• Nenhum resultado encontrado

Utilizando Macerais Jazida de Candiota

No documento Carvões gonduânicos no Brasil (páginas 149-155)

FÁCIES DEPOSICIONAIS DA TURFEIRA

6.3 Exemplos de estudo das fácies com aplicação dos índices nos carvões brasileiros

6.3.2 Utilizando Macerais Jazida de Candiota

Estudando a Mina de Candiota, as camadas Banco Louco, Candiota Superior e Inferior, Inferior 1, Inferior 2, Inferior 3 e Inferior 4, com base nos índices de Diessel (1986), Ade (1993), Alves & Ade (1996) e Silva et al.(1997) caracterizaram as camadas de carvão como tendo sido formadas associadas a um ambiente de laguna-barreira. Estas turfeiras desenvolveram-se com diferentes espessuras de lâmina de água durante a formação de cada camada (Fig.6.13).

Observando os valores de IG, as turfeiras que deram origem as camadas Inferiores 4 e 2, em geral, desenvolveram-se em condições mais umidas do que as Inferiores 3, 1, Candiota inferior e superior. Entre as duas principais camadas de carvão, Candiota inferior e superior é possível observar, pelo IG, uma tendência de maior umidade na camada inferior em relação a superior. A distribuição dos pontos das

Figura 6.13- Diagrama de Diessel (1986) com as camadas de carvão Inferiores 4,3,2, e 1, Candiota Inferior e Superior e Banco Louco, Mina de Candiota (modificado de Silva et al. 1997).

camadas no diagrama (fig. 6.12) indicam um sistema laguna-barreira ou ilha barreira onde estas turfeiras desenvolviam-se atrás da barreira protegidas de possíveis ingressões marinhas (vide capítulo 3). A camada Banco Louco apresentou valores elevados de IPT (entre 3,3 e 13,8) e baixos de IG (< 4,1), discrepantes das demais camadas. Estas condições de IPT e IG sugerem situações secas atuando fortemente durante o desenvolvimento da turfeira, ou ainda a possibilidade da ocorrência de incêndios na turfeira durante os períodos secos, justificando o predominio do maceral fusinita nesta camada. Dentro do contexto evolutivo geológico para a Jazida de Candiota (vide capítulo 1,2 e 3), é bem mais provável, que nesta turfeira, tenham ocorrido queimadas ao invés de termos turfeiras desenvolvidas em fácies terrestre como sugere a posição dos pontos no diagrama.

Jazida de Santa-Teresinha

Na jazida de Santa Teresinha, sondagem 2-TG-96-RS, os métodos de Diessel (1986), Lamberson et al. (1991), Pradier et al. (1994), Nicolas & Pradier (1997), Calder et al. (1991) e Ade (1999) foram aplicados nos resultados das análises dos macerais.

Os métodos de Diessel (1986) eLamberson et al. (1991) caracterizaram os carvões como tendo sido formados em uma turfeira de floresta úmida em fácies telmática. Porem utilizando a adaptação proposta por Pradier et al. (1994) e Nicolas & Pradier (1997) a turfeira teria sido desenvolvida em ambiente terrestre em pântano de floresta seca (Fig. 6.14). Figura 6.14– A: Diagrama de Diessel (1986) B: Lamberson et al. (1991) e C: Pradier et al. (1994) e Nicolas et al. (1997) com as camadas de carvão Santa Terezinha 1 topo e base ( ST1 (T) e ST1(B)) Santa Terezinha 3 topo e base ( ST3(T) e ST3(B)) e Santa Terezinha 4 topo e base (ST4(T) e ST4(B)), testemunho de sondagem 2-TG- 96-RS, Jazida de

Santa Teresinha. Vitr Deg: Vitrinita Degradada; Vitr Est: Vitrinita Estruturada; Inerto: Inertodetrinita; Fus + Semifus: Fusinita + Semifusinita (conforme Ade 1999).

Como pode-se observar para diferentes métodos, diferentes fácies são obtidas. Isso ocorre devido a diferentes elementos utilizados nas equações fruto de peculiaridades presentes em diferentes turfeiras. Estas equações não contemplavam em seus constituintes a fração mineral, muito importante e presente em importantes camadas dos carvões sul-brasileiros.

Aplicando a metodologia de Calder et al. (1991), que leva em consideração o conteúdo mineral em sua equação, nas camadas de carvão de Santa

Terezinha obteve-se o resultado conforme diagrama figura 6.15.

Figura 6.15- Diagrama de Calder et al. (1991), de fácies e paleoambiente deposicional das camadas de carvão Santa Terezinha 1 topo e base (ST1 (T) e ST1(B)) Santa Terezinha 3 topo e base (ST3(T) e ST3(B)) e Santa Terezinha 4 topo e base (ST4(T) e ST4(B)), testemunho de sondagem 2-TG-96-RS, Jazida de Santa Teresinha, (conforme Ade, 1999).

Nesta metodologia as condições deposicionais foram principalmente reotróficas límnicas, tendo sido a camada ST4 intervalo basal apresentado uma condição limno-telmática em pântanos predominando vegetação herbácea.

Ade (1999) obteve resultado semelhante aos estudos sedimentológicos e estratigráficos realizados na área. As turfeiras desenvolveram-se em fácies líminicas associadas a um sistema laguna-barreira ou ilha-barreira (Fig.6.16)

Figura 6.16- Diagrama mostrando as fácies e ambientes deposicionais baseados nos Índices de Lâmina de Água e Preservação dos Tecidos (Ade1999, adaptado de

6.4 Considerações finais

Os índices petrográficos com o objetivo de identificação da fácies orgânica e ambiente paleodeposicional, tem sido utilizados, ao longo dos anos em diferentes tipos de carvões, em geral com baixo conteúdo mineral.

Os carvões sul-brasileiros, em sua maioria, caracterizam-se por apresentar percentuais de matéria mineral superior a 20%. Desta forma pode-se observar que aqueles métodos que não contemplaram a fração mineral tiveram seus resultados não coerentes com os resultados estratigráficos, sedimentológicos e palinológicos. Por outro lado, a comparação dos resultados obtidos, para uma mesma camada de carvão, por métodos diferentes, mostrou a fragilidade destas técnicas, uma vez que os resultados não foram convergentes em sua maioria. Para os carvões com presença de matéria mineral associada, caso brasileiro, os índices petrográficos que contemplaram este constituinte, mostraram-se eficientes, uma vez que a fácies e o ambiente deposicional coincidiram com os resultados das análises estratigráficas, sedimentológicas e palinológicas.

Referencias

Ade, M.V.B., 1993. Caracterização dos sistemas deposicionais e das camadas de carvão no pacote sedimentar da malha IV, Jazida de Candiota-RS. MS Dissertation, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Ade, M.V.B., 1999. Petrologia orgânicade carvões e pelitos gonduânicos na borda nordeste da Bacia do Paraná, Rio Grande do Sul – Brasil. PhD Thesis, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Alves, R.G. & Ade, M.V.B., 1996. Sequence stratigraphy and organic petrography applied to the study of Candiota Coalfield, RS, South Brazil. International Journal of Coal Geology, 30:231-248.

Calder, J.H., Gibling, M.R., Mukhopadhyay, P.K. 1991. Peat formation in a Westphalian B piedmont setting, Cumberland Basin, Nova Scotia: implication for the maceral based interpretation of rheotrophic and raise paleomire. Bulletin de la Société Géologique de France, 162(2):283-298.

Corrêa da Silva, Z.C., 1981. Origin and facies of some South Brazilian coal seams. In: Proc. International Conference of Coal Science., Düsseldorf 1981, 38-44.

Correa da Silva, Z.C., 2000. Facies studies on the Brazilian Gondwana Coal Deposits: A short Review. Memórias da Faculdade de Ciências do Porto 5:75-82.

Correa da Silva, Z.C., 2004.Coal facies study in Brazil: a short review. International Journal of Coal Geology, 58:119-124.

Correa da Silva, Z.C. & Marques-Toigo, M., 1985. Considerações petrográficas e palinológicas sobre a camada Candiota, Jazida Carbonífera de Candiota, Rio Grande do Sul. II Simpósio Sul-brasileiro de Geologia, Florianópolis, SC, Anais, 449-460.

Correa da Silva, Z.C., Paim, P.S.G., Alves, R.G., Araújo, C.V., Henz, G.I. , 1984. Caracterização petrográfica e tecnológica das camadas de carvão da Jazida de Charqueadas, Rio Grande do Sul. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Geologia, Rio de Janeiro, Anais, 3:1299-1313.

Daubenmire, R., 1978. Plant geography with special reference to North America. Academic Press, New York. Diessel, C.F.K., 1982. An appraisal of coal facies based on maceral characterization. Australian Coal Geology, 4(2):474-484.

Diessel, C.F.K., 1986. The correlation between coal facies and depositional environments. Advances in the study of the Sidney Basin, Proc. 20th Symposium. The University of Newscastle, 19-22.

Diessel, C.F.K., 1992. Coal-Bearing Depositional Systems. Springer-Verlag, Berlin, Heildelberg, 721p.

Gore, A.J.P., 1983. Introduction. In: Gore, A.J.P. (ed.). Ecosystems of the world. Mires: Swamp, Bog, Fen and Moore, general study. Elsevier, Amsterdam, 4A:1-34.

Hart, G.F., 1986. Origin and classification of organic matter in clastic systems. Palynology,10:1-23.

Hacquebard, P.A. & Donaldson, R., 1969. Carboniferous coal deposition associated with flood plain and limnic environments in Nova Scotia. In: E.C. Dapples & M.E. Hopkins (eds). Environmentsof coal deposition. Geological Society of America, Special Papper, 114:143-191.

Kalkreuth, W., Marchioni, D.L., Lamberson, M.N., Naylor, R.D., Paul, J., 1991. The relationship between coal petrography and depositional environments from selected coal basins in Canada. In: Kalkreuth, W., Bustin, R.M. & Cameron, A.R. (eds). Recent Advances in Organic Petrology and Geochimistry. A Symposium Honoring Dr. P. Hacquebard. International Journal of Coal Geology, 18:87-124.

Lamberson, M.N., Bustin, R.M., Kalkreuth, W., 1991. Lithotype (maceral) composition and variation as correlated with paleo-wetland environments, Gates Formation, northeastern British Columbia, Canada. International Journal of Coal Geology, 18:87-124.

Marchioni, D.L., 1980. Petrography and depositional environment of the Liddell Seam, Upper Hunter Valley, New South Wales. International Journal of Coal Geology,1:35-61.

Marques-Toigo, M. & Corrêa da Silva, Z.C., 1984. On the origim of gondwanic South Brazilian coal measures. Comun. Serv. Geol. Portugal, Imprensa Portuguesa, Lisboa, 70(2):151-160.

Matos, L.C.B., 1984. Contribuição ao estudo petrográfico e palinológico dos carvões da Jazida de Chico Lomã- RS. Porto Alegre. Dissertação de mestrado em Geociências, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

McCabe, P.J., 1987. Facies studies of coal and coal-strata. In: Coal and coal-bearing strata: Recent advances. Scott, A.C. (ed). Geological Society of London. Special Publication, 32:51-66.

Moore, P.D., 1987. Ecological and hydrological aspects of peat formation. In: : Coal and coal-bearing strata: Recent advances. Scott, A.C. (ed). Geological Society of London. Special Publication, 32:7-15.

Nicolas, G. & Pradier, B., 1997. Reconstituition des environments de dépôt des sediments organiques de plaine deltaique. Application `al`étude sédimentologique du Groupe Brent (Mér du Nord). Bulletin Centres Recherche Exploration – Prod. Elf Aquitaine, 21(1):249-264.

Obaje, N.G., Ligouis, B., Abaa, S.I., 1994. Petrographic composition and depositional environments of Cretaceous coal and coal measures in the Middle Benue Trough of Nigeria. International Journal of Coal Geology, 26:233-260.

Osborne, P.L. & Polunin, N.V.C., 1986. From swamp to lake: recent changes in a lowland tropical swamp. Journal of Ecology, 74:197-210.

Oswald, H., 1937. Myrarochmyrodling. Forbundels Bokforlag, Stockholm.

Parry, C.C., Whitley, P.K.J., Simpson, R.D.H.1981. Integration of palynological and sedimentological methods in facies analyses of Brent Formation. In: Illings L.V., Hobson G.D. (eds). Petroleum Geology of the Continental Shelf of North-West Europe, Institute of Petroleum, London, 205-215.

Piccoli, A.E.M., Marques-Toigo, M., Correa da Silva, Z.C., 1985. Environments of deposition and facies changes in Charqueadas – Santa Rita Coalfield, RS, South Brazil. XI Congreso Internacional de Geologia Y Estratigrafia del Carbonifero, Madrid, Espanha, 3:213-221.

Pradier, B., Nicolas, G., Gérard, J., 1994. L’analyse des milieu de dépôtdes charbons, outil de correlation dans le Brent de Mér du Nord. Bulletin Centres Recherche Exploration – Prod. Elf Aquitaine, Publication Spécial, 18:121-133.

Reading, H.G., 1986. Sedimentary environments and facies.2nd ed. Blackwell Scientific Publications, Oxford, 615p.

Sahay, V.K., 2011. Limitation of petrographic indeces in depositional environmental interpretation of coal deposits. Central European Journal of Geoscience. 3(3):287-290.

Silva, M.B., Ade, M.V.B., Correa da Silva, Z.C., 1997. Petrography of some coal seams from Candiota Coalfield, RS, South Brazil. XIII International Congress on Carboniferous – Permian, Krakow, Poland, Proceeings, 2:291-299.

Spackman, W., Riegel, W., Dolson, C.P., 1969. Geological and biological interactions in the swamp marsh complex of southern Florida. In: Dapples, E.C., Hopkins, M.E. (eds) Environments of coal deposition. Geol Soc Am Spec Pap 114:143-192.

Stach, E., Mackowsky, M-T., Teichmüller, M., Teichmüller, R., Taylor, G.H., Chandra, D. 1982. Stach’s textbook of coal petrology. 3rd ed. GebrüderBorntraeger, Berlin-Stuttgart, 535p.

Tansley, A.G., 1939. The british islands and their vegetation. Cambridge University press.

Taylor, G.H., Teichmüller, M., Davis, A., Diessel, C.F.K., Littke, R. & Robert, P., 1998. Organic Petrology, Gebrüder Borntraeger, Berlin, Stuttgart, 704 p.

Teichmüller, M., 1950. Zumpetrographischenaufbau und werdegang der weichbraunkolhe (mitberücksichtigunggenetischerfragen der steinkohlenpetrographie). Geo Jahrb 64:429-488

Teichmüller, M., Stach, E., Mackowsky, M-T., 1982. Origin of the petrographic constituents of coal. In: Stach, E.; Mackowsky, M.T.; Teichmuller, M.; Teichmuller, R.; Taylor, G.H.; Chandra, D. (eds). Stach’s textbook of coal petrology, 3nd ed, 219-294.

Teichmuller, M. & Teichmuller, R., 1982. The geological basis of coal formation. In: Stach, E., Mackowsky, M.T., Teichmuller, M., Teichmuller, R., Taylor, G.H., Chandra, D. (eds). Stach’s textbook of coal petrology, 3nd ed., 5-53.

Capítulo 7

No documento Carvões gonduânicos no Brasil (páginas 149-155)