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Com base em minha pesquisa, posso afirmar que após o contato com o não índio, houve transformações consideráveis na vida dos Umutína, afetando drasticamente os costumes e os padrões culturais do grupo.

Atualmente eles vivem em uma área de 28.120 hectares homologada em 1989, a 15 quilômetros de Barra do Bugres, município na região oeste de Mato Grosso, e ocupam uma área de terra entre os rios Bugres e Paraguai, numa faixa de transição entre a Amazônia e o Pantanal. Dos 28.120 hectares, apenas 500 são de área aberta, onde os índios residem e praticam a agricultura familiar, a pesca e criação de animais como galinhas, bovinos e equinos, servindo como fonte de subsistência. Como alternativa de renda, algumas famílias fazem artesanato que é vendido na própria região. Outros são funcionários públicos (professores, funcionários da saúde, da FUNAI, pensionistas, aposentados).

A população é de aproximadamente 540 pessoas, entre Paresi, Boróro, Irantxe, Nambikwara, Terena, Bakairi, Kaiabi, Chiquitano5 e não-índios. Tanto que, entre os “legítimos”, como são chamados, figuram apenas membros das famílias Apodonepá (2), Kupodonepá (13), Amajunepá (9), Boroponepá (4) e Wakixinepá (2), totalizando 30 Umutínas legítimos. No entanto, alguns membros dessas famílias já não residem mais na aldeia, pois muitos se mudaram para as cidades vizinhas. De acordo com informações

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coletadas na aldeia, houve um aumento considerável na faixa de natalidade indígena nos últimos cinco anos.

Na comunidade há uma escola, na qual funciona o ensino fundamental (da pré- escola ao 9º ano) e Médio (1º ao 3º ano). As séries iniciais até o 5º ano é de responsabilidade da SEMEC de Barra do Bugres, já as demais séries até o ensino médio são de responsabilidade do Estado. Atualmente a escola conta com cerca de 120 alunos, registrando uma acentuada evasão escolar, neste ano de 2012, devido ao êxodo de muitas famílias para as cidades vizinhas em busca de trabalho.

Os professores são da própria comunidade, formados pelo curso do 3º grau indígena, da Unemat de Barra do Bugres-MT, sendo que a grande maioria deles já possui especialização.

Hoje um grande percentual de egressos do nível Médio da escola da aldeia está saindo para cursar o ensino superior em universidades públicas, como a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso) e UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos). Porém, antes do jovem sair da aldeia para estudar fora, é firmado um acordo com a comunidade, com o compromisso de voltar e contribuir para o povo. Caso não haja condições de trabalho na própria na comunidade, vão para outra aldeia ou até mesmo para outras cidades.

Com relação à estrutura física, a aldeia central possui um formato retangular, onde as casas são distribuídas uma ao lado da outra. Porém, com o crescimento da população, novas moradias foram construídas nas proximidades e devido à aglomeração de pessoas. e até por causa de alguns conflitos entre famílias, vem surgindo novas aldeias. Uma parte das casas foi construída na época de Rondon pelos próprios índios que residiam no Posto. São pequenas casas de alvenaria dispostas uma ao lado da outra acompanhando estrutura geométrica da aldeia. Nessas casas ainda residem alguns dos remanescentes Umutína.Todas elas recebem água encanada e energia elétrica e quase não há mais casas tradicionais. A maioria das famílias já possui eletro-eletrônicos, inclusive algumas já são proprietárias de carros ou motos. Hoje existe no local uma boa infra-estrutura, com farmácia que serve como posto de atendimento às pessoas da comunidade, além de uma pequena padaria mantida pela associação das mulheres, onde fabricam pão caseiro e bolos

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que são vendidos na própria aldeia. A organização política da aldeia Umutina é composta por cacique, chefe de posto, lideranças, profissionais de saúde, professores, associação, conselhos, pastoral da criança e comunidade.

No que se refere à saúde, segundo o professor Luizinho Ariabô, ainda utilizam bastante a medicina tradicional, respeitando-se a tradição de cada povo. Entre os idosos, os problemas de saúde mais recorrentes são a diabete, devido ao hábito de alimentação adotado da sociedade ocidental. Hoje uma grande parte da alimentação da comunidade são os produtos industrializados comprados nos supermercados da cidade de Barra do Bugres- MT.

Os Umutina tinham sua própria cosmologia religiosa, com suas próprias formas de explicar os fenômenos naturais e sobrenaturais, porém, a partir do contato houve uma ruptura na cultura e na vida social desse povo, com a entrada das religiões dos não-indios. A primeira religião introduzida na aldeia foi a católica (predominante), depois a evangélica. Com essas vieram a igreja Internacional da Graça de Deus, Assembléia de Deus, o que influenciou, sobremaneira, na vida cultural dos Umutina, causando um grande impacto nos etnoconhecimentos. (ARIABÔ, 2010 )

É importante destacar, que por ser uma aldeia multiétnica, há muitos casamentos entre etnias diferentes, bem como, índios e não-índios, provocando, cada vez mais, a miscigenação entre eles. Consequentemente nascem os conflitos entre etnias, resultando no surgimento de novas aldeias em território Umutína, como aconteceu recentemente com a criação da nova aldeia Bakalana.

Quanto à situação linguística da comunidade, embora haja essa diversidade étnica entre eles, são monolíngues em português. Somente os pouquíssimos mais velhos é que ainda conhecem ou falam pouco de suas línguas maternas no seio familiar, quase que raramente, segundo eles próprios. Na escola da aldeia é ensinada a língua Umutína, ou seja, desde as séries iniciais, e todo trabalho é feito com base no léxico, a partir do poucos registros que ainda existem. Vale ressaltar que devido à pluralidade linguística dessa comunidade indígena, o conflito linguístico é inevitável. Sobre isso e a complexa relação entre línguas desencadeada por essa pluralidade linguística, tratarei com mais detalhes no último capítulo da tese.

23 CAPÍTULO II