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8 O MAPA ALTERNATIVO DA PRODUÇÃO, NA ECONOMIA

8.1 Uma Justificativa Econômica, Política e Social

A sociedade atual vivencia uma crise no modo de produção e esta se dá em escala global. Ao longo das etapas históricas que marcaram o desenvolvimento da produção capitalista, inúmeras crises foram experimentadas. Contudo, para vários de seus analistas, nunca seus reflexos se fizeram sentir com tamanha intensidade. O fenômeno “globalização” tem sido apontado como o principal responsável pelas proporções céleres e devastadoras alcançadas por essa mesma crise.

Os cientistas sociais afirmam que a globalização, no sentido de interação existente entre as sociedades e as pessoas, com compartilhamento de cultura, língua, costumes, entre outros, sempre existiu. Todavia, os avanços tecnológicos que reduzem as barreiras da comunicação constituem fatores catalisadores da situação limite em que a sociedade contemporânea se encontra.

A introdução das políticas neoliberais que atuam em escala planetária, por meios das grandes corporações multinacionais e do mercado financeiro ultraliberal, comprometeram os movimentos sindicais de caráter emancipatório e contrahegemônico e enfraqueceram as lutas específicas da classe operária.

Para Boaventura de Souza Santos, existem muitos tipos de globalização. Entretanto, no contexto ora apresentado, ressalta ele uma dupla transformação dela decorrente:

A globalização neoliberal corresponde a um novo regime de acumulação do capital, um regime mais intensamente globalizado que os anteriores, que visa por, um lado, dessocializar o capital, libertando-o dos vínculos sociais e políticos que no passado garantiram alguma distribuição social [...]. A conseqüência principal desta dupla transformação é a distribuição extremamente desigual dos custos e das oportunidades produzidos pela globalização neoliberal no interior do sistema mundial, residindo ai a razão do aumento exponencial das desigualdades sociais entre países ricos e

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países pobres e entre ricos e pobres no interior do mesmo país

2005, p.15). Por outro lado,

[...] uma outra forma de globalização, uma globalização alternativa, contra-hegemônica, constituída pelo conjunto de iniciativas, movimentos e organizações que, através de vínculos, redes e alianças locais/globais, lutam contra a globalização neoliberal mobilizados pela aspiração de um mundo melhor, mais justo e pacífico que julgam possível e ao qual sentem ter direito(ibidem, p. 16 - 17).

É, com enfoque na globalização alternativa, em oposição à globalização neoliberal, que se estudam novos caminhos para uma sociabilidade humanizada.

É necessária, portanto, uma reflexão em torno da reestruturação da produção. Embora, ao longo do tempo, os índices de produção venham crescendo, o mesmo não se pode dizer com relação ao emprego, que tem se tornado cada vez mais escasso. “O pavor do desemprego dissemina feito peste e mesmo os que conservam os empregos passam a consumir menos, procurando aumentar suas economias para a eventualidade de ir para também na rua da amargura” (MÔNACO, 1998, p. xxx).

Indagado sobre os limites do crescimento, Marcuse assim se pronunciou: “A meu parecer, o problema não consiste tanto em limitar o crescimento econômico, como fundamental para reorientar o crescimento e a atividade econômica (...) seria necessário prosseguir com o crescimento econômico, porém orientando em direção diametralmente oposta” (1998, p.153).

Muitos anos se passaram, após o prognóstico lançado por Marcuse. Hoje é possível constatar que o desenvolvimento econômico não se dá, de forma prioritária, a partir do trabalho humano. Dá-se por meio da inserção maciça das novas tecnologias. É exatamente nesse estágio da história. Que aparece o desemprego estrutural.

100 Em meio a essa crise, surgem novas teorizações que objetivam por em relevo a dignidade humana, a partir de novas alternativas de trabalho e rendas distanciados do seu valor de troca.

Diante dessa premente necessidade – a de modernizar os cânones da produção – muitas têm sido as manifestações e tentativas de adaptação dessa nova realidade a novos padrões de sociabilidade, a partir de outras possibilidades para o trabalho humano.

Lamentavelmente, tanto nos países subdesenvolvidos como nos países em via de desenvolvimento, percebe-se uma tendência de flexibilização introduzida nas legislações trabalhistas. Deve-se tomar bastante cuidado com esta solução aparente, pois, notadamente nos lugares onde ela vem acontecendo o que se observa, na verdade, é a precarização dos direitos dos trabalhadores, sem contudo oportunizar-lhes a participação nas decisões das empresas ou em seus lucros. Esta postura deve ser rechaçada posto que atenta contra todas as conquistas obtidas através da luta operária libertária e contra-hegemônica.

A partir de uma perspectiva mais democrática, também são notadas as chamadas empresas de economia social, fundamentadas no cooperativismo e em outras formas de produção alternativas.

O estudo destes fatores evidencia que a clássica divisão do trabalho não é mais padrão dominante na economia global. NDIT - teoria da nova divisão internacional do trabalho - aborda as dinâmicas dessa outra tendência de globalização da produção.

De acordo com estudiosos do tema, três condições têm favorecido o seu desenvolvimento. São elas, segundo Fröbel et al. (1980, p.101):

1. a oferta perene de mão-de-obra extremamente barata e em abundância nos países tidos como em desenvolvimento. Esta mão-de-obra, além de poder ser facilmente substituída, quando devidamente treinada, apresenta rendimento de produção similar à dos países desenvolvidos;

101 2. as atividades poderão ser facilmente aprendidas, no menor tempo possível e por um contingente de pessoas não qualificadas, graças a segmentação no processo de produção;

3. os avanços tecnológicos viabilizam a produção total ou parcial à distância. Isso se traduziu na imensa quantidade de países em desenvolvimento que se tornaram verdadeiros pólos manufatureiros, que ofereciam, inclusive, benefícios fiscais. A intensificação da participação das mulheres no cenário produtivo, também é algo que se observa, nesse novo contexto da produção.

Em meio a esse misto de mudanças e incertezas, muitos são os que preferem fingir que nada mudou. Por sua vez, outros profetizam o fim do trabalho. Na realidade, o trabalho tem apresentado uma nova feição que, no entender de Ricardo Antunes, não é assunto recente. As economias sociais, solidárias ou cooperativas já faziam parte das discussões, como forma de contraposição à ideologia produtiva dominante. As cooperativas são um grande exemplo, acompanhadas de diversas outras formas de produção de cunho social.

Assim a economia passa, pouco a pouco a ser composta por “empresas” autogestionadas, nas modalidades produção, crédito, serviços e consumo. Diante das idéias de Paul Singer, só existe empresa solidária a partir da organização igualitária daqueles que se associam desejando produzir, poupar, traçar, consumir.

Ainda para ele, as cooperativas constituem a materialização experimental da empresa solidária, uma vez que nelas todos teriam igual parcela de capital e mesmo direito de voto em todas as decisões. Sendo assim, seus princípios norteadores seriam o da propriedade coletiva do capital e o da liberdade individual (SINGER, 2004).