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5.3 UNIVERSIDAD DE ALCALÁ DE HENARES (UAH)

5.3.1 Um jardim botânico no campus

Como bióloga e amante da botânica desde a época da graduação, umas das coisas que mais chamou minha atenção ao pesquisar sobre a Universidade de Alcalá foi o fato de existir um Jardim Botânico dentro do campus, aliando todo potencial de conservação de espécies neste tipo de espaço com um ambiente universitário. A ideia me parecia incrível, visto que normalmente estas áreas são delimitadas em meio urbano e além de áreas de conservação e lazer, são excelentes espaços para uma educação ambiental não formal, fora do quadrado fechado da sala de aula e podendo transbordar em criatividade. Não foi difícil imaginar minhas aulas de graduação de botânica, ecologia, biodiversidade e tantas outras disciplinas transformadas por uma sala de aula viva. Sem contar na educação ambiental... de fato, um deleite para minha imaginação e expectativa!

Criado em 1991 em uma área de cerca de 26he no Campus Científico- Tecnológico (em Alcalá de Henares), o Real Jardin Botânico Juan Carlos I começou como um projeto de pesquisa para a conservação e divulgação da flora e meio ambiente da universidade. Foi sendo construído gradualmente, na medida em que eram disponibilizados recursos para a conservação e manutenção dos campi e de seus jardins pela universidade e, nos últimos anos, com apoio financeiro do governo de Madrid.

Suas coleções, vivas e documentadas, acolhem quase oito mil espécies diferentes de plantas dentro de quatro objetivos principais: a pesquisa científica, como um recurso para docentes e pesquisadores das áreas de botânica, meio ambiente e educação ambiental, disponibilizando as instalações para disciplinas que queiram usufruir deste espaço; a conservação da flora, com uma dedicação especial às espécies vulneráveis e ameaçadas de extinção, conta com um banco de sementes com cerca de quinze mil amostras armazenadas de 5.900 espécies diferentes; a divulgação botânica e de meio ambiente para público externo, escolas de educação primária até ensino superior e público especializado, com visitas guiadas, atividades mensais, cursos abertos e demais programações e o objetivo de estabelecer um espaço de lazer e proximidade com o ambiente natural, que permite

aos visitantes momentos de aprendizado e deleite em meio a toda natureza conservada neste espaço55.

Figura 37: Saída de campo ao Jardim Botânico na disciplina de Educação Ambiental

. Fonte: Wachholz, CB.

Figuras 38 e 39: Diferentes recintos e paisagens do Jardim Botânico

Fonte: WACHHOLZ, C.B

Dentre seus inúmeros recintos temáticos, alguns com importantes coleções de espécies de plantas, também há uma horta de cultivo orgânico em uma área de 1ha, onde são cultivadas de forma orgânica e com supervisão do Comitê de Agricultura Ecológica da Comunidade de Madrid56, uma variedade de hortaliças,

55

Disponível em: http://www.botanicoalcala.es 56

Na Espanha o controle e a certificação de produção ecológica é designado às suas Comunidades Autônomas e realizado pelas suas Autoridades de Controle, que podem ser privadas ou públicas. Disponível em: http://www.caem.es/home.htm.

plantas aromáticas, condimentares, medicinais e algumas frutas. Também há, neste espaço, uma área dedicada a videiras com cerca de vinte espécies diferentes, sendo algumas utilizadas para a elaboração de um vinho próprio do Jardim. Estes alimentos eram utilizados pelos restaurantes de algumas faculdades da universidade, no entanto, há alguns anos isso não acontece mais devido um incidente em um dos restaurantes.

O Jardin Botânico também desenvolve projetos de sensibilização ambiental e atua como um centro de práticas profissionais para alunos de formação ocupacional, profissional e de graduação com especialização em educação ambiental, jardinagem e produção de plantas. Além disso, é dentro de sua área que está estruturada a primeira “Fotolinera” da Espanha, uma pequena estação de abastecimento de energia solar para veículos elétricos (incluindo bicicletas), que é alimentada por painéis fotovoltaicos.

Figura 40: Fotolinera

Fonte: http://www.botanicoalcala.es/

A estação foi inaugurada em novembro de 2011 e abastece tanto os veículos da universidade, como de público externo. A capacidade de armazenamento de energia com boa radiação solar é de 3,6KW, contudo, para não depender somente das condições climáticas, ela também está conectada a uma rede elétrica, que armazena mais 10KW, utilizados para compensar a falta de iluminação solar e o

excesso de demanda. Quando não há demanda, a energia é direcionada ao Jardim Botânico.

De fato, um Jardim Botânico dentro do campus traz uma visibilidade bastante grande para a universidade, principalmente pela questão de conservação ambiental a que este espaço se refere, já que estas questões ocupam hoje uma parcela significativa dos investimentos e esforços de todos os segmentos (STASIAK et al., 2005, p. 7), inclusive das Instituições de Ensino Superior, especialmente se considerada a natureza multidisciplinar destes espaços.

As instalações e os recursos que este tipo de espaço dispõe possibilita aos alunos e visitantes aprenderem sobre a importância do trabalho realizado por jardins botânicos para a conservação da flora local e mundial, apreciarem a natureza como um todo, adquirirem habilidades práticas e conceitos teóricos sobre conservação, botânica, paisagismo e desenvolverem atitudes e comportamentos para solucionar problemas ambientais (WILSON, 2003, p.16). Desta forma, a contemplação da paisagem se une à aquisição de conhecimentos sobre a importância dos recursos naturais de modo geral e das mudanças de atitude que levem a uma atuação efetiva e individual na conservação do ambiente (WILSON, 2003, p.79).

Umas das minhas visitas ao local se deu através da Disciplina de Educação Ambiental, onde parte da aula ocorreu em uma das salas do Jardim Botânico, com a fala de um educador ambiental local sobre alguns projetos de educação ambiental realizados ali. Neste momento também foi propiciado aos alunos uma aula prática de botânica com os equipamentos e materiais disponíveis naquele espaço educador. A outra parte da aula foi ao ar livre, para conhecer a composição dos diferentes recintos temáticos existentes naquele local. Minha outra visita ao local se deu via oficina Ecocampus, como uma pesquisadora visitante numa visita guiada por uma professora que dedicava seu tempo ao cuidado daquelas coleções. Dois momentos distintos em um mesmo local, que me permitiram conhecer muito sobre a flora mundial e regional, para a minha alegria de bióloga e ampliar meu olhar para a vertente de possibilidades que existe em um campus universitário com uma gestão que se norteia pelos princípios da sustentabilidade.