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Unidade e Univocidade

do Acto

Embora o horizonte ontológico da participação se constitua na e pela diferenciação, virtualmente infinita, dos actos de ser, sendo, deste modo, o horizonte ontológico constituído pela diferença em acto em cada acto de ser, e sendo cada acto de ser apenas porque é diferente, sendo o seu ser próprio outorgado pela diferença que o constitui, diferenciando-o, há um nível mais profundo em que esta plurivocidade se ancora numa univocidade fundamental e fundante. Se cada acto de ser só é porque é o que é, quer dizer, é diferente do restante, tendo pelo menos uma nota que lhe é própria e irredutível a qualquer outro e que o distingue e, distinguindo-o, o faz ser, – senão seria indistinguível e, como tal, redutível a outros algos –, no entanto, todos são habitados pela nota comum do acto que os ergue e os lança no ser. Não é que esse acto seja o mesmo para todos; todos têm, são esse acto, e todos são ser. Ser diferente não é ser mais ou menos ser enquanto acto fundador.94 A di-

ferenciação do ser não anula o carácter de ser, o seu acto participativo. Todos são actos participativos e isso funda o ser. Cada ser é fruto de um acto de participação, que lhe é próprio enquanto diferença opera- tiva, mas que é comum, não no sentido de ser partilhado ou de partilhar o mesmo acto, mas no sentido de todos terem como criador um acto,

94 T.V.I, p. 333: “Comme l’être, la valeur est toute entière présente là même où

l’on pense n’en découvrir qu’une ombre.” (Como o ser, o valor está presente todo inteiro aí mesmo onde se pensa não se descobrir dele senão uma sombra.).

que, enquanto acto, é o mesmo.95 A essência do acto de ser como cri-

ador da participação é a mesma. A sua operação é que é diferenciada e diferencia a criação dos seres:

“L’être de chaque chose réside bien dans sa modalité concrète et particulière, mais c’est parce que celle-ci ne peut être posée indépen- dament, non pas seulement de l’être univoque qu’elle détermine, mais encore de toutes les autres modalités qu’elle appelle et avec lesquelles il faut qu’elle demeure unie pour que cette univocité ne soit pas alté- rée.”96

À partida, o intervalo entre os seres poderá ser ou não ser ser. Se não for, os seres estão infinitamente distantes, todos de todos, bem como o trânsito entre duas eventuais possíveis formas evolutivas do mesmo ser não é possível, uma vez que o trânsito de ser para ser só faz sentido ser for feito em ser, como ser. Se entre dois seres ou entre duas formas evolutivas diferentes do mesmo ser não tivermos um ser pelo qual se faça o trânsito, não é possível fazer esse trânsito.97 Como é ób-

vio, não se transita pelo nada. Considerações semelhantes se impõem relativamente ao possível carácter de acto do intervalo.

Quer em termos de ser quer, sobretudo, em termos de acto, o que é (o acto do que é) ou é contínuo ou descontínuo. No primeiro caso, os seres comunicam entre si, por meio do acto que a todos ergue, e estão sempre infinitamente próximos, infinitesimalmente, não havendo soluções de continuidade relativamente ao ser, dado que é um mesmo acto contínuo, infinitesimalmente contínuo, que os une e suporta; na

95D.A., p. 78: “[. . . ] là où l’être est posé, il ne peut l’être qu’absolument et indi-

visiblement. Il n’est pas susceptible de degrés, il ne comporte ni le plus ni le moins.” ([. . . ] aí, onde o ser é posto, não pode senão sê-lo absolutamente e indivisivelmente. Não é susceptível de graus, não comporta nem o mais nem o menos.).

96I.O., p. 21 (O ser de cada coisa reside precisamente na sua modalidade concreta

e particular, mas é porque esta não pode ser posta independentemente não apenas do ser unívoco que determina, mas ainda de todas as outras modalidades que convoca e às quais é necessário que permaneça unida, para que esta univocidade não seja alterada.).

segunda, os seres estão separados, o que impõe entre eles uma distância infinita, melhor, um nada de acto, uma vez que não há modo de reparar o corte que existe entre eles. A reparação seria feita com a utilização de ser, de acto, nos moldes do primeiro caso:

“Le propre de la participation, c’est de créer un écart entre l’acte to- tal et l’acte particulier, afin précisément que l’acte pur ne cesse d’inspirer et de soutenir l’acte particulier qui pourtant doit s’en séparer de manière à réaliser une démarche personnelle et assumer une initiative qui lui est propre.”98

O que o entendimento da realidade como fruto da actividade ma- tricial do acto nos permite, neste caso, é perceber o modo como esse eventual corte é preenchido, melhor, o porquê da ausência desse corte, uma vez que a absoluta continuidade da actividade matricial do acto, produtora do ser, garante a continuidade desse mesmo ser. O encontro com esta actividade, que não teve origem, não tem origem senão eter- namente em si mesma e que não pode ter fim senão num acto que, sem cessar e eternamente, a reafirma, permite descobrir o fundamento e o garante da existência e da constância do ser. Sendo assim, o intervalo entre os seres não é uma ausência de ser, mas apenas, e fundamental- mente, a marca da sua diferença, da possibilidade da sua distinção e da sua distinção em acto, da identidade própria de cada um. O inter- valo é, negativamente, o que separa, distinguindo, pondo fronteiras aos seres e entre os seres, evitando a confusão, a indiscernibilidade. Mas é, positivamente, o que constitui cada ser pela demarcação que lhe dá relativamente ao que os outros seres são e que ele não é, não pode ser. Deste modo, o intervalo, mais do que uma ausência de ser, é a própria actividade matricial em acção, é essa mesma cunhagem de cada acto de ser pelo acto criador, é a marca, não da ausência de actividade do acto, mas da mesma actividade, que, ao exercer-se criando cada ser, o

98 D.A., p. 200 (O que é próprio da participação é criar um afastamento entre

o acto total e o acto particular, a fim precisamente de que o acto puro não deixe de inspirar e de sustentar o acto particular, que, no entanto, deve separar-se dele, de modo a realizar um movimento pessoal e a assumir uma iniciativa que lhe é própria.).

faz distintamente e, portanto, intervaladamente. O intervalo está, pois, preenchido pela actividade do acto, em trânsito de ser para ser. Não é um abismo vazio, é um passo activo entre dois pontos. Assim, o in- tervalo entre dois seres tem como ser próprio o passo necessário dado pelo acto de um ser para o outro,99 tem como seu o ser do acto, que

mais não é do que infinitos destes passos criadores.

Assim, na sua manifestação operada pelos actos de ser, o ambiente ontológico caracteriza-se por uma plurivocidade, que, por ser exacta- mente diferenciada ao infinito, virtualmente, não pode apresentar qual- quer equivocidade, pois não há possibilidade alguma de haver dois ou mais seres iguais.100 No entanto, ao nível do acto que os produz, há

uma univocidade, dado que isso que constitui o acto produtivo e que evita infinitamente a queda no nada absoluto é o mesmo.101 Não é um

mesmo acto produtivo partilhado, é uma mesma essência activa que se manifesta. Esta essência activa é o factor da participação ou a própria participação em acto e constitui a face matricial do acto puro, unidade metafísica da participação.102

99Não cabe aqui um entendimento cronológico do passo. O domínio é puramente

ontológico e pode mesmo ser um ambiente de infinita concomitância, precisamente metafísica.

100E é esta necessária omnidiferencialidade e real diferença que é o garante metafí-

sico da não equivocidade, exactamente pelo infinito de uma realíssima plurivocidade.

101I.O., p. 10: “C’est ce que l’on peut exprimer en disant d’abord que l’être est

universel, c’est-à-dire que hors de lui il n’y a rien, ensuite qu’il est univoque, c’est-à- dire que quelle que soit la différence entre ses modes (par exemple entre le possible et le réalisé) elle n’atteint pas l’être de ces modes.” (É o que se pode exprimir dizendo, primeiro, que o ser é universal, quer dizer, que fora dele nada há, de seguida, que é unívoco, quer dizer, que qualquer que seja a diferença entre os seus modos (por exemplo, entre o possível e o realizado), não atinge o ser desses modos.).

102P.T., p. 77: “D’une manière plus générale, tous les termes que l’on distingue en

sont des aspects. Toutes les idées abstraites sont obtenues par une analyse de l’être, mais l’être qui les contient toutes et qui est le principe vivant de leur séparation et de leur accord est aussi la seule idée qui ne soit séparée ni abstraite. Ainsi, en deman- dant quel est le terme auquel l’être convient, on renverse d’une manière illégitime le problème véritable : car l’être n’est pas un terme spécifié, mais chaque terme est une spécification de l’être total.” (De uma maneira mais geral, todos os termos que se

Não terá, no entanto, esta universalidade do ser necessariamente um carácter puramente abstracto, de modo a poder abarcar toda a noção de ser? A universalidade não é, na sua essência de elemento comum a tudo, necessariamente abstracta? Para poder dizer-se de tudo, sem que se caia numa unicidade monótona e num monismo absolutos, não tem que ser necessariamente abstracta? Caso contrário, como evitar que tudo seja igual, isto é, que não haja diferença e que, portanto, dizer tudoequivalha a dizer apenas um único? Não é o carácter abstracto da universalidade exacta e propriamente a salvaguarda da possibilidade do haver uma ontologia como diferenciação em seres diferentes e ir- redutíveis absolutamente quer entre si quer a um qualquer princípio comum? Sendo assim, o ser, essa comum noção universal que permite a mínima identificação, não é tão só e apenas um mero referencial abs- tracto, constructo criado pela inteligência, a partir do quase nada da aparência de continuidade intuída no universo dos seres? Isto é, algo sem correlato ontológico que não o de algo sonhado ou fantástico, qui- mera composta pelo afã unitivo do logos humano, que, à falta de uma unidade substantiva que não se descobre na realidade, inventa ou pro- jecta uma unidade a-real ou supra-real, com a qual em vão explica a insustentável co-existência dos seres? Não é isto o ser? Não é o ser um quasi-nada fantasmagórico cuja realidade substantiva se apoia apenas na capacidade recombinatória da inteligência humana, que, incapaz de ser, imagina?

De tal modo é isto verdade que o processo do conhecimento só começa quando ao ser se acrescentam as determinações que o enrique- cem e o realizam. Deste modo, como correlato possível e em acto de inteligência, o ser não tem qualquer cabimento, a não ser quando, à sua abstracta universalidade, se juntam as concretizações que criam a

distinguem são seus aspectos. Todas as ideias abstractas são obtidas por uma análise do ser, mas o ser, que as contém a todas e que é o princípio vivo da sua separação e do seu acordo, é também a única ideia que não é separada ou abstracta. Assim, ao perguntar qual é o termo ao qual o ser convém, inverte-se de uma maneira ilegítima o verdadeiro problema: pois o ser não é um termo especificado, mas cada termo é uma especificação do ser total.).

diferença, diferença esta que é a única capaz da inteligência e relati- vamente à qual a inteligência é capaz. É o relevo da não coincidência entre o que é diferente, isto é, exactamente, o que não coincide e cria, assim, a diferença que permite a leitura da inteligência. Metaforica- mente, sem este relevo ôntico (e, mais do que ôntico, metafísico), o campo possível da inteligência, adequado à sua operação, reduzir-se-ia a algo de plano, absolutamente sem relevo, em que nada poderia ser detectado como destacando-se de uma absoluta igualdade, mesmidade, indiferenciação: o exacto oposto de um campo adequado ao trabalho da inteligência. Aqui, nada seria detectável, pois nada haveria que de- tectar: seria indiscernível do nada. A absoluta indiferenciação, como a absoluta quietude, são indiscerníveis de um absoluto nada. Isto, de um ponto de vista do acto de ser humano. Mas este ponto de vista é sempre o único de que dispomos e mesmo qualquer referência pos- sível ou efectiva a qualquer um outro é sempre por ele mediatizada. Compreende-se, pois, que este relevo metafísico que suporta o relevo ontológico criado pela inteligência seja como que uma criação, seja mesmo uma criação, uma co-criação, a única a que temos acesso, pois é a única de que temos referência, referência esta que coincide exacta- mente com o mesmo acto de criação ontológica: a criação do ser como sentido do acto que o eleva metafisicamente, dado que “[...] ce que l’on entend par création n’est donc rien de plus que cette activité éternelle qui ne peut pas s’interrompre sans que l’être s’anéantisse.”103

Esta posição é sedutora, parece-nos, pois lisonjeia o carácter analí- tico da inteligência, mas esquece que a essência própria da inteligência é exactamente o ler em acto, o intuir o acto da presença e esta, qual- quer que seja o modo como se apresente, é sempre a fundadora do ser: o ser é o correlato em acto relativo à inteligência do acto da presença. O ser é o produto intencional, intuitivo, da inteligência perante a pre- sença. Sem esta, não haveria nem ser nem inteligência. O fundamento da universalidade do ser é a concretude da presença, do acto de ser, em

103T.V.I, pp. 400-401 ([. . . ] o que se entende por criação nada mais é, pois, do

português: de absolutamente estar aí, este absoluto indesmentível, a não ser pelo absoluto do nada. É esta intuição primeira e primária que constitui o acto da inteligência que é o ser. O ser é, pois, o acto univer- sal da inteligência perante a presença. O ser é uma presença segunda, síntese em acto da presença primeira do acto puro, na sua matriz dada à participação, e do acto de inteligência do acto de ser humano.

Note-se que este sentido não é produto de qualquer discursividade. Trata-se de uma intuição que ou se dá ou não se dá, mas que é irre- dutível a qualquer demonstração. O ser não se demonstra, porque a presença não é demonstrável, mas tão só mostrável, no seio da intuição em acto de presença. Esta experiência parece, aliás, permear e atra- vessar toda a humanidade, pelo menos nos seus momentos de auroral e virginal contacto com o que é, experiência possível, de que não se pode dizer, à partida, que esteja vedada a qualquer homem em particular e que, em geral, define o horizonte próprio da humanidade.

Há, no entanto, um carácter paradoxal no considerar-se o ser como abstracto, dado que é o todo que se pode dividir, mas que não se pode acrescentar sem que esse acrescento não se insira imediatamente no âmbito do próprio ser. Qualquer tentativa de acrescentar o ser apenas revela que, nesse acrescento, o ser também está, melhor, também já lá estava, pelo que qualquer eventual acrescento, quando em acto,104

se revela, não como uma nova síntese de ser, mas apenas como uma nova síntese do ser, isto é, uma nova visão analítica, que resulta para- doxalmente numa nova síntese, da inteligência em acto perante o acto da presença. Não há alternativa à presença para além da presença, – o que não é propriamente alternativa –, ou, então, a ausência absoluta de presença, o que, como já se viu abundantemente, implicaria que nunca houvesse presença alguma e retiraria totalmente qualquer sentido, em absoluto.

104D.A., pp. 112-113: “On peut dire de l’acte qu’il est la cause de soi et de tout

ce qui est parce qu’il se réduit lui-même à l’Efficacité absolue dont participe toute démarche qui possède la moindre efficacité relative.” (Pode-se dizer do acto que é causa de si e de tudo o que é, porque se reduz em si mesmo à Eficácia absoluta de que participa todo o movimento que possui a mínima eficácia relativa.).

O ser é o acto total da presença, presente a uma inteligência ca- paz,105 acto que não é acrescentável enquanto tal, no sentido de que

não é nem mais acto (nem menos) nem acrescentável com algo que não seja, esteja, em acto e, portanto, o mesmo acto. As determina- ções do acto, isto é, os diferentes modos de presença são discernidos analiticamente pela inteligência. É este acto de discernimento que dá concomitantemente quer a intuição do ser, isto é, da presença inamissí- vel quer dos seres, dados no modo diferenciado que a presença assume, na diferenciação que o acto de participação, que cria a presença, forma. Cada acto de ser é a sua própria concretude. O acto de ser coincide, na sua totalidade, com a sua concretização. Nada há no acto de ser que não seja concreto. Assim, o ser de algo não é diferente desse mesmo algo de que é ser: não é um acrescento ou um mero carácter que possa ser separado. Entre o ser e o acto de ser não há distinção possível. Separar um do outro seria o mesmo que anular qualquer possibilidade de entidade. O ser é o acto de ser; o ser é sempre algo em acto; é o que é em acto, na concretude do acto, nesta se esgotando; a esta criando, com ela se confundindo.

Deste ponto de vista, o ser como acto é algo de interior ao que é. É a interioridade mesma do que é. Inseparável dessa mesma interio- ridade. Mais do que inseparável, é o foco activo dessa interioridade, que nada é, nada pode ser sem essa actividade que a ergue. O ser como acto é a interioridade própria de cada acto de ser. Mas, se assim é, como não cair num atomismo ontológico radical, absoluto, inultrapas- sável, dado que, se cada ser tem, ou melhor, é um ser que, enquanto

105D.A., pp. 111-112: “[. . . ] c’est l’acte qui est toujours l’origine de tout le reste

et de lui-même, qui nous fait assister à la genèse des objets possibles au moment même où nous l’accomplissons et qui est la seule réalité qui puisse être connue par une intuition, puisqu’elle est antérieure à la distinction du connaissant e du connu et nécessaire pour fonder cette distinction elle-même.” ([...] é o acto que é sempre a origem de tudo o resto e de si próprio, que nos faz assistir à génese dos objectos pos- síveis, no mesmo momento em que os realizamos, e que é a única realidade que pode ser conhecida por uma intuição, dado que é anterior à distinção entre o conhecente e o conhecido e necessária para fundar esta mesma relação.).

acto que o ergue, é incomunicável, esse ser, cada um desses seres, não é apenas relacionável com essa mesma sua interioridade, dado que o seu ser não transita, e absolutamente irrelacionável com algo que não seja essa mesma interioridade? O ser visto deste modo não elimina a relatividade possível, a possibilidade da exo-relação, a possibilidade de um mundo, de uma realidade? O ser não terá de ser visto, antes, como algo de independente relativamente à concretude e à concretiza- ção que é cada acto de ser? Não será apenas por ser possível abstrair esse não-concreto comum que pode haver uma comparação inter-seres e a intuição da comunidade entre esses mesmos seres dada exactamente pelo que neles é menos concreto e, portanto, comunicável, que é o ser? Não será rigorosamente o ser o que há de menos concreto? Poder-se-á confundir o ser com o ser de cada acto de ser? Afinal, o ser é apenas a nota mínima de possível comunidade entre os actos de ser ou é mesmo a interioridade de cada acto de ser e, se o é, como é que pode haver inter-mútua-referência? Como é que a relação é possível? Esta per- gunta torna-se, como se pode ver, em uma equivalente a essa outra: o que é o ser?

Não faz qualquer sentido separar o ser da interioridade activa que constitui qualquer entidade. O ser ou é essa mesma interioridade, na sua exacta concretude total, ou não é coisa alguma, absolutamente. O ser de algo é sempre o seu acto interior, aquilo que o ergue em absoluto, perante o nada e também perante o possível demais, dado que com o nada não há relação possível e o único átomo possível, dado que o nada não é, é o infinito. Ora, cada acto de ser é esse infinito necessário? O tal acto de ser que ergue cada ser é um infinito? Parece estranho que o possa ser, mas ainda que complexificadamente matizada, não há outra possibilidade. Metafisicamente não há hipótese de haver qualquer não preenchimento em acto.

Não pode, pois, haver qualquer topos metafísico que não esteja pre-