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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

3 COMPETÊNCIA COMUNICATIVA: O QUE MUDA COM AS TECNOLOGIAS DIGITAIS?

3.1 AS COMPETÊNCIAS, OS SUJEITOS E AS PRÁTICAS SOCIOINTERATIVAS

3.1.1 O uso de emoticons e emojis e as suas implicações enquanto competência estratégica

Paiva (2015) destaca que a interação face a face sempre foi multimodal: o indivíduo utiliza palavras, entonação, gestos, expressões faciais, meneios de cabeça, dentre outras coisas para interagir com o outro. Mesmo reconhecendo que as imagens aparecem na comunicação humana desde a pré-história, a autora ressalta as mudanças ocorridas na interação com o advento das tecnologias digitais, referindo-se, principalmente ao uso de emoticons e emojis: “[…] a linguagem escrita informal está cada vez mais multimodal com a inserção dessas representações virtuais” (PAIVA, 2015, p. 382). Sem dúvidas, o uso de emoticons e emojis é uma estratégia para transpor para a tela, seja de um computador ou de dispositivos móveis, como celulares e tablets, a espontaneidade na interação e as emoções mais perceptíveis na língua falada.

A palavra emoticons origina-se da junção de outras duas palavras de língua inglesa, emotion (emoção) e icons (ícones), e pode ser traduzida como “ícones de emoção”. Esses ícones “[…] são representações tipográficas de expressões faciais, como :) que se transforma automaticamente em 😊 pelo editor de texto Microsoft Word [...]” (PAIVA, 2015, p. 382).

Os emoticons já existem há bastante tempo, o emoticon :-) , por exemplo, já era usado na década de 80 e ainda aparece em algumas interações hodiernas no

construir uma representação do locutor, que este último tenta controlar, mais ou menos, conscientemente e de maneira bastante variável, segundo os gêneros do discurso”.

hipertexto. Sua origem, segundo Houston (2013), tem a ver justamente com uma situação comunicativa em 1982, quando uma piada sobre o falso vazamento de mercúrio na Universidade Carnegie Mellon (Pittsburgh – EUA) foi publicada em uma lista de discussão digital e interpretada, erroneamente, como um aviso genuíno de segurança. Diante desse ruído, o grupo de interlocutores começou a discutir uma forma de deixar claro o que era piada e distingui-la do que era assunto sério. Então foi acatada a sugestão feita por e-mail, pelo professor Scott Fahlman: marcar o que era piada com :-) e o que era um texto sério com :-( .

Conforme Moro (2016, p. 60), o texto do e-mail era: “Proponho a seguinte sequência de caracteres para os marcadores de piada: :-) Leia-o de lado.”. Essa convenção acabou se espalhando para outras universidades e laboratórios e, em pouco tempo, teve seu uso bastante difundido no âmbito acadêmico e fora dele, como assevera Moro (2016, p.60):

Posteriormente, com o crescimento da internet, o emoticon foi adotado em e-mails, salas de bate-papo e comunicadores instantâneos, como ICQ, MSN e, em seguida, para a troca de mensagens em celulares. Inicialmente, os emoticons possuíam apenas a representação do próprio texto, mas, com o tempo, os caracteres foram incorporando imagens gráficas em sua representação e se diversificando de várias maneiras. Essas figuras são chamadas de emojis.

A popularização dos emoticons na internet, então, oportunizou sua ressignificação e o surgimento dos emojis, que “[…] são gravuras produzidas com a tecnologia criada por um grupo sem fins lucrativos denominado Consórcio UNICODE [...]” (PAIVA, 2015, p. 382) e que registram elementos do cotidiano, sejam emoções ou algo mais concreto, como objetos, flores, frutas, profissões, dentre outros. A palavra “emoji” foi escolhida pelo seu criador Shigetaka Kurita e resulta da junção de dois termos em japonês: “e” (imagem) e “moji” (letra). Kurita, em 1995, decidiu incluir emojis em pagers da companhia telefônica japonesa NTT DoCoMo, visando atrair o público mais jovem. Assim, ele buscou representar, através de 176 imagens (de 12 por 12 pixels), uma série de pensamentos e emoções, que serviram de base para os emojis que surgiram posteriormente.

O objetivo do interlocutor ao usar emojis se assemelha ao uso de emoticons: é, através de ícones dotados de sentidos simbólicos, exprimir sentimentos, emoções,

espontaneidade, situações cotidianas etc, tornando a escrita cada vez mais dinâmica, multimodal e atrativa. Desde que foram criados, os emojis alcançaram imensa popularidade, sobretudo nas redes sociais digitais, e já receberam uma série de atualizações, como inserção de emojis representando pessoas com maior opção de tons de pele, de diversas profissões, o que aponta uma demanda gerada pela própria interação entre os falantes.

Conforme Sternbergh (2014), não há um nome oficial para cada emoji, mas sim apelidos atribuídos pelos usuários, principalmente para as “carinhas em amarelo”. Paiva (2015, p. 382) traz como exemplo o emoji criado na América do Norte, em torno de 2011, quando a Apple colocou um teclado de emojis de acesso fácil no iOS 5 para o iPhone. A autora destaca que esse emoji, chamado de “emoji de alegria”, “rosto com lágrimas de alegrias” ou “chorando de rir”, foi eleito a “palavra do ano” de 2015 pelos Oxford Dictionaries. Eleger um emoji como “palavra do ano” revela muito sobre as novas formas de relação com leitura e escrita da internet, permeadas por novos elementos específicos da cultura digital, e demonstra a ressignificação do processo de escrita, pois muitas plataformas digitais permitem, além da escrita “alfabética”, a inserção de imagens (estáticas ou em movimento), áudios, vídeos e tantas outras multissemioses no (hiper)texto.

Esse novo cenário digital com novos registros de escrita precisa ser discutido em sala de aula. Um dos livros didáticos analisados, da coleção Português

Linguagens, do 6º ano, abre um caminho para essa discussão. Os autores trazem

um quadro onde se pode observar a presença de emoticons e emojis, todavia, eles realizam uma explanação apenas sobre os emoticons, esclarecendo a origem do termo, como são criados, suas semelhanças, onde geralmente são usados, como ler emoticons, além de trazerem alguns exemplos. A figura a seguir traz a abordagem que aparece no LDP em questão, e os questionamentos serão tecidos na sequência.

Figura 12 – Texto sobre a expressão das emoções com emoticons.

Fonte: Português Linguagens (6º ano, 2015A, p. 181).

Percebe-se que a abordagem que aparece no quadro “Emoções virtuais” é superficial e deixa algumas lacunas em relação ao uso real dos emoticons e emojis na contemporaneidade. Apesar de introduzir uma discussão relevante no que tange ao uso de emoticons em gêneros da internet, os exemplos desconexos, sem um contexto comunicativo, comprometem o entendimento dos emoticons como representação das emoções humanas e qual a sua importância enquanto elemento de composição do texto multimodal. Assim, é falho, numa seção que se propõe a explorar os gêneros discursivos digitais, não se enfatizar que os emoticons fazem parte de um contexto sociointerativo e, que, por isso, não podem ter seus sentidos atribuídos de forma isolada.

Como se pode depreender, no quadro “Emoções virtuais”, reproduzido na figura 12, não está claro se o que aparece ao lado de cada emoticon é apenas a descrição do ícone ou se sugere o seu sentido. Por exemplo, emoticons como ;-) ,