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1.3 MANUSCRITO DE FLORENÇA

1.3.1 Uma nova leitura e interpretação

lação ao autor e conteúdos do Tratado crítico e à obra de Nunes que est

e

Na minha opinião, subsistem, hoje em dia, algumas dúvidas de interpretação deste episódio. Nomeadamente em relação às circunstâncias que levaram Nunes a defender-se e em re

e criticava.

Independentemente das dúvidas actuais, esta “troca” de argumentos revela que existiu debate sobre as linhas rumo no nosso país, logo após 1537. O tema terá

114 Joaquim de Carvalho, Defensão, p. VIII.

115 A nota encontra-se na página 16 do manuscrito, o que corresponde à página 52 do artigo de

Joaquim de Carvalho. Carvalho assume “tal nos sinos”. Mas faz uma nota de rodapé onde admite “leitura duvidosa”, Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 11.

116 Nota a margem, outra letra.: «não entendo a razão com que o grande Pedro nunes dis isto, saluo

se |quer| dizer que |demostrar| a falsidade na demostração de quem demostra e não responder com razão e sem prova demonstrativa», Manuscrito de Florença, fl. 35.

gerado algum interesse na corte ou na Universidade, de tal maneira que levou um bacharel a escrever um texto em latim onde, além de criticar o cosmógrafo, propun

de Albuquerque e Ana Cristina Costa Gomes apontam nessa mesma direcçã

em como as figuras

ha algumas ideias em nome próprio.

Em relação às dúvidas levantadas, a primeira questão que pretendo abordar prende-se com a identificação do bacharel. Joaquim de Carvalho comenta a possibilidade de o manuscrito de Florença ser uma resposta às críticas presentes no

livro De nauigatione escrito por Diogo de Sá117. O principal argumento que

sustenta esta hipótese é o facto de Diogo de Sá ter escrito o seu texto em latim e, como se sabe, Nunes referir precisamente (no início do texto manuscrito) que o seu “opositor” escrevera a dita crítica em latim. Apenas Carnemolla sustenta esta

hipótese como certa118, ao passo que Carvalho a comenta sem, no entanto, se

comprometer com uma resposta definitiva. Outros investigadores, como por exemplo Luís

o119.

Contudo, não creio que se possa assumir esta hipótese. Sobre isto, cumpre lembrar que a intenção expressa pelo próprio Diogo de Sá é a de refutar os Tratados nonianos de 1537: “duos tractatus Petri Nonii Doctoris confutare apud me descreui. Quorum alter de quadam interrogatione est, super qua interrogatus fuit: alter vero de Hydrographia”120. Por outro lado, a estrutura do De nauigatione, b

descritas, não corresponderem ao relato que Pedro Nunes faz.

117 É sabido que a obra de Pedro Nunes foi alvo de várias críticas. Na historiografia, a que

permanece ainda hoje como exemplo maior foi levada a cabo por Diogo de Sá, num trabalho intitulado De navigatione libri tres quibus mathematicae disciplinae explicantur ab Iacobo a Saa Equite Lusitano nuper in lucem editi (Parisiis: officina Reginaldi Calderii et Claudii eius filii, 1549).

118 “Ma davvero, ribaltando ora il punto di vista della disputa, oggetto delle critiche di Nunes sarebbe

stato Diogo de Sá? La risposta, sostenuta da alcune congetture, non può che far propendere per una risposta in senso positivo.”, Stefania Elena Carnemolla, «Pedro Nunes, matematico e cosmografico portoghese del XVI secolo, e la sua Defesa do Tratado da Rumação do globo para a arte de navegar», p. 282.

119 Luís de Albuquerque, «Pedro Nunes e Diogo de Sá», in: Jaime Carvalho e Silva (Ed.), Antologia

de textos essenciais sobre a História da Matemática em Portugal (Lisboa: Sociedade Portuguesa de Matemática, 2002) 183-207; Ana Cristina Cardoso da Costa Gomes, Diogo de Sá e o Tratado dos Estados Eclesiásticos e Seculares (1557): elementos de uma edição crítica, Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2000.

Penso que também há dúvidas em relação ao trabalho “atacado” pelo bacharel. Joaquim de Carvalho denomina o manuscrito de Florença como Defensão

do tratado de rumação do globo para a arte de navegar baseando-se

principalmente na referência de Pedro Nunes “Ly o tratado que hum Bacharel compos sobre o aRumar do globo a fim segundo por elle vejo de reprehender o que sobriso escreui na obra que deregi a A.V.A”. A isto junta-se o anúncio no De

crepusculis onde Nunes anunciou vários trabalhos, entre os quais De globo delineando ad nauigandi artem. Deve-se notar que a tradução para português é Do traçado das pomas para a arte de navegar, e que Carvalho traduzir como Tratado da rumação do globo para arte de navegar121. Nunes anuncia no livro dos crepúsculos um texto sobre o desenho de rumos nos globos. Com efeito, quer parecer-me que a principal preocupação de Nunes neste manuscrito é clarificar vários

, ublicados em 1537 e não a obra (hoje perdida) De globo delineando ad nauigandi

artem;

pontos sobre o comportamento das linhas de rumo e não tanto explicar métodos para traçar rumos no globo.

Pelo que foi enunciado, penso que é relevante voltar a olhar de novo para o texto e usando dados não disponíveis no tempo de Joaquim de Carvalho, tentar clarificar algumas coisas. Desta análise retirei duas conclusões principais, que a seguir serão explicadas: a) Pedro Nunes defende os seus tratados em português p

b) a obra da qual Nunes se defende não é o De navigatione de Diogo de Sá. Retorne-se então a questão da constituição do tratado crítico, atribuído ao bacharel. No manuscrito de Florença, Pedro Nunes dá indicações que permitiriam reconstruir o dito texto, assim ele sobrevivesse até aos nossos dias (algo que não se tem a certeza). Carvalho, no seu estudo, indicou que a obra do bacharel estava “dividida em 7 capítulos, continha umas tábuas e terminava com a exposição de umas regras de cartear”122. Na verdade, Nunes dá outra indicação, em jeito de nota final, escrevendo que “ao outro modo [de rumar o globo] que dá no capítulo oitavo”

121 Joaquim de Carvalho, Defensão, p. XXXI. 122 Joaquim de Carvalho, Defensão, p. XXXI.

não se deteria a responder, pelo que se deve inferir que a obra do bacharel teria, não sete mas, pelo menos, oito capítulos dedicados a assuntos de navegação. Nunes refere várias vezes a existência de tabelas e além disso comenta e reproduz figuras que afi

ento no manuscrito de Florença há qualquer referência directa ao De globo delineando ad nauigandi artem, ao

delineando ad nauigandi artem. Na minha opinião, poderá haver

outra e

ygual ao com que partimos: ho que era imposiuel fazer circulo mayor se por elle rma existirem no Tratado do bacharel. Estas duas pistas devem permitir, pelo menos, excluir candidatos.

Continuando. As palavras que Nunes escreve apenas referem que o tratado do bacharel versava “sobre o arrumar do globo” e que o texto criticado tinha sido dirigido a D. Luís. Ora o Tratado da sphera foi globalmente dedicado a D. Luís, tal como, em particular, o Tratado em defensam da carta de marear. Além disso, em nenhum momento Nunes afirma que o seu texto é exclusivamente sobre o “arrumar do globo”, o que pode abrir a possibilidade de o texto criticado ter múltiplos temas. Da mesma maneira, em nenhum outro mom

contrário do que Joaquim de Carvalho supõe:

i) [Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 12]: “E asi sera necesario que os Rumos vaõ çercando o globo do mar e da terra. como na minha obra escreuj (2) que me elle Reprehende posto que nesta materia naõ falei de principal intento. nẽ determinando mas somente en figura e exemplo”. Nunes refere-se ao facto de, a tomar como verdadeiras as conclusões do bacharel, os rumos fazerem ângulos diferentes com os meridianos por que passam. Joaquim de Carvalho comenta em (2): “Ou seja, na obra perdida, de que esta é a defensão”. Ou seja, Carvalho assume que Nunes se refere ao De globo

xplicação: penso que Nunes se estava referir ao Tratado em defensam da

carta de marear.

Para tentar desfazer estas dúvidas, cotejaram-se os textos do tratado em

defesa da carta e do manuscrito de Florença. A propósito do mesmo tema, Nunes

fossemos: antes he hũa linha curua: e yrregular. Como parece nesta figura que vay cercando ho globo do mar e da terra (...)”123. A expressão é exactamente a mesma que a transcrita em i). Esta prova não dissipa definitivamente as dúvidas, uma vez que a esta expressão “cercando o globo do mar e da terra” poderia ser usada também noutros textos, o mesmo se podendo dizer sobre a figura que refere. Mas creio q

s reprodu

dá indicações preciosas no sentido da hipótese que aqui se defende. Veja-se então:

m e outro no Tratado da Sphera (1537)”. Esta é xactamente a minha convicção.

ue é uma forte coincidência.

Há também a questão das tabelas de rumos. Nunes comenta as tabelas apresentadas pelo bacharel mas em momento algum se refere a tabelas por si próprio calculadas. A existirem, estas teriam forçosamente de estar no Tratado de

rumação do Globo uma vez que não estão nos tratados de 1537. Ora isto leva-me a

duvidar que Nunes já tivesse, nesta altura, composto o tal tratado dedicado à

rumação do Globo, pois seria de esperar a existência de tabelas de rumo num texto

dedicado ao traçado de linhas de rumo num globo e, consequentemente, que ele se referi-se a elas na sua “defesa”. Por outro lado, esta é uma indicação importante sobre a constituição do texto do bacharel e que permite (à partida) excluir o De

nauigatione de Diogo de Sá, uma vez que o texto de Sá não tem tabelas. Da mesma

maneira, não constam no De nauigatione qualquer das figuras que Nune ziu no texto de Florença como estando presentes no “ataque” do bacharel. No entanto, noutras notas ao texto, o próprio Joaquim de Carvalho

ii) [Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 4]: “Mas crara cousa he que o noso comum nauegar com agulha naõ he pela circũferencia de hũ circulo mayor por quanto faz sempre cõ os nouos meridianos dos lugares per que imos angulos desiguaes, como em outra parte escreuj (1) e quẽ nauega cõ agulha, leua sempre hum mesmo angulo (...)”. Joaquim de Carvalho escreve em (1): “No Tratado...sobre certas duvidas da

navegação e mais tarde, no Tratado...em defensam da carta de marear: com o regimento da altura, incluídos u

e

iii) [Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 5]: “prinçipalmente que ensinando eu mesmo na minha obra como se aja de nauegar per circulo mayor”. Joaquim de Carvalho comenta: “Refere-se ao cap. Como se nauegara per circulo mayor do

Tratado (...) em defensam da carta de marear, (...). De facto, Pedro Nunes aborda

ste tema nos Tratados de 1537 (Obras, I, pp. 157-159).

s, I, págs.

169-170)124”. Novamente, é concordante com a hipótese aqui defendida.

o e não para esta “defesa” onde parece que escreve sobre i

e

iv) [Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 16]: “E por esta causa acostuma Ptolomeo como em outra parte escreuy (1) usar de linhas dereitas (...)”. Joaquim de Carvalho comenta em (1): “No Tratado... em defensam da carta de marear. (Obra

Até aqui, apresentaram-se algumas provas que permitem pelo menos questionar que obra estaria Pedro Nunes a defender. De seguida destacam-se outras passagens que podem, para já, adensar essas dúvidas. A primeira passagem aponta para algo puramente circunstancial mas que mesmo assim me cativou a atenção. Já na segunda parte do manuscrito, Nunes escreve: “E usarei da sua mesma figura por que asi he neçessario pera lhe mostrar em que peca sua demostraçaõ, e escusar Relatalla de prinçipio, por que nẽ esta minha Reposta serue, nẽ se podera perfeitamente emtemder, se nã vendo primeiro o seu tratado e devem andar ambos juntos”. Ou seja, o cosmógrafo afirma que o Tratado do bacharel deveria ser lido em conjunto com esta sua resposta. A leitura deste excerto levou-me a questionar: se existisse anteriormente um Tratado seu sobre estes assuntos (por exemplo o De

globo delineando ad nauigandi artem) não seria lógico que Pedro Nunes remetesse

o leitor para esse mesmo text sso pela primeira vez?

Numa outra passagem do manuscrito pode ler-se: “E se eu no capitulo passado dei ordem como se prouase que ho Rumo chega ao pollo, naõ |fallei niso| denominadamente porque naõ escreuo na materia nem digo nada de Rumos. nem

menos determino aqui nen determinei no meu segundo tratado a deferença dos

meridianos, que cabe a cada hum Rumo, no qual falei exemplarmente”125. Nunes

fala da convergência das linhas de rumo nos pólos. Sabe-se que no Tratado em

defensam da carta de marear tinha a ideia de que as linhas de rumo “acabavam”

nos pólos. Mas tal já não acontece no momento em que escreve este tratado. Ou seja, quer-me parecer que isto indica que entre a publicação dos Tratados de 1537 e a escrita deste manuscrito, Nunes não escrevera nada sobre este assunto ou então no

De globo delineando ad nauigandi artem não há qualquer linha sobre a temática.

Esta conclusão é no mínimo estranha dada a (possível) natureza desse tratado perdido: se fosse um tratado sobre rumos, teria de haver alguma informação, quer concor

destacar uma outra passagem. No final do manuscrito Pedro Nunes escreve:

ey pera .V.A me for andado, e pera iso estou ofereçido ha muitos annos.126

também

dando quer discordando com a convergência nos pólos. Por último, gostaria de

E porque senhor nesta parte me pareçeo que bastaua confutar o que contra my se escreueo, pera que constase quã inJustamente fuy Reprehendido, por afirmar que todollos Rumos çercaõ ao globo. Seria agora cousa |conuemente| tratar como se deua Rumar o globo, pera correborar a dita proposiçaõ per verdadeiros principios. Do qual ficariaõ manifestas, asy no globo como na demostraçaõ todas aquelas cousas em que a carta e o globo saõ conformes ou diferentes, e a verdade das distançias dos meridianos, e quantidade dos caminhos, e todo ho de mais de que se pede Rezaõ que aconteçe no nauegar. As quaes cousas determinar quando

m

Parece pois que Pedro Nunes confirma que o texto de Florença seria apenas para se defender dos ataques do bacharel. Depois, revela intenção de escrever um

Tratado em que iria tratar de coisas relacionadas com o “rumar o globo”, coisa que

nesta resposta ao bacharel não aprofunda e que faria (possivelmente) no volume que anuncia no De crepusculis. Para tal, só aguardava o pedido de D. Luís. Posto isto, creio que ficou claro que poucas são as pistas que sustentam a hipótese de que Pedro Nunes estivesse com este texto a defender o seu De globo

125 Manuscrito de Florença, fl. 36. 126 Manuscrito de Florença, fl. 49.

delineando ad nauigandi artem. Na minha opinião, o manuscrito de Florença

destinava-se a comentar um Tratado latino escrito por um bacharel que por sua vez “atacava” algumas ideias que Pedro Nunes deu ao prelo nos seus tratados originais de 153

de Joaq

7.

Outro aspecto que necessita ser explicado é o da datação do manuscrito. À primeira vista, a questão dos limites superiores das datas em que este manuscrito poderá ter sido escrito parece estar resolvida. No texto, Pedro Nunes dirige-se ao Infante D. Luís que viria a falecer em 1555, pelo que o manuscrito não terá sido escrito depois desta data. No que diz respeito aos limites inferiores, Nunes refere ao longo do texto os seus “tratados”, em especial o que escreveu dirigido a D. Luís. Sejam estes quais foram terão sido escritos depois de 1537, data em que publicou os primeiros textos sobre náutica e assim se tornou conhecido do público em geral127. Surge assim uma janela temporal em que se pode trabalhar: 1537-1555. Mas penso que será possível melhorá-la, mesmo com prejuízo de invalidar algumas conclusões uim de Carvalho e geralmente aceites pela comunidade de investigadores128. Como já foi evidenciado, Carvalho sugeriu que foi Diogo de Sá e o seu De

nauigatione que suscitaram a defesa manuscrita de Pedro Nunes. Não obstante,

inclinou-se para uma datação do manuscrito não posterior a 1544. Baseia-se no facto de Nunes referir as aulas aos infantes e não a sua posição universitária em Coimbra, atribuída em 1544. Para o justificar adiantou a possibilidade de Nunes ter tido acesso ao manuscrito da De nauigatione antes da sua publicação em 1549, baseando-se apenas numa passagem do manuscrito de Florença em que Nunes

Mariano Esteban Piñeiro (coords.), La ciencia y el mar, (Valladolid: Los autores,

127 Não se afirma com isto que Pedro Nunes fosse um desconhecido até 1537. Existem provas que

nos anos de 1530 exerceu uma actividade dinâmica tendo, inclusivamente, sido alvo das primeiras críticas – é o próprio que o refere nos Tratados de 1537. Além disso poderá ter esboçado alguns trabalhos durante estes anos, como é o caso dos textos sobre álgebra ou sobre trigonometria esférica.

128 O que escrevo ao longo deste capítulo, fruto de alguns anos de investigação, nem sempre me foi

evidente. Em trabalhos anteriores subscrevi a totalidade das interpretações de Joaquim de Carvalho. Ver, por exemplo: Bruno Almeida, «A curva loxodrómica de Pedro Nunes», in: Maria Isabel Vicente Maroto,

refere:

a que Nunes se refere no manuscrito, para situar a escrita deste manuscrito por volta da época em que publica

. (...)”. Joaquim de Carvalho tem razão nesta afirmação, o que implica que Pedro Nunes poderá ter tido conhecimento desta

res, cujas obras se relacionam principalmente com o período de formação de Pedro Nunes e com os

ção. Reconheço que não são fortes o suficiente para dissipar dúvidas mas ainda assim devem ser referidos. Nas linhas

“Dizem mal de meus tratados aproueitandose delles e usando muitas uezes de minhas proprias palauras”129.

Penso, no entanto, ser possível ser mais preciso na datação deste manuscrito. Em primeiro lugar, devo concordar com Joaquim de Carvalho quando por duas vezes se baseia no elenco de livros de texto de referência,

o De crepusculis (1542). Vejam-se então essas passagens:

v) [Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 15]: “prinçipios de vitello no pº Lº da prespeitiua (1)”. Joaquim de Carvalho comenta em (1): “Refere-se ao Vitellionis

(...) Perspectiuam (...), cuja primeira ed. saíu em Nuremberga em 1535 (...). Pedro

Nunes citou este livro no De crepusculis edição (ou de manuscritos) antes de 1542.

vi) [Joaquim de Carvalho, Defensão, p. 26]: “ Eu posso dizer dos que Vy. que saõ Euclides, Theodosio, Mileo, ptolomeo Albategni, gebre Monte rregio, Vernero (...)”. Joaquim de Carvalho comenta: “É de notar a indicação destes auto

escritos que redigiu até ao De crepusculis, nos quais são citados”.

Considero, no entanto, que há no texto dois indícios que podem sustentar hipóteses diversas em relação às datas desta composi

que encerram este texto, Pedro Nunes escreve:

Mas escreuo com desgosto porque eu primeiramente nestas partes tratey a cosmographia per modos scientificos e ingeniosos, onde nam se sabia mais que buscar hum lugar em Ptolomeo e ler por Pomponio Mela. Achey como se tomase a altura do polo a toda ora do dia e outras cousas proueitosas pera a nauegaçaõ. Ensinej

nuscrito de Florença, fl. 47.

aos excelentisimos Prinçipes o Ifante Dom Luys, o Iff. dom Anrrique e o Iff. dom duarte. Com as outras pesoas, nam fuy diffiçil nem taõ façil, que a sciençia per mym fose diminuida. Mas agora vendo que se leuantaõ nouamente homẽs que vaõ onde os am chamaõ leuaõ o que lhes naõ pedem, falaõ em tempos que per ventura os naõ uereriaõ ouuir, prometem em todo lugar muy largamente mais do que se pode pedir. D

João II

37 (referindo-se a ter estado doente entre 1533 e 1537), fá-lo neste anuscrito, e volta a fazê-lo na dedicatória do De crepusculis: “Com efeito, devido de Vitrúvio]”. Esta coincid ncia de datas pode ser mais um argumento a favor da datação avançada

se seguem desenvolve-se uma análise mais detalhada, e predom

n q

izem mal de meus tratados aproueitandose delles e usando muitas uezes de minhas proprias palauras e querendo falar em tudo danaõ tudo. Tenho determinado por esta Rezaõ acabando de alimpar alguãs obras que escreuy pasar meus estudos aa philosophia, e a largarlhes as mathematicas no estudo das quaes perdi a saude irremediauelmente.

A referência ao “Iff. dom duarte” deteve a minha atenção. De que infante falaria Nunes: do filho bastardo ou do irmão de D. João III? Na minha opinião, não fala do filho do rei já que este era membro do clero e a sua formação se deu fora da corte, uma vez que só foi aí oficialmente admitido em 1542, tendo morrido pouco depois já no ano de 1543. Resta o irmão do rei. A questão é que este irmão de D. I morreu a 20 de Setembro de 1540, e Nunes não tece qualquer desvio discursivo para referir esse aspecto. Claro que nada o obrigava a fazer, mas sugiro que isso pode indiciar que, na altura em que o manuscrito foi escrito, o infante ainda estaria vivo. Por isso, é possível que este texto tenha sido escrito entre 1537 e 1540. Noto também que Nunes se refere novamente a problemas de saúde. Já o tinha feito em 15

m

à falta de saúde, não acabei a obra começada [tradução

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