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Capítulo 3 – Prática Letiva

3.3. Apresentação e interpretação dos resultados

3.3.2. Descrição e análise de erros por categoria

3.3.2.2. Utilização de um registo de língua inadequado

A categoria E2 (“Emprego de vocabulário e/ou expressões informais em situação formal”) abarca 13% dos erros de propriedade lexical assinalados no corpus textual e constitui um foco de preocupação, por se encontrarem, em quase todas as composições analisadas, passos em que se verificam incompatibilidades em relação ao grau de formalidade exigido pela situação comunicativa em que o texto é produzido. Ora, esta incompatibilidade pode originar, em determinados momentos, a rejeição de um indivíduo pela sociedade, ou por um grupo social50. Em termos académicos, e uma vez que na escola é sempre exigida a variedade culta do idioma, estes erros, caracterizados pela presença de marcas de oralidade informal, comprometem em larga medida o sucesso do aluno e a sua avaliação. Atentemos no que refere Maite Ruiz Flores (2009: 106) sobre esta questão:

[...] ya hemos visto como los estudantes nativos de cualquier lengua se enfrentan, durante la secundaria por ejemplo, a la tarea de adquiri una competencia por escrito diferenciada de la competencia oral en su propia lengua, proceso durante el cual si cometen errores. [...] Patricia Bizell [1986] argumenta que los alumnos que más deficiências presentan al

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A inadequação do nível de língua à situação pode originar situações cómicas, como, por exemplo, a descrita por Eça de Queirós na obra Correspondência de Fradique Mendes (2000: 26-27): “Pela escada, o poeta das “Lapidárias” aludiu ao tórrido calor de Agosto. E eu [...] deixei estouvadamente escapar esta coisa hedionda: / – Sim, está de escachar! / E ainda o torpe som não morrera, já uma aflição me lacerava, por esta “chulice” de esquina de tabacaria, assim atabalhoadamente lançada como um pingo de sebo sobre o supremo artista das “Lapidárias” [...]. Entrei no quarto atordoado, com bagas de suor na face. E debalde rebuscava desesperadamente uma outra frase sobre o calor, bem trabalhada, toda cintilante e nova! Nada! Só me acudiam sordidezas paralelas, em calão teimoso: – “é de rachar”, “está de ananases!”, “derrete os untos”!... Atravessei ali uma daquelas angústias atrozes e grotescas, que, aos vinte anos, quando se começa a vida e a literatura, vincam a alma – e jamais esquecem.”

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escribir cometen errores que se deben primordialmente a dos factores: uno es la diferencia entre su dialecto y el dialecto propio del discurso académico, y el otro es la falta de familiaridad con las formas textuales que dominan la vida académica. De esta manera, e incluso escribiendo en su propia lengua, el alumno puede dar lugar a textos en los que falla algo debido a esta interferencia de formas y léxico aceptables en el discurso oral, pero inadecuadas para la producción escrita.

Importa lembrar que o código oral (e interessa pensar nos enunciados orais não planeados, marcados pela informalidade) possui um conjunto de características que o afasta do código escrito: ao nível sintático é marcado pelas repetições das mesmas estruturas, pela inversão da ordem natural da frase, pelas interrupções do discurso e pelas redundâncias; ao nível lexical, o vocabulário é pouco preciso e mais vago, mais genérico e menos específico. Destacam-se as repetições, a utilização de “bordões” e de formas vazias de sentido, o uso de diminutivos e a interferência de diferentes registos de língua, nomeadamente da linguagem familiar, que se assume como o registo informal, permeável à influência da linguagem popular. Comecemos por observar alguns exemplos significativos da contaminação de níveis de língua desadequados:

(10) G2_T1_Vu: *Amo ir ao shopping mas não gosto de ir *para lá e sair *de mãos a

abanar e agora sou *grande viciada em feijões de goma.

(11) G8_T1_Vu: Concorri ao curso de interpretação mas [...], sinceramente, cantar

*não é muito a minha “praia””.

(12) LH310_T2_Vu: [...] um balneum para o nosso *banhinho, uma culina onde

*fazemos o comer [...].

(13) LH37_T1_V1: Mas o problema é que os povos não tinham a mínima hipótese e então Rómulo propôs um acordo [...].

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No exemplo (10) foram empregues expressões típicas da gíria juvenil (“amo”; “sou grande viciada em”) e uma expressão idiomática (“sair de mãos a abanar”, que significa não conseguir o que se pretendia) usada apenas em contexto informal. No excerto (11) encontra-se outro exemplo de gíria adolescente, sendo de destacar a utilização das aspas, que leva a considerar a hipótese de o aluno ter hesitado na inserção do termo em causa por ter dúvidas quanto ao seu grau de aceitabilidade. No trecho (12) regista-se uma ocorrência própria da linguagem usada em ambiente familiar, o diminutivo “banhinho”, e uma expressão normalmente utilizada por indivíduos com um nível de instrução baixo (“fazemos o comer”). No excerto (13) o aluno inseriu na sua redação uma expressão coloquial, usada frequentemente pelos jovens, com valor enfático.

Em (15) encontra-se mais uma marca de oralidade (“para aí”) que parece ter sido introduzida para modalizar o discurso, devendo ser substituída por um advérbio de frase (“provavelmente”, “talvez”).

(14) LH37_T2_Vu: Eram*para aí 12 horas e nós fomos [...].

No último exemplo selecionado verifica-se a utilização indevida do pronome demonstrativo “isso” que, apesar de ter o antecedente expresso, banaliza a ideia que se pretende transmitir. Neste caso, o aluno não foi capaz de inserir no final da frase um hiperónimo que abrangesse a expressão inicial e assegurasse uma construção mais cuidada e correta, tendo em conta as exigências da variante formal culta do Português a utilizar em registo escrito. Esta incorreção faz parte da categoria E2 e foi igualmente marcada uma ocorrência do tipo E3, sobre as quais se falará no ponto seguinte.

(15) G15_T1_Vu: [...] fiz um teste técnico-pedagógico e no final o meu forte era a

comunicação, mas não sei se gostarei muito *disso.

Proposta de reformulação: fiz um teste técnico-pedagógico e, no final, o meu

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