqueles que “deveriam” (IPHAEP) ou “teriam interesse” (família Pessoa) em sua preservação. Mesmo assim, todos os umbuzeirenses sabem identificá-la no espaço citadino e têm consciência do que ela representa para a cidade.

76 Em seu artigo 1º consta: Fica o Governo do Estado da Paraíba autorizado a criar o Museu “Presidente João

Pessoa”, na cidade de Umbuzeiro, a ser instalado na casa onde nasceu o ilustre homem público, localizado no imóvel rural “Prosperidade”.

Dando seguimento aos eventos daquele dia, após a celebração na casa, foram inauguradas as agências do Banco do Estado da Paraíba (BEP) e da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agropecuário da Paraíba (Cidagro), o calçamento da Rua Almirante Antônio Heráclito do Rego, o Grupo Escolar Maria Pessoa Cavalcanti e assinado o decreto de criação da Escola Estadual de 2º Grau “Presidente João Pessoa”. Além destes, tivemos a institucionalização do hino e bandeira municipais – envoltos de simbologias em homenagem a João Pessoa.

Aquela data foi fortemente embasada por um teor emblemático e representativo para a cidade, pois foram estabelecidos novos “lugares de memória” e elementos simbólicos que se destinavam a fortalecer a memória dos Pessoa. Desse modo, a inauguração da Escola “Maria Pessoa Cavalcanti”, nome da mãe de João Pessoa e irmã do Cel. Antônio Pessoa, assim como a assinatura do decreto de criação da Escola Estadual de 2º Grau “Presidente João Pessoa” são em si marcos que visam evitar o esfacelamento da memória desta família em Umbuzeiro, pois a criação destes lugares na urbe serve bem a esta finalidade. Cabe lembrar ainda que estas instituições do saber somar-se-iam ao já existente Grupo Escolar Cel. Antônio Pessoa, o primeiro espaço do educacional a receber o sobrenome Pessoa na cidade.

IMAGEM 33 - VISTA ATUAL DA ESCOLA “MARIA PESSOA CAVALCANTI” E ESCOLA ESTADUAL “PRESIDENTE JOÃO PESSOA”

Fonte: Acervo pessoal da autora. 2014.

A institucionalização destes espaços instrutivos, que também exercem a função de “lugar de memória” na cidade, é bastante relevante tomando-se em consideração a importância da formação que se propõe na escola. Sua função social pode ser apreendida por vários ângulos: instituição onde os processos de aprendizagem são desenvolvidos, espaço de sociabilidades e organismo cultural. Assim, seria a partir do seu primeiro contato com a escola que as crianças aprenderiam também quem eram aqueles personagens que emprestavam o nome àquele espaço.

Atos cotidianos como escrever o nome do grupo escolar no cabeçalho das atividades tornaram- se natural aos alunos. Esta repetição quase diária fez-se concreta e imutável para os pequenos umbuzeirenses. Desde as primeiras letras, os pequenos conheciam e aprendiam a venerar os “heróis locais”, os filhos ilustres de Umbuzeiro.

IMAGEM 34 - INAUGURAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR MARIA PESSOA CAVALCANTI

Fonte: Acervo da família Pessoa. 1978.

A partir deste registro fotográfico, produzido no ângulo externo do Grupo Escolar Maria Pessoa Cavalcanti, é possível captar alguns aspectos representativos daquela ocasião. No canto superior esquerdo da imagem consegue-se identificar a presença da Banda de Música do II Batalhão da Polícia Militar da Paraíba, conferindo um caráter cívico ao evento78. Na porta de entrada do grupo estão as autoridades para efetuar a inauguração, bem como aqueles que disputavam uma posição visual para “ver melhor” ou “mais de perto” o que acontecia, ou ainda aqueles que observavam de longe.

Segunda a revista Veja (8 fev. 1978, p. 52), “pouco mais de 1.000 pessoas frequentaram as cerimônias na cidade, marcando o início de uma série de festejos que irão até outubro – às vésperas das eleições parlamentares de 1978”. Parece que as solenidades daquele dia haviam atraído uma ampla massa popular e isso explica bem os motivos da presença de vários políticos

78 Sob a direção do 2° Tenente Eraldo Gomes de Oliveira, a Banda de Música esteve presente em Umbuzeiro pela

primeira vez e “também encheu de alegria aquele ambiente festivo, deixando na alma de cada um dos presentes, uma mensagem de sentimento e harmonia”. Notas retiradas da revista Vanguarda (órgão de divulgação do serviço de relações públicas do II BPM), Ano 3, nº 3, fev. de 1978, p. 9.

e o teor de seus discursos, já que este foi também um momento em que se pôde fazer uma espécie de comício.

De acordo com o semanário O Momento (29 jan. a 4 fev. 1978, p. 11), enquanto era assinado o decreto de criação da Escola Estadual de 2º Grau “Presidente João Pessoa”, o “secretário de Tarcísio Burity, da Educação, afirmou que o governador, Ivan Bichara Sobreira, com aquele Colégio Estadual, dentro da sua programação administrativa, estava atingindo o 12º Colégio Estadual na Paraíba”.

Como se nota, nos momentos como estes, em que memórias são instituídas, não poderia faltar a propaganda política partidária daqueles que comungavam os mesmos ideais políticos dos Pessoa. Não é à toa que na comemoração do centenário de João Pessoa em Umbuzeiro teve participação em massa de políticos que ali discursaram e defenderam suas concepções.

IMAGEM 35 - ASSINATURA DO DECRETO DE CRIAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL DE 2º GRAU “PRESIDENTE JOÃO PESSOA”

Fonte: Acervo da família Pessoa. 1978.

Nesta imagem vê-se o registro da ocasião em que Tarcísio Burity, então secretário de Educação, assinou o decreto que criou a Escola Estadual de 2º Grau “Presidente João Pessoa”. Da esquerda para direita temos: Carlos Pessoa Filho, Ivan Bichara e Terezinha Pessoa.

Em outro momento registra-se a visita ao interior do Grupo Escolar Maria Pessoa. Na sala de aula já equipada, reúnem-se os visitantes para mais uma fotografia. Da esquerda para a direita temos: esposa de Ivan Bichara, Isa Pessoa e Terezinha Pessoa; no canto de trás, Carlos

Pessoa Filho e Ivan Bichara e, do lado direito, Tarcísio Burity. Nestas carteiras escolares muitos jovens e crianças sentaram-se um dia para estudar e aprender também um pouco sobre a história de sua cidade e de seus filhos, nomes que certamente os pequenos conheciam desde cedo naquela instituição.

IMAGEM 36 - INTERIOR DO GRUPO ESCOLAR MARIA PESSOA CAVALCANTI

Fonte: Acervo da família Pessoa. 1978.

No tocante à função da escola, cabe acrescentar que ela também é um espaço onde se tecem memórias. Nesse sentido, cabe-nos avaliar ainda os dois símbolos de caráter municipal que foram instituídos naquele dia 24 de janeiro e que somam-se na sacralização e monumentalização de João Pessoa. O hino e a bandeira de Umbuzeiro foram oficializados através de lei municipal aprovada pela prefeita Terezinha Pessoa, e, certamente, encomendados por ela.

Ambos são portadores de elementos que representam um significado histórico bastante peculiar para a cidade. De acordo com Gomes (1995), a bandeira “foi idealizada por João Pessoa Neto” e exibe as mesmas cores da bandeira paraibana e a palavra “Nego”79. No caso

desta, o preto denota o luto pela morte do ex-presidente, o vermelho simboliza seu sangue e a

79 A referida bandeira rubro-negra foi instituída por meio da Lei Estadual nº 704 de 1930, e oficializada em 26 de

julho de 1965. A respeito dos conflitos de memória em torno do processo de institucionalização da atual bandeira paraibana, veja-se AIRES (2006, p. 37 - 51).

palavra “Nego” se refere ao momento em que João Pessoa negou apoio à candidatura de Júlio Prestes.

No escudo do pavilhão municipal vê-se “os principais produtos agrícolas”, “um touro representando o maior rebanho criado no município” e “o céu azul, as estrelas, o Cruzeiro do Sul e outros dados do município”. Contudo, ela “fala, especialmente, do luto que o município vive pela morte de seu grande filho Dr. João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque”, considerado por Gomes (1995, p. 82. grifo nosso) uma “perda irreparável para a nossa cidade”. Embora não se explique o motivo, é claro: tratou-se de um tributo ao nobre filho da terra, mais um ato de consagração à sua memória e que, decerto, enraizava-se na própria identidade local significado histórico.

IMAGEM 37 - BANDEIRA DO MUNICÍPIO DE UMBUZEIRO E ESTADO DA PARAÍBA

Disponível em:

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Band eira_umbuzeiro.JPG Acesso: 22 mar. 2014.

Disponível em:

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Band eira_da_Para%C3%ADba.svg?uselang=pt-br Acesso: 22 mar. 2014.

Como já visto, na obra memorialística de Gomes, é nítido o saudosismo de um passado construído por glórias vivido pela cidade. Tal memória é também evidenciada através da letra do hino municipal, na qual o seu compositor Ivandro Souto consagrou os nomes de alguns filhos ilustres de Umbuzeiro, apontando para suas respectivas imortalidades. Segundo uma de suas estrofes:

No seu céu para sempre ecoará Um hino de fé, imortal, imortal. Relembrando Epitácio Pessoa, João Pessoa, e Chateaubriand, Esse trio ideal.

Os seus nomes são a glória de Umbuzeiro, sua terra natal. (GOMES, 1995, p. 82)80

80 Cabe destacar que embora o hino e a bandeira tenham sido oficializados desde o dia 24 de janeiro de 1978, no

Assim, os tributos a João Pessoa ganharam o aspecto da instituição de vários símbolos oficializados, alguns deles de caráter municipal. Naquela data, a prefeita Terezinha Lins Pessoa, através de um projeto de lei, oficializou o hino e a bandeira de Umbuzeiro. Os quais traziam em seus elementos uma significação histórica particular - a festa do centenário deveria reforçar tanto a ideia de um passado de glórias como a de um futuro promissor.

Posteriormente, o dia 26 de julho, data em que João Pessoa morreu, entraria para o calendário dos feriados municipais da cidade. Antes mesmo de sua oficialização pela Lei Municipal nº 25 de 12 de dezembro de 1984, a data já havia sido integrada ao conjunto celebrativo dos umbuzeirenses81. Deste modo, tratava-se da implantação de mais um recurso contributivo para a formação da identidade daquela urbe, que foi pautada vagarosamente sob o signo da figura de seus filhos ilustres.

Diante de todos estes aspectos, é evidente que a instituição escolar serve bem as aspirações de mais um lugar de memória aos Pessoa na cidade. O seu currículo foi moldado para atingir tais objetivos, servindo como instrumento de legitimação da memória histórica de João Pessoa. Foi nas escolas que, por muitos anos, ensinou-se aos estudantes o significado destes símbolos, cantados e venerados constantemente. Nas escolas de Umbuzeiro, por exemplo, cantava-se o hino a João Pessoa todos os dias, religiosamente.

Desta forma, a função pedagógica da escola correspondia aos anseios políticos e sociais vigentes após a Revolução de 1930. A esse respeito, Aires (2006, p. 152) considera que:

As comemorações do 26 de julho, na Paraíba, com todas as práticas