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UMA ESCRITORA DE MATIZES PÓS-MODERNOS

CAPÍTULO I: ESCOLHENDO AS CORES

1.3 UMA ESCRITORA DE MATIZES PÓS-MODERNOS

Nascida em Londres, em 9 de novembro de 1946, a escritora Marina Sarah Warner talvez seja pouco conhecida do grande público leitor brasileiro, uma vez que no Brasil o seu trabalho é mais referenciado em alguns círculos acadêmicos específicos. Entretanto, a sua visibilidade internacional, em especial na Europa, é reconhecidamente ampla, uma vez que a autora é ganhadora de inúmeros prêmios, como, por exemplo, o Commonwealth Writer’s

Prize for fiction (Eurasia), em 1989 e o Rose Mary Crawshay Prize pela British Academy, em

2000. Nos últimos anos, foi premiada com o National Book Critics Circle Award for

Criticism, em 2012, e com o Truman Capote Award for Literary Criticism, em 2013. Com

vasta atuação no âmbito acadêmico, já foi professora visitante no Departamento de Humanidades da Queen Mary, instituição filiada à Universidade de Londres, e no Departamento de Animação do The Royal College of Art em Londres. Atualmente, Warner é professora do Departamento de Estudos de Literatura, Filme e Teatro da Universidade de Essex, no Reino Unido, onde leciona desde o ano de 2004.

Na página de abertura de seu site oficial, encontramos a informação: “Marina Warner é escritora de ficção, crítica e história; seus trabalhos incluem romances e contos, assim como estudos sobre arte, mitos, símbolos e contos de fadas”28

(WARNER, 2013). Como historiadora e crítica literária, seu foco principal é o estudo do simbolismo feminino, e sobre este assunto publicou livros como Alone of all her sex: the myth and the cult of the Virgin

Mary (1976), Joan of Arc: the image of female heroism (1981) e Monuments and maidens: the allegory of the female form (1996). Marina Warner também possui publicações de

referência nas áreas de estudo sobre mitos e contos de fadas, entre os quais figuram Six

myths of our time: little angels, little monsters, beautiful beasts, and more (1994), uma

compilação de pequenos ensaios sobre mitologia contemporânea inicialmente concebidos

28 Minha tradução de: “Marina Warner is a writer of fiction, criticism and history; her works include novels and

para um programa de rádio da BBC, e From the Beast to the Blonde: on fairy tales and their

tellers (1994), sendo este último o único trabalho da escritora que ganhou tradução no

Brasil: foi publicado pela editora Companhia das Letras, no ano de 1999, com o título Da

Fera à Loira: sobre contos de fadas e seus narradores.

Sobre a sua própria obra, a autora comenta:

Meus ensaios e livros de crítica e história exploram diferentes figuras de mitos e contos de fadas e a arte e literatura inspiradas por elas, desde meus primeiros estudos sobre a Virgem Maria e Joana D’Arc até meu mais recente trabalho com o Arabian Nights. Minha ficção segue em paralelo a isto, já que muitas vezes faço uso de elementos predecessores de imaginários como o mítico para traduzi-los para um significado contemporâneo – para relê-los. Histórias vêm do passado, mas dialogam com o presente [...]. Preciso escrever histórias, mas também desconstruí-las e analisá-las, pois não quero estragar o misterioso vôo da imaginação existente no centro da contação de histórias, a parte que escapa ao que é chamado de interpretação racional.29 (WARNER, 2013)

Ao falar de releituras feitas para a contemporaneidade, de desconstrução e de diálogos entre o passado e o presente, Warner revela aspectos de sua escrita que constituem marcos característicos do tempo em que construiu sua produção intensificada e mais popularizada, a partir da década de 1970. O chamado movimento pós-moderno, que entre outros aspectos caracterizou-se por “um ceticismo essencial sobre a existência de uma realidade objetiva, e/ou a possibilidade de chegar a uma compreensão aceita dessa realidade por meios racionais” (HOBSBAWM, 1995, p.499), surgiu como uma tendência em diversos campos do conhecimento humano, inclusive no das artes.

[...] como uma atividade cultural que pode ser detectada na maioria das formas de arte e em muitas correntes de pensamento atuais, aquilo que quero chamar de pós-modernismo é fundamentalmente contraditório, deliberadamente histórico e inevitavelmente político. Suas contradições podem muito bem ser as mesmas da sociedade governada pelo capitalismo recente, mas, seja qual for o motivo, sem dúvida essas contradições se manifestam no importante conceito pós-moderno de ‘presença do passado’. (HUTCHEON, 1991, p.20)

29 Minha tradução de: “My critical and historical books and essays explore different figures in myth and fairy

tale and the art and literature they have inspired, from my early studies of the Virgin Mary and Joan of Arc to more recent work on the Arabian Nights. My fiction runs parallel to this, as I often draw on mythic or other imaginary predecessors to translate them into contemporary significance – to re-vision them. Stories come from the past but speak to the present [...]. I need to write stories as well as deconstruct and analyse them because I don’t want to damage the mysterious flight of imagination at the core of storytelling, the part that escapes what is called rational understanding.”

Com base nas pesquisas que realizamos e no que nos informam os teóricos, como os supracitados, é possível identificar elementos na produção de Marina Warner que nos levam a crer que sua obra constitui, pelo menos em parte, um exemplo de escritura com traços pós- modernos. Diante da impossibilidade de análise de toda a sua produção escrita, considerando o recorte de pesquisa realizado e o espaço de que dispomos para a apresentação deste trabalho, vejamos como estes traços surgem no romance com o qual escolhemos trabalhar.