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2.4 DESAFIOS PARA O PODER PÚBLICO NO USO DAS TICS

2.4.4 Usabilidade dos recursos tecnológicos

Todavia, mesmo que o poder público mude seus processos internos e assimile de fato a cultura participativa, não se pode olvidar de dotar as ferramentas tecnológicas disponibilizadas aos cidadãos de características que otimizem e facilitem o seu uso. Ao tratar sobre sites governamentais, Cunha e outros (2015b) apontam que a presença de facilidades é fundamental para torná-los atrativos e eficientes, de forma a atrair a ação de cidadãos desengajados e ampliar o acesso por parte de usuários já engajados.

Isso pois, para não limitar a participação do cidadão que navega na web, faz-se necessário que essa seja uma experiência intuitiva e agradável, já que mesmo o indivíduo que possui todas as competências necessárias para explorar esses recursos irá perder o interesse se tiver que navegar em um site que precise de uma "investigação" acerca de onde se encontram as informações. Nesse sentido, os custos da participação devem ser reduzidos ao máximo, diminuindo o tempo de acesso com rapidez e efetividade da informação (ECHAVARRÍA; BRUSCOLI, 2016).

Logo, mostram-se fundamentais desenvolver os sites e os canais de participação atendendo a padrões de acessibilidade e usabilidade. Sobre os termos, Echavarría e Bruscoli (2016) explicam que o primeiro está relacionado com a possibilidade de visualização da informação em qualquer dispositivo, ou em sua grande maioria. Já o segundo termo reflete a possibilidade de obter a informação de forma simples e rápida, sem obstáculos ou ajuda de terceiros, mesmo em situações em que o usuário possui alguma limitação física.

Assim, a acessibilidade deve implicar em igualdade de uso e flexibilidade quanto as preferências, habilidades individuais e diferentes ritmos de interação dos usuários. Além disso, as interfaces das ferramentas devem ser simples e amigáveis, com conteúdo fácil de entender, independentemente dos conhecimentos, habilidades, nível de concentração ou experiência dos usuários. Nesse sentido, o próprio meio de disponibilizar as informações deve ser de fácil aprendizagem e assimilação. Para isto,

as informações disponibilizadas devem possuir atributos que permitam sua fácil compreensão e percepção, possibilitando a troca de dados independentemente de contexto, condições ambientais ou capacidades sensoriais dos usuários. Para maximizar o uso, deve-se buscar o mínimo de esforço físico do usuário para uso das ferramentas, evitando ações repetitivas.

Há ainda a navegabilidade, que engloba os aspectos que ajudam o usuário a navegar no site, por meio da estrutura de navegação, tais como tamanho da página e formas de obter a informação, características dos links, recursos de busca, seções de ajuda e questões estéticas da interface utilizada (fontes, cores, espaços, etc.). Porém, mais importante que o desenho ou a navegabilidade está o conteúdo, já que "a informação é condição de possibilidade para a participação cidadã". Assim, de nada adianta um site que cumpra todos as recomendações web, mas que não traga nenhuma informação necessária. Se o cidadão consegue encontrar informações pertinentes e adequadas, sem obstáculos, todos os problemas de usabilidade ficam em segundo plano. Por isso, recomenda-se que a linguagem utilizada para produzir a informação seja amigável para os usuários, com uma redação clara para agilizar a leitura e facilitar a assimilação de informações pelos cidadãos. (ECHAVARRÍA; BRUSCOLI, 2016, p. 62).

Nesse sentido, diversas pesquisas apontam para a importância de elementos que facilitem o uso das ferramentas tecnológicas pelos cidadãos. Cunha e outros (2016) elencam alguns desses recursos, tais como disponibilidade de manuais e material de treinamento, ferramentas de suporte e ajuda, confiabilidade do meio de acesso, acessibilidade para portadores de necessidades especiais, disposição adequada e prática das informações, formato adequado que favoreça a visualização e atualização das informações.

Já Raupp e Pinho (2015) destacam os elementos que permitem a interação e participação dos usuários. Consistem em canais de contato (telefone, ouvidoria, chat) ou ferramentas de monitoramento das ações dos usuários. Pinho (2008) afirma que estas características, bem como facilidades de acesso e de busca de informação são fundamentais para facilitar a utilização pela sociedade.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Utilizou-se, para a pesquisa, a abordagem qualitativa e interpretativista, por se concluir que é a opção mais indicada para estudar o objeto pesquisado, qual seja, a participação social por meio de canais digitais. Emprega-se, portanto, o mesmo pressuposto ontológico adotado por Sampaio (2016, p. 131), de que "a realidade social é dinâmica e intersubjetiva", o que implica em uma realidade social que é "fruto das experiências e vivências humanas, mediante interação, de onde o conhecimento é socialmente construído".

Segundo Sampaio (2016, p. 134), o pensamento interpretativista tem uma posição subjetiva, e entende que “o homem constrói e mantém sua realidade social e organizacional a partir de suas vivências e perspectivas, e o conhecimento de mundo é constituído através da experiência de vida de cada indivíduo".

Tendo em vista que o estudo da relação entre a participação social e as tecnologias de informação implicam na análise de uma série de fatores sociais, econômicos e institucionais, verifica-se que a opção é justificada por Stake (2005), que defende o uso de abordagem qualitativa e interpretativista para estudar o uso das TICs e dos processos de governo eletrônico, já que a pesquisa quantitativa dificultaria a realização de inferências sociais.

Além disso, o estudo das TICs não consiste apenas na análise de sistemas e componentes, mas deve refletir os impactos que a tecnologia causa na vida, nas organizações e na sociedade. Assim, justifica-se a adoção de uma abordagem subjetiva, para compreender de forma mais efetiva o contexto que envolve a adoção e implementação das TICs. Esse contexto engloba políticas públicas, gestores, cidadãos e outros atores que não se inserem apenas na dimensão técnica das TICs, já que envolvem questões políticas e sociais (SAMPAIO, 2016). No mesmo sentido, Gephart (2004) argumenta que a abordagem interpretativista deve ser utilizada em pesquisas que estudam como atores sociais se relacionam, e como esses atores utilizam significados e conceitos.

Baseada em Orlikowski e Baroud (1991), Sampaio (2016, p. 132) explica que a utilização de uma abordagem funcionalista para estudar as TICs, apesar teoricamente ser mais indicada, restringiria de forma desnecessária "o estudo desses fenômenos e de suas implicações no contexto social, político ou organizacional".