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CAPÍTULO II – 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 UMIDADE DA BACIA E TIPO DE SOLOS

A condição de umidade antecedente (AMC) é um indicador da umidade do solo. A metodologia do Soil Conservation Service (U.S. DEPARTMENT OF AGRICULTURE, 1972 apud MENEREY, 1999) apresenta três níveis de AMC (I – baixo potencial de escoamento; II – condição média; III – quando a bacia está saturada e o potencial de escoamento é o mais alto). Conforme Menerey (1999), um solo que está seco produz menos escoamento do que o mesmo solo quando está saturado. A umidade no solo desempenha um importante papel na quantidade de escoamento que irá ocorrer. Se a análise hidrológica está tentando fazer a correspondência a uma enchente do passado, será necessário usar a condição de umidade correta que estava presente no tempo em que o evento de seca ocorreu.

O estado de umidade do solo na bacia hidrográfica, anterior à ocorrência de precipitação afeta a taxa de infiltração. Antes que o escoamento superficial se inicie, em condição de seca, a bacia pode absorver mais precipitação através da infiltração do que quando o solo estiver previamente sob umidade. A precipitação de chuvas intensas sobre uma bacia com umidade alta pode aumentar as enchentes. As características do escoamento dependem da umidade superficial do solo (GOVERNO DE QUEENSLAND, 2004).

De acordo com a Embrapa (1999), a drenagem interna refere-se à quantidade e rapidez com que a água recebida pelo solo infiltra ou escoa superficialmente, afetando as condições hídricas do solo – duração de período em que permanece úmido, molhado ou encharcado. Não basta haver uma boa distribuição anual de chuvas em uma região; se ocorrem perdas dessa água, o solo pode não ficar úmido o suficiente para desenvolver determinada cultura. A capacidade de armazenamento ou retenção de água no solo é determinada, sobretudo, pela textura e profundidade efetiva do solo e teor de matéria orgânica nele presente. A água fica retida e armazenada, com mais facilidade, entre poros menores (solos argilosos) do que entre poros maiores (solos arenosos). As perdas ocorrem pela evapotranspiração, pelo escoamento superficial ou por percolação profunda (CASTRO, 2003). Conforme Pedron e outros (2007), o relevo condiciona a drenagem e, conseqüentemente, a quantidade de água disponível para as reações de intemperismo, bem como a água armazenada no solo assimilável pelas plantas.

Os Argissolos são solos de profundidade variável, desde forte a imperfeitamente drenados, de cores avermelhadas ou amareladas e, mais raramente, brunadas ou acinzentadas. A classe Cambissolo comporta desde solos fortemente até imperfeitamente drenados, rasos a profundos, de cor bruna ou bruno-amarelada até vermelho escuro, constituídos de material mineral. A classe Latossolo corresponde a solos com avançado estágio de intemperização, em geral, muito profundos, fortemente a bem drenados (EMBRAPA, 1999).

Para Pedron e outros (2007), os Argissolos com textura argilosa, em relevo suave ondulado, apresentam boa capacidade de retenção de umidade, com deficiência de água em virtude da ocorrência de períodos secos (solo grupo Bruno Acinzentado) e baixa capacidade de retenção de água (solo grupo Argissolo vermelho). O Cambissolo, com textura argilosa, em relevo forte acidentado, é muito susceptível à erosão devido ao relevo e possui baixa capacidade de retenção de água. O Neossolo Litólico, característico de relevo forte ondulado a montanhoso, é susceptível à erosão e possui baixa capacidade de retenção de água. O solo é pouco desenvolvido, com presença de rochosidade e pedregosidade. O Nitossolo, com textura argilosa, em relevo suave ondulado a ondulado, possui capacidade média de retenção de água.

Segundo Sgrott (2003), os Cambissolos são encontrados na parte inferior de encostas de morros. Predominam na região serrana, em geral com associação com os Latossolos vermelho-amarelo, em relevo montanhoso e forte ondulado, associados a Neossolos litólicos e afloramento de rochas, nas áreas de relevo mais acidentado (MENDES, 2006a). A Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB, 2007) menciona que os Neossolos, solos de baixa profundidade e, portanto, de baixa capacidade de armazenamento, intensificam a deficiência hídrica. Neossolos Litólicos e Cambissolos são encontrados em relevo acidentado e com declives muito fortes e apresentam exígua profundidade dos solos.

Jacomine (2005) distingue os Nitossolos dos Argissolos, de acordo com a nova versão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS). Os Nitossolos apesar de apresentarem alto teor de argila são bem porosos, sendo comum valores acima de 50%. São solos bem drenados, contudo há registro de ocorrência de drenagem moderada tendendo a imperfeita (GOULART, 2006).

Solos com menor teor de argila apresentam menor retenção de água; porém isso não significa que os solos com teor de argila mais elevado liberam maior volume de água. Os Latossolos argilosos e os Latossolos muito argilosos possuem reduzida disponibilidade hídrica em razão de sua estrutura e, principalmente, a forte microagregação da fração da argila, ressecando o solo em poucas horas. Existe maior disponibilidade hídrica quando há melhor estruturação do solo, como, por exemplo, na estrutura em blocos dos Nitossolos Vermelhos (anteriormente Terras Roxas Estruturadas), em relação à estrutura granular forte dos Latossolos Vermelhos férricos (Latossolos Roxos) (PRADO, 2005).

A declividade média de uma bacia hidrográfica possui importante papel na distribuição da água entre o escoamento superficial e subterrâneo. A ausência de cobertura vegetal, classe do solo e intensidade de chuvas, dentre outros, associada à maior declividade, conduzirá à maior velocidade de escoamento, menor quantidade de água armazenada no solo e resultará em enchentes mais pronunciadas. A magnitude dos picos de enchente ou a menor oportunidade de infiltração e suscetibilidade à erosão dos solos dependem da rapidez com que ocorre o escoamento superficial, que está fortemente relacionado com o relevo (TONELLO et al., 2006).

A Bacia do Rio Uruguai está localizada na região do derrame basáltico sul-brasileiro. Em geral, as rochas formadoras do substrato apresentam pouca porosidade e baixa capacidade de absorver e armazenar a água do solo. Os solos contêm altos teores de argila, o que contribui para reduzir a capacidade de infiltração. A camada de solo sobre o substrato rochoso nas regiões de encosta é relativamente fina, apresentando pouca capacidade de armazenamento. As características de geologia e solos da região contribuem para uma baixa capacidade de regularização natural da vazão na bacia, com grande predomínio do escoamento superficial em detrimento do escoamento subterrâneo.

Em conseqüência das características físicas da bacia, tais como relevo pronunciado, fortes declividades, solos relativamente argilosos, rasos e pouco permeáveis e substrato rochosos de basalto com baixa capacidade de armazenamento e regularização, as cheias ocorrem com muita rapidez apresentando pequena “memória” (menor regularização natural), de acordo com Andreolli, Collischonn e Tucci (2006), e a vazão do Rio Uruguai é altamente variável. Apesar da grande área da bacia, predomina o escoamento superficial, gerado pela fina camada de solo

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