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1 – A SELEÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA E DEMAIS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

UNIDADES ESCOLARES LIVROS DIDÁTICOSADOTADOS

E. E. Américo René Giannetti Lucci; Brando; Mendonça E. E. Ângela Teixeira da Silva Lucci; Brando; Mendonça E. E. Antônio Luis Bastos Lucci; Brando; Mendonça E. E. Antônio T. Ferreira de Rezende Lucci; Brando; Mendonça

E. E. Bueno Brandão Lucci; Brando; Mendonça e Marina; Rigolin E. E. da Cidade Industrial Magnoli; Araújo

E. E. de Uberlândia Lucci; Brando; Mendonça E. E. do Bairro Jardim das Palmeiras Lucci; Brando; Mendonça E. E. do Parque São Jorge Marina; Rigolin

E. E. Frei Egídio Parisi Marina; Rigolin E. E. Guiomar de Freitas Costa Marina; Rigolin

E. E. Hortêncio Diniz Lucci; Brando; Mendonça e Marina; Rigolin E. E. Ignácio Paes Lemos Lucci; Brando; Mendonça e Corrêa; Borges; Costa E. E. Jerômino Arantes Apostilado

E. E. João Rezende Lucci; Brando; Mendonça E. E. Lourdes de Carvalho Lucci; Brando; Mendonça E. E. Messias Pedreiro Lucci; Brando; Mendonça E. E. Neuza Rezende Lucci; Brando; Mendonça E. E. Professor Inácio Castilho Lucci; Brando; Mendonça E. E. Professor José Ignácio de

Souza Coelho; Terra e Sene; Moreira E. E. Professora Juvenília Ferreira

dos Santos

Lucci; Brando; Mendonça e Marina; Rigolin E. E. Segismundo Pereira Lucci; Brando; Mendonça

E. E. Sérgio de Freitas Pacheco Lucci; Brando; Mendonça E. E. Teotônio Vilela Lucci; Brando; Mendonça

24 escolas 6 títulos adotados

QUADRO 2 – Relação de livros didáticos de Geografia adotados pela rede de escolas estaduais de Ensino Médio em Uberlândia (MG) – 2005.

FONTE: Pesquisa de Campo; 2005.

Geografia: Pesquisa e Ação (Ângela Correa; Raul Borges; Wagner Costa) – Editora Moderna.

Considerando-se que o conjunto bibliográfico da literatura didática de Geografia para o Ensino Médio disponível no mercado editorial brasileiro não é reduzido, afirma-se tratar de uma variedade muito pequena, agravada, ademais, pela concentração das adoções em apenas dois títulos – sendo a distância entre ambos igualmente significativa – o que sugere uma homogeneização nesse procedimento de escolha do professor (Cf. QUADRO 3). Por que isso ocorreu?

AUTORES TÍTULOS NÚMERO DE ADOÇÃO

Elian Alabi Lucci Anselmo Lazaro Branco

Cláudio Mendonça

Geografia Geral e do Brasil

18 Lúcia Marina Alves de Almeida

Tércio Barbosa Rigolin

Geografia 6 Demétrio Magnoli Regina Araújo Projeto de ensino de Geografia. Geografia geral. 1

Marcos Amorim Coelho Lygia Terra

Geografia geral: o espaço natural e sócio-

econômico 1 Eustáquio de Sene

João Carlos Moreira

Geografia geral e do Brasil 1 Ângela Correa Raul Borges Wagner Costa Geografia: pesquisa e ação 1

QUADRO 3 – Relação de títulos didáticos adotados pela rede de escolas estaduais de Ensino Médio em Uberlândia (MG) – 2005.

FONTE: Pesquisa de Campo; 2005.

ORGANIZAÇÃO: SILVA, Jeane Medeiros; 2005.

No conjunto, são 28 adoções (e uma opção declarada por apostilas) pelas 24 escolas, pois dentre algumas delas, a exemplo da Escola Estadual Bueno Brandão e da Escola Estadual Juvenília Ferreira dos Santos, com 1.569 e 1.277 alunos matriculados, respectivamente, os professores adotam dois títulos, um livro

com ênfase mais física (maior peso na Geografia Física) para o 1º ano e outro mais político (com maior peso na Geografia Humana) para as duas últimas séries, de acordo com informações de professores de algumas destas instituições, e que correspondem, respectivamente, às obras Geografia, de Almeida; Regolin (2005), e Geografia Geral e do Brasil, de Lucci; Branco; Mendonça (2003).

Trata-se de obras que são adquiridas apenas uma vez durante o período no qual o estudante cursa o Ensino Médio, desde que o professor não mude sua escolha ou não indique títulos diferentes para as séries, posto que são volumes únicos, anunciando todo o conteúdo do último nível da educação.

Nas últimas décadas, com a progressiva queda da qualidade da educação básica pública – conseqüência, como se defende posteriormente, do projeto político-pedagógico do regime militar (1964-1985)6 – em geral apenas as classes sociais de menor poder aquisitivo têm freqüentado as instituições assistidas pelo governo, principalmente quanto ao Ensino Médio, considerado uma fase de transição entre a formação inicial do estudante e o ingresso no Ensino Superior.

Esse argumento transparece no diálogo com os profissionais da educação da realidade considerada, quando da visita às suas instituições, no tocante à adoção dos livros didáticos de Geografia, momento em que alguns afirmaram que o critério de escolha do compêndio se pauta unicamente no valor monetário do produto, e não em questões propriamente pedagógicas, como se poderia acreditar.

Tal fato foi constatado: nas livrarias da cidade, os dois títulos mais adotados Geografia Geral e do Brasil, de Elian Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Branco e Cláudio Mendonça, adotado 18 vezes, e Geografia, de Lúcia Marina Alves de Almeida e Tércio Barbosa Rigolin, adotado seis vezes, custam até um terço do valor de outros títulos disponíveis7.

6 Mas não só, pois o problema da educação no Brasil não é apenas ideológico, mas também

econômico, social, político etc.

7 Geografia, de Almeida; Regolin, custa R$ 30,00, e Geografia Geral e do Brasil, de Lucci; Branco;

Medonça, R$ 48,70, enquanto Projeto de Ensino de Geografia – Geografia Geral, de Magnoli; Araújo, adotado em uma escola, custa R$ 88,90, dentre outros não listados pelas escolas estaduais de Uberlândia que assomam importância monetária até maior.

Sobre a lista de adoção suscitada pela pesquisa, ainda há outros esclarecimentos, colocados a partir de informações dos professores com os quais se teve contato.

Mesmo sendo, em sua maioria, títulos de custo econômico modesto (o que em si é relativo), nem sempre a adoção significa que o professor trabalha diretamente com o texto didático: há escolas em que os livros estão em classe no turno matutino e não no noturno (composto basicamente por alunos trabalhadores ou que, estando desempregados, realmente necessitam trabalhar para se manterem), há escolas com clientela tão desprovida economicamente que o acesso ao livro de Geografia restringe-se a consultas de exemplares da biblioteca da escola. Nesses casos, o professor trabalha com resumos, esquemas e trechos de textos fotocopiados, no esquema de apostilas. O conjunto de escolas estaduais citado, quanto ao perfil sócio-econômico institucional (aferido, ressalva-se, apenas em observações diretas em campo e não por meio de dados), não é muito divergente entre si. Portanto, a obrigatoriedade ou não do livro de Geografia em classe, adquirido às expensas do alunado, depende da interpretação político-pedagógica da escola, ou seja, do entendimento que a direção escolar tem de sua clientela, tanto que a opção por apostilar o ensino de Geografia, ao longo dos três anos do Ensino Médio, pode ser até mais dispendioso que a aquisição do compêndio em si.

Vê-se, portanto, que a adoção às vezes é uma simples indicação bibliográfica.

Não deixa, então, de haver uma conseqüência desvirtuadora no ato de isolar o livro em seu âmbito de realização social como suporte do objeto desta dissertação. No entanto, controversamente, isso já se traduz em um caminho: a materialidade lingüística que se endossa tem uma constituição social, em sentido mais amplo, que é considerada. Por outro lado, a instância social dos sujeitos-alunos ou sujeitos-leitores (especificamente, o uso – leitura e compreensão – que faz do material escrito) não é levada em conta por direcionar a proposta para outras direções que não a estipulada, ou seja, decide-se, nesta dissertação, por uma ordem sentidural*, explicada adiante, quando do esclarecimento do lugar discursivo da presente pesquisa.

As obras Geografia (Almeida; Regolin - 2005) e Geografia Geral e do Brasil (Lucci; Branco; Mendonça – 2003), pela posição que ocupam na lista preparada para a dissertação, e por representar o maior acesso da clientela estudantil das escolas estaduais aos livros didáticos de Geografia, na realidade de Uberlândia, ficam estabelecidas como os corpora desta pesquisa. Decidiu-se optar pelo exemplar do aluno, que é o único disponível no mercado, pois o livro do professor é de circulação restrita. Com esse gesto, atém-se à materialidade lingüística em circulação para um público maior, com os sentidos constituídos tal qual o aluno ou o leitor comum interessado tem acesso para a leitura e o estudo.

1.3 – Posições metodológicas e procedimentais da presente pesquisa na ótica da Análise do Discurso

Em face da resolução de pesquisar o livro didático de Geografia tendo por base empírica os enunciados* desse material e, por tema, o discurso político da literatura didática em uso na rede pública estadual de Uberlândia, a pesquisa está disposta às orientações de cunho qualitativo e interpretativo oriundas da Análise do Discurso de linha francesa (em sua vertente pecheuxtiana, mais exatamente).

A decisão pela Análise do Discurso como esteio teórico-metodológico está na possibilidade, a partir da sua ótica, de investigar a materialidade lingüística do livro didático de Geografia – uma vertente inédita na Geografia brasileira, não só na pesquisa do ensino básico desta ciência.

Até início do século XX, como se verá nos próximos capítulos, o livro escolar de Geografia tem sido pesquisado pela perspectiva do seu agenciamento e da análise (avaliativa) de seu conteúdo, estando pendente uma descrição analítica de sua linguagem em termos discursivos, que apenas se esboça neste princípio do século XXI no âmbito institucional de cursos de pós-graduação em Lingüística, como já mencionado. Nesses termos, a Análise do Discurso, especificamente a

organização epistemológica da linha francesa – na qual a pesquisadora centra sua formação lingüística (colocando-a em interface com os estudos espaciais de sua formação em Geografia) – tem uma visão da linguagem permeada pelo sujeito, pela história e pela ideologia, correlacionados no discurso, que é pertinente ao entendimento da Geografia e do ensino na instância da sua enunciação*.

Assumindo uma posição qualitativa, a pesquisa pretende não enveredar por resultados estatísticos precisos e representativos da realidade que estuda. Números e outras expressões de grandeza (como os utilizados na primeira parte deste capítulo) são meramente referenciais, direcionados a um e a outro dado. Significa, ademais, que se trabalha a partir de construções teórico-conceituais, procurando a natureza dos sentidos nos enunciados do discurso político em livros didáticos do ensino de Geografia na realidade citada.

A pesquisa qualitativa empreendida envereda por um viés interpretativista analítico-descritivo, a partir da seleção de enunciados e das regularidades discursivas em cuja superfície se indiciam os recursos e as marcas do discurso que corroboram a produção dos sentidos políticos nos corpora anunciados.

O percurso empreendido no referencial teórico da Análise do discurso, reunindo um certo conjunto de elementos que instrumentalizam e organizam a análise, situa a pesquisa no esteio metodológico da investigação qualitativa. A interpretação indica que o percurso teórico configura um olhar sobre a teoria, e um olhar sobre os corpora, e não outros, o que permite o construto dissertado neste espaço de enunciação.

A análise, por sua vez, é empregada nesta definição metodológica da pesquisa menos como a decomposição de um todo (ademais porque se procede por recorte) que a descida a um nível de detalhamento e de procura dos elementos constitutivos do discurso em questão, articulando-os à exterioridade histórico- ideológica igualmente constitutiva.

E, por fim, a descrição referencia um passo inerente à análise e que corresponde à identificação dos enunciados e à precisão dos limites discursivos e analíticos.

Estes aspectos serão aprofundados no Capítulo 5, pois a perspectiva epistemológica de um campo científico não permite, sem distorções, uma cisão entre teoria e metodologia: uma decorre da outra. No Capítulo citado, será apresentada a Análise de Discurso e suscitada, em detalhes, a via teórico-metodológica na qual se fundamenta a presente pesquisa.

Por discurso político, entendem-se os enfoques da Geografia Política e da Geopolítica8 sobre as relações sociais de poder que se fundamentam no espaço. Ao longo do desenvolvimento moderno do pensamento geográfico, a perspectiva da política do discurso dessa ciência a marca desde sua gênese enquanto ciência institucionalizada por meio da análise das relações humanas com a natureza, ou seja, a apropriação política e econômica do espaço terrestre enquanto ambiente que abriga a sociedade humana e que lhe oferece recursos à sobrevivência. Concebendo o espaço geográfico como um continuum terrestre, a Geografia Clássica deu conta das relações sociais que seccionam o espaço em termos de apropriação, e a esse recorte, político em razão dos jogos de poder que o produz, referiu-se como (a um) território (nacional). A própria noção de distribuição espacial, também fundante, caracterizou a Geografia humana como uma Geografia Política.

A Geopolítica, por seu lado, de fundação posterior, teve entre seus principais articuladores agentes externos à ciência geográfica, como homens de Estado, geralmente militares (mas também contribuintes civis), que pensaram os territórios – nacionais – para além das concepções sociais de poder, isto é, em termos de estratégia para propósitos de defesa, conquista e desenvolvimento dos Estados. Em vista disso, os centros de pesquisa e estudos militares foram locais de operação, por excelência, da Geopolítica, hoje denominada Clássica. A Geopolítica, no âmbito da Geografia, tem sido reconstruída criticamente nas últimas décadas (VESENTINI, 2001a; VLACH, 2003; BECKER, 2000, dentre outros).

O pensamento político, desde Friedrich Ratzel (1844-1904), é uma constância no discurso geográfico, embora o lugar dessas disciplinas, em razão do político, tenha sido apagado, esquecido, silenciado e interditado, em nome de uma cientificidade positivista que não comportava, em sua organização epistemológica, a

8 Para uma discussão aprofundada sobre Geografia Política e Geopolítica, consulte-se, entre outros,

instabilidade do processo político, permanentemente em aberto e interessado, negando, portanto, o político e a política em favor da neutralidade do sujeito- pesquisador e do objeto-pesquisado, este preferencialmente visto como um “produto”, fragmentável e dado ao isolamento analítico9.

As formações discursivas Geografia Política e Geopolítica, a despeito das diferenças que a elas são atribuídas, reafirma-se, referenciam o que se denomina, neste trabalho, de discurso político. A partir dos anos 1970, na ciência geográfica e no seu ensino (portanto, também no livro didático da disciplina), esse discurso político é re-avaliado e re-elaborado, sendo, inclusive, parte importante do movimento crítico que reagiu ao paradigma neopositivista – as correntes de abordagem teorético-quantitativa – que predominou na década de 1950 e nos anos seguintes.

Nesta dissertação, em que se considera a presença do discurso político nos livros didáticos de Geografia como objeto de pesquisa, evidencia-se a importância desse debate em face das orientações que circunscrevem o ensino básico em geral, e o de Geografia em particular, como base contribuinte para a formação da cidadania.

E pensar a cidadania em Geografia é pensar sua dimensão política. Portanto, como essa dimensão se faz presente no livro didático? Que sentidos produzem? Qual é o seu funcionamento lingüístico-discursivo? Qual é a sua contribuição para uma formação cidadã? Como se constitui nos livros didáticos, enfim?

9 Estes aspectos históricos e metodológicos da Geografia Política e da Geopolítica serão retomados,

em profundidade, no Capítulo 4, que explora algumas coordenadas que propiciam as condições de apreensão do discurso político, em sua constituição, no livro didático de Geografia, realizada no Capítulo 6.

1.3.1 – Organização da análise discursiva: macro e micro-instância

Para responder àquelas indagações de pesquisa, procura-se reconstruir uma macro-instância para o discurso político em questão e fazer um percurso analítico em micro-instância, conforme proposição de Santos (2004). A macro- instância concerne à “[...] uma explicitação das condições de produção de uma determinada manifestação discursiva” e a micro-instância é “[...] focalizadora de potenciais de significação dos sentidos no interior de uma manifestação discursiva” (SANTOS, 2004, p. 113).

Cumpre, nesses termos, revisitar as formas possíveis de compreensão do livro didático brasileiro e do livro didático de Geografia – sua trajetória histórica e ideológica, o papel do Estado em seu desenvolvimento e as concepções analíticas desses materiais como objetos da pesquisa acadêmica, dentre outras perspectivas.

Este gesto macro desencadeou um procedimento de abordagem do livro didático, em geral, e o de Geografia, em particular, pois os objetos-corpora desta pesquisa não são, em hipótese alguma, estanques, manifestos em uma realidade que lhes seja exclusiva. São, antes, manifestações ou acontecimentos discursivos lastreados por um complexo subterrâneo histórico-ideológico, decorrendo dele, portanto. Atentando para essa necessidade constitutiva, inscreve-se o livro didático em seu âmbito – nas condições histórico-ideológicas de sua produção e significação. Neste passo, completa-se o estabelecimento de uma macro-instância da pesquisa com uma abordagem da Geografia enquanto ciência constituída, bem como ao seu ensino, embora se tenha o propósito de discutir os limites do discurso político, fundamentando sua apreensão nos livros selecionados, estando-se, então, delimitando uma passagem para a micro-instância que converge, em seguida, à análise proposta.

Estreitando progressivamente essa abordagem maior do objeto, apresenta-se uma visão da Análise do Discurso e arregimenta-se um espaço de reflexão teórica correspondente à incursão propositiva à análise que encerra a dissertação.

Operacionalizando uma micro-instância alicerçada teórico- metodologicamente na Análise do Discurso, exploram-se, entre outras, as noções de discurso, formação discursiva, memória, silêncio, heterogeneidade e sentido como conceitos e meios para se compreender o político nos livros didáticos de Geografia por intermédio da análise dos corpora selecionados.

1.3.2 – O lugar discursivo da pesquisa

Do ponto de vista investigativo, em relação ao objeto discursivo que estuda, o analista institui-se em uma ordem em face da dispersão dos sentidos no discurso, isto é, reconhece uma conjuntura de elementos no corpus visando à organização da pesquisa que realiza.

A posição metodológica do analista – ou o lugar discursivo da pesquisa – por conseguinte, presume um repertório de três ordens: ordem identitária; ordem sujeitudinal; ordem sentidural. As ordens identitária e sujeitudinal têm uma certa aproximação, quando primam pelos sujeitos: o primeiro envereda por uma direção etnográfica e a segunda perfaz um diagnóstico discursivo dos sujeitos, coletando dados por meio de protocolos verbais ou considerando este foco em uma materialidade textual. A ordem sentidural precisa de um passo a mais, além do sujeito, para trazer à cena a constituição dos sentidos e os seus efeitos na arena da enunciação.

Assim, esta pesquisa, no contexto da Análise do Discurso, posiciona-se em uma ordem sentidural, dos sentidos, de dois corpora publicados em suportes- livro, e não em uma ordem sujeitudinal e/ou identitária, dos sujeitos, em que estes se interpretam na circunscrição de um certo discurso. A esse respeito, as colocações de Santos (2004, p. 112) são esclarecedoras: a interpelação da ordem sujeitudinal

[...] trata do lugar discursivo em que o analista lança seu olhar sob a perspectiva das relações estabelecidas entre os sujeitos e os discursos,

considerando seus processos de identificação e a natureza de suas circunscrições na ordem dos discursos.

Nessa ordem, estarão em pauta os processos interativos (diálogos, entrevistas, depoimentos orais etc.), sendo que a referencialidade da análise dar-se-á com a investigação identitária do sujeito e a consideração interpretativa de suas “idiossincrasias sócio-histórico-ideológicas”. Por outro lado, a ordem sentidural coloca “[...] um lugar discursivo em que o analista lança seu olhar sob a perspectiva da construção/atribuição/descolocamento de sentidos nos discursos pelos sujeitos” e, desse modo, o analista salienta as

[...] referências variáveis que interpretem a organização interna, o comportamento das significações e os processos de transformação ocorridos nos sentidos a partir de sua inserção nos discursos e de seu funcionamento nos processos enunciativos (SANTOS, 2004, p. 112).

Ainda na perspectiva da ordem sentidural, há outras projeções metodológicas: uma sobre a natureza seqüencial do discurso e uma sobre sua natureza conceitual. A primeira observa as etapas constitutivas de um discurso e a segunda releva a nomeação, a designação e a denominação dos conceitos no âmbito enunciativo do discurso. Ambas também serão acionadas como norteadoras da análise empreendida neste trabalho.

1.3.4 – O tratamento dos corpora: suscitação de temas e recortes

Os livros didáticos selecionados para a pesquisa – Geografia Geral e do Brasil e Geografia – são volumes únicos endereçados às séries do Ensino Médio. São livros didáticos de lançamento recente em relação à realização desta pesquisa: Geografia Geral e do Brasil tem primeira edição de 2003 e Geografia, em 2005, está na 2ª edição.

Geografia foi escrito por dois autores que, em uma identificação com a posição de professores – à maneira como os professores costumam ficar conhecidos em suas instituições – assinam o volume como “Lúcia Marina e Tércio”.

Lúcia Marina (Alves de Almeida) é bacharel e licenciada em Geografia pela Pontifica