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Utilização da notícia no cotidiano

No documento Actas das Jornadas 2008 (páginas 182-190)

Comunicações de tema livre

ALGUNAS CONCLUSIONES SOBRE LA FUNCIÓN PARTICIPATIVA EN LA RADIO GALEGA

5.6 Utilização da notícia no cotidiano

Quanto à utilidade prática das notícias publicadas pelo jornal Gazeta do Povo, as respostas mais comuns foram que o uso das notícias está ligado a uma possibilidade mais ampla de interação social, pois as notícias dão subsídio para conversas.

Na pergunta aberta: “Como você utiliza no seu cotidiano as notícias publicadas na Gazeta do

Povo?”, as respostas ao questionário indicaram os seguintes percentuais mais significativos: “Para

ter mais assuntos para comentar com os colegas” – 19%; “Uso no meu trabalho” – 18%;

“Aprofundar o conhecimento sobre os assuntos” – 12%; “Uso as notícias de cultura para programar meu lazer” – 10%.

Em relação ao mesmo tema, os leitores consultados na pesquisa qualitativa deram respostas significativas. Ricardo apontou como utilidade: “Subsídio para conversas com amigos e outras pessoas e manutenção de hábito da leitura”. As entrevistadas Denise e Renata afirmaram que a utilidade do jornal impresso são as sugestões de lazer trazidas pelo jornal. Ambas contaram que consultam a agenda cultural da cidade e seguem as dicas para se programarem. Germano também citou essa utilidade e acrescentou que consome produtos culturais citados pelo jornal, especialmente pelo Caderno G. Ele revelou que já comprou diversos livros, CDs e DVDs por influência de

Paulo Roberto declarou: “Uma notícia que teve uma utilidade prática para mim foi uma mostra sobre a imigração alemã que eu fiquei sabendo pelo jornal. Eu li uma reportagem na Gazeta sobre a exposição, no [Museu Oscar] Niemeyer, do Davi Carneiro, e estou louco para ir ver”.

As entrevistas revelaram ainda que a utilidade da leitura do jornal está diretamente ligada às necessidades da área em que os leitores trabalham. Danilo, que é ligado a um partido político, comentou:

O jornal tem muitas informações práticas para o meu dia-a-dia. O caso da tabela sobre o racionamento de água nos bairros, divulgada há poucos dias, é um exemplo. Uma matéria que saiu agora no domingo sobre os municípios do Paraná, que citava os mais pobres, dando a descrição da região de Ortigueira, me ajudou muito.

O entrevistado Jean aponta como utilidade tanto a integração social como o lazer:

A utilidade da notícia lida no jornal impresso é talvez chegar aqui no escritório e comentar alguma coisa. Posso comentar com um amigo. Eu já fui visitar exposições e já fui ao teatro e cinema porque eu li no jornal. É o lugar onde eu vou procurar notícias sobre lazer. Leio as críticas. Eu acho legal essas fofoquinhas de política. Eu acho uma curiosidade.

Paulo Roberto revela: “Eu me divirto com o jornal. Às vezes leio notícias policiais. Eu gosto de uma fofoquinha. É uma curiosidade. Gosto de notícias de acidentes. No domingo, eu adoro ler a coluna da história. É primeira coisa que eu leio. É um lazer para mim que eu não encontro em outro lugar”.

Vanessa conta: “Eu leio todas as charges do Jornal Gazeta do Povo. Eu recorto e coleciono. Eu adoro. Eu também levo as charges para mostrar para o meu namorado que não tem o hábito de ler jornal. É um lazer para mim. Dou muita risada com as charges”.

Os estudos de Joffre Dumazedier contribuem para a interpretação desses dados. Afirma o autor:

O leitor sente-se submerso e incapaz de compreender e assimilar tudo aquilo que vê, devido ao grande número, sempre crescente de informações nacionais e internacionais, econômicas, políticas, sociais e literárias. Quando o leitor faz um esforço para ler por si mesmo os assuntos sérios, a abundância de idéias gerais e de dados numéricos deixa no seu espírito somente vestígios superficiais e então ele se volta para as “notícias diversas”, mais acessíveis. (1994: 45)

Essa análise de Dumazedier dá pistas para entender a preferência do público por notícias

relacionadas ao lazer e ao entretenimento, temas bastante lidos pelos leitores do jornal, conforme identifica a pesquisa quantitativa.

6 Conclusão

De posse dos dados levantados, conclui-se que a utilidade prática do jornal impresso para os entrevistados contempla especialmente a interação social. “Ter assuntos para comentar com os colegas” foi a principal utilidade apontada pelos leitores que responderam ao questionário.

Lazarsfeld e Merton (1948), em estudo sobre as funções dos meios de comunicação de massa, afirmaram que os meios servem para “reforço do prestígio para os que se adaptaram à necessidade e ao valor socialmente difundido de serem cidadãos bem informados” (apud WOLF, 2003: 57). A importância da interação social proporcionada pela leitura do jornal foi identificada também em muitas respostas dos entrevistados na pesquisa qualitativa, num resultado semelhante ao encontrado por Katz (apud BARROS FILHO, 2001: 139).

Ademais, podem-se destacar outros pontos importantes levantados na pesquisa: a importância das assinaturas comerciais; a proximidade geográfica como fator determinante para a leitura das notícias, o grande interesse por temas ligados a lazer e entretenimento. No que diz respeito à relação

do público leitor com a Gazeta do Povo, é notável, ainda, a satisfação dos leitores com o veículo e a credibilidade do mesmo junto ao seu público. Ressalte-se, por fim, a busca pelo aprofundamento da notícia, evidenciada em diversos depoimentos, bem como o prazer que a leitura do jornal proporciona.

A pesquisa apresentada confirma a utilidade e a importância do jornal impresso para o leitor habitual desse meio, mesmo diante do grande avanço de outros meios de informação, e dá pistas importantes para os temas que devem ser valorizados na publicação de um jornal como a Gazeta do

Povo.

Referências

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TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2004.

Centro de Mídia Independente Brasil: jornalismo cidadão e democracia representativa

Maria das Graças Targino (Universidade Federal do Piauí) gracatargino@hotmail.com

Cristiane Portela de Carvalho (Universidade Federal do Piauí) crisportela14@yahoo.com

Alisson Dias GOMES (Portal Acessepiauí) alissondg@bol.com.br

Sumário

O Centro de Mídia Independente se constitui no maior representante do jornalismo cidadão, no Brasil, vez que impulsiona a participação dos indivíduos, quer na produção noticiosa, quer em comentários que acompanham os textos. Face à sua relevância como espaço de diálogo entre

autores e internautas, analisam-se os comentários referentes aos editoriais do CMI Brasil, com o fim de delimitar traços identitários dos comentaristas e compreender a expansão do jornalismo cidadão. Isto requer, além de quantificação, análise dos itens: temas explorados; incidência de palavras significativas; quem comenta? Para a consecução do proposto, utilizamos a análise crítica do discurso (ACD) aplicada ao total de comentários (157) alusivos aos 24 editoriais publicados entre 1 a 31 de agosto de 2007 no site CMI Brasil. Dentre os temas explorados está mídia (31%), seguida das categorias movimentos / lutas sociais, e saúde, com índice similar de 19%, cada, observando-se a incidência de palavras representativas dos movimentos sociais, com 76 menções para Governo. Chama a atenção, ainda, o anonimato de 137 autores dos 157 comentários (87,26%), o que impede diálogo mais democrático e verdadeiro, como apregoado pelos defensores do jornalismo cidadão.

Abstract

The Centro de Midia Independente (Independent Media Center) is the most representative element of the citizen journalism in Brazil as it promotes the citizen participation during the news

production or as commentators of the news. Because of its relevance as an open space for dialog between authors and internet users, we analyze commentaries about CMI's editorials to recognize some identity characteristics´ commenters and understand the growth of citizen journalism. It will be required quantification and analysis of items such as themes explored and incidence of

significant words. That said we will make the critical analysis of discourse of 157 comments made toward 24 online editorials published between August 1st and 31st 2007 at the CMI Brazil website. Some of the perceived themes are media (31%), followed by social movements and health issues (19% each). We counted 76 mentions toward the Government while we analyzed the incidence of significant words about social movements. It comes to our attention the surprising fact that 137 authors did not identify themselves (87, 26%) in their comments. This fact may create obstacles toward the democratic and true dialogue defended by those who follow the citizen journalism.

Introdução

A partir de pesquisa efetivada ao longo do ano de 2007 sobre a expansão do denominado jornalismo cidadão ou jornalismo de fonte aberta (JFA), tomando como referência a atuação do Centro de Mídia Independente (CMI) ou Independent Media Center (IMC, denominação original),

especificamente sua representação em território brasileiro, o CMI Brasil, detectamos amplo leque de possibilidades para estudos posteriores (Targino, 2007). Isto porque, os rumos do jornalismo cidadão ainda são bastante indefinidos, em termos mundiais e nacionais, face aos numerosos questionamentos que persistem sem resposta. Dentre eles, questões de ordem conceitual e terminológica; legitimidade dos conteúdos disponibilizados como notícia, no sentido estrito do termo; “morte” ou sobrevivência “heróica” do jornalismo; riscos do crescente anonimato e das questões éticas daí advindas, referentes à autoria; discussões para definir quem pauta quem: a mídia

convencional determina a agenda dos meios alternativos ou, ao contrário, eles intervêm no jornalismo de referência?

A respeito desses tópicos, não obstante as indefinições, é evidente que o jornalismo cidadão praticado no âmbito do CMI ou de quaisquer outros meios de resistência nem substitui a mídia convencional nem o webjornalismo. Da mesma forma, o cidadão a quem o JFA oportuniza divulgar sua produção não substitui o jornalista. Consiste visão equivocada discutir o avanço do JFA como mero confronto entre cidadãos ansiosos para exercitar a liberdade de expressão e jornalistas,

ansiosos para preservar sua função “privilegiada” de produtor de material noticioso. Não se trata de substituição, e, sim, de complementaridade e adaptação. Independente do suporte físico, os

princípios do jornalismo, em seu âmago, persistem: acercar-se dos acontecimentos para verificação, contar com fontes confiáveis, primar pela veracidade e objetividade. O que muda, e de forma radical, são as rotinas produtivas, em qualquer instância do jornalismo: impresso, digital ou

eletrônico. Hoje, os jornalistas, em geral, recorrem a ferramentas digitais e / ou publicam em meios não impressos, incluindo desde a TV digital ao espaço virtual.

Com esse parêntese, reiteramos a amplitude de vozes que perfazem o jornalismo cidadão, com ênfase para os comentaristas, atores proeminentes desse novo jornalismo. Nesse sentido,

objetivamos analisar os comentários dos editoriais do CMI Brasil, com o fim de delimitar traços que compõem a identidade dos comentaristas para compreender melhor a expansão do jornalismo cidadão, no Brasil. Isto demanda ir além de simples quantificação, para analisar, também, os itens: (1) temas e subtemas mais explorados; (2) incidência de palavras; (3) quem comenta?

1 Independent Media Center e Centro de Mídia Independente Brasil

Há experiências anteriores ao Independent Media Center, que constituem formas de ativismo ou de intervenção social na internet, a exemplo da Asociación para las Comunicaciones Progresistas, de 1990, Federación Ipanex, de 1997, o primeiro hackmeeting, Florença (Itália), em 1998, além de outras experiências, como os sites slashdot, de 1997 e kuro5hin, de dezembro de 1999. Porém,

apesar desses antecedentes e de propostas similares ora existentes, como overmundo e rebelion, o IMC com seu site Indymedia consiste no exemplo mais representativo e difundido, na atualidade, de produtores independentes, como alternativa ao jornalismo convencional e ao webjornalismo de referência, mantido por meios de comunicação consolidados. Acrescentamos que os termos – convencional, tradicional e similares – são utilizados em oposição à mídia alternativa, independente do suporte: impresso, radiofônico, televisivo, digital, eletrônico.

No documento Actas das Jornadas 2008 (páginas 182-190)

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