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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.10 URGÊNCIA E EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA

3.10.1 Urgência

A urgência existe quando um animal possui pressão sanguínea elevada, mas não demonstra sinais clínicos diretamente atribuídos a hipertensão. Nesses animais é imperativo que a pressão arterial seja diminuída, mas deve ser feita de uma forma gradual e controlada. O fluxo sanguíneo cerebral permanece constante por uma ampla variação na pressão arterial média, devido aos mecanismos auto-reguladores. Acima de 120 mmHg, o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão aumentam. Entretanto, em pacientes com a pressão arterial alta adquirida de forma gradativa e em longo prazo, a vascularização cerebral sofre mudanças, permitindo que o cérebro suporte pressões anormalmente altas, sem efeitos deletérios. Devido às mudanças na vascularização, esses pacientes podem sofrer diminuição da perfusão cerebral e necrose, quando a pressão sanguínea estiver no valor ótimo para um paciente normotenso. Com isso, a pressão sanguínea deve ser alterada vagarosamente e gradativamente (ACIERNO; LABATO, 2004).

Devido à maioria dos casos de hipertensão diagnosticados em medicina veterinária serem secundários a outras doenças, primeiramente deve-se identificar a causa do processo, e instituir a terapia apropriada. Embora, o tratamento da doença de base, possa resolver a hipertensão associada em alguns pacientes, outros animais requerem o manejo da doença primária associada a drogas anti-hipertensivas. Um princípio importante no tratamento de hipertensão é permitir uma a duas semanas após a avaliação da eficácia da droga que está sendo usada ou do ajuste de dose. O objetivo do tratamento não é necessariamente manter o paciente normotenso, mas diminuir a pressão arterial sistólica em 170 mmHg ou menos. Uma vez a pressão sanguínea tenha sido regulada, o paciente deve ser reavaliado a cada três meses com análise de hemograma, perfil bioquímico e urinálise, três vezes por ano (ACIERNO; LABATO, 2004).

Martin et al. (2004), relatam que, na medicina humana, o controle da pressão arterial na urgência hipertensiva deve ser feito em maior tempo (24 a 48 horas). A terapêutica pode ser instituída após um período de cerca de 2 horas de observação clínica em ambiente calmo e de pouca luminosidade, condição que ajuda a afastar situações de pseudocrise hipertensiva, que podem ser resolvidas somente com o repouso e, às vezes, com uso de

analgésicos ou tranqüilizantes. Essas medidas podem reduzir a pressão arterial sem a necessidade do uso de anti-hipertensivos.

3.10.2 Emergência

A emergência hipertensiva ocorre quando o animal está presente com uma pressão sanguínea elevada e demonstra sinais clínicos diretamente atribuídos a hipertensão. Esses pacientes devem ser tratados rapidamente e requerem monitorização (ACIERNO; LABATO, 2004).

O tratamento da emergência hipertensiva deve ser realizado de acordo com o órgão-alvo envolvido e exige cuidados de uma unidade de terapia intensiva devido às condições hemodinâmicas e neurológicas instáveis que podem oferecer risco de morte iminente (MARTIN et al., 2004).

As emergências hipertensivas devem ser tratadas somente em hospitais 24 horas com experiência em pacientes críticos e equipamentos para monitorar a pressão sanguínea continuamente. Medicações potencialmente perigosas como o nitroprussiato e a hidralazina devem ser utilizadas (ACIERNO; LABATO, 2004).

Para a gestão de emergência, os agentes com um rápido início da ação são indicados. Martin et al. (2004) relatam que quedas excessivas na pressão arterial devem ser evitadas, pois podem provocar isquemia nos territórios renal, cerebral e coronariano.

Depois de obtida a redução imediata da pressão arterial, deve-se iniciar a terapia anti-hipertensiva de manutenção e interromper a medicação parenteral (CARVALHO et al., 2010).

Agentes apropriados incluem agentes parenterais, como a hidralazina (0,2 mg/kg IV ou IM, repetida a cada 2 horas conforme necessário), enalaprilato (0,2 mg/kg IV, repetidos a cada 1-2 horas, se necessário), labetolol (0,25 mg/kg IV mais de 2 minutos, repetida até a dose total de 3,75 mg/kg, seguida por uma infusão constante de velocidade de 25 mg/kg/min) e esmolol (50-75 mg/kg/min taxa constante perfusão), bem como aqueles com rápido início de eficácia quando administrada por via oral (por exemplo, amlodipina na 0,1-0,25 mg/kg a cada 24 horas; doses até 0,5 mg/kg a cada 24 horas pode ser utilizado com cautela). Se os medicamentos parenterais forem usados, deve-se realizar monitorização contínua da pressão. A monitorização através do uso de cateter intra-arterial é fortemente recomendada (BROWN et al., 2007). Segundo os estudos de Bosiack et al. (2010) ao se comparar as medidas de pressão arterial indireta com medições diretas, é importante considerar que a técnica de

medida de pressão direta é a pressão real dentro de um vaso, enquanto o uso de técnicas indiretas com manguito apenas estimam a pressão.

Muitos médicos veterinários preferem bloqueadores do canal de cálcio oral, particularmente em gatos, pois eles em geral, diminuem a pressão em animais gravemente hipertensos independentemente da doença primária, e estes agentes têm risco limitado de causar hipotensão arterial (BROWN et al., 2007).

Caso não haja monitorização intensiva e bomba de infusão contínua no hospital veterinário, a hidralazina e furosemida podem ser utilizadas. Também pode-se utilizar o diltiazem como agente único (BROWN et al., 2006). Segundo Carvalho et al. (2010) em humanos, a hidralazina é contra indicada nos casos de síndromes isquêmicas miocárdicas agudas e de dissecção aguda de aorta por induzir ativação simpática, com taquicardia e aumento da pressão de pulso. Em tais situações, indica-se o uso de betabloqueadores e de nitrato. Quando a pressão não for reduzida para um valor considerado de menor risco em um período máximo de 12 horas, este paciente passa a ser de urgência e pode-se adicionar ß- bloqueadores (propranolol ou atenolol). Se um diurético de alça, for administrado em gatos com doença renal, a concentração de potássio deve ser monitorada cuidadosamente (BROWN et al., 2006; HENRIK, 1997).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A medicina veterinária está evoluindo, e cada vez mais, teremos pacientes necessitando de cuidados intensivos e emergenciais, portanto entre outros itens, a determinação da pressão arterial em cães e gatos é muito importante, já que a hipertensão pode ocasionar danos significativos em órgãos alvo. Devemos sempre ter consciência das vantagens e desvantagens dos métodos de aferição da pressão arterial. Até este momento não existe um real consenso com relação ao valor de normalidade da pressão arterial em cães e gatos, até mesmo porque esse valor pode variar conforme a raça e entre animais da raça, conforme a idade e o peso do animal. Entretanto, a hipertensão está associada com lesões principalmente em rins, coração, olhos e sistema nervoso central. Outrossim, conhecer os mecanismos fisiopatológicos, a gênese da hipertensão, seus riscos e tratamento é extremamente importante, inclusive para se determinar as melhores condutas quando das urgências e emergências provocadas por ela.

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