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CAPÍTULO II REFLEXÕES ACERCA DE UMA PESQUISA EM ARTES VISUAIS:

2.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORIGEM DA PESQUISA

2.1.9 Vídeo da Performance

Primeiramente, destacamos que a performance registrada em vídeo não foi apresentado na exposição, mas foi parte significativa da pesquisa, pois a partir dessa performance que se expandiram as ideias e, também, o modo de se relacionar com o tema e os objetos da pesquisa.

O vídeo mostra uma performance na qual vivenciei ser um casulo; enrolada no tecido formando um casulo de fios e linhas, pousando em cima de uma árvore quebrada, em que o principal elemento era eu, buscando uma experiência sensitiva e radical com o tema: borboleta, casulo e metamorfose. A experiência de se transformar em casulo foi inesquecível, pois existiram muitos empecilhos, pois não foi a desculpa para desistir de visitar o mato e subir nas árvores, que muitas e muitas eram altas, finas, grossas, espinhentas, lisas e escorregadiças, as quais não me deixavam segura em momento algum de ficar nas alturas sozinha sem nenhuma proteção, e não via a hora de descer ao chão, onde me sinto segura e tranquila como sou em terra firme.

Tive a colaboração de minha família, pois fomos todos para a mata e fiz a performance primeiro e, em seguida, com o auxílio dos familiares o casulo vai ganhando vida na mata e o registro desta ação constitui o conjunto de imagem que dão origem ao vídeo.

Esta expedição pela mata faz sentir e perceber na própria pele uma situação de enclausuramento vivida pela larva enquanto envolvida na trama do casulo.

Este repertório visual já instigava desde outros ateliês em que já foi pensado como pintura, instalação, objeto, restava então viver este personagem, ser performance deste tema de trabalho.

Também foi realizada outra vivência de casulo no momento em que estávamos tematizando e buscando sentidos para a pesquisa. Dessa vez a performance foi realizada na casa da orientadora, momento em que estávamos explorando e pensando sobre os elementos básicos da pesquisa. A partir disso, a relação com os objetos já construídos, como os casulos, por exemplo, se expandiram. Foi nesse dia em que, como num ato de catarse, queimamos os

casulos, desconstruindo suas formas, rompendo com sua aparência e imprimindo um viés mais plástico, uma vez que a fibra, ao ser queimada ficava com uma plasticidade preta, derretida e ao mesmo tempo sugeria formas e texturas expressivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A investigação a respeito do casulo e borboletas e a abordagem artística desses temas constituiu em um passo importante para uma melhor concepção da arte e dos modos de criação como um todo. Enquanto acadêmica de bacharelado em Artes Visuais, pude constatar que a criação artística é um processo intelectual que exige empenho, disciplina, estudo e capacidade de desconstruir e reconstruir valores e ideias.

Este estudo foi gratificante em que os objetivos propostos, antes de ser iniciada a pesquisa, foram obtidos, e, de certa forma, transposto abrangendo diferentes assuntos que apareceram durante o desenvolvimento da pesquisa.

O casulo foi a “linha” para o meu horizonte de criação e agora são lembranças que dificilmente irão se apagar. Lembranças de infância, criação, sentimento de prazer, de orgulho e de muita emoção. Ao ver modelado e, posteriormente, a sua desconstrução, percebemos que ele se ressignificou, sofrendo uma metamorfose, pois a desconstrução de sua forma gerou outro objeto artístico. Com isso, a referência também se ampliou e, de casulos, passaram a objetos e à pintura tridimensional.

Além disso, os casulos agora são objeto arte, tendo outro significado, várias mutações, pois passaram por um processo de libertação, por ter se desprendido um do outro, não sendo mais escultura e, sim, objeto pintura.

Os casulos são marcos do processo de criação, efeitos incríveis, demonstrando algo inesperado, que não sabíamos o que iria acontecer, quando estávamos interferindo, cortando, queimando e agredindo os efeitos foram acontecendo com o fogo, ficando ora dourado, prateado ou cinza, conforme a reação da fibra sintética ao calor. Isso foi algo inesperado, mas que enquanto

acontecia foi iluminador porque apontou para diferentes possibilidades plásticas e matéricas.

Todos os casulos criados remetiam a formas como, por exemplo, gruta, ninho, ou, até mesmo, um elemento orgânico (ser), assim como a uma escultura. Parece que alguma coisa se libertou, que saiu e se transformou. O casulo foi uma nova linha de horizonte em minha pesquisa, potencializando cada vez mais meus trabalhos.

O foco e conhecimento no que desejava apresentar para criar me ajudaram a não fugir do tema, a investir na ideia que pretendia explorar e potencializar. Quando se tem informação e objetivo do que pretende ser criado, facilita desenvolver a criação e a pesquisa, buscando na memória e no imaginário artístico e criador. Agora, fazendo minha autoavaliação, observo que não há percepção que não seja impregnada de lembranças.

O tempo é contínuo para as investigações e para as criações, no entanto, vai além deste espaço físico, pois o artista leva acoplado em sua caminhada, seu histórico e seus conhecimentos adquiridos de suas experiências intelectuais.

O sentimento é o de que crescemos com as imaturidades, dos erros e acertos sofrendo várias transformações no processo de criação, pois a imaturidade para o criador retarda seu desenvolvimento e sua fundamental tarefa é diferenciar-se para conseguir sua autonomia e independência na hora de entrar para o mercado de trabalho.

Enquanto criamos e recriamos nossos trabalhos, estamos criando, pensamos muito no que vai dar certo ou errado, ou como desejava que saísse se acaso algo der errado, pois, todo criador se preocupa com a melhor compreensão do processo de criação. Só será válido se houver algum questionamento do espectador.

Vários artistas me influenciaram nos trabalhos de pesquisas, destacamos principalmente, o artista Frances Marcel Duchamp, Élida Tessler, Edith Derdyk e Fayga Ostrower e Cecília Almeida Salles. Suas ideias auxiliaram na ressignificação dos meus trabalhos e na construção da pesquisa, de como criar algo novo que tenha sentido pessoal, mas também acadêmico e que contenha bagagem suficiente para que o espectador saia instigado com a obra.

Enquanto estava sozinha, organizando a exposição, vinha na mente a letra da música de Raul Seixas “Metamorfose Ambulante”. E, no silêncio, muitas vezes

conseguia identificar a música longe do lugar que me encontrava. E foi na letra que muitos de meus trabalhos foram inspirados. Precisamos ser metamorfose ambulante, para sobrevivermos num mundo cheio de transformações e metáforas, com isso podemos pensar em não permanecer presos a uma só verdade, mas sim na constante metamorfose da vida e dos conceitos impostos pela sociedade e pelos governantes. A arte nos ensina muito sobre isso, pois é da sua natureza romper, desconstruir, desinstalar e fazer pensar.

Nessa letra podemos pensar que a única coisa imutável na vida é a constante mudança das coisas e das pessoas, pois a vida é cheia de alterações, que o ser humano hoje pode ser a estrela, mas não sabemos o dia de amanhã. Talvez a metamorfose, seria o nascer, o crescer e morrer. O que acontece com tudo que há vida. Também, podemos pensar em “modificação”, ou seja, a transformação de alguma coisa em outra totalmente diferente, como no caso da lagarta, feia e viscosa, para a borboleta, linda e desejada, ou seja, ser essa metamorfose ambulante que se move constantemente.

Essa pesquisa aponta vários itens que devem ser melhorados, que devem ser reaproveitados, que carecem mais investigação, que necessitam ser potencializados e isso me deixa muito entusiasmada para continuar estudando e pesquisando.

Essa probabilidade da arte abrange o outro na obra, com sua atuação, inventando novos caminhos e significados a ela, proporciona uma das especialidades da arte contemporânea, que é a do artista ser mais um propositor do que um produtor, ou seja, o artista propõe que o espectador consolide determinadas ações, permitindo uma vivência a mais na obra, pois nas artes tudo pode sofrer modificação. Percebemos essa relação nas palavras do crítico Morais (1997, p. 171), em que:

A tarefa do artista-guerrilheiro é cria para o espectador (que pode ser qualquer um e não apenas aqueles que frequentam exposições) situações nebulosas, incomuns, indefinida, provocando nele, mais que estranhamento ou repulsa, o medo. E só diante do medo, quando todos os sentidos são mobilizados, há iniciativa, isto é, criação.

É inegável a importância que tal visão tem para explicar que toda obra de arte é invenção da criação de alguma pessoa, mais especificamente de um artista. A inspiração, em arte, compõe um processo um tanto quanto complexo, que envolve

muita investigação, dedicação e paixão, sendo que na arte contemporânea diversas vezes o processo de criação começa por constituir parte da obra.

O trabalho desenvolvido proporcionou a construção de um maior conhecimento sobre o processo de criação, em especial dos casulos e borboletas. A criação artística plástica foi muito significativa para o desafio acadêmico e pessoal, além de ser um trabalho instigante e prazeroso, sendo o resultado final melhor do que o esperado.

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