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“outras Arqueologias”

Capítulo 5 – Explorando em detalhe as formas de povoamento fortificado no Alto Tâmega e Cávado: a

5.2. A mineração de estanho como factor locacional

5.2.4. Vale do Rio Tâmega (Verín, Ourense, Espanha)

O rio Tâmega nasce na Serra de San Mamede, província de Ourense (Galiza, Espanha) e desagua no rio Douro na zona de Entre-os-Rios, já em território português.

A mineração de estanho no vale do Tâmega (Ourense) foi objecto de análise no âmbito do trabalho de Antonio Meijide Pardo (1963), que divide o Sudeste da Província de Ourense em duas zonas de exploração diferenciadas: a bacia do Tâmega, constituída pelas explorações de Vilardecervos (Vilardevós) e de Arcucelos (Laza); e a outra zona formada pelo grupo Penouta-Barxa (Viana do Bolo-A Gudiña), já localizada secundariamente em relação ao vale do Tâmega (Fernández-Fernández, 2011).

Neste sentido, a zona de Vilardecervos trata-se de uma das principais jazidas de estanho do vale do Tâmega, tendo sido explorada de forma sistemática pelo menos desde o século XVIII em adiante (Fernández-Fernández, 2011; Meijide-Pardo, 1963), tal como se comprova pelo mapa das minas de estanho do vale do Monterrey que data do século XVIII (Figura 85).

Figura 85: “Mapa de las Minas de Estaño de el Valle de Monte-Rey” (1786) (Fonte:

No cerne desta zona, mais propriamente no pequeno e encaixado vale do rio de Fornos, localizam-se os castros do Sobrañal, Grande e Pequeno16 (Figura 86). Apesar de se

saber muito pouco sobre estes castros e sobre a sua possível inter-relação e coetaneidade, uma vez que nunca foram intervencionados arqueologicamente, cabe destacar o Castro do Sobrañal, que se localiza entre diversas linhas de água, particularmente em relação ao rio de Fornos, para onde drenam todas as antigas minas de estanho desta zona, pelo que, de novo, temos mais um caso onde a localização deste castro poderá ter estado relacionada com o aproveitamento das aluviões deste rio (Figura 87).

Figura 86: Localização dos castros de Sobrañal, Grande e Pequeno na folha nº 303 do Mapa

Topográfico Nacional de España 1:25.000 (IGN).

16 Plan Xeral de Ordenación Municipal do Concello de Verín (PXOM 2012), Memoria Ordenación, Tomo V,

Figura 87: Extracto da folha 303 do Mapa Geológico de Espanha à escala 1:50.000 e recursos

minerais metálicos (Fonte: IGME - Base de Datos de Metalogenia), com a localização dos castros do Sobrañal, Grande e Pequeno.

Bastante próximo do vale do Tâmega, mais propriamente no vale do Búbal, um dos seus afluentes, localizam-se os conhecidos castros de Saceda e da Cidá de San Millán, dos quais existe abundante informação arqueológica que iremos de seguida descrever sumariamente (Figura 88).

Figura 88: Localização dos castros de Saceda e da Cidá San Millán na folha nº32 do Mapa

Topográfico Nacional de España 1:25.000 (IGN).

O Castro de Saceda localiza-se numa colina rochosa a Sudeste da serra do Larouco, sobre uma superfície planáltica entre a referida serra e a depressão de Verín, na bacia fluvial do Tâmega (Figura 89). Este castro foi alvo de diversas campanhas arqueológicas levadas a cabo por Antonio Rodríguez Colmenero e por Covadonga Carreño Gascón entre 1982 e 1988, apenas parcialmente publicadas (Carreño-Gascón, 1991; Rodríguez- Colmenero, 1995), tendo estas intervenções sido alvo de uma recente revisão (González- Ruibal, 2005).

Em relação ao Castro de Saceda, refere-se a existência de pelo menos dois níveis de ocupação: o mais antigo enquadra-se na Primeira Idade do Ferro, entre os séculos VIII e V a.C., e estava composto por estruturas realizadas em materiais perecíveis, limitadas ao espaço definido pela primeira linha de muralha na zona de cumeada; e um segundo nível já enquadrável na Segunda Idade do Ferro, a partir de meados do século IV a.C. até inícios do século I d.C., correspondendo-se com a petrificação das estruturas domésticas e com a construção das outras duas muralhas mais exteriores e a reconstrução da linha de muralha mais interior. Em face da revisão dos materiais realizada, Alfredo González Ruibal (ibid.: 274) considera igualmente plausível que o nível mais antigo se integre já na Segunda Idade do Ferro, ao passo que a maior parte dos materiais arqueológicos integram-se entre os

séculos II e I a.C., pelo que grande parte das estruturas pétreas, tanto públicas como privadas, deverão datar deste período.

Figura 89: Castro de Saceda: MDS (A) (LiDAR PNOA-IGN) e ortofotografía do voo USAF de 1956 (B)

(IDEG-Xunta de Galicia) e actual (C) (PNOA-IGN).

O Castro da Cidá de San Millán, por seu lado, localiza-se numa ladeira descendente em relação ao rio dos Pichos, afluente do Búbal, aproximadamente a 3,5 km em linha recta do Castro de Saceda (Figura 90). Trata-se de um castro bastante peculiar, destacando-se pela diversidade e ostentação do seu sistema defensivo, constituído por uma tripla linha muralha, um profundo fosso na parte Norte e um extenso campo de pedras fincadas a Nordeste. Este castro foi também alvo de diversas campanhas de escavações arqueológicas (López-Cuevillas & Taboada-Chivite, 1953, 1955, 1958; López- Cuevillas, 1955; Rodríguez-González & Fariña-Busto, 1986).

Para este castro também se referem dois níveis de ocupação distintos: um mais antigo assinalado pela presença de cerâmica estampilhada de finais da Idade do Ferro, não se registando a presença de material construtivo romano, e outro mais recente sinalizado pela presença de terra sigillata hispânica tardia, bem como de abundante material construtivo romano, que se poderá enquadrar genericamente entre os séculos III e IV d.C. (Rodríguez-González & Fariña-Busto, 1986: 66-67). Esta última fase de ocupação é

corroborada pela descoberta casual de uma phalera, que se poderá relacionar com uma condecoração militar, dona militaria, baixo-imperial (Rodríguez-González, 2000) (Figura 91).

Figura 90: Castro da Cidá de San Millán: MDS (A) (LiDAR PNOA-IGN) e ortofotografia do voo USAF de

1956 (B) e actual (C).

Figura 91: Phalera procedente do Castro da Cidá de San Millán (© Ministerio de Educación, Cultura

y Deporte, Gobierno de España, Red Digital de Colecciones de Museos de España, CER.ES - Colecciones en Red, Museo Arqueológico Provincial de Ourense, sem escala).

Se analisarmos locacionalmente estes dois povoados, verificamos que o Castro de Saceda enquadra-se bastante bem no modelo locacional 2 que definimos, enquanto o Castro da Cidá de San Millán se insere perfeitamente no modelo locacional 3. Optamos também por compará-los com o Outeiro Lesenho, enquanto representante do modelo locacional 1.

Saceda é um castro que destaca mais a curta e a média distância, ao invés do castro da Cidá de San Millán, que tem um destaque visual praticamente negativo (Gráfico 17). A visibilidade deste último é também bastante limitada (Gráfico 16), sendo também um sítio relativamente acessível, em particular a média e larga distância, embora a curta distância a acessibilidade esteja bastante condicionada pela proximidade a um pequeno vale bastante encaixado (Gráfico 18). O Castro de Saceda tem boa visibilidade a curta, média e larga distância (Gráfico 16).

Por outro lado, o Castro da Cidá de San Millán encontra-se positivamente relacionado com a rede hidrográfica e, sobretudo, com a presença de recursos minerais de estanho na sua envolvente próxima (Figura 92), pelo que, de novo, será de considerar a possibilidade de a localização deste castro ter estado condicionada pela proximidade a estes recursos.

Gráfico 16: Comparativa da visibilidade por buffers dos castros do Lesenho, Saceda e Cidá de San

Gráfico 17: Comparativa da altitude relativa por buffers dos castros do Lesenho, Saceda e Cidá de

San Millán.

Gráfico 18: Comparativa da acessibilidade por buffers dos castros do Lesenho, Saceda e Cidá de San

Figura 92: Extracto da folha 302 do Mapa Geológico de Espanha à escala 1:50.000 e recursos

minerais metálicos (Fonte: IGME - Base de Datos de Metalogenia), com a localização dos castros de Saceda e da Cidá de San Millán.