• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II – (Re)pensar a aula de Física

4. Atividades didáticas

4.2. Recursos Educativos Digitais

4.2.2. Vídeo Educativo

“Cinquenta porcento do que aprendemos são através da visão e da audição, dois sentidos naturais perfeitamente contemplados nas aplicações vídeo.”

Norbis

Ao longo da história os vídeos educativos têm vindo a auxiliar o processo de ensino e aprendizagem da Física. Segundo Cinelli (2003), os meios audiovisuais não se cingem a reproduzir o discurso, consistem antes na combinação frutífera da imagem e do som. Em Portugal, o alargamento da escolaridade obrigatória de quatro para seis anos originou a necessidade de criar um sistema de ensino à distância para determinadas escolas situadas em locais mais recônditos. Foi então que, em 1964, surgiu ao que inicialmente se chamou de Tele Escola, tendo seguidamente sendo atribuídas as designações de Ciclo Preparatório TV e finalmente de Ensino Básico Mediatizado (EBM).

Entretanto, o vídeo educativo começou a ser introduzido nas escolas na década de 80, fruto do surgimento de videogravadores como preços sucessivamente mais económicos, nos sistemas Beta e VHS. Na altura, tirou-se partido do facto de ser possível adquirir as cassetes a um preço reduzido e da possibilidade de (re)gravar nelas programas televisivos. Tais condições potenciaram que as escolas se apetrechassem com videotecas, onde era possível requisitar recursos audiovisuais das mais diversas áreas de conhecimento.

Assim, em 1988, a Tele Escola deixou de se suportar nas emissões de televisão, para passar a recorrer às videocassetes de VHS (o sistema Beta, mais caro e patenteado pela SONY, não era muito popular).

Paralelamente, as restantes escolas públicas reconheceram os bons exemplos com este modelo de ensino à distância e também elas reproduziram as boas práticas educativas, tendo movido esforços na criação de anfiteatros, aquisição de televisores, videogravadores, câmaras de vídeo (em alguns casos) e mais tarde, com o desabrochar da Era Tecnológica, foram adquiridos computadores.

Em síntese, a partir da década de 90 verificou-se uma evolução significativa no acesso das escolas aos meios audiovisuais e tecnológicos, permitindo que estes fossem

deslocados para todas as salas de aula, ao invés da necessidade de deslocar os alunos.

Num artigo publicado na Gazeta da Física, intitulado “Vídeos para o ensino da Física e Química”, Gonçalo Figueira deixa-nos a seguinte questão

“Se os adolescentes passam muito tempo a navegar na internet, por que não aproveitar para os incentivar a aprender Física e Química através desse meio?” Figueira (2007) refere também que Carlos Portela, enquanto professor de Física e Química de uma Escola de Ensino Básico e Secundário da Figueira da Foz, sentiu que através de um simples clique os seus alunos podiam ter acesso a um manancial de vídeos de grande qualidade. Porém, estava ciente que estes se encontravam dispersos pela internet e daí a necessidade de criar uma página, onde fosse possível alojar os melhores e categorizá-los por temas (Energia, Luz, Som, Relatividade Geral, entre outros) e ano (desde o 7.º até ao 12.º ano de escolaridade). Desta necessidade, foi criado o sítio web português “Vídeos para o Ensino da Física e Química”, com o endereço: http://ensinofisicaquimica.blogspot.com. Este professor é um adepto de uma aprendizagem apoiada em conteúdos multimédia, tendo referido que

“A página surgiu como resultado dos recursos de ensino que utilizo com os meus alunos, quer em contexto de sala de aula, quer em atividades em ambientes computacionais. Alguns destes vídeos foram utilizados em atividades formativas, sobretudo mini-testes, que desenvolvi na plataforma

Moodle em que interajo com os meus alunos. A partir de certo momento decidi

que seria bom partilhar esses recursos com a comunidade educativa.”

Antes da aplicação do vídeo é importante que o professor decida o tipo de abordagem que pretende fazer. Caso opte por uma pedagogia mais tradicional, o vídeo apenas terá a função transmissiva de conhecimentos, mas agora por um outro autor que não o professor. Neste caso, toda a “riqueza” que poderá ser extraída durante e após a sua visualização será provavelmente descurada.

Para que se faça uma utilização adequada destes recursos é importante que inicialmente o professor se aproprie do recurso educativo, verifique o seu rigor científico e pedagógico, a qualidade do som e imagem e caso pretenda explorar só uma porção do vídeo, poderá deixá-lo previamente no ponto de exibição. No final da sua exibição, o professor pode sugerir o debate de ideias e o resumo das conclusões alcançadas, para alunos pertencentes a um ensino de escolaridade mais baixo,

poderá sugerir que estes respondam a questões de um roteiro de exploração, cuja sequência de conteúdos seja coincidente com a do vídeo.

Na opinião de Ferrés (1996), um bom vídeo pode ser utilizado para introduzir um novo assunto, aguçar a curiosidade dos alunos e motivar para o estudo de novos temas. Segundo Cinelli (2003), algumas das vantagens associadas ao vídeo educativo são as seguintes:

 O utilizador poderá explorá-lo, quase como se estivesse a folhear um livro interativo, tendo a possibilidade de fazer avanços, pausas e recuos; dando igual oportunidade de compreensão dos conceitos a todos os alunos, mesmo para aqueles que apresentam um ritmo de aprendizagem mais lento.

 Pode auxiliar na exploração dos conteúdos programáticos, clarificando fenómenos científicos mais abstratos, impossíveis de visualizar e/ou ouvir à escala humana ou no caso de situações em que o tempo da aula é insuficiente para a realização da atividade experimental. A título de exemplo, podemos referir que com o vídeo, o aluno poderá “viajar” até ao espaço sideral, compreender a constituição de um átomo, familiarizar-se com o mecanismo de passagem de corrente elétrica, entre outros.

 Numa ótica mais pedagógica, o vídeo irá estimular a participação dos alunos e as práticas colaborativas na sala de aula. A troca de experiências, ideias e conclusões irá criar uma nova visão do processo de ensino e aprendizagem. A necessidade de autorreflexão das suas aprendizagens, da compreensão dos diferentes pontos de vista, do alargamento do léxico científico, do desenvolvimento da capacidade de argumentação, entre outros, podem constituir alguns elementos positivos como consequência desta forma de atuação.

 O vídeo educativo poderá possibilitar a identificação e desconstrução das conceções prévias dos alunos, bem como aplicar os conhecimentos adquiridos a outras situações do dia-a-dia, não contempladas neste recurso educativo.

Do acima exposto, podemos referir que existe uma panóplia de recursos multimédia à disposição do professor que visam facilitar a aprendizagem dos alunos. Os vídeos e os demais recursos multimédia podem, assim constituir boas ferramentas para servir de complemento ao ensino tradicional (Leão, 1999).

Na opinião de diversos investigadores (Lowe, 2002; Mayer, 2003; Gee, 2005; Kalyuga, 2005; Mayer, 2005 e Sweller, 2005) e citado por Lopes e Silva, 2011,os alunos aprendem melhor quando:

 Se valoriza a combinação de vários meios para ilustrar a informação, por exemplo, se associa a palavra e as imagens.

 As palavras, os textos e a imagem se encontram “próximas” umas das outras, facilitando a construção de um referencial de construção entre eles.

 As palavras e as imagens surgem simultaneamente em vez de sequenciadas; caso contrário irá constituir um motivo distrator dos alunos.

 A informação verbal apresenta-se na versão áudio e não textual.

 O aluno tem a oportunidade de demonstrar o que aprendeu logo após a apresentação do vídeo. Deve ser dada a oportunidade ao aluno de interligar o que aprendeu com as suas vivências do dia-a-dia. Outra estratégia a auxiliar o aluno a integrar o novo conteúdo é proporcionar-lhes a oportunidade de trabalhar colaborativamente com os seus pares e de ter a possibilidade de expor os seus argumentos.

 São fornecidas ao aluno contínuas informações do seu nível de progresso escolar. O feedback é uma parte importante no processo de ensino e aprendizagem do aluno. Fornecer o feedback poderá reforçar o que já foi aprendido, alertar para possíveis incorreções científicas e auxiliar na identificação de conceções prévias. O feedback, quer numa modalidade mais formal ou informal, é mais eficaz quando é frequente e imediato.

Neste ponto, ressalvamos também que por vezes, a mensagem que é transmitida pelo professor nem sempre é entendida de igual forma pelos alunos. Por isso, o professor deverá procurar adequar a sua linguagem à utilizada pelo aluno, sob pena da informação essencial não ser apreendida.  A complexidade dos materiais aumenta e o impacto da manipulação direta dos

materiais de aprendizagem (animação, ritmo) na transferência do conhecimento também aumenta (figura 10).

Figura 10 – Príncipios do vídeo na melhoria das aprendizagens do aluno. (Adaptado de Lopes & Silva, 2011)