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Casulos, borboletas e metamorfoses: reflexões acerca de um processo de criação em artes visuais

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS

CASULOS, BORBOLETAS E METAMORFOSES: REFLEXÕES ACERCA

DE UM PROCESSO DE CRIAÇÃO EM ARTES VISUAIS

ADRIANE MAAS CORRÊA

Ijuí (RS) 2012

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ADRIANE MAAS CORRÊA

CASULOS, BORBOLETAS E METAMORFOSES: REFLEXÕES ACERCA

DE UM PROCESSO DE CRIAÇÃO EM ARTES VISUAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Artes Visuais, Bacharelado, da

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais, sob orientação da Professora Maria Regina Johann.

Ijuí (RS) 2012

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AGRADECIMENTOS

À minha família: em especial ao meu marido Marcos José, e meu filho Felipe e aos meus pais: Nadir e Américo, pelo apoio e confiança que sempre depositaram em mim também no transcorrer dessa jornada.

Aos amigos antigos desde a infância e aos novos – em especial à minhas colegas de trabalhos da EEEF Medianeira e do Colégio Estadual Comendador Soares de Barros em especial as colegas Adriane S., Neida H., Mirian S., Lenir, Zelair, Luciana, Rubiar R., Rubiar M., Valdete, Celia e Cleusa, pela simples presença nas horas difíceis, a amizade, o cuidado, as orações e os exemplos de perseverança e fé.

Às colegas e amigas do Curso de Artes Visuais, em especial à Haíssa, Nicole, Elida, Raquel B., Raquel R., Fabiane, Diane, Elaine, pela partilha de experiências da educação, da arte e da vida.

Aos professores do Curso de Artes Visuais, em especial à professora Maria Regina Johann, orientadora desta pesquisa, pelo partilhar de materiais, saberes e pensamentos e principalmente a paixão pelo universo da arte e de seu ensino.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Mariposa bruxa Ascalapha odorata (fêmea) fotografada na parede de uma residência no município de Parnamirim, Rio Grande do Norte, Brasil.

Fotógrafo: Francisco Souza ... 25

Imagem 2: Série casulos. Material: Fibra sintética e linha (2011) ... 29

Imagem 3: Série casulos. Material: Fibra sintética e linha (2011) ... 29

Imagem 4: Pintura objeto art. Material: Fibra sintética, linha e borboleta desidratada. Tela: 70 x 90 cm ... 30

Imagem 5: Casulo – detalhe do casulo queimado. Material: Fibra sintética. Medida: 1,20 cm (2011) ... 30

Imagem 6: Série casulos. Material: Fibra sintética e linha (2011) ... 31

Imagem 7: Série casulo. Material: Fibra sintética e linha. Tela: 60 x 90 cm (2011) .... 31

Imagem 8: Detalhe do casulo. Material: Fibra sintética e linha. Tela: 60 x 90 cm ... 32

Imagem 9: Coletiva ... 36

Imagem 10: Série de desenhos de borboleta em lápis de cor e folhas A4 (2010) ... 37

Imagem 11: Detalhe dos desenhos de borboleta em lápis de cor e folhas A4 ... 38

Imagem 12: Interferência com tecido, panos de seda com bordados de linhas e transferências de imagens borboletas. Medida: 2 x 1,2 cm x 1,6 cm cada um (2010) ... 39

Imagem 13: Detalhe da transferência de imagens e bordado com linha ... 40

Imagem 14: Pintura tridimensional: borboletas de seda e naturais em fibra sintética ... 41

Imagem 15: Detalhe da pintura tridimensional de fibra industrial sintética com borboletas de papel seda e borboletas desidratadas. Medida: 2,80 x 1,80 cm (2011) ... 42

Imagem 16: Objeto/livro (2011) ... 44

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 5

CAPÍTULO I ARTE CONTEMPORÂNEA: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO ... 7

1.1 ARTE CONTEMPORÂNEA: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO ... 7

1.2 ARTE CONTEMPORÂNEA: PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DA PRODUÇÃO E VALORIZAÇÃO DA OBRA ... 9

1.3 NO CONTEXTO DA ARTE CONTEMPORÂNEA, QUEM É O ARTISTA, O QUE PODE SER ARTE? REFLEXÕES SOBRE A CRIAÇÃO ARTÍSTICA NA PERSPECTIVA DE ÉLIDA TESSLER, EDITH DERDYK E FAYGA OSTROWER ... 15

CAPÍTULO II REFLEXÕES ACERCA DE UMA PESQUISA EM ARTES VISUAIS: CASULOS, BORBOLETAS E METAMORFOSES ... 22

2.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORIGEM DA PESQUISA ... 22

2.1.1 Por que Pesquisar Borboletas? ... 24

2.1.2 Por que Casulo? ... 25

2.1.3 Como se Configurou a Pesquisa: Conceitos, Materialidades, Procedimentos e Metodologia ... 26

2.1.4 Casulo: Construção e Desconstrução da Forma ... 27

2.1.5 Desafios da Exposição Individual: Analisar o Processo, Organizar e Dar Unidade Compositiva e Estética ao Conjunto do Trabalho ... 34

2.1.6 As Exposições: Socializar, Analisar e Refletir ... 34

2.1.7 O que se Apresenta na Exposição Individual: Desenhos, Fotografias, Objetos e Interferências... 36

2.1.8 Objeto/Livro ... 43

2.1.9 Vídeo da Performance ... 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 47

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este trabalho reflexiona sobre a pesquisa artística “Casulos, borboletas e metamorfoses: reflexões acerca de um processo de criação em artes visuais” desenvolvido no Curso de Bacharelado em Artes Visuais pela Unijuí. Apresenta o processo desenvolvido na pesquisa, destacando suas materialidades e procedimentos e reflete sobre a legitimidade da linguagem e da poética construída.

A pesquisa toma a arte contemporânea como concepção e, num primeiro momento faz uma retrospectiva de suas principais rupturas e transformações. Com isso fundamenta alguns dos conceitos e procedimentos desenvolvidos na mesma. Diante disso, no primeiro capítulo, apresenta as ideias de Marcel Duchamp e mostra porque ele é considerado um artista polêmico e revolucionário para o início do século XX. Destaca, também, que suas obras marcam uma mudança de paradigma em relação à arte moderna e apresenta as principais tendências da arte contemporânea.

Nesse contexto, apresentam-se aspectos sobre a arte contemporânea, refletindo sobre quem é o artista e o que pode ser arte? Com isso, já apresentamos alguns elementos sobre a criação artística contemporânea, pois nas artes, a cada período, surgem novas ideias e concepções diferentes, considerando que, nos tempos atuais, vivemos momentos de abertura de horizontes, limites e fronteiras.

O segundo capítulo mostra o processo de criação, a partir da pesquisa e do estudo sobre os casulos e as borboletas. Para isso, retomam-se brevemente alguns trabalhos desenvolvidos nos componentes de ateliês anteriores para que se compreenda como se configurou a pesquisa que trata este texto, como a origem dos casulos, por exemplo, que é um elemento plástico importante nesse trabalho.

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Nesse capítulo também se justificam os materiais e os temas da pesquisa, como as borboletas e os casulos, e também o conceito de metamorfose pertinente a ambos. O anseio de pesquisar as borboletas veio das inspirações das minhas coleções de etiquetas, que me acompanham há muito tempo, e tem tudo a ver com minhas lembranças de infância. Além disso, há a instigação por múltiplos atos de criação artística, baseadas em uma vasta forma de expressão existente na sociedade. Com isso, a busca incessante por experiências significativas foi necessária para o processo de criação de meus trabalhos, para que eles pudessem se concretizar e dar forma e sentido para a criação dos casulos e borboletas.

O desejo e os laços afetivos depositados na criação dos casulos e das borboletas invocaram sentimentos e emoções nos trabalhos. Além disso, inventar sem objetivo algum não levaria a uma criação significativa e, também, a lugar nenhum, pois criar algo sem pensar, sem refletir ou, até mesmo, sem planejamento não teria sentido para a obra e para o criador.

O indivíduo com capacidade criadora inventa e tem o domínio de incluir com exatidão os materiais e detalhes, provocando uma enorme diferença no seu entendimento e na sua criação; nos momentos de apreciação, com seus métodos e meios em que se chega ao resultado final. Assim, foi necessário articular aos materiais utilizados o aspecto da sensibilidade e da estética, observando o ajuste dos detalhes do que se queria elaborar.

Também, é trazida para a reflexão a ideia de que sem o processo de larva e do casulo não há borboleta. O casulo tem tudo a ver com transformações, mudanças que ocorrem conosco, desde o nascimento até o fim da vida, pois nosso corpo passa por diferentes ciclos que o modificam, imprimindo marcas e sentimentos relativos a cada história, a cada sujeito.

Por fim, nas considerações finais sobre a pesquisa, apresenta-se uma reflexão sobre o processo de criação, observando seus limites, desafios e potencialidades, uma vez que, para criar é preciso ser pesquisador e provocador, pois o criador tem que ser propositor e, ao mesmo tempo, estar aberto a críticas e contribuições.

Ao término desta pesquisa, constatou-se que foi necessário muito estudo, pesquisa e experimentos; também, muito ânimo para continuar a investigação. Isso tudo instigou ainda mais a curiosidade de encontrar os elementos adequados para o trabalho, despertando o desejo de ver o mais rápido possível o resultado final.

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CAPÍTULO I ARTE CONTEMPORÂNEA: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1 ARTE CONTEMPORÂNEA: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO

A arte contemporânea surgiu na metade do século XX, um período muito conturbado historicamente, e suas principais rupturas se refletem na arte até os dias atuais. No âmbito das artes, as ideias e concepções diferentes continuam surgindo, pois, atualmente, ampliamos a abertura de horizontes, limites e fronteiras, especialmente, com a multiplicação de caminhos e de informação que temos à disposição.

Diante disso, a arte apresenta-se em diferentes linguagens como as artes visuais, o teatro, a dança, a música e está interrelacionada com a moda, o cinema, a literatura e a publicidade, por exemplo. Com isso, desafia as classificações habituais, colocando em questão o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte.

A arte contemporânea é estimulada por vários atos de criação artística, baseadas em uma vasta forma de expressão existente na sociedade. Buscando o reconhecimento de sentidos em suas obras e atribuindo nelas o valor merecido de sua concepção. Diversos espectadores não compreendem a arte contemporânea, pois ela se apresenta de modo pouco convencional, mas apontando que toda arte em alguma ocasião cogita os problemas vivenciados na sociedade.

Artistas contemporâneos buscam sentido. Um sentido que pode estar alicerçado nas preocupações formais que estão intrínsecas à arte e que se sofisticaram no desenvolvimento dos projetos modernistas do século 20, mas que seus valores na compreensão (e apreensão) da realidade, infiltrada dos meandros da política, da economia, da ecologia, da educação, da cultura, da fantasia, da afetividade (CANTON, 2001, p. 30).

A arte, por sua própria natureza, é excêntrica, polêmica e causa estranhamento, principalmente aqueles que não estão acostumados a ela ou desconhecem sua “natureza”. Em toda a história da arte, observamos diferentes depoimentos que ilustram as rupturas e transformações artísticas e, também, o conflito entre artistas e público.

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Engana-se quem pensa que este estranhamento é privilégio dos dias atuais. A história da arte é marcada por incompreensões. Van Gogh vendeu um único quadro em toda a sua vida. Proust teve sua obra prima recusada por várias editoras. Cézanne foi rechaçado pela própria família [...] (ALBUQUERQUE, 2005a, p. 15).

A obra de arte faz com que as pessoas se deleitem, apreciem, reflitam... Ela só terá sentido na medida em que causar alguma sensação, inquietação ou reflexão ao espectador. É com esse objetivo que a arte contemporânea contempla todos os campos, fazendo o público pensar e refletir a partir daquilo que está sendo apresentado.

Eu cobro da arte que ela me inquiete. Isso poderia ser uma definição: contemporâneos são os trabalhos que não são acomodados. Dentro dessa lógica, Goya é profundamente contemporâneo. Continua difícil olhar uma obra dele. Ficar diante de um Velázquez não é mole. [...] Há obras que perduram, não perdem o vigor. [...] Por isso eu diria que nem tudo que é feito agora é arte contemporânea, mas nem tudo o que foi feito anteriormente é arte do passado (ALBUQUERQUE, 2005a, p. 14).

Nessa perspectiva, Hughes (apud TRIGO, 2009), menciona que na arte não há progresso, somente flutuações de intensidade e, questiona: se houvesse progresso, que interesse teria a arte renascentista hoje, meio milênio depois?

Também, Gullar1 (1999) problematiza aspectos sobre a criação artística e, em especial, aqueles relativos à arte contemporânea, quando observa que nem tudo o que o artista faz é arte. Para ele, há muita expressão, embora, nem toda expressão possa ser considerada arte. Já, Trigo (2009) identifica a sensação de desvio, de perda de rumo da arte contemporânea, de vale tudo e, reflete sobre o narcisismo como movente e o mercado como fim.

1Depoimento de Ferreira Gullar aos jornalistas da Zero Hora, Eduardo Veras e Luiz Antônio Araújo,

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1.2 ARTE CONTEMPORÂNEA: PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DA PRODUÇÃO E VALORIZAÇÃO DA OBRA

A arte contemporânea tem seu início na década de 60, sobretudo com o aparecimento da Arte Pop2 e do Minimalismo3, pois nesse contexto ela apresenta um rompimento com os padrões da arte moderna, principalmente em relação à incorporação de novos materiais e a ampliação de procedimentos. A arte moderna já apresenta o objeto (Cubismo) e também enfatiza a questão conceitual, mas é a partir dos anos sessenta que isso se amplia e se complexifica, expandindo os limites do suporte, do espaço, da materialidade e das linguagens. A arte contemporânea também potencializa a pintura e a escultura, mas tenciona esses procedimentos em relação ao passado, tanto acadêmico, quanto moderno. A pintura, por exemplo, ainda se justifica, mas também se faz revisitando a tradição, o artista recontextualiza a tradição e, com isso, revitaliza práticas seculares4.

A arte contemporânea ou pós-moderna, como sugerem várias teorias, aproveita e abusa da apropriação e da ressignificação. A imagem, por exemplo, passa a ser um recurso muito utilizado, pois os artistas contemporâneos buscam na história da arte referências para melhor compreensão e produção de novos significados e, com isso, também a produção de novos conceitos. Podemos citar como exemplo, entre tantos, a obra do artista colombiano, Fernando Botero que ressignifica obras tradicionais, a partir do conceito de volume e forma.

Podemos observar que os artistas nunca tiveram tanta liberdade criadora e tão variados recursos e materiais para a criação, como os que existem hoje, sendo uma das características da nossa sociedade tecnologizada e de consumo. O fato de estar num tempo pós-moderno, em que tudo está em reconstrução, a própria arte é

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Pop Art: termo cunhado pelo crítico inglês Laweence Alloway, designativo de um movimento que

floresceu do final da década de 50 ao início da década de 70, principalmente na Grã-Bretanha e nos EUA, baseando-se no imaginário do consumismo e da cultura popular. História em quadrinhos, publicidade, embalagens e imagens da televisão e do cinema integravam a iconografia do movimento, e tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos, a pop caracterizou-se por abolir toda distinção entre o bom e o mau gosto.

3Minimalismo (minimal art): termo designativo de uma tendência na pintura e, mais especificamente,

na escultura, surgida na década de 50, que pregava o uso apenas das formas geométricas mais elementares. O minimalismo está particularmente ligado aos Estados Unidos e sua impessoalidade é vista como uma reação ao emocionalismo do expressionismo abstrato. Carl André, Don Judd e Tony Smith estão entre os mais conhecidos artistas minimalistas.

4O artista brasileiro, Daniel Senise, reinventa a pintura a partir das colagens e impregnações. É pintor

e gravador, leciona no Núcleo de Pintura. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 11/11/2012.

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atingida por isso e, desse modo, o artista “pode tudo” e, ao mesmo, necessita se justificar socialmente. Com isso, a própria arte é, ou pode ser também um objeto de consumo.

A arte contemporânea nos tem oferecido um turbilhão de coisas, coisa que não tem nenhum sentido no momento que observamos, mas quando olhamos outra vez e nos questionamos, certamente tem um monte de significados, é só olhar com jeito que encontramos significado ou sensação.

Quando se modifica a forma em obra, o processo da forma desaparece e fica a obra, pois, os limites do processo desaparecem com um sopro só, e ao revelar ao público, a obra se torna conhecida. Nesse sentido, Salles afirma:

Obras que são formas que se transformam, ou seja, obras que são processo. Obras que tendem a acontecer na continuidade ou na constante mobilidade das formas. Os limites entre obras e processo desaparecem. Se tomarmos a obra como aquilo que é exposto publicamente, ela acontece exatamente nas conexões, que se renovam a cada atualização (SALLES, 2008b, p. 105).

As obras contemporâneas estabelecem diferentes estilos de processo de criação e experiências. Em frente a uma obra o espectador tem enormes possibilidades de interpretações e reações, depende do grau de conhecimento de cada espectador, seja ele adulto ou infantil.

A maioria dos artistas não cria uma obra pensando na beleza absolutamente, e, sim, que a obra consiga transmitir alguma sensação, que provoque o espectador, que consiga interpretar contrair algum aprendizado e com isso “Não é o belo que importa, mas o sentido da Arte5”. Aprender a ver é a mais longa aprendizagem de todas as artes.

Portanto, ver e entender uma obra de arte requer uma atitude de procura. Está enganado o espectador que queira definir na primeira vista se gostou ou não da obra, sem antes se perguntar o que o artista quis mostrar ou provocar com a obra, antes de olhar com outros olhos a obra, ou se deixar levar pela emoção. “Erra redondamente, o observador que procura definir de imediato se gosta ou não de

5Informação retirada do blog da historiadora Mali Frota Villas-Bôas. Disponível em:

<http://artintegrada.blogspot.com.br/2012/04/como-ver-uma-obra-de-arte.html>. Acesso em: 12/12/2012.

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determinado quadro, antes de fazer uma análise mais apurada da técnica, do estilo do artista e, principalmente, antes de sentir a emoção sentida por ele ao pintar6”.

Continuamente significativas por sua composição interna, as formas de arte, apesar de continuar abertas, ainda se completam com a participação do público. Observar uma obra de arte e entendê-la significa fazer uma recriação.

Sempre expressivas por sua estrutura interna, as formas de arte ainda permanecem abertas, pois se complementam com a participação do espectador. Este as recria, dentro das ordenações indicadas pelo artista, acrescentando-lhes a carga de suas potencialidades e de sua experiência de vida. Ver uma obra de arte e compreendê-la significa fazer uma recriação (OSTROWER apud FRANZ, 1995, p. 74).

Na perspectiva da forma e da dimensão estéticas, os ready-mades não são escolhidos pelo encanto estético, sua preferência baseia-se numa reação de indiferença visual, independente de suas características ou de mau gosto, o fato se dá pela carência de consciência, tendo como objetivo dirigir o pensamento do espectador. Já, os objetos trouvés são os elementos achados, nas ruas, nas praias, nas demolições, nas queimadas, nas lojas de ferragens, nos supermercados, objeto natural ou objetos industrializados. São objetos encontrados por artistas e exposto para a apreciação do público como obra de arte, podendo passar por determinada ou nenhuma alteração.

Duchamp distinguia o ready-made do objet trouvé, salientando que enquanto este, depois de descoberto, é escolhido por suas qualidades estéticas, beleza e singularidade, o ready-made é apenas um – qualquer um – de um grande número de objetos idênticos, sem individualidade ou característica própria. Assim, enquanto a seleção do objet trouvé implica um exercício de gosto, a escolha do ready-made se dá totalmente ao acaso (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2002, p. 438).

Uma obra de arte tem que ter qualidade própria, isso significa que elementos a mais do que beleza são necessários para a sua autonomia e justificação. A arte necessita ter conteúdo crítico e “falar” por si. Poderíamos citar vários artistas que preenchem esse critério, mas destacaremos a figura de Marcel Duchamp que é uma das principais referências da passagem da arte moderna para a contemporânea. As

6Informação retirada do blog da historiadora Mali Frota Villas-Bôas. Disponível em:

<http://artintegrada.blogspot.com.br/2012/04/como-ver-uma-obra-de-arte.html>. Acesso em: 12/12/2012.

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ousadias de suas próprias obras marcaram um paradigma artístico, em que o conceito, a ideia passou a ser um elemento relevante no universo da arte. A atitude duchampiana de apresentar um mictório em uma exposição como obra expandiu o campo da arte para o campo da ação. Duchamp foi extremamente audacioso e perturbador em suas invenções que, também lhes causaram muitas críticas e conflitos, tanto em relação aos críticos, quanto ao próprio público. Para Trigo (2009) Duchamp, desloca para o artista, para o gesto do artista, para o corpo do artista a aura que antes pairava na obra de arte, ele rompe totalmente as amarras com passado; agora a obra em si já não tem aura nem glamour.

O artista Marcel Duchamp criador da famosa obra “Fontaine” muito conhecida em qualquer parte do mundo se não a obra em si, pelo menos o seu registro fotográfico, realizado por Alfred Stanglitz em 1917, publicado na revista

Dada The Blind Man. Talvez vocês não tenham escutado ainda o título “Fontaine” ou

“Fonte” e, sim, o seu hilário apelido “O urinol de Duchamp”:

Considero o trabalho “Fontaine” de Marcel Duchamp uma grande vírgula7. Só podemos falar de arte contemporânea, na cultura ocidental, considerando o antes e o depois desta proposição que, em si, é constituída por um deslocamento: do espaço comum da vida cotidiana para o espaço sacralizado do museu. Se a invenção da perspectiva nos fez valorizar as questões de representação, eis que a invenção do ready-made põe em evidência as formas de apresentação dos objetos que, em si, contém as questões fundamentais e caras ao pensamento contemporâneo, fragmentado e ordenado artificialmente por estruturas impostas por um sistema de valores cujos critérios quase sempre nos escapam (TESSLER, 2010).

Uma obra de arte para ter valor deve se sustentar, precisa ter um alicerce em sua construção, contendo uma história, se assumir como obra de arte, única e com significado. Desse modo, Cauquelin (2005, p. 119) menciona que “Não é o valor do objeto que conta, é o valor que você deseja que ele tenha”.

Já o crítico e curador de arte Farias (2004) argumenta que existe muita coisa neste mundo à disposição do artista. Um turbilhão de objetos e propagandas, entre

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Fontaine, 1917. Este trabalho é assinado por Richard Mutt, pseudônimo de Marcel Duchamp e

enviado ao Salão dos Artistas Independentes de Nova York. O comitê de seleção recusou o trabalho, temendo o descrédito que esta obra traria ao Salão. Marcel Duchamp, que fazia parte, como presidente, do comitê de montagem pede demissão e torna pública a sua autoria da obra. Disponível em: MINK, J. Duchamp. Alemanha: Taschen, 2000.

Informação retirada do site: TESSLER, E. O homem sem qualidades, mesmo. Disponível em: <http://www.elidatessler.com/textos_pdf/textos_artista_1/O%20HOMEM%20SEM%20QUALIDADES, %20MESMO.pdf>. Acesso em: 20/11/2012.

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os mesmos e os diferentes a espera por uma criação, mas nem tudo é essencial e necessário. É imprescindível planejamento, estudo sobre o que fará e se não estabelecer essa pesquisa com criatividade e profissionalismo de pouco valerá os diversos materiais à disposição. “Na arte contemporânea tem de tudo, mas não vale tudo, ‘vale tudo’ não existe. A obra tem de ter inteligência, solidez. Sempre vai haver o joio e o trigo: nossa tarefa é separá-los” (FARIAS apud ALBUQUERQUE, 2004, p. 15).

Num contexto como o qual vivemos8, de intensa interrelação entre mundo privado e mundo público, entre realidade e virtualidade, o artista necessita dar-se conta de que poderá se tornar um objeto de consumo e, caso isso ocorra, ele poderá se tornar um produtor de arte para consumo. Com isso, sua obra, ou pesquisa, fica condicionada ao gosto e corre o risco de se esgotar enquanto ideia artística. Por outro lado, ele também precisa estar atento e ligado ao seu tempo, experimentando e se expondo, colocando suas ideias a público. Cauquelin (2005, p. 63) observa que “se reconhecemos que a comunicação fornece à sociedade o elo indispensável a seu funcionamento, o papel da linguagem e seu exercício se tornam dominantes”, o artista precisa viver nesse “entre” mundo público e privado.

As ideias de Cauquelin apontam para a importância que a mídia tem em fazer o artista um pop star ou de destruí-lo, quando ela bem entender e até invadir sua vida pessoal, quando for o caso. O artista deve estar ciente de que, se entrar nesse circuito, deverá se sujeitar a mudar seu modo de viver, de repetir e multiplicar seus trabalhos, não poderá ser mais único, pois poderão ser copiadas algumas ideias ou detalhes de seu trabalho. Muitas vezes, terá que mudar seus hábitos e costumes para poder se manter na mídia, se não, poderá não ter sucesso.

8Sociedade pós-moderna dizer o que convencionou-se chamar pós-industrial a era iniciada na década

de 1950, logo após o término da segunda guerra mundial, quando as grandes potências retomaram a busca do progresso material e se lançaram a uma vertiginosa corrida pela superação técnica. No domínio do conhecimento, o período – que alguns viriam a chamar pós-moderno – caracterizou-se por uma profunda modificação na própria natureza da ciência, sob a impactada evolução da tecnologia.

Entende-se por pós-moderno o estado da cultura posterior às transformações que, nas sociedades desenvolvidas do século XX, afetaram os critérios de verdade ou as regras do jogo que regulavam o fazer científico, filosófico e artístico na modernidade.

Chama-se geralmente de modernidade o período que compreende os séculos XVIII, XIX e XX, durante os quais tomou corpo a distinção entre três grandes domínios da cultura: ciência, arte e filosofia (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 1998, p. 478).

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O artista que entra ou ‘é posto’ na rede é obrigado a aceitar suas regras se quiser permanecer. Ou seja, renovar-se e individualizar-se permanentemente, sob pena de desaparecer dentro do movimento perpétuo de nominação que mantém a rede em ondas. Mas essa exigência de renovação e de individualização contradiz constantemente outra exigência: a da repetição, da redundância. Com efeito, para que sua obra sature a rede e seja mostrada em toda parte ao mesmo tempo, é preciso que seja reconhecida por um signo de identidade. É preciso, então, que se repita. Que faça eco de si mesma (CAUQUELIN, 2005, p. 77).

Na arte contemporânea existem novidades em demasia, muitas vezes o artista tem que se sujeitar a fazer reproduções de seus objetos devido à grande procura de sua produção. Isso pode se tornar um enorme desgaste físico e psicológico ao mesmo, devido a tantas inovações do mercado de trabalho, às pesquisas e estudos de projetos que tenha de desempenhar e corresponder ao que o público deseja.

Ao pensarmos sobre a valoração da obra referimos novamente a Duchamp, pois foi um artista que rompeu com paradigmas na arte, evidenciando o objeto como obra, a ideia e a escolha como fundamento de uma proposta. No entanto, sua atitude também faz pensar sobre a banalização e a vulnerabilidade da obra, principalmente a contemporânea. A partir daí, temos que refletir em como valorar uma obra efêmera, um objeto do cotidiano ou uma obra que é muito mais conceito e ideia do que materialidade.

Marcel Duchamp foi um artista que pôs em ação estas questões, pois sua obra é um conjunto de atitudes, banalizações e apropriações, que por muito tempo, foram dilemas para os artistas, críticos e marchands. A partir dele, a arte ampliou seu sentido, possibilitando, além da contemplação, também a interação obra e público. Nesse sentido, Cauquelin (2005, p. 89) afirma que: “o fenômeno Duchamp tem de interessante o fato de sua influência sobre a arte contemporânea crescer à medida que passam os anos”.

Assim, ao criar, o artista deve ter um ponto de partida, ele deve construir uma pesquisa e apresentar uma linha de investigação que, coerentemente, justifica sua obra. Mas, isso tudo, muitas vezes, não é suficiente para justificar, ou não, o valor de seu trabalho, pois como já mencionamos, são muitos elementos e razões que concorrem para legitimar e valorar uma produção artística. Nem sempre isso é justo com o trabalho do artista.

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1.3 NO CONTEXTO DA ARTE CONTEMPORÂNEA, QUEM É O ARTISTA, O QUE PODE SER ARTE? REFLEXÕES SOBRE A CRIAÇÃO ARTÍSTICA NA PERSPECTIVA DE ÉLIDA TESSLER, EDITH DERDYK E FAYGA OSTROWER

O que faz alguém ser um artista? O que torna algo arte? Estas questões não são fáceis de responder, pois num contexto pós-moderno, às vezes nos parece que tudo é arte e todos somos artistas. Mas, esclarecer e problematizá-las é importante num contexto como o desta pesquisa, pois é preciso compreender o que se faz e justificar, através dos fundamentos da arte e da história da arte, aquilo que apresentamos como arte.

A artista e professora Élida Tessler, apresenta um conjunto de argumentos para auxiliar nessas respostas. No texto “Obras e sobras: rupturas na arte contemporânea”, a artista tematiza sobre esses aspectos e apresenta alguns elementos importantes para ajudar a esclarecer o lugar do artista e da obra num tempo pós-moderno.

É difícil definir o que é arte, pois ela não se restringe só em pintura e escultura, ela está ligada à atividade humana que contenha manifestações, pois a palavra de origem latina, “ars” significa técnica ou habilidade. Igualmente, a arte pode ser definida como “produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana9”.

Também, a artista Derdyk (2001, p. 10), trata dessas questões no livro “Linha do Horizonte”:

O ato criador alimenta uma natureza similar. A natureza do ato criador, com seus intermináveis portos de chegada e de partida, materializa uma pontuação indefinível: linha intensamente infinda com ritmos e intensidades, tônicas e cadências, dissonâncias e concordâncias inimagináveis até o momento em que ela acentua um peso e tonifica uma paisagem.

O indivíduo criador deseja um laço afetivo com a obra, assim adquire mais cumplicidade com os objetos em pesquisa, invocando sentimentos de emoção no trabalho. Para Derdyk (2001, p. 17) “O corpo criador deseja uma vitalidade

9Informação disponível no Dicionário Houaiss. Disponível em:

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costurando laços entre as interioridades e as exterioridades. São laços que invocam um lugar imensurável acordando o nosso ser para um estado de contínua resolução”.

Se, a intenção do artista for criar, precisa estabelecer um elo entre ele e pesquisa, ou objeto a ser criado, isso implica em entrega e amor pelo seu trabalho. Talvez seja um elemento inerente à criação artística. A criação cobra do artista uma fusão, uma processualidade e envolvimento para além de uma relação burocrática ou instrumental.

A ação que se quer criadora, ainda que intencional e voluntária, também se manifesta como sucessão de atos cegos tendendo para uma direção, como que atraídos por uma energia vital desprendida pelo vapor de um corpo vivo que é que deseja, que intui, que sente, que recorda, que pressente, que pensa, que quer, que sonha, que imagina, que pode, que faz (DERDYK, 2001, p. 17).

O ato de criar incentiva o artista a expor os seus sentimentos, sua capacidade de criação e muito mais, ser profissional naquilo que faz. Derdyk (2001, p. 20) afirma que “O ato de fazer empurra o corpo para o movimento, impulsiona o despejo, concebe a concretude das ações, agarra e devolve as matérias do mundo ao mundo, encontra outros modos e técnicas de fazer as formas serem”.

Quando o artista vê a forma sendo constituída, ele começa percebendo a sua origem e sua história, quanto tempo levou para ser modelada e poder chegar até o ponto desejado. Derdyk (2001, p. 21) testemunha que “[...] quando percebo que do indeterminado nasce a forma, compreendo que a historicidade das coisas se origina de um tempo e de um espaço ainda a ser inventado”. O conhecimento aparece na ação de criação, pois é único, é exclusivo. Nesse momento, poderá dar o salto esperado, desejado por todo ato da criação.

A esse respeito, o pensamento de Derdyk (2001, p. 23) é essencial: “A experiência nascida do ato do criador é única: matriz instaurada de um lugar de um tempo atualizado numa forma feita – nosso futuro provedor de experiências e significados originários”.

A captação do ato criativo se dá quando o criador entra em êxtase pela emoção envolvida na sua produção poética/artística. Quando está produzindo algo que lhe agrada, penetra em sua consciência e, geralmente, produz algo que garante o aparecimento de uma revelação da grandeza dos sentidos e do seu fazer artístico.

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Com este ímpeto o artista mergulha no estado de atenção e de conhecimento e tem o seu desejo de criação concretizado.

Seguindo a linha de pensamento de Derdyk (2001, p. 24):

A compreensão do ato criador como operação poética territorializa um campo específico de atuação: não é qualquer fazer um ato criador – aquele que provoca um estado poético impregnado de uma consciência ou percepção inusual –, não é simplesmente uma constante fazer que garante a revelação de uma outra ordem de grandeza dos sentidos.

O ato da criação traz inúmeras sensações, ruminando emoções e impressões diariamente vividas. O artista coloca na sua criação uma percepção compulsiva e momentânea de encontrar-se no período e no espaço da sua criação. Aqui, o tempo e a criação se fundem e se constituem uno. Para Derdyk (2001, p. 25) “a experiência da criação tritura sensações, rumina emoções e impressões diariamente vividas, nos devolve uma percepção carnal quase que abstrata de estar no tempo e no espaço, de ser o tempo e o espaço, de fazer um tempo e um espaço”. Os dados do criador mencionados pelas maneiras humanas de criar, ceder, instalar, recusar, garantir, remover, atribuir, relacionar, imanta o mundo de sentidos para serem experimentados pelo expectador, estabelecendo distintos estilos com que cada um interage com a diversidade e a pluralidade artística.

Inspirada em Derdyk (2001, p. 25), podemos dizer que a diversidade subjetiva, cultural e simbólica, possibilita a dimensão indizível da obra, sua inesgotabilidade, garantindo seu caráter aberto e polifônico.

A experiência criadora designada pela capacidade humana de fabricar, emprestar, construir, negar, afirmar, extrair, atribuir, relacionar, imanta o mundo de sentidos para serem sentidos, constituindo as distintas maneiras como cada um de nós interage com os múltiplos universos de outros seres (DERDYK, 2001).

A ação criadora trás consigo suas crenças, seus credos e seus mitos, com isso torna-se possível suas realizações e produção de infinitos sentidos. Um motivo de reflexão apontado por Derdyk (2001, p. 25) é que “O ato criador, instaurador de crenças, tonaliza o milagre da natureza em tornar possível outras diferenças, amplificando a tolerância do que há de mais específico e singular em cada humano, através de um incansável fazer”.

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Já, a artista e também professora de ateliê, Fayga Ostrower, apostou muito na intuição e no cultivo constante da pesquisa. Para ela, o método de criação artística acontece basicamente no campo da intuição, em que o indivíduo criador, com sua vasta experiência, os torna expressivo e com qualidade de percepção, na sua lógica que aborda sua técnica intuitiva. Ostrower (2004, p. 10) menciona que “os processos de criação ocorrem no âmbito da intuição”.

Os procedimentos de amadurecimento e maturidade se entrelaçam dando força e capacidade ao desenvolver um percurso de criação sem medo e pressentimento de errar e sim de construir um impossível. Já, para Ostrower (2004, p. 6) “o que acontece, aos processos de maturação se vinculam, por sua vez a espontaneidade e a liberdade no criar”. De acordo com a artista:

A percepção delimita o que somos capazes de sentir e compreender, porquanto corresponde a uma ordenação seletiva dos estímulos e cria uma barreira entre o que percebemos e o que não percebemos. Articula o mundo que nos atinge, o mundo que chegamos a conhecer e dentro do qual nós nos conhecemos. Articula o nosso ser dentro do não-ser (OSTROWER, 2004, p. 13).

Os métodos de conscientização do sujeito são influenciados pela cultura e também pela classe social. Já, a tradição apresenta e mantém a arte como um elemento importante da cultura e, com isso, ela contribui para que o ser humano, ao mesmo tempo em que orienta, seja consciente da sua herança. Fayga (2004, p. 17) refere que:

Nos processos de conscientização do indivíduo, a cultura influencia também a visão de vida de cada um. Orientando seus interesses e suas íntimas aspirações, suas necessidades de afirmação, propondo possíveis ou desejáveis formas de participação social, objetivos e ideias, a cultura orienta o ser sensível ao mesmo tempo que orienta o ser consciente. Como isso, a sensibilidade do indivíduo é aculturada e, por sua vez, orienta o fazer e o imaginar individual. Culturalmente seletiva, a sensibilidade guia o indivíduo nas considerações do que para ele seria importante ou necessário para alcançar certas metas de vida.

Existem diferentes concepções de criação, e eles determinaram um feitio, um formato, uma determinada criação. Esses jeitos e meios que dispõe a artista configurarão sua obra, pois “criar corresponde a um formar, um dar forma, um dar forma a alguma coisa. Sejam quais forem os modos e os meios, ao criar algo, sempre se o ordena e se o configura” (OSTROWER, 2004, p. 5).

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Desde os tempos das cavernas o homem procura por novas ideais, muitas vezes por necessidades, outras por desejo de algo novo. Atualmente por superdimensionar a sua vida e também por status social, pois o ser humano nunca está satisfeito com o que tem. A atitude criadora é inerente ao humano, nos distinguindo dos animais. No âmbito da arte, Ostrower (2004, p. 9) enfatiza que:

Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse ‘novo’, de novas coerências que se estabelecem em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.

O indivíduo necessita criar para se desenvolver como ser humano em uma sociedade, exigindo cada vez mais de criatividade para alcançar sucesso e ser reconhecido. Assim, Fayga (2004, p. 10) menciona que “O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto se humano, coerente, ordenando, dando forma, criando”.

A capacidade criadora de cada indivíduo provoca uma enorme diferença no seu entendimento das coisas, nesse caso, da arte; nos momentos de apreciação, com seus métodos e meios em que se chega à criação. Conforme menciona Ostrower (2004, p. 27) “A criatividade, como a entendemos, implica uma força crescente; nela se reabastece nos próprios processos através dos quais se realiza”.

A criação da obra é aceita exclusivamente com suas designações individuais somente quando é significativa, pois as aparências expressivas distinguem das aparências comunicativas. A invenção concebida é uma presença de alguma experiência particular. Segundo destaca Ostrower (2004, p. 150):

O ato criador é visto apenas em suas qualificações subjetivas; apenas, também como ato expressivo, pois os aspectos expressivos predominam sobre os aspectos comunicativos. A obra criada é vista como uma mensagem de vivências pessoais.

Inventar sem objetivo algum não leva à criação significativa, pois criar algo sem refletir e planejar não terá sentido. O indivíduo que planeja, com característica continuamente conectada a uma intencionalidade atualizada, conseguirá bons resultados em sua criação, pois para Ostrower (2004, p. 165):

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Criar livremente não significa poder fazer tudo e qualquer coisa a qualquer momento, em quaisquer circunstâncias e de qualquer maneira. Vemos o ser livre como uma condição estruturada e altamente seletiva, como condição sempre vinculada a uma intencionalidade presente, embora talvez inconsciente, e a valores a um tempo individuais e sociais. Ao se criar, define-se algo até então desconhecido.

A criação aceita vários procedimentos chegando a condições mais abrangentes, mediante a pesquisa. Para Ostrower (2004, p. 165), ela é:

[...] um processo que cresce em duas direções simultâneas, como se fosse um leque a abrir e fechar-se num idêntico movimento, atingindo níveis integrativos sempre mais elevados. Crescendo tanto no sentido das delimitações como no de ampliações, a coerência se renova nas potencialidades criativas do indivíduo. A cada síntese, a cada novo nível de compreensão que é possível alcançar, corresponde à base para o aparecimento de novas possibilidades de ser e de criar.

A artista também destaca elementos que influenciam o trabalho, também, aspectos emotivos e de vínculo no processo de criação, uma vez que:

Para nos envolver e orientar nossas potencialidades, as influências teriam que surgir em termos de um apelo afetivo. Afetivamente seriam reconhecidas por nós, identificadas em nossas aspirações íntimas como uma substância afim à nossa especificidade orgânica, aceita e não rejeitada (OSTROWER, 2004, p. 148).

Com isso, a potencialidade de recriação da arte permanece, mas carece de qualidades verdadeiras para ser praticada, pois “o potencial da renovação existe sempre, mas necessita de condições reais para ser exercido” (OSTROWER, 2004, p. 159).

Para Fayga (2004, p. 159) “desde o século passado, a criação também subentende a expressão pessoal”. Inventar é ter o domínio de incluir com exatidão o melhor de si, ou o mais perfeito, embora, inventar é compreender com adaptação. Os limites, ao usar os materiais, devem ser agregados ao senso de dimensão, percebendo os ajustes dos detalhes do que se quer criar. Com isso, Ostrower (2004, p. 162-163), lembra que criar “é poder relacionar com precisão. Ou melhor ainda, criar é relacionar com adequação”, ou seja, que se tenha como referência dos limites o senso de proporção, avaliando a justeza em relação ao que se faz.

Para a artista é importante ter a capacidade de reconhecer os limites, uma vez que ela permite ao indivíduo agir livremente. Quando percebemos que o

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trabalho artístico está concluído com certa harmonia e justeza, resumimos algumas conclusões dessa experiência:

O trabalho era considerado “terminado” quando um certo estado de estabilidade correspondia à dinâmica interior da imagem (à sua diferenciação por meio de movimentos e contra movimentos visuais e às tensões produzidas). A adequação se fez sentir como um equilíbrio (OSTROWER, 2004, p. 164).

Refletimos que a capacidade criadora é a essencialidade do ser humano como indivíduo, ao desempenhar a sua própria potencialidade, trabalhando e criando em todos os âmbitos dos seus afazeres, uma vez que para Ostrower (2004, p. 166):

a criatividade é a essencialidade do humano no homem. Ao exercer o seu potencial criador, trabalhando, criando em todos os âmbitos do seu fazer, o homem configura a sua vida e lhe dá um sentido. Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. E é do mesmo modo necessário.

Portanto, concordo com Ostrower, pois é essencial que o homem seja criativo, dessa forma dá sentido a sua vida exercendo seu potencial criador. É necessário criar com sapiência.

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CAPÍTULO II REFLEXÕES ACERCA DE UMA PESQUISA EM ARTES VISUAIS: CASULOS, BORBOLETAS E METAMORFOSES

Aprender a liberdade

Borboleta é livre... Voa, senta, descansa... Assume infinito como seu lugar...

Vive resistindo à força do ar...

Debate-se entre o vento e a brisa, o sol e a chuva.

Mas, para isso, necessitou sair do casulo, encarar o tempo/espaço de sua existência para ser casulo outra vez.

A metáfora que vive é sua existência... Mais nada. A vida é uma metamorfose...

Uma meta de existência.

Existir e encarar o conflito entre estar no casulo, ser lagarta, ser bicho, ser seda... Abrir asas...

Fechar asa...

2.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORIGEM DA PESQUISA

O poema que tem como título “Aprender a liberdade”, de autoria da professora e Mestre Maria Regina Johann apresentado durante suas orientações instigou-me a falar e escrever sobre o que pensava sobre casulos e borboletas.

“Aprender a liberdade” é um trabalho carregado de significados com marco inicial de uma nova etapa de minhas produções, pois apresenta o casulo e a borboleta ao meu processo de criação, trazendo novas formas de criar e expandir minhas investigações plásticas/visuais.

Foi na busca da compreensão e da necessidade de instigação do processo de criação, que comecei a pesquisar e a estudar sobre os casulos e as borboletas. Foi assim que analisei as novas situações vivenciadas. Buscando ressignificar meus projetos de trabalho, percebi que além de apreciar e admirar as borboletas, os casulos me impressionavam. Perguntava-me, como uma lagarta pode viver em um lugar tão “inóspito” e de lá se transformar em uma bela borboleta.

Para criação do casulo foram testados vários materiais como, por exemplo: cipó, arame, tecido e, por último, a fibra industrial e sintética. Esses materiais foram utilizados sob o olhar cuidadoso que, com muito esmero, foi confeccionado um trabalho plástico e constatou-se que a leveza das fibras era o material adequado para essa criação.

Durante o processo de criação dos casulos houve vários momentos de transformações, isto se deu na forma, no tamanho, na espessura, no volume, no

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diâmetro, bem como nos meus sentimentos até chegar à forma desejada. Para tal foi necessário muito estudo, pesquisa e experimentos.

Muitas vezes o cansaço tomou conta, pois não via os resultados esperados na criação. Entretanto, a força de vontade de obter êxito nessas experiências foram fazendo com que insistisse no trabalho até essa obra tomar a forma desejada. As dificuldades para continuar a criação da obra foram motivadoras, pois mesmo sendo difícil de compreender os passos, jamais desisti de concluir a obra, buscando sempre entusiasmo e significado para aquele momento.

Houve a constatação que para a construção do casulo há quatro fases. A primeira fase se dá na escolha da fibra adequada, em seguida a modelação do casulo com o barbante, após é realizada a colagem do casulo para os acabamentos finais e por último o teste de durabilidade.

Para que a criação se efetivasse vivi com intensidade cada momento da confecção do casulo, muitas vezes sentia angústia por não ter claro como fazer, as dúvidas eram frequentes e inquietantes, queria a perfeição, mas como chegar a ela? Conhecia casulos somente em árvores e não tinha certeza de como construí-lo, mas tinha força de vontade e entusiasmo para efetivar a obra. Depois de realizar a construção, outro problema apareceu: como transportar com segurança e ter a durabilidade dos objetos?

A partir dessa experiência de criação foi possível constatar a possibilidade de produção dos casulos, os quais foram produzidos por minhas próprias mãos, um a um do jeito que moldei, formei e desejei. Foram várias experiências até chegar ao objeto desejado.

Contudo, dado a natureza da complexidade do campo de trabalho do casulo, foi preciso que a pesquisa e a construção andassem juntas no processo da construção tridimensional.

Às vezes é difícil romper com aquilo que mais gostamos de fazer, por exemplo, determinadas técnicas ou materiais. Ao mesmo tempo, todos esses elementos, influenciam em nosso trabalho diário.

Quando retomo meus trabalhos, articulo vários materiais ressignificando-os, e imbuída de sentimentos criativos e valorizando a processualidade no ato de criar, busco em meu âmago a força e o vigor para a produção do trabalho. Como Duchamp confrontou-se com os estilos da sua época e experimentou-os em busca do que mais se lhe adequava (MINK, 2006, p. 13).

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2.1.1 Por que pesquisar borboletas?

O desejo de adquirir conhecimento sobre borboletas surgiu através das minhas coleções de etiquetas que continham imagens de belas borboletas as quais coleciono há muito tempo e tem tudo a ver com minhas lembranças de infância.

Qual criança que não correu atrás de borboletas? Que criança que não gosta de borboleta? Minhas lembranças são muitas, pois haviam borboletas de várias cores e tamanhos, uma mais delicada que a outra. Uma delas, que havia no jardim da vovó, eu tentava pegar quando estava ao sol ou tentando descansar. Outra é quando meus primos vinham tirar férias, saíamos procurá-las, nos jardins e campos.

As asas das borboletas são graciosas, leves e representam colorido agradável, livres e reluzentes. Já, as mariposas têm asas de um aveludado escuro e pesado, tínhamos medo delas.

Para as borboletas não existem fronteiras, pois são livres para voar e para pousar onde desejam. As borboletas somente voam de dia porque à noite elas descansam.

O mito da borboleta diz que as borboletas de cores claras prenunciam notícias alegres, vinda de parentes ou da pessoa do(a) namorado(a), ou até mesmo de fortuna, segundo o site, seres vivos.

Ter um sonho com uma borboleta ou várias delas é sinal de transformação, de libertação. Pelo imaginário popular, as borboletas de cores claras anunciam notícias felizes, a chegada de parentes ou pessoas amadas, ou mesmo de fortuna (CHICOZOO, 2012).

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Imagem 1: Mariposa bruxa Ascalapha odorata (fêmea) fotografada na parede de uma residência no município de Parnamirim, Rio

Grande do Norte, Brasil. Fotógrafo: Francisco Souza

2.1.2 Por que Casulo?

Através da busca por palavras, frases e imagens relacionadas às borboletas, cheguei à ideia de criar casulos, pois sem o processo de larva e do casulo não há borboleta. Casulo tem tudo a ver com transformações, mudanças que ocorrem conosco, desde o nascimento até o fim da vida, pois nosso corpo passa por diferentes ciclos que o modificam, imprimindo marcas e sentimentos relativos a cada história, a cada sujeito.

Podemos tomar o casulo como metáfora para pensar o mundo humano, uma vez que necessitamos de abrigo, segurança e aconchego. A terra pode ser nosso casulo, a casa também. Casulo remete a abrigo, caverna, quarto, ventre. Sugere um tempo de recolhimento, de hibernação, de retirada, de introspecção. E, a pesquisa ora apresentada, ilustra um pouco disso tudo, porque foi um tempo de se pensar, de recolhimento e transformação, conforme ilustra o poema de autor desconhecido.

Entrei no casulo

Entrei no casulo É hora de hibernar... Vou me fechar em mim numa metamorfose sem fim... Vou me fechar para a vida Morrer por um momento Pensar, chorar, refletir

Até a hora de novamente existir Por enquanto estou off

Sem vontade própria Apenas me deixando levar Sem nada almejar... Um casulo me acolherá E vai me transformar

Se em borboleta ou mariposa Só o tempo me dirá...

Quando o poema menciona “entrei no casulo”, interpretamos que encontrou a proteção que necessitamos para os momentos de descanso, de aconchego, de

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carinho, de escuro, de silêncio, de amor, de desejar ficar só, nem que seja por alguns instantes. Relaciona a momentos que precisamos ficar refletindo sobre as coisas que sabemos e entendemos. Não precisamos tanto de palavras, mas de compreensão.

O nome casulo já diz tudo, ele é um protetor; protege o ser até o momento de sua libertação, sofrendo todas as transformações possíveis, sozinho, calado, sem reclamar, sofre até dar libertação, liberdade a um ser radiante. “No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazemo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar10” (August Strindberg). Sem esforço e determinação não é possível atingir os nossos objetivos. Estaremos sempre na dependência de terceiros para chegar a algum lugar. A grande transformação é interna, vem de dentro para fora.

Na psicanálise a borboleta é um símbolo de renascimento, ela é considerada um marco de ligeireza e de inconstância, de transformação e de um novo começo.

Explorar o casulo é uma forma poética, que mais me fez pensar na arte, o apreço e a dedicação que tenho por ela, sempre me deu forças para continuar a busca na investigação da melhor forma para o processo de criação. Transformar a ideia em metáfora foi o que sempre procurei fazer, pois experimentar novas descobertas sempre é desafiador.

A investigação nos faz pensar em muita coisa, às vezes as ideias não fluem, mas de repente elas surgem e a criação acontece. As ideias são traiçoeiras, elas vêm e vão, principalmente, quando queremos ficar só pensando, pesquisando, calculando, rabiscando, recortando e muito mais.

É nestes momentos que precisamos aconchego do ninho (cama) para pensar. Foi assim que criei muitos de meus casulos, muitas vezes modelei o casulo, acariciei e fui dando a forma que ele consentiu que acontecesse. Quando criava me sentia forte, revigorada, pois foi nesses momentos que o ato criador revelou como forma de objeto arte.

2.1.3 Como se Configurou a Pesquisa: Conceitos, Materialidades, Procedimentos e Metodologia

10Informação retirada do site:

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Esta pesquisa teve como principal fonte metodológica a ideia de ampliação de conceitos e a exploração matérica e procedimental dos mesmos. Nesse caso, os conceitos foram Borboleta, Casulo e Metamorfose. A partir da definição dos mesmos partiu-se para a investigação teórico-prática dos conceitos, explorando-os em diferentes materiais, suportes, contextos e procedimentos, perseguindo uma linguagem visual que fosse condizente aos pressupostos da arte contemporânea. Para dar sustentação teórica à pesquisa optamos, principalmente, pelas ideias de artista como Marcel Duchamp, Élida Tessler, Edith Derdyk, Fayga Ostrower e Cecília Almeida Salles.

A investigação do processo de criação se deu potencializando diferentes experimentos, apostando na curiosidade de como poetizar o tema escolhido: casulos e borboletas, tendo como base à pesquisa interdisciplinar na coleta dos dados para o desenvolvimento do trabalho.

Além disso, o objetivo do presente trabalho foi a averiguação das dificuldades existentes antes de iniciar a criar, como seria o desenvolvimento do trabalho, o acabamento até o término da criação. No ato da criação os problemas foram as escolhas dos materiais adequados para a qualificação das obras. Nesse sentido, outros objetivos do trabalho foram investigados para a durabilidade dos casulos e que deram a sustentabilidade ao mesmo.

Os materiais utilizados foram selecionados cuidadosamente, sendo a fibra a mais adequada para a criação do casulo, onde conseguiu-se se desenvolver o trabalho desejado. Sendo a criação definida como um trabalho artístico plástico que desafia as pessoas a pensar, refletir e apreciar a obra.

Os resultados obtidos neste trabalho trouxeram interessantes contribuições não só para os estudos a respeito da aquisição de sentenças complexas, mas para o conhecimento intelectual e pessoal. A este trabalho temático está vinculado o trabalho de pesquisa e desenvolvimento, referente ao processo de criação.

2.1.4 Casulo: Construção e Desconstrução da Forma

Para haver o processo de criação não se deve priorizar só a matéria prima, seja ela o que for para criar alguma coisa, é necessário saber escolher os materiais adequados para a criação, não basta querer inventar, é imprescindível o conhecimento, a pesquisa e o desejo de criação da obra.

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A obra nasce de apenas um toque na matéria. Quero que a matéria de que é feita a minha obra permaneça tal como é; o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro: sopro interior, de plenitude cósmica. Fora disso não há obra. Basta um toque, nada mais (DERDYK apud OITICICA, 2001, p. 33).

O casulo veio para poetizar a minha metáfora sobre as borboletas e qualificar, potencializar o meu trabalho, pois se apresenta em fibras, delicadas e maleáveis, de fácil modelagem.

Os casulos unidos pareciam formar uma família, eles juntos dialogavam, faziam uma bela ligação, pois se tirasse um deles a comunicação parecia que iria se quebrar, pois corria o risco de não dialogarem mais um com o outro.

A ligação que um tinha com o outro era tão forte que muitas vezes parecia real, aquela familiarização de casulos gigantes. Muitas das imagens dependiam do ângulo ou modo como foram fotografadas, davam uma visão, impressão que eram esculturas de casulos gigantes. A forma dos casulos ficou bem definida com suas linhas e volume.

Cada casulo é único, pois nenhum é igual ou parecido, cada um foi criado em certo momento, manualmente. Os casulos foram ora objeto arte, ora escultura, ora instalação e, por fim, foram objeto pintura. Relacionaram-se muito bem nas linguagens que exerceram em seus trabalhos.

Os casulos, sem sombra de dúvida, foram e serão sempre um processo de investigação em meu caminho.

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Imagem 2: Série casulos. Material: Fibra sintética e linha (2011)

Imagem 3: Série casulos. Material: Fibra sintética e linha (2011)

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Imagem 4: Pintura objeto art.

Material: Fibra sintética, linha e borboleta desidratada. Tela: 70 x 90 cm

Processo da queima dos casulos:

Imagem 5: Casulo – detalhe do casulo queimado. Material: Fibra sintética. Medida: 1,20 cm (2011)

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Imagem 6: Série casulos. Material: Fibra sintética e linha (2011)

Imagem 7: Série casulo.

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Imagem 8: Detalhe do casulo.

Material: Fibra sintética e linha. Tela: 60 x 90 cm

E agora o casulo virou uma pintura objeto ou mesmo um objeto pintura no qual potencializei minha criação a partir da ressignificação e da repetição do objeto.

A inspiração criadora valoriza o conhecimento artístico e também a sua incessante busca de experiência e técnica adequada, para a criação de seus trabalhos, liberando o artista para a construção de seu próprio olhar poético e artístico, apurado e apropriado a sua autenticidade artística por meio mais singular e significativo de seu conhecimento que organiza a ação de tranquilidade e conhecimento.

A artista Derdyk (2001, p. 78) contribui com algumas considerações sobre o processo e o ato criador:

O anseio criador potencializa as experiências comuns de nosso corpo, aprisionando-as e liberando-as através de um modo poético de construção de linguagem, através de um modo singular do pensamento se constituir em ação e movimento. Desengatando os conhecimentos – do natural, do anônimo e do involuntário – que jazem sob as coisas do mundo, o ato criador evidencia universos escondidos sob formas que inexoravelmente ocupam publicamente um lugar no mundo das coisas, nem que seja por uma fração incontável de tempo e espaço.

Na criação, o indivíduo reorganiza, atua modificado, conformando e compreendendo o processo de passagem do novo para o diferente, o não

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convencional. Ao inventar e ao ganhar novas propostas o tema está sendo ordenado e altera suas atitudes. É possível repensar o processo de criação, podendo diante disso correr vários empecilhos e dificuldades, antes dos experimentos e das dúvidas. E, diante disso, terá que pensar e repensar o seu processo.

Ostrower (2001, p. 70-71) menciona a capacidade transformadora da ação humana:

No trabalho, o homem intui. Age, transforma, configura, intuindo. O caminho em toda tarefa será novo e necessariamente diferente. Ao criar, ao receber sugestões da matéria que está sendo ordenada e se altera sob suas mãos, nesse processo configurador o indivíduo se vê diante de encruzilhadas. A todo instante, ele terá que se perguntar: sim ou não, falta algo, sigo, paro... Isso ele deduz, e pesa-lhe a validez, eventualmente a partir de noções intelectuais, conhecimentos que já incorporou, contextos familiares à sua mente. Mas, sobretudo, ele baseando-se numa empatia com a matéria em vias de articulação. Procurando conhecer a especificidade do material, procurará também nas configurações possíveis, alguma que ele sinta como mais próprio senso de ordenação interior e o próprio equilíbrio. Será uma busca que não se esgota na palavra, por mais lúcida que seja, pois é uma busca que integra formas de ser.

Quando a criação começa sem conhecimento profundo, sem pesquisa, sem um objetivo específico a criação não se dá porque não há diálogo entre a obra e o criador, não que sempre seja preciso, necessário, mas o criador precisa ter claro onde ele deseja chegar com seu processo de criação.

Já, Derdyk (2001, p. 49), salienta aspectos sobre como se dá a criação, como se chega a um trabalho destacando os conflitos e buscas da pesquisa:

A busca seria, então, da mesma espécie que o erro. Errar é voltar e retornar, abandonar-se a magia do desvio. O desencaminhado, aquele que saiu da proteção do dentro, gira em torno de si mesmo, entregue ao centro e não mais ao cuidado por ele (DERDYK apud BALANCHOT, 2001, p. 49).

Sob o ponto de vista de Derdyk (2001), a criação é um projeto que consecutivamente está em estado de construção, em que a pesquisa e o conhecimento devem estar sempre em primeiro lugar, caminhando juntos, lado a lado para alcançar os objetivos desejados na hora da criação. Nesse sentido, para uma criação ter o sucesso merecido o criador deve apresentar comprometimento com o trabalho demonstrando e contendo ciência ao desempenhar a sua criação, conseguindo assim, realizar o papel de enlaçar e de provocar interferências e relações com a obra e com o espectador.

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2.1.5 Desafios da Exposição Individual: Analisar o Processo, Organizar e Dar Unidade Compositiva e Estética ao Conjunto do Trabalho

Após a conclusão dessa etapa do trabalho, ou seja, o término do componente Ateliê VII vem o alívio, a satisfação de dever comprido, de ter terminado mais uma disciplina, mais um processo de criação e de investigação. Em seguida vêm outras metáforas, ideias e pensamentos de como poderia ter sido diferente, de como pode ser seguido uma nova pesquisa sobre a poética visual.

Acho que para todo criador é assim, várias sensações são agregadas em seu trabalho de pesquisa, ou enquanto é produzido, até mesmo, quando é finalizada mais uma etapa. E, com isso, surgem diferentes ideias e um novo trabalho pode nascer a qualquer momento através de registros anteriores.

Dentre os apontamentos e a obra é que o pensamento está em processo. Segundo Salles (2008a, p. 29), na medida em que os registros vão saindo de arquivos ou gavetas retornam à vida ativa sob a forma de processo, configurando-se como um pensamento em evolução, ideias crescendo em formas que vão se aperfeiçoando, um artista em ação, uma criação em processo. Com fonte inesgotável de estudos são esses documentos que testemunham a materialidade do processo evolutivo em criação.

A pesquisa teórica-prática possibilitou uma maior compreensão sobre o tema desenvolvido no trabalho, entendendo o processo poético de criação das borboletas. Assim, através desse estudo ampliou-se o conhecimento das artes visuais, da arte contemporânea e, sobretudo, do processo de criação.

2.1.6 As Exposições: Socializar, Analisar e Refletir

Organizar e expor o trabalho, individual e coletivamente faz parte da formação do Bacharel em Artes Visuais. É uma competência a ser desenvolvida e uma habilidade acadêmica fundamental ao futuro artista, uma vez que frequentar galerias, museus, salas deve fazer parte do dia a dia do artista e do agente cultural.

Enquanto acadêmica de Bacharelado de Artes Visuais, criar trabalhos para expor não é uma tarefa nada simples, principalmente para iniciante que, apesar de ter estudado e se preparado, ainda é aprendiz e as dúvidas são frequentes.

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No momento da exposição é hora de mostrar a pesquisa ao público e analisar se a aprendizagem foi suficiente, se foi cumprido com os objetivos da pesquisa e contemplam os critérios para um título de Bacharel em Artes Visuais. Também, com ela, se prepara para encarar algo fora da Universidade, a andar com as suas próprias pernas e sair do ambiente familiar da Instituição e dos mestres, pois neste momento vai ser revelado tudo àquilo que foi adquirido e armazenado durante a pesquisa, e se foi apropriado para o desenvolvimento, ou se ficou insuficiente para a formação acadêmica.

Nesse contexto, primeiramente se organiza a exposição individual e após a coletiva. Na minha exposição individual, apesar de achar que estaria preparada, as incertezas e as angústias eram constantes, pois a responsabilidade pesa mais nos ombros, por que o trabalho será apreciado e avaliado pelos colegas, professores e também o público em geral.

Na exposição individual, além de mostrar o que se fez, também se mostra o quanto se fez. Com isso, se explicita, além da qualidade do trabalho, o modo como o acadêmico assume seus compromissos, pois dar conta de uma mostra individual exige uma produção consistente enquanto linguagem artística e, principalmente, coerente esteticamente. Nesse momento o foco é todo para seu trabalho e isso deve sustentar um debate acadêmico e artístico.

Criar algo que o público aprecie e aceite é muito difícil, pois o criador quer causar algo no espectador, que marque por coisas boas, que suscite questionamentos, estranhamentos e reflexões estéticas, que traga indícios de que a tarefa foi minimamente positiva.

Por outro lado, organizar uma exposição coletiva e, nela, mostrar uma parte de seu trabalho em diálogo com o trabalho de outros colegas, se coloca como outra aprendizagem uma vez que é necessário pensar e conceber a exposição com abertura para a opinião e a ideia dos outros. Porém, parece que se mostra como um momento menos difícil, por que se dividem as responsabilidades e, também, os olhares atentos e críticos do público. Nesse momento nos sentimos entre pares, compartilhando, dividindo e se amparando em ombros amigos; estamos em cumplicidade, o que diminui a angústia e a responsabilidade.

Participar de exposição coletiva é uma coisa maravilhosa, pois o criador se sente mais seguro, protegido e amparado na hora de expor, pois esta oportunidade é muito significativa e, inclusive, encoraja a participar de outros eventos.

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Imagem 9: Coletiva

2.1.7 O que se Apresenta na Exposição Individual: Desenhos, Fotografias, Objetos e Interferências

Referências

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