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Uso de método anticonceptivo

No documento anabeatrizquerinosouza (páginas 91-94)

VARIÁVEL GRUPO ESTUDO NÃO

8.3. Uso de método anticonceptivo

No estudo, encontramos 40 (95,2%) puérperas do grupo de estudo e 111 (88%) do grupo não equivalente em uso de algum método anticonceptivo. Apesar de consideráveis, estes valores foram reduzidos para 32 (80%) no grupo de estudo e 90 (81%) no grupo não equivalente, ao considerarmos o uso de método adequado para o puerpério. Além desta importante redução, não foi identificado diferença estatística significativa para o uso de métodos anticonceptivos entre as puérperas dos grupos de estudo com P=0,430.

Medidas de planejamento familiar no puerpério são consideradas uma importante estratégia para prevenção de uma gestação precoce não planejada e consequente bem-estar materno-fetal. Intervalos curtos entre gestações estão relacionados à maior morbimortalidade materna, neonatal e infantil (VIEIRA, BRITO e YAZLLE, 2008). A utilização de algum método anticonceptivo neste momento é fundamental para evitar uma gravidez inesperada e com curto intervalo interpartal (PARREIRA, SILVA e MIRANZI, 2011).

Além da preocupação com a garantia da saúde da mulher e o bem-estar de sua família, o planejamento familiar é um direito de homens e mulheres que deve ser contemplado nas diversas fases da vida, inclusive no puerpério e no pós-abortamento, visando ao direito de escolha para planejamento da prole (BRASIL, 2009d).

Apesar da garantia deste direito por lei, o número de mulheres que não fazem uso de métodos anticonceptivos foi demonstrado na PNDS de 2006, encontrando 16,4% das mulheres em idade reprodutiva sem a utilização de qualquer método, o que evidencia a necessidade de atenção da equipe para medidas de planejamento familiar (BRASIL, 2009 d; 2006).

Encontramos valores menores no presente estudo, pois duas (4,8%) mulheres do grupo de estudo e 15 (12%) do grupo não equivalente não estavam em uso de qualquer método. Embora tenham sido acompanhadas durante o puerpério, oito (20%) mulheres do grupo de estudo estavam em uso inadequado de método anticonceptivo. Destas, quatro (50%) faziam

uso de método hormonal combinado, apesar de amamentarem exclusivamente. Durante o puerpério, recomenda-se a utilização somente dos anticoncepcionais hormonais de progesterona, pois os combinados são contraindicados para as mulheres que estão amamentando, uma vez que o componente estrogênico interfere na produção, na qualidade e quantidade do leite materno e pode afetar adversamente a saúde do bebê (BRASIL, 2001; 2009d; VIEIRA, BRITO e YAZLLE, 2008).

Outra prática encontrada entre puérperas do grupo de estudo que estavam em uso de método inadequado foi a emprego de minipílula, mesmo sem estar em aleitamento materno exclusivo ou predominante, o que é contraindicado devido a risco de uma nova gestação ainda no puerpério, pois a pílula de progesterona pura, quando não utilizada juntamente com a amamentação exclusiva ou predominante, tem sua eficácia diminuída (BRASIL, 2001; 2009d).

A falta de prescrição de um método anticonceptivo por profissional de saúde identificada no grupo não equivalente foi principal motivo para a não utilização de um método, sendo que no grupo de estudo os métodos anticonceptivos foram prescritos nas UAPS para 82,5% (33) das puérperas. O grupo não equivalente apresentou apenas 28,9% (32) das mulheres com prescrição por profissional da UAPS, 28 (25,2%) puérperas recorreram a serviços privados para prescrição do método e cinco (4,5%), à automedicação. Salienta-se que fazer uso de método anticonceptivo sem orientação ou prescrição de profissional de saúde pode trazer risco à saúde da mulher. Durante o puerpério, esta prática torna-se ainda mais arriscada, pois pode prejudicar também o bebê que está em aleitamento materno.

No grupo de estudo, metade das mulheres que não estavam em uso de método alegou estar aguardando para se submeter à laqueadura tubária ou que o companheiro fizesse uma vasectomia. Enquanto esperavam por um método cirúrgico, as mulheres corriam risco de engravidar e poderiam estar em uso de outro método anticonceptivo adequado. O fato pode revelar a dificuldade de acesso a algum método anticonceptivo. O período de espera para o uso de um método irreversível pode variar entre meses e anos, dependendo das condições legais (PARREIRA, SILVA e MIRANZI, 2011) e organização dos serviços de saúde.

A Lei nº 9.263, que trata do planejamento familiar no Brasil, afirma que é preciso apenas um prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico (BRASIL, 2009d). Certamente, tal medida visa evitar arrependimento após os procedimentos, o que tem sido frequente em mulheres laqueadas no país (VIEIRA, 2007), porém a espera por tempo prolongado para a utilização de métodos irreversíveis tem sido relatada pelas mulheres como encontramos no estudo.

Além de a utilização de métodos anticonceptivos sofrer influência do acesso aos serviços de saúde, da disponibilidade dos métodos, de fatores gerenciais e socioculturais, os profissionais também desempenham importante papel no planejamento familiar. Porém, evidencia-se a falta de informação das puérperas sobre os métodos anticoncepcionais adequados e lacuna no papel do enfermeiro como orientador quanto a esses métodos (PARREIRA, SILVA e MIRANZI, 2011).

Os profissionais de saúde da atenção básica não se sentem preparados para implementar as ações referentes ao planejamento reprodutivo e este ainda não é percebido como uma ação prioritária neste nível de atenção a saúde (BRASIL, 2009d). Para Osis et al (2006) a indisponibilidade de métodos anticoncepcionais nos serviços públicos de saúde e a falta de capacitação dos profissionais têm marcado a atenção ao planejamento familiar no Brasil.

A garantia de infraestrutura necessária ao funcionamento das unidades de saúde, dotando-as de recursos materiais, tecnologias apropriadas, equipamentos e insumos suficientes para o conjunto de ações propostas; o apoio aos processos de educação permanente; e a garantia de redes de referências fora do âmbito da atenção primária são ações que os gestores municipais devem possibilitar para a plena concretização das ações de planejamento reprodutivo ( BRASIL, 2009d).

É preciso desburocratizar algumas ações antes da, durante e após a escolha dos métodos anticoncepcionais, normatizar os grupos de direitos reprodutivos nas UAPS, facilitar o acesso das mulheres a estes grupos, capacitar os profissionais para as ações de planejamento familiar, aumentar a resolutividade dos profissionais da atenção primária no processo de laqueadura tubária e vasectomia, manter um acompanhamento dos processos desde o momento em que são encaminhados para outros níveis de atenção até a realização do procedimento. Este conjunto de medidas pode evitar a espera prolongada pelo método; reduzir as altas taxas de cesariana, que deve ser indicada para fim exclusivo de esterilização; prevenir a gravidez não desejada e, principalmente, evitar o aumento da morbimortalidade no período gravídico puerperal.

No documento anabeatrizquerinosouza (páginas 91-94)