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5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

UNIDADES DE ANÁLISE SUBCATEGORIAS

F %

Necessidade dos pais CPnp Estressante CPes

Direito legal criança CPdl Interação CPin Metafórica CPme 19 17 7 4 2 38,78 34,69 14,29 8,16 4,08 TOTAL 49 100

Na tabela 1 observa-se que as informantes do estudo atribuíram maior importância à descrição da concepção da permanência como necessidade dos pais (CPnp), com 19(38,78%) das unidades de análise temática, que tem um significado expressivo, pois mostra que a enfermeira entende a permanência dos pais como necessária, principalmente no que diz respeito à segurança em relação aos procedimentos realizados com seu filho e a confiança que estes precisam estabelecer com a equipe cuidadora.

Essa reflexão é ressaltada por Souza, Ribeiro e Eckert (2003) quando destacam que a atenção da enfermeira para essas diferentes dimensões da necessidade dos pais reforça a sua responsabilidade, como profissional que promove a assistência ao bebê.

Esta subcategoria foi seguida pela estressante (CPes) com 17 (34,69%) das unidades de análise, o que parece representar a visão das enfermeiras, de que a permanência dos pais na unidade torna-se, muitas vezes, estressante devido ao quadro grave da criança, que necessita de intervenções complexas e especializadas, durante a assistência integral. Esta é considerada complexa pela enfermeira, pois muitas vezes não permite que a mesma esteja disponível para atender aos pais; portanto as enfermeiras acreditam que precisam dedicar maior tempo ao cuidado da criança, tornando difícil encontrar tempo para dar atenção aos pais. (PAULI; BOUSSO, 2003).

A subcategoria direito legal da criança surge com 7 (14,29%) das unidades de análise nas quais as informantes entendem que o acesso e a permanência dos pais junto ao neonato de risco é um direito de cidadania, garantido pelo Estatuto da criança e do adolescente que, entre outros aspectos, garante o direito à saúde e à internação hospitalar com acompanhamento dos familiares.

Desse modo, as enfermeiras demonstram conhecer a lei nº8069 que ressalta no artigo 12 que “os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação da criança ou adolescente” (BRASIL, 1991, p. 110).

Segue a subcategoria interação com 4 (8,16%) das unidades no total da categoria que traz, na concepção das entrevistadas, a visão da profissional enfermeira sobre a relação que se estabelece entre a equipe e os pais durante a permanência desses na UTIN.

Nesse sentido demonstram que os pais e a equipe de enfermagem têm um objetivo comum, o restabelecimento da saúde da criança. Assim, entendemos a importância de desenvolver ações que permitam o diálogo entre os pais e a enfermeira, no sentido de manter

a participação dos pais, consolidando o conhecimento que pode ser aprofundado a partir das orientações contínuas para o cuidado após a alta hospitalar. Com menor índice, segue a subcategoria metafórica com apenas 2(4,08%), cujas expressões serão analisadas posteriormente.

Apresentamos a seguir as diversas significações da concepção da permanência dos pais em UTIN produzidas pelas informantes e que estão associadas e foram obtidas através do discurso expresso pela linguagem, oriundas do conhecimento do senso comum.

• Necessidade dos pais (CPnp)

Nesta subcategoria, a permanência dos pais na UTIN está relacionada à necessidade desses permanecerem junto ao seu filho internado. A categoria Concepção da permanência encontra-se ancorada no estabelecimento da confiança entre a equipe e os pais, e a segurança desses em relação ao que está acontecendo com seu filho. Essa demanda, provavelmente, deve-se à complexidade da situação vivenciada pelos pais na hospitalização do bebê.

O conceito de necessidade ressaltado por Mora (1998) pode ser entendido de duas maneiras: como necessidade ideal e como necessidade real. A primeira expressa o encadeamento de idéias, enquanto a segunda expressa o encadeamento de causas e efeitos.

Jean Piaget (apud MORA, 1998), em 1938, definiu a necessidade como parte integrante de uma tríade, da qual fazem parte também o real e o possível. Mede ele a “força de integração” das significações produzidas e logicamente relacionadas pelo sujeito.

Ainda, segundo esse autor, o desenvolvimento da necessidade passa pela definição de necessidade primária que está relacionada às necessidades biológicas primárias, como fome, sede, fadiga, necessidade sexual. Como a satisfação das necessidades primárias parece não dar conta, particularmente no indivíduo, do conjunto das condutas, postulam-se necessidades secundárias, concebidas como mecanismos motivacionais, menos vitais, mas a serviço das necessidades primárias. Essas são as necessidades de imitação, de filiação ao grupo, de integração, etc.

[...] a permanência dos pais na unidade vejo como uma necessidade (2,8,14,21) [...] é a forma dos pais se sentirem mais seguros em relação ao que está sendo feito com as crianças (2).

Doron e Parot (1998) ressaltam que a necessidade de integração é o desejo de se sentir próximo de outros indivíduos que se parecem conosco e que nos apreciam; assim como a aspiração de poder colaborar com eles.

Nesse sentido, a concepção das enfermeiras acerca da permanência dos pais na unidade é vista como uma necessidade dos pais, de integração com a equipe que cuida do recém-nascido internado. Dessa forma, os pais conseguem estabelecer um elo de confiança com aequipe, sentindo-se mais seguros em relação aos procedimentos que são realizados com seu filho e podendo participar do seu processo de recuperação, estabelecendo um vínculo afetivo com o bebê.

Moscovici (2003) coaduna com essas reflexões quando ressalta que as pessoas e grupos criam representações no decurso da comunicação e da cooperação.

Essa necessidade dos pais aparece como elemento constituinte da estrutura da representação das enfermeiras acerca da permanência dos pais na UTIN.

Nessa mesma linha, Oliveira e Collet (1999) comentam sobre a necessidade da mãe de permanecer junto ao filho para o estabelecimento do vínculo com a criança e a equipe que cuida do bebê.

• Estressante (CPes)

Nesta subcategoria, encontramos diversas significações da concepção da permanência pelas enfermeiras de UTIN, que estão relacionadas ao estresse e que foram obtidas por meio do conhecimento do senso comum.

[...] a permanência dos pais é sempre um estresse devido ao quadro grave da criança (6) [...] é estressante para a equipe a permanência dos pais na unidade (17) [...] a permanência gera desconforto da equipe nas unidades (4).

A concepção da permanência como estressante para a equipe traz a discussão do termo “stress” que foi introduzido no campo da saúde em 1936, para designar a resposta geral e inespecífica, do organismo humano ao estressor ou situação estressante. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado como resposta do organismo, associada à situação que desencadeia (BOTTI et al., 2007).

O estresse é a reação intensa do organismo frente a qualquer evento que altere a vida do indivíduo. Essa reação ocorre, em geral, em função da necessidade de adaptação e

podemos acreditar que a adaptação dos pais à situação vivenciada com a hospitalização do seu filho na UTIN torna sua permanência na unidade estressante para as enfermeiras.

Isso ocorre devido a alguns aspectos como a gravidade do bebê, a demanda de trabalho devido à ocupação total dos leitos da UTIN, o que acarreta a indisponibilidade de tempo da enfermeira para oferecer a atenção que os pais merecem.

Nessa condição, a permanência dos pais na UTIN está associada aos aspectos cognitivos comportamentais e psicoemocionais, nos quais podemos incluir o desgaste emocional do lidar com as dúvidas, incertezas e medo dos pais, frente ao quadro clínico do bebê, o que causa desconforto para a equipe.

Assim, as representações sociais como fenômenos cognitivos, envolvem a pertença social dos indivíduos com as implicações afetivas e normativas, com as interiorizações de experiências, práticas, modelos de condutas e pensamento socialmente transmitidos pela comunicação social (JODELET, 2000).

• Direito legal da criança (CPdl)

Nesta subcategoria, as informantes percebem que a permanência dos pais na unidade está associada a um direito legal da criança de ter um acompanhante em tempo integral durante a sua hospitalização, o que sabemos só traz benefícios para o bebê e sua família.

Nesse sentido, segundo Collet e Rocha (2004), é direito legal da criança a permanência dos pais em período integral no ambiente hospitalar.

O direito legal da criança está ancorado na necessidade do neonato de receber a atenção dos pais durante a sua hospitalização, ajudando na sua recuperação e minimizando problemas futuros de relacionamento do bebê com a sua família.

Isto pode ser encontrado nos relatos das enfermeiras registrados nas unidades de análise que se seguem.

[...] é um direito dos pais permanecer na unidade (6) [...] vejo a permanência dos pais como um direito (14) [...] a criança tem direito de ser acompanhada pelos familiares (8) [...] a gente sabe que os pais têm que entrar na unidade (10) [...] a permanência dos pais na UTIN deve ser livre.

Como já foi dito, no Brasil, a prática da permanência dos pais no hospital se consolidou após a promulgação da lei nº 8069, de 13 de julho de 1990, que regulamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Para Moscovici (2003) numa sociedade em que existem poderes e interesses, devem existir as representações ou valores que dêem sentidos e, sobretudo, que se esforcem para que os indivíduos se unam através de crenças que garantam a sua existência em comum. Isso tudo é guiado por opiniões, símbolos e rituais, isto é, por crenças e não simplesmente pelo conhecimento ou técnica.

Neste sentido, o direito legal da criança de ter um acompanhante durante a sua hospitalização tem proporcionado mudanças na relação dos pais com o filho internado, fortalecendo o vínculo afetivo entre os mesmos, além de possibilitar uma maior interação da enfermeira com a família.

• Interação (CPin)

Essa subcategoria, interação, encontra-se ancorada na relação da enfermeira com os pais, com o objetivo de criar laços e estabelecer diálogo entre os mesmos, assim como transmitir conforto e tranqüilidade para a mãe que está com seu filho internado. Nessa perspectiva, podemos identificar nas falas a seguir que:

[...] permanência é estabelecer diálogo com os pais (1) [...] é a forma da equipe conhecer os pais para que se estabeleça uma relação de confiança (1) [...] é estabelecer laços com os pais (1).

Segundo Oliveira e Collet (1999), além da competência técnico-científica para atender às necessidades decorrentes do diagnóstico e da terapêutica, a enfermeira necessita de instrumentos teóricos sobre o crescimento e desenvolvimento das relações interpessoais que possibilitem compreender os pais e o bebê, estabelecendo um vínculo com os mesmos.

Jodelet (2000) reforça essas reflexões quando afirma que as representações sociais são reconhecidas como sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com os outros, orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais.

• Metafórica (CPme)

Esta subcategoria põe em evidência como, na visão das enfermeiras, os pais percebem o ambiente da UTIN. As metáforas, como processo de objetivação, segundo Vala (2001), representam a transformação do desconhecido – ou não familiar – em familiar, mostrando sua proximidade com o pensamento icônico das informantes, as quais descrevem:

[...] para os pais a UTIN parece um monstro (1) [...] para os pais a UTIN é um bicho de sete cabeças (23).

Segundo Doron e Parot (1998), a metáfora é a figura de estilo que faz com que uma palavra assuma a significação de outra, que pertence a um campo semântico próximo.

Esta metáfora comparou a UTIN com elementos significativos que simbolizam a visão das enfermeiras sobre a concepção dos pais no que diz respeito à unidade. Na análise estrutural das metáforas construídas nas falas transcritas, vemos a UTIN ser comparada a um” monstro”e a um “bicho de sete cabeças”, evidenciando dessa forma o lado negativo na visão das enfermeiras sobre a concepção dos pais em relação à UTIN, desvalorizando essa permanência, certamente pela dificuldade que as profissionais sentem em incentivar e manter a permanência dos pais na UTIN.

Assim, a compreensão desses significados permite-nos perceber a vivência das enfermeiras em relação à permanência dos pais na UTIN, conforme sua representação da realidade que, segundo Abric (2000), é reapropriada pelo indivíduo ou grupo, reconstruída em seu sistema cognitivo e reintegrada a seus sistemas de valores.

Segue a síntese da análise da categoria 1 ― Concepção da permanência na UTIN (CPUTIN).

ESQUEMA 2: Síntese da análise da categoria 1 – Concepção da permanência na UTIN