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UM OLHAR SOBRE O ANALFABETISMO NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA

É dentro da escola de forma planejada e sistematizada que acontece o ensino de modo mais sistemático. Para compreender como acontece a escolarização busquei investigar dados do município de Santa Rosa/RS, para perceber se existe por parte do poder municipal, incentivo e políticas públicas para a educação de jovens e adultos e para aqueles que estão fora da escola e desejam retornar. Por isso primeiramente, faz necessário conhecer uma breve história deste município.

O município de Santa Rosa6 localiza-se no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, tendo uma população estimada de setenta e duas mil quinhentos e quatro habitantes, segundo IBGE /2016.

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Os dados foram retirados do site IBGE. Disponível em:< http://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/rs/santa- rosa/panorama>

A região era povoada pelos índios Tapes, e com a chegada dos jesuítas e espanhóis, iniciou a catequização. Santa Rosa agregava os Sete Povos das Missões, contudo em 1876, o município de Santo Ângelo foi subdividido e criado o distrito de Santa Rosa. Sua colonização aconteceu em 1915 e seus primeiros povoadores foram funcionários do serviço de agrimensura, mais tarde descendentes de alemães, italianos e outas etnias foram habitando Santa Rosa.

No dia 1º de julho de 1931 Santa Rosa se emancipa. A solenidade aconteceu no dia 10 de agosto de 1931. A cidade é caracterizada por muitos eventos culturais como: Fenasoja, Hortigranjeiros, Musicanto, entre outros eventos.

MAPA 1- Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

As escolas antigamente eram construídas e mantidas pelas comunidades, transporte não era oferecido aos alunos, pouco material didático, lúdico era oferecido, as turmas era oferecidas junto, e muitas escolas atendiam até 5ª série. Nesse sentido muitas pessoas acabavam desistindo, ou por não oferecerem além destas turmas ou por que as outras escolas ficavam distantes. A educação também naquela época não era obrigatória, nessa perspectiva muitas crianças acabavam ficando em casa ajudando os pais.

Segundo o IBGE (2010) no Rio Grande do Sul a porcentagem de analfabeto é de 4,5%, a maior porcentagem de analfabetos está nas pessoas acima de 60 anos ou mais. Segundo o IBGE (2010, p.60):

a alfabetização é um fator-chave para a plena realização do ser humano, somente sendo alcançada através da promoção da educação. A alfabetização é uma ferramenta muito eficaz para combater a pobreza e a desigualdade, melhorar a saúde e o bem-estar social, e estabelecer as bases para um crescimento econômico sustentado e para uma democracia duradoura. O município de Santa Rosa atualmente conta com as redes estadual, municipal e particular. Segundo IBGE 2015, trinta e três escolas oferecem ensino fundamental, treze ensino médio, quarenta e três pré-escola. Sete escolas oferecem a Educação de Jovens e adultos e apenas uma oferece alfabetização de jovens e adultos. Ainda segundo o IBGE 2015, um total de 8.028 alunos estão matriculados no ensino fundamental, 3.211 aluno no ensino médio 1.614 aluno na pré-escola. Na EJA participam 62 pessoas que estão no processo de alfabetização, 370 pessoas estão no ensino fundamental e 744 pessoas estão no ensino médio. No entanto segundo o IBGE 2010 existem 4.157 pessoas de Santa Rosa nunca frequentaram uma escola e 61.484 pessoas segundo pesquisas são alfabetizadas.

A EJA em Santa Rosa é ofertada na Escola Estadual de Ensino Médio Edmundo Pilz, Escola Estadual de Ensino Fundamental Fernando Albino da Rosa, Escola Estadual de Educação Básica Cruzeiro, NEEJA e Cultura Popular Paulo Freire (Presídio), NEEJA e Cultura Popular Paulo Freire de Santa Rosa, IFECT Farroupilha Campus Santa Rosa, Escola Municipal Expedicionário Weber, constata-se que ainda existe um número significativo de pessoas que são analfabetas, no entanto olhando para o município de Santa Rosa atualmente existem mais oportunidades do que antigamente, pois segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional desde 1996., no seu artigo 37, da mesma Lei, verifica-se que “a educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade apropriada”. E no parágrafo 1º do mesmo artigo, os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

Portanto, a partir desta pesquisa constato que tanto o município de Santa Rosa, quanto as escolas necessitam buscar políticas públicas que se empenhem na busca pela diminuição do número de analfabetos, é um grande desafio, pois necessitam criar estratégias que possam mediar esta construção.

3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS :ENCONTROS, HISTÓRIAS, DEBATES E DESCOBERTAS

“Não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas” (Lispector 1992, p.33), ainda mais quando necessitamos prescrever história de adultos analfabetos que por diferentes motivos não concluíram seus estudos quando pequenos e depois de muitos anos retornam buscando realizar um sonho, adquirir conhecimento e autonomia, segundo Nunes, (1990, p. 51),

eu queria ficar apagando uma palavra daqui e riscando uma outra de lá; eu queria puxar seta pra ir escrever lá em cima a mesma coisa de outro jeito, deixando pra resolver depois o jeito que eu achava melhor e ficar desenhando na margem até o pensamento desempacar.

Produzir um texto contando a história de três alunos com idade entre 40 a 65 anos foi um desafio. As histórias do Pedro, Lucia e Vera são de lutas por falta de oportunidade. A cada encontro, questionamentos surgiram, reflexões foram feitas e conceitos foram ampliados a partir do que os entrevistados sabiam do mundo, por isso não podemos esquecer que a escola é muitas vezes o único local em que jovens e adultos analfabetos tem a oportunidade de pensar, falar criticamente sobre a sua história e sua comunidade.

Ouvir dos alunos que não conheciam nenhuma letra do alfabeto, dizerem que atualmente conseguem pegar um livro e não olhar apenas as imagens e sim ler o que está escrito nele, refere-se a um avanço que os alunos estão tendo, já conseguindo estabelecer conexão entre os saberes do cotidiano com o da escola. Ler, escrever e falar é com certeza fundamental na vida de um ser humano, isso o humaniza.

Desse modo, para o professor alfabetizador da EJA é um desafio, pois os alunos nesta modalidade, quando retornam ao espaço pedagógico, esperam uma aula idealizada nos moldes deixado para trás, aí cabe ao professor planejar atividades que contemplem certas expectativas, bem como que atendam suas necessidades, que reflitam conteúdos e que possuem utilidade em suas vidas, nesse sentido um planejamento que venha favorecer a permanência do aluno na escola, pois segundo Jatobá (1999, p. 95)

em todo o planejamento, [...] o professor deve ter sempre em mente de que o seu papel é o de agente de transformação social e como tal pode, pela educação, combater, no plano das atitudes, a discriminação manifestada em gestos, comportamentos e palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Cabe ao professor construir relações de confiança para que o aluno possa perceber-se e viver, antes de mais nada, como ser social.

Por isso, ao realizar a entrevista escutei a seguinte afirmação: “Eu consegui. Já sei escrever meu nome, sei juntar as letras e ler”. A alegria estampada no rosto me fez perceber que eles estar ali é um processo de enfrentamento de uma exclusão e em meio a tantos problemas, dificuldades, constatei o desejo e a vontade destes sujeitos em concluir a sua escolarização básica.

Nesse sentido, percebemos o quanto a EJA é uma modalidade que permite ao sujeito buscar sua cidadania a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9394/96incorpora uma concepção mais ampla e abre outras perspectivas para a Educação de Jovens e Adultos, desenvolvida na pluralidade de vivências humanas. Conforme aponta o artigo 1º,

a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (LEI 9394/96).

Nessa perspectiva, a cidadania é definida como exercício dos direitos civis e políticos, estes direitos coletivos ou individuais necessitam ser respeitados. E como um sujeito analfabeto conquista a cidadania? Quando há garantia de seus direitos como o direito a vida, educação, saúde, são direitos universais da cidadania. Garantimos estes direitos quando exercemos o poder do voto. De que adianta dar terra aos pobres, marginalizados, é preciso a garantia de um trabalho, promovendo dignidade e cidadania e a educação se torna uma das instituições que conduz o ser humano conquistar mais oportunidades e melhorar as condições de vida.

O analfabeto tem o direito à educação ao trabalho digno e a EJA surge como uma oportunidade a estes alunos a buscarem através da escola conquistar ainda mais seus direitos, o valor do trabalho na vida dos cidadãos muitas vezes se sobrepõe aos estudos e em outras não, o estudo é fundamental para o ingresso e manutenção do emprego ou por outras vezes é visto como motivo de abandono, por isso esta modalidade necessita de currículo flexivo e que pense nos sujeitos que ali se encontram pais de família, trabalhadores que estão buscando os estudos para conquistar sonhos e ate mesmo manter seus empregos, por isso segundo Delors (1998, p. 89) a escola conforme os quatro pilares da educação para o século 21, deveria oportunizar a este cidadão

aprender a conhecer. É necessário tornar prazeroso o ato de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento para que não seja efêmero, para que se mantenha ao longo do tempo e para que valorize a curiosidade, a

autonomia e a atenção permanentemente. É preciso, também, pensar o novo, reconstruir o velho e reinventar o pensar. Aprender a fazer. Não basta preparar-se com cuidados para se inserir no setor do trabalho. A rápida evolução por que passam as profissões pede que o indivíduo esteja apto a enfrentar novas situações de emprego e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo e de humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores necessários ao trabalho coletivo. Ter iniciativa e intuição, gostar de certa dose de risco, saber comunicar-se e resolver conflitos e ser flexível. Aprender a fazer envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas. Aprender a conviver. No mundo atual, este é um importantíssimo aprendizado por ser valorizado quem aprende a viver com os outros, a compreendê-los, a desenvolver a percepção de interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos comuns, a ter prazer no esforço comum. Aprender a ser. É importante desenvolver sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e crescimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem precisa ser integral, não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo.

Por fim, a modalidade da EJA além de promover a construção de conhecimento científico, deve instigar o aluno a buscar a realização daqueles sonhos que foram no passado interrompidos, pois segundo Lucia (45 anos) “antigamente não pude concluir meus estudos e não pude realizar meus sonhos, mas hoje eu sei que vou conseguir graças a EJA. Que bom se mais pessoas pudessem voltar a estudar para poderem conquistar seus sonhos eu estou correndo atrás para realizá-los”. Dessa forma, o aluno construir o auto confiar é essencial para a aprendizagem da leitura e da escrita, pois ao se sentir encorajado e desejoso muitas ações consegue realizar sozinho, pois percebe que é capaz de aprender e concretizar seus sonhos.

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