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Capítulo 2 Enquadramento curricular e didático

2.3. O ensino das probabilidades

2.3.5. O uso da tecnologia

Numa era em que os alunos são considerados nativos digitais, a escola está em risco de se manter como o principal meio de aprendizagem. A linguagem com que os alunos contactam com as tecnologias digitais torna-se, muitas vezes, mais apelativa do que aquela que surge no contexto escolar (Carreira, 2009). Desta forma, é essencial que a escola dos dias de hoje se adapte para conseguir captar a atenção dos alunos, promovendo uma boa aprendizagem. Monteiro e Martins (2016) consideram que “o uso das TIC como recurso pode ser um caminho interessante para auxiliar o professor a desenvolver novas abordagens para o ensino de probabilidade” (p.16).

Ponte (2005) defende que as novas tecnologias são uma “possibilidade de envolver os alunos em matemática intensa e, significativa, favorecendo o desenvolvimento de atitudes positivas em relação à disciplina” (p.2). No entanto, a sociedade considera que computador é um sinónimo de tecnologia e, portanto, se recorrer a uma apresentação PowerPoint, por exemplo, já está a adaptar-se aos nativos digitais. Para Frand (2000, citado por Carreira, 2009), esta tecnologia já é banal e, portanto, não se trata de uma novidade para estes alunos, não sendo possível provocar o efeito de interesse que se esperava obter.

Em Matemática, por exemplo, o debate não deverá continuar preso a se deveremos usar ou não a calculadora e o computador – eles fazem parte do mundo dos Nativos Digitais – mas antes centrar-se em como poderemos usá-los para introduzir as coisas que serão úteis se forem absorvidas, desde capacidades e conceitos até factos como os da tabuada da multiplicação (Prensky, 2001, citado por Carreira, 2009, p. 62).

Num documento em que manifestou a sua posição quanto às tecnologias na Educação Matemática, a Associação de Professores de Matemática (2001) considera que “as ferramentas tecnológicas devem ser integradas de forma consciente (…) proporcionando (…) verdadeiras e significativas aprendizagens matemáticas” (p.24). Refletindo sobre a escola, estão conscientes que é necessário ter em conta as condições existentes na escola, sendo de igual forma importante apostar na formação de professores. Apesar da APM (2001) recomendar que “todos os alunos e professores tenham acesso a computadores, com software didático e ligações à internet” (p.24), 17 anos depois estamos ainda longe desta realidade.

Também Batanero, Chernoff, Engel, Lee e Sánchez (2016) consideram que uma forma de ajudar os alunos a modelar os fenómenos reais é pelo uso da tecnologia. No

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domínio da estatística e probabilidade, os autores defendem que a utilização deste recurso é bastante útil uma vez que permite gerar uma amostra de grandes dimensões de forma rápida e eficaz e de criar rapidamente tabelas e representações gráficas.

Podemos verificar que é cada vez mais frequente o uso da tecnologia e, de facto, faz sentido dado que “estes recursos permitem explorar os conceitos de probabilidade e inferência e substituir as demonstrações formais por raciocínios mais intuitivos” (Fernandes, Bernabeu, Garcia & Batanero, 2009, p.162).

O NCTM (2014) considera que para além do computador, os dispositivos móveis, como é o caso dos smartphones e dos tablets, podem ser usados na aula de matemática para recolher dados, realizar pesquisas e executar aplicações e simulações que permitam a resolução de problemas. Estes dispositivos poderão ser usados em casa, por exemplo, dado que a sua utilização em sala de aula é proibida em muitas escolas.

No que diz respeito ao uso de tecnologia no ensino das probabilidades, verifica- se que até as crianças mais jovens são impulsionadas a realizar experiências aleatórias ou simulações, formulando perguntas ou conjeturas sobre a tendência dos resultados de uma dessas experiências, justificando as suas conclusões com base nesses dados (Batanero, 2015).

Nos dias de hoje existem diversos recursos tecnológicos para usar no ensino da matemática e um dos softwares mais utilizados é o Geogebra. Este permite explorar situações em diversos tópicos matemáticos, desde funções, álgebra e geometria, este software permite ainda trabalhar conceitos estatísticos e probabilísticos. Inzunza (2014, citada por Montes (2017) considera que o Geogebra permite “manipular certas variáveis ou parâmetros para visualizar comportamentos dos conceitos envolvidos. Em Probabilidade e Estatística, onde a variabilidade é um fenómeno intrínseco de seus conceitos, isto é particularmente relevante” (p.3). Após a construção de um applet, os alunos podem fazer variar os diversos parâmetros em estudo de forma a poderem retirar conclusões relativamente ao conceito em causa. A um nível mais avançado, o Geogebra permite estudar as distribuições de probabilidade, fazendo variar os seletores.

Del Pinto (2013, citado por Montes, 2017) refere que o Geogebra é um software vantajoso em sala de aula nomeadamente por ser de utilização livre, não sendo necessária qualquer licença; sendo ainda acessível em diversas plataformas, quer através dos diversos sistemas operativos, do sistema android ou até online. Permite ainda a

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exportação das applets construídas para uma página html. É um software de fácil utilização e muito intuitivo para os alunos sendo ainda muito rico dada a sua dualidade entre a visualização gráfica e algébrica. Numa exploração com o Geogebra em que o autor sugere a construção de novas ferramentas, Raposo (2011) revela que:

Após a primeira aula de apresentação do GeoGebra, os alunos fazem questão de referir que já possuem a aplicação no computador pessoal. Fazem-no com a convicção que estão prontos para trabalhar, quer na sala de aula, quer em casa, reconhecendo mais-valia nessa possibilidade (p.38).

Apesar de apresentar diversas vantagens, este software apresenta também algumas limitações, nomeadamente, a possível desvalorização da componente analítica, no entanto, este caso não é aplicável ao estudo das probabilidades. Outra limitação não só do Geogebra, mas de qualquer ferramenta tecnológica que necessite de computadores está relacionada com a dimensão da turma em comparação com o número de computadores disponíveis. Em grande parte das escolas existem poucos computadores disponíveis e as turmas tomam proporções elevadas, muitas vezes atingindo os 30 alunos, pelo que se torna uma limitação na utilização do software em sala de aula.

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