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Unidades Fraseológicas, Expressões Idiomáticas e outros “compostos”

2 RESENHA DA LITERATURA

2.2 ESTUDOS DO LÉXICO E DAS EXPRESSÕES MULTIPALAVRA

2.2.2 Unidades Fraseológicas, Expressões Idiomáticas e outros “compostos”

Outro autor que aponta a deficiência no modo como são apresentadas as UFs nos dicionários brasileiros de português é Welker (2011, p. 139) que, alegando ftal ragilidade, procura, através de seus estudos, mostrar como, numa situação ideal, as colocações e as expressões idiomáticas (doravante EIs) deveriam ser apresentadas.

Isso novamente parece elucidar a importância da investigação das EM dadas as semelhanças de contextos linguísticos em que, tanto as UFs e as EIs, quanto as EM costumam ocorrer.

Assim, segundo Burger (1998, apud Welker, 2011, p. 139) “existe um consenso de que a fraseologia abrange uma grande variedade de combinações de palavras, desde colocações até provérbios.”

No entanto, para Welker (p. 143), entre as EIs e as colocações, não há limites precisos visto que “[…] nas expressões idiomáticas o

significado não corresponde à soma dos significados das partes”. Um exemplo disso, seria o composto bater papo.

Welker (2011) defende também uma melhor disposição desses elementos da fraseologia nos dicionários e glossários em geral a qual deveria ser levada em conta porque

[…] cada um desses três tipos de sintagmas – colocação, expressão idiomática, palavra composta – deve estar registrado num lugar específico do verbete. Tanto as palavras compostas quanto as expressões idiomáticas devem ser dicionarizadas como sublemas (subentradas), mas em lugares diferentes ou, no mínimo, estar diferenciadas por algum símbolo.(p. 145)

Para o autor (p. 137ss.), infelizmente, “percebe-se que a grande maioria dos dicionários preza mais a compreensão de textos do que a produção – o que se percebe pelo fato de eles não oferecerem todas as informações necessárias à produção”. E ele acrescenta “estes deveriam ajudar não somente na recepção como na produção de textos.”

Mais adiante, em seu artigo, Welker (2011, p. 148) complementa dizendo que, na maioria dos dicionários, as colocações são tratadas com pouca relevância, uma vez que, segundo ele, não há, na introdução dessas obras, uma definição de colocação, somente registra-se uma pequena quantidade de colocações as quais costumam ser incluídas de forma desordenada. Além disso, não são apontadas como fraseologismos, vindo misturadas entre os exemplos de uso.

No caso da análise das EM encontradas no córpus, além de não estarem ainda dicionarizadas como EM, parecem predominar, conforme ver-se-á mais adiante, segundo Villavicencio e Ramisch (2010), as menos flexíveis. Isso não só levando-se em consideração a estrutura da EM como um todo, mas também os elementos que a compõem. Isso dificultaria também não só a dicionarização como a definição a ser adotada nas obras de referência para este tipo de contrução lexical.

Welker (2011) ainda acrescenta uma abordagem sobre os idiomatismos que parecem corroborar com o presente estudo das EM, conforme segue:

Sendo unidades lexicais (com significado próprio), os idiomatismos poderiam ser lematizados separadamente, isto é, um verbete

próprio. Mas, como não se acostuma lematizar unidade polilexicais (compostas de mais de uma palavra), eles são registrados no verbete de um dos componentes (por exemplo, pagar o pato no verbete pato). Nesses verbetes, constituem sublemas, devendo ser marcados como tais, isto é, geralmente estar escritos em negrito. [...] os idiomatismos devem ser dicionarizados na sua forma canônica. [...](p. 151–152)

Para ele, quase sempre o usuário da língua procura o dicionário para descobrir o significado de uma EI, não para aprender a utilizá-la.

Poder-se-ia estender a citação acima ao uso das EM, porque estas parecem carecer também de um tratamento diferenciado quando se trata do registro das mesmas em dicionários, glossários e gramáticas.

Isso, em especial, quando se considera tais obras de consulta voltadas tanto para o aprendiz de línguas, quanto para o tradutor dos mais complexos tratados de uma área específica do conhecimento. Além, é claro, do trabalho enfrentado pelo dicionarista ao tentar delimitá-las na obra sobre a qual se debruça.

Outro aspecto acerca da deficiência do tratamento das EIs nos dicionários, segundo sugere Welker (2011), é quanto àquelas situações nas quais um nativo ou não nativo gostaria de usar uma EI não conhecida, querendo, por exemplo, mostrar seus conhecimentos de língua ou simplesmente enriquecer seu texto falado ou escrito.

Este parece ser o caso da EI com o coração na mão, com o significado de com medo de, aflito, cuja acepção será encontrada somente em dicionários onomasiológicos e/ou eletrônicos.

Assim, considerando-se o grau de importância das EM na articulação dos mais diversos discursos diários, enquanto aspecto incrementador da comunicação, muitas vezes abreviando de forma mais elaborada o que se quer dizer ou fazer, Silva (2011) parece apresentar um caminho viável para lidar com as EM ao apontar para os dicionários como se

[…] pudessem funcionar como ponto de partida para os estudos fraseológicos, como fontes de consulta que alimentam o desenvolvimento destes estudos ou podem vir a constituir seu objetivo final, como um modo de plasmar os resultados obtidos na pesquisa. (p. 161)

Para Silva (2001), nesses casos, os dicionários são de primordial importância, tendo em vista a relevância social de tais obras, as quais ganham destaque na área de Fraseologia.

Assim, tentando dar um foco maior à investigação do córpus em questão, é importante destacar segundo Carneado Moré (1987, p. 34) , na Fraseologia de sentido amplo, “están incluidas todas las combinaciones que poseen los rasgos de estabilidad, reducibilidad y metaforización de los componentes.” Já na de sentido estrito estão apenas

[…] los Fraseologismos-idiomatismos que se relacionan de manera funcional, con la palabra como unidad nominativa de la lengua y no incluye a las restantes combinaciones de palabras producidas en ‘forma preparada’ y que son semánticamente integrales.

Desse modo, supondo-se sejam os traços de estabilidade, redutibilidade e metaforização importantes para serem observados tanto nas UFs destacadas por esses autores quanto nas EM apresentadas pelo córpus analisado, Silva (2011) enfatiza que os dicionários são instrumentos de grande utilidade ao estudo da Fraseologia como fontes de vasta quantidade de informação.

A estabilidade aqui se dá – tanto a adquirida pelas UFs quanto pelas EM - no uso que, especialmente os nativos, fazem da língua. Já a redutibilidade como acontece como característica de facilitação na comunicação que determinadas expressões apresentam. E a metaforização, em virtude do aspecto conotativo que algumas palavras e expressões tomam, ganhando nova significação à medida em que vão sendo utilizadas pelos usuários da língua.

Contudo, para Silva (2011), tais obras podem funcionar como uma faca de dois gumes, porque podem tanto beneficiar como prejudicar os usuários. Assim,

[...] é patente a necessidade de que seja estudado o tratamento dispensado à fraseologia na lexicografia do português, a fim de que sejam estabelecidas pautas de estudo e sejam instituídos certos parâmetros de análise. (p 181),

Entende-se com isso que, para tratar das EM, a fim de contribuir para sua compreensão nos processos de ensino e aprendizagem de uma língua, seja ela LM, LE ou L2, é preciso entender como elas se inserem

nos estudos do Léxico, levando-se em consideração os estudos acima arrolados, bem como os de Tradução ao procurarem investigar os problemas de ordem lexical surgidos ao longo do trabalho do tradutor.

Para tanto, entende-se ser relevante a contribuição de Biderman (2005) quanto à diferenciação traçada pela autora para as sequências livres, provérbios e EIs, bem como quanto ao comportamento lexical desses compostos, pois as

[…] sequências livres são aquelas em que sujeito e complemento têm distribuição livre, sendo as únicas restrições e coerções as determinadas pela semântica. Inversamente, os sintagmas cristalizados são frases do mesmo tipo, porém, em que um ou vários dos actantes4 são lexicalmente invariáveis. Gross (1982) constatou que parece haver um continuum entre frases livres e cristalizadas.(...) Diversamente dos provérbios que exibem um caráter de generalidade, as expressões cristalizadas/ idiomáticas só se aplicam a uma situação particular. (p. 748–749)

É possível perceber, por meio das questões apontadas por esses estudiosos do léxico, quanto aos dicionários em geral, que estes ainda carecem de um tratamento especial a ser dado não só às EIs, mas também ao fraseologismos, em geral, bem como às EM objetos da presente pesquisa, conforme Villavicencio et al (2010).

Tais lacunas parecem refletir-se diretamente na sala de aula de língua, pois os métodos utilizados pelos professores para ensinar esses elementos lexicais também carecem de um instrumento mais eficaz o qual os auxiliem a desenvolver no aprendiz uma competência linguística de qualidade.

Visando finalizar esta subseção, entende-se que tais reflexões sobre os Estudos do Léxico, seus diversos objetos de estudos e suas ramificações poderiam ser estendidos também ao estudo das EM, levando-se em consideração uma pesquisa com esse mesmo objeto — cuja abrangência iria além da que está sendo proposta aqui — podendo ela investigar se seu tratamento nas obras dicionarísticas e gramaticais seria adequado e se as abordagens dadas a elas nos processos de ensino e aprendizagem de línguas seriam levadas em conta na sala de aula.

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Ling. Quem ou o que realiza ou sofre a ação indicada pelo verbo dentro de um processo semântico. (Caldas Aulete Digital)