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2.3. Gestão de Resíduos Sólidos em Instituições de Nível Superior

2.3.13 Universidade Autônoma da Baixa Califórnia – UABC (México)

Vega, Benitéz e Barreto (2008) afirmam que os sistemas integrados de gestão de resíduos constituem um dos maiores desafios para o desenvolvimento sustentável. Para que estes sistemas sejam bem sucedidos, o primeiro passo é levar a cabo estudos de caracterização de resíduos e, como exemplo apresentam resultados de um estudo de caracterização de resíduos realizado no Campus Mexicali I da Universidade Autônoma da Baixa Califórnia (UABC). O objetivo deste estudo foi estabelecer a base para a implementação de um programa de recuperação, redução e reciclagem de resíduos no campus. Esses autores verificaram que o campus Mexicali I produzia 1 tonelada de resíduos sólidos por dia e que, mais de 65% destes resíduos eram recicláveis ou potencialmente recicláveis. Estes resultados demostraram que um programa de segregação e reciclagem é viável em um Campus Universitário. O estudo também mostrou que o mercado local de resíduos recicláveis, nas condições atuais - número de empresas de reciclagem e quantidades de recicláveis aceitos - pode absorver todos esses resíduos.

A caracterização de resíduos sólidos é o primeiro passo no planejamento da Gestão integrada de resíduos. Conhecer a composição dos resíduos permite definir as estratégias de separação, coleta e frequência de coleta para reciclagem. Os resultados deste estudo trouxeram à luz dois aspectos importantes: o elevado potencial de valorização dos resíduos para a sua reciclagem e os desafios que a gestão integrada implica. (VEGA; BENITÉZ; BARRETO, 2008).

Vega, Benitéz e Barreto (2008) destacam também que os resíduos da UABC apresentam um elevado potencial de recuperação, tanto aqueles gerados em edifícios, como em jardins e no centro comunitário. A maior proporção de resíduos é encontrada dentro das categorias recicláveis e potencialmente recicláveis, que, no seu

conjunto, representam 55% nos edifícios, 88% nos jardins e 85% no centro comunitário.

Quando se trata de alternativas para a gestão dos resíduos, vale lembrar que, antes da reciclagem, existem outras formas de reduzir os resíduos produzidos nos campi. A reutilização é uma dessas estratégias. Em algumas universidades nos EUA, a fim de reduzir a geração de resíduos de papel, são utilizadas campanhas para promover a reutilização de envelopes, a reutilização do lado não utilizado do papel para fazer cópias em bruto, memorandos e relatórios, a utilização do correio eletrônico como principal meio para comunicar informações e o uso de impressoras que imprimem em ambos os lados do papel. A maioria dessas estratégias pode ser aplicada imediatamente e reduzem consideravelmente o consumo (VEGA; BENITÉZ; BARRETO, 2008).

Vega, Benitéz e Barreto (2008) afirmam que, tendo em conta a ausência destas estratégias da UABC e considerando a grande quantidade de resíduos de papel em edifícios, recomenda-se colocar compartimentos para separar papel. Estas caixas devem ser colocadas nos escritórios administrativos, principalmente próximo às áreas de fotocópias. A instalação de recipientes para papel usado deve ser acompanhada de campanhas de informação ou cartazes próximos às caixas, alertando sobre o desperdício. Os resíduos sanitários constituíram a segunda parte dos resíduos gerados em edifícios do campus. Devido à sua natureza, este tipo de resíduo não é reciclado ou reutilizado; estratégias podem ser planejadas para criar consciência para reduzir o desperdício de natureza sanitária.

No caso dos resíduos originários do centro comunitário, a maior quantidade veio de resíduos orgânicos gerados a partir de sobras de alimentos preparados ou de resíduos gerados durante a preparação dos alimentos. Este resíduo é gerado ao longo do dia e é depositado misturado a outros tipos de resíduos, dentro da mesma caixa, como acontece com os resíduos provenientes de jardins. Como atualmente não existe separação dos resíduos originários do centro comunitário, é praticamente impossível atribuir a esses resíduos outro destino senão o aterro sanitário (VEGA; BENITÉZ; BARRETO, 2008).

Vega, Benitéz e Barreto (2008) reforçam ainda que uma opção para os resíduos orgânicos poderia ser a destinação para agricultores ou proprietários de jardins, que, neste caso, teriam que ser treinados sobre como fazer o composto a partir do lixo

alimentar. Uma prática comum entre algumas universidades para usar os resíduos orgânicos de seus jardins e áreas de alimentação é fazer composto, seja dentro ou fora do campus universitário.

Em outro estudo, Vega et al. (2010) revelam que os programas de separação e reciclagem de resíduos nas instituições de ensino superior requerem uma abordagem que alcance as pessoas de diferentes maneiras. A abordagem de marketing social provou ser eficaz para ajudar a alcançar a mudança desejada para iniciativas diferentes.

Vega et al (2010) apresentam uma experiência de dezesseis meses de separação de papel e papelão no campus Ensenada da Universidade Autônoma da Baixa Califórnia (UABC). Embora o apoio de autoridades universitárias seja importante, através de diferentes experiências descobriu-se que, na UABC, os programas que funcionam melhor são os que não dependem do trabalho do pessoal, mas da participação de estudantes e pessoal acadêmico. Para obter essa participação, utilizaram-se as estratégias utilizadas no marketing social.

Todos os programas de resíduos anteriores da UABC apresentaram uma separação inadequada de resíduos. Este problema também foi identificado por outros coordenadores de gerenciamento de resíduos de outras universidades. Assim, o comportamento alvo inicial foi “uma separação adequada de papel e papelão”. O termo “adequada” refere-se à separação de materiais que não incluem contaminantes ou outros tipos de resíduos (VEGA et al., 2010).

Um segundo comportamento alvo foi a "disposição correta de papel e papelão nos contêineres destinados ao depósito desses materiais”. Um dos principais problemas encontrados em experiências anteriores foi que, embora os geradores de resíduos conhecessem bem os tipos de resíduos que deveriam ser depositados em recipientes de reciclagem, a disposição foi incorretamente realizada (VEGA et al., 2010).

O público alvo da campanha foi o pessoal acadêmico e administrativo; a participação dos estudantes ocorreu indiretamente. Isso foi decidido porque os primeiros geram mais papel e papelão no campus e são os grupos que podem ser monitorados por períodos mais longos. Como os alunos permanecem menos tempo nas instalações universitárias e saem após três ou quatro anos, é mais difícil seguir seu comportamento de reciclagem.

Vega et al (2010) concluem que o Marketing Social Baseado na Comunidade (CBSM) como uma estrutura para fomentar a reciclagem é adequado para configurações universitárias. Uma variedade de estratégias de CBSM foi empregada na UABC para abordar a questão da gestão adequada de resíduos. Para o caso relatado, as ferramentas de marketing social provaram ser eficazes para influenciar o comportamento público e isso pode ter acontecido porque se concentrou no ponto de vista do público-alvo, levando em conta as barreiras emocionais ou físicas que podem impedir que as pessoas mudem o seu comportamento e não através da coerção nem de campanhas de medo que só têm efeitos de curto período de tempo.

Para facilitar os passos iniciais para a mudança é imperativo procurar também estratégias que buscam a responsabilidade mais profunda de uma comunidade em gestão de resíduos,não porque seja fácil de se fazer, mas porque é correto fazer. O programa de papel e papelão da UABC é apenas o início de um programa integrado de gerenciamento de resíduos sólidos. Antes de incluir mais categorias de resíduos no programa (por exemplo, plásticos ou metais) um ajuste deve ser feito para o acompanhamento das quantidades de material gerado. Um registro separado de papel e papelão deve ser feito para conhecer as quantidades precisas de cada material e ter melhores indicadores do avanço do programa. Além disso, a atenção deve ser focada nas estratégias utilizadas para envolver e influenciar mais pessoas para participar do programa (VEGA et al., 2010).