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Trabalho enviado para o periódico Food Chemistry, Qualis A1

RESUMO

O Nordeste do Brasil é importante produtor de pescado, portanto, o conhecimento da composição de nutrientes dos peixes regionais é essencial para que a população consuma as espécies que têm mais acesso. Neste trabalho espécies menos valorizadas foram comparadas com outras de maior valor comercial. Doze espécies foram analisadas, das quais quatro são preferencialmente consumidas: Haemulon

plumieri, Lutjanus synagris, Scomberomorus brasiliensis e S. cavalla. Ginglymostoma cirratum (espécie de tubarão), H. aurolineatum, H. parrai, Myrispristes jacobus e as

duas espécies Scomberomorus apresentaram os maiores teores de proteínas. Nos filés de Cephalospholis fulva e H. parrai foram detectados os maiores níveis de ferro. E especialmente nas cabeças, muitas vezes não aproveitadas na alimentação, todas as espécies demonstraram importante conteúdo de Ca, P, Fe e Zn. Foi possível comprovar que as espécies de pescado de menor valor comercial apresentaram qualidade nutricional semelhante à de espécies de maior valor no mercado.

ABSTRACT

The Brazilian Northeast region is an important producer of fish. Therefore, knowledge of the composition of nutrients of regional fish is essential to allow the population to consume the most accessible species. In this work, less valued species are compared with others with a higher commercial value. Twelve species were analyzed, of which four are preferentially consumed: Haemulon plumieri, Lutjanus synagris,

Scomberomorus brasiliensis and S. cavalla. Ginglymostoma cirratum (shark species), H. aurolineatum, H. parrai, Myrispristes jacobus and the two Schomberomorus species

presented the highest levels of protein. In fillets of Cephalospholis fulva and H. parrai we detected the highest levels of iron. Especially in heads, often unused in food, all species showed important Ca, P, Fe and Zn contents. It was possible to prove that fish species of low commercial value presented a nutritional quality similar to that of high value species.

Introdução

O Nordeste brasileiro é um grande produtor de pescado, e da costa marítima cearense depende a sobrevivência de muitos pescadores (VIDAL, 2016).

Algumas espécies de peixes são comumente comercializadas e consumidas pela população, como a biquara (Haemulon plumieri), ariacó (Lutjanus synagris), serra (Scomberomorus brasiliensis) e cavala (Scomberomorus cavalla), porém, outras espécies, por serem menores, de formatos ou sabores diferenciados, ou por outros motivos diversos, são desvalorizadas. De acordo com Martins e Oetterer (2010) o valor comercial do pescado está mais relacionado a questões mercadológicas, culturais e sensoriais do que a sua qualidade nutricional.

Além do consumo in natura, ou congelado, o pescado com baixa expressão econômica também pode ser utilizado após processamento, como na produção de

minced fish e/ou surimi, que podem representar uma opção tecnológica para o melhor

aproveitamento do alimento (MIRA; LANFER-MARQUEZ, 2005).

O desconhecimento do valor nutricional da carne do peixe influencia diretamente no consumo dos mesmos, visto que o aspecto nutritivo é um importante atrativo para os consumidores. Assim, dados sobre a composição química das espécies disponíveis no mercado local é muito importante, pois possibilita uma melhor orientação nutricional por parte dos profissionais, e uma diversificação da alimentação com base no desenvolvimento regional (MENEZES et al., 2009).

Segundo a FAO (2016), apesar da grande produção do pescado na América Latina, o consumo de peixes por pessoa, ainda é baixo, de apenas dez quilos por ano, a metade da média global.

O fato de diversos estudos associarem uma alimentação rica em pescado à redução do risco de doenças coronarianas, hipertensão arterial, inflamações em geral, e até câncer, situa o consumo dos peixes no Brasil, não apenas como alternativa alimentar de alto valor nutritivo, mas de consumo de um alimento funcional importante e abundante (RAMOS FILHo et al., 2008).

Neste estudo foi realizada uma avaliação da qualidade nutricional de peixes comumente encontrados na costa marítima do estado do Ceará, região Nordeste do Brasil, com o objetivo de comparar espécies mais valorizadas comercialmente, com espécies de menor valor comercial.

Material e métodos

Coleta e preparação das amostras

As amostras do estudo foram obtidas com pescadores locais, na Av. Beira Mar, na cidade de Fortaleza-Ce, Nordeste do Brasil, nas proximidades do Mercado do Peixe, entre os meses de julho e dezembro de 2017. Foram adquiridos três exemplares frescos de cada espécie de peixe marinho e um exemplar de tubarão. As espécies estudadas foram, Haemulon plumieri (biquara), Lutjanus synagris (ariacó),

Scomberomorus brasiliensis (serra) e Scomberomorus cavalla (cavala), mais

exploradas comercialmente, e as espécies, Balistes capiscus (cangulo),

Cephalopholis fulva (piraúna), Ginglymostoma cirratum (tubarão lixa), Haemulon aurolineatum (sapuruna), Haemulon parrai (cambuba), Malacanthus plumieri (pirá), Myrispristes jacobus (mariquita) e Sparisoma chrysopterum (bodião), de menor

consumo pela população.

As amostras foram transportadas para o laboratório em caixas térmicas com gelo, acondicionadas em sacos plásticos e congeladas a -17 oC até o momento de realização das análises.

Para a realização das análises, as amostras foram previamente preparadas através da remoção e trituração das cabeças em liquidificador industrial, com exceção do tubarão lixa, que foi analisado sem a cabeça, e separação e trituração dos filés em processador, para a formação de uma massa homogênea.

Determinações químicas

Análise centesimal

A umidade foi determinada gravimetricamente após a secagem do material a 105 °C, de acordo com o método descrito em Association of Official Analytical Chemists (AOAC) (2005). O teor de lipídeos foi determinado utilizando o método de Folch, Lees e Stanley (1957) e o teor de proteínas foi determinado de acordo com o método Kjeldahl (AOAC, 2005). A determinação de cinzas ou fração mineral fixa foi medida gravimetricamente após a incineração do material em mufla a 550 oC (AOAC, 2005). Todas as análises foram realizadas em triplicata. Os carboidratos foram

estimados por diferença. O valor energético das amostras foi estimado conforme os fatores de conversão de Atwater (1910) de 4, 4 e 9 para proteínas, carboidratos e lipídeos, respectivamente.

Determinação da composição mineral

As cinzas das amostras foram tratadas com ácido nítrico HNO3, HClO4 e água deionizada (PAUWELS et al., 1992). O conteúdo mineral das amostras digeridas foi determinado por espectrofotometria de absorção atômica de chama, utilizando equipamento ICE 3300 Thermo Scientific, para Ca, Na, K, Mg, Fe, Zn, Cu e Mn (ANDERSON; INGRAM, 1993; BENTON Jr.; CASE, 1990), com exceção do P e Zn, que foram determinados por método colorimétrico, utilizando espectrofotômetro UV/VIS (MURPHY; RILEY, 1962; CAPELLE, 1961).

Análise Estatística

Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão. As diferenças entre os valores foram examinados usando análise de variância, e os resultados foram comparados usando o teste de Tukey, a nível de significância de 5%. O software Statistica 10 (StatSoft, 2010) foi utilizado.

Resultados e discussão

Composição centesimal e valor energético

Os dados relativos aos teores de umidade, proteína total, lipídeo total, cinzas, carboidratos e valor energético das amostras estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Composição e valor energético total em 100 g da carne de peixes do Nordeste do Brasil.

Espécies Composição (g/100 g) Valor calórico (kcal/100 g)

Umidade Proteínas Lipídeos Cinzas Carboidratos

Hp 78,44 ± 0,47ab 18,15 ±0,69de 1,54 ± 0,46cd 1,82 ± 0,13c 1,49 ± 0,10b 75,72 ± 1,16bcde Ls 77,08 ± 0,94ab 19,69 ±0,68bcde 0,43 ± 0,15e 1,55 ± 0,02de 1,67 ± 0,38ab 69,19 ± 11,32de Sb 75,63±0,00ab 21,78 ± 0,00a 1,95 ± 0,00bc 1,13 ± 0,00f 1,02±0,00abcde 100,47 ± 0,00ab Sc 79,28±0,00a 21,44±0,00ab 2,42±0,00b 1,31±0,00ef 0,10±0,00e 106,75±0,00a Bc 79,11 ± 0,93a 18,34 ±0,45de 0,10 ± 0,03e 1,32 ± 0,04ef 1,15 ± 0,24abcd 77,62 ± 1,18bcde Cf 77,66 ± 3,51ab 19,13 ±0,57cde 0,52 ± 0,21e 1,64 ± 0,03cd 0,66 ± 0,70bcde 79,07 ± 16,59bcde Gc 70,14 ±0,00c 21,33 ± 0,00ab 4,80 ± 0,52a 3,75 ± 0,00a 0,28 ± ,00cde 97,38 ± 0,00abc Ha 75,24 ± 0,61b 19,96 ± 0,17abcd 1,61 ± 0,28bc 2,31 ± 0,15b 1,29 ± 0,67abc 89,95 ± 1,74abcd Hpa 77,33 ± 0,49ab 20,51 ± 0,17abc 0,11 ± 0,04e 1,60 ± 0,10cd 0,16 ± 0,19de 74,08 ± 10,70cde Mp 76,62 ± 0,69ab 17,72 ±0,19e 1,54 ±0,46cd 1,82 ± 0,13c 1,82 ± 0,10a 85,06 ± 2,14abcde Mj 77,60 ± 0,30ab 19,88 ±0,97abcd 0,73 ± 0,57de 1,78 ± 0,09cd 1,36 ± 0,30ab 79,61 ± 4,31bcde Sch 79,38 ± 2,28a 18,05 ±18,05de 0,08 ± 0,01e 1,61 ± 0,05cd 0,10 ± 0,04e 66,03 ± 15,20e

Os dados são apresentados como a média ± desvio padrão e analisados por ANOVA seguido de teste de Tukey. (P < 0,05). Letras iguais na vertical não diferem estatisticamente. Bc, Balistes capiscus; Cf, Cephalopholis fulva; Gc, Ginglymostoma cirratum. Ha, Haemulon aurolineatum; Hpa, Haemulon parrai; Hp,

Haemulon plumieri; Ls, Lutjanus synagris; Mj, Myrispristis jacobus; Mp, Malacanthus plumieri; Sb, Scomberomorus brasiliensis; Sc, Scomberomorus cavalla;

Os valores de umidade obtidos estiveram dentro do intervalo estabelecido para peixes (70% e 90%) (ÇELIK; DILER; KÜÇÜKGÜLMEZ, 2005). G. cirratum apresentou o menor valor de umidade, 70,14%. As espécies S. cavalla e S. chrysopterum apresentaram os maiores valores de umidade, 79,38% e 79,28%, respectivamente. Porcentuais inferiores foram encontrados para a cavala, 76,52%, por Menezes et al. (2009) e por Fernandes et al. (2014), 76,3%. Segundo Viana et al. (2013), o teor de umidade do pescado e de seus derivados é de fundamental importância para se determinar a condição de tempo de prateleira e definir metodologias adequadas para a conservação destes produtos.

G. cirratum, S. brasiliensis e S. cavalla apresentaram os maiores teores de

proteínas, 21,78%, 21,44% e 21,33% porém, outras espécies menos valorizadas apresentaram valores estatisticamente semelhantes, H. aurolineatum, H. parrai, M.

jacobus.

Viana et al. (2013) encontraram variações em termos do teor de proteínas de 17,6% a 20,5% para a espécie L. synagris, ao estudar mês a mês a composição química desta espécie. No presente estudo, o valor se aproximou bastante do valor máximo da variação, 19,69%.

Em relação aos lipídeos, por apresentarem teor de gordura abaixo de 5%, todas as espécies puderam ser classificadas como peixes magros (PENFIELD; CAMPBELL, 1990). E ainda, com exceção de G. cirratum e S. cavalla, todas as outras espécies apresentaram porcentuais inferiores a 2%.

Os resultados do teor de cinzas encontrados no presente trabalho variaram de 1,13% a 2,31% para as espécies estudadas, com exceção de G. cirratum, cujo resultado foi de 3,75%. O teor de cinzas indica o teor da amostra em elementos minerais como cálcio, potássio, sódio, magnésio, ferro, cobre, cobalto, alumínio, sulfato, cloreto, silicato, fosfato e outros. Valores do teor de cinzas inferiores a 2% são encontrados geralmente nos peixes (FERNANDES et al., 2014; MELO et al., 2012; MENEZES et al., 2008; NEPA-UNICAMP, 2011), sendo influenciado pelo tipo de alimentação das espécies.

O maior porcentual de carboidratos foi detectado em M. plumieri, 1,82% e a maioria das espécies apresentou valor calórico inferior a 100 kcal/100 g. Na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (NEPA-UNICAMP, 2011), são citados valores calóricos de peixes como a merluza, 89 kg/100 g, pescada branca, 111 kg/100 g e

atum, 118 kg/100 g, com valores comparáveis e até maiores que os encontrados nesse estudo.

Composição mineral

Os macrominerais mais abundantes, para a maioria das espécies estudadas, foram o K, seguido do P, nos filés dos peixes (Tabela 2), e nas cabeças (Tabela 3), o Ca.

A carne de todas as espécies puderam ser consideradas excelentes fontes de P, tendo em vista que apresentaram concentrações próximas ou superiores a 0,7 g/100 g (7,0 g/kg), considerando que 0,7 g é a ingestão diária recomendada (IDR) de P para adultos; e boas fontes de Mg, com concentrações entre 0,08 e 0,21 g/100 g (0,8 – 2,1 g/kg), quando a IDR para adultos é de 0,26 g (BRASIL, 2005).

Os níveis de P foram melhores que os relatados por Bogard et al. (2015), ao analisarem 55 espécies de pescados com valores entre 0,1 e 1,0 g/100 g.

Nas cabeças, as concentrações de Ca variaram de 10,4 a 23,4 g/100 g (104,55 – 234,15 g/kg), quando a IDR para adultos é de 1,0 g/100 g (BRASIL, 2005). Os valores são comparáveis aos apresentados por Toppe et al. (2007), ao analisarem os ossos de outras espécies de pescado (13,5 - 23,3 g/100 g). As concentrações de P e Mg variaram de 0,4 a 5,7 g/100 g (4,06 – 57,97 g/kg) e de 0,15 a 0,39 g/100 g (1,50 – 3,85 g/kg), respectivamente.

Constituída principalmente de ossos, as cabeças dos peixes, parte menos nobre em relação ao consumo, são importantes fontes de Ca e P, devido a hidroxiapatita [Ca5(PO4)3OH] (matéria mineral), depositada sobre a matéria orgânica do osso, e podem ser aproveitadas para a preparação de produtos alimentícios TOPPE et al., 2006).

Njinkoue et al. (2016) e Toppe et al. (2007), ao analisarem os ossos de outras espécies, encontraram concentrações de P ainda maiores, de 7,7 – 9,4 g/100g e 8,1 – 11,3 g/100 g, respectivamete.

Espécie

Macrominerais (g/kg)

Na P K Ca Mg

H. plumieri 6,45 ± 0,04a 11,53 ± 0,07b 23,46 ± 0,10abc 3,25 ± 0,07def 1,25 ± 0,07ab

L. synagris 4,39 ± 0,06g 11,58 ± 0,09b 25,66 ± 0,04a 1,90 ± 0,14ef 1,80 ± 0,71ab S. brasiliensis 1,40 ± 0,01i 10,48 ± 0,42cd 8,02 ± 0,00d 12,50 ± 1,70b 1,75 ± 0,35ab S. cavalla 1,56 ± 0,00h 9,32 ± 0,11e 9,26 ± 0,35d 45,95 ± 0,78a 2,10 ± 0,00a S. chrysopterum 5,40 ± 0,07b 11,69 ± 0,32b 24,43 ± 1,29ab 1,80 ± 0,14f 1,00 ± 0,14ab B. capriscus 5,10 ± 0,01c 9,89 ±0,19de 17,35 ±0,96c 1,79 ± 0,30f 1,05 ± 0,07ab C. fulva 4,66 ± 0,01f 11,35 ± 0,08bc 19,86 ± 0,01abc 4,54 ± 0,06d 0,80 ± 0,00b G. cirratum 4,82 ± 0,01e 6,87 ±0,30f 8,27 ±0,35d 4,20 ± 0,14de 1,65 ± 0,07ab H. aurolineatum 4,88 ± 0,04de 9,36 ± 0,41e 18,43 ± 1,74bc 1,75 ± 0,04f 0,75 ± 0,21b H. parrai 5,07 ± 0,01c 11,64 ± 0,04b 23,29 ± 2,40abc 4,45 ± 0,64d 1,30 ± 0,14ab M. plumieri 5,51 ± 0,00b 14,38 ±0,01a 20,26 ±0,57abc 12,04 ± 0,05b 1,25 ± 0,07ab M. jacobus 4,99 ± 0,06cd 11,21 ± 0,11bc 19,51 ± 4,78abc 7,65 ± 0,21c 1,10 ± 0,57ab

Os dados são apresentados como a média ± desvio padrão e analisados por ANOVA seguido de teste de Tukey. (P < 0,05). Letras iguais na vertical não diferem estatisticamente.

Espécies Macrominerais (g/kg) Na P K Ca Mg H. plumieri 14,3 ± 0,01g 10,17 ± 1,02cd 11,39 ± 1,13a 165,50 ± 5,23c 1,95 ± 0,64ab L. synagris 11,2 ± 0,00i 8,92 ± 0,25de 11,76 ± 0,16a 104,55 ± 1,06d 1,50 ± 0,14b S.brasiliensis 30,2 ± 0,30b 4,06 ± 0,06e 9,03 ± 0,66ab 226,55 ± 1,77ab 2,20 ± 0,00ab S. cavalla 41,1 ± 0,13a 12,61 ± 0,02cd 4,06 ± 0,70c 220,25 ± 25,39ab 2,30 ± 0,00ab B. capriscus 10,1 ± 0,05j 13,35 ± 0,60cd 10,46 ± 0,13a 220,15 ± 1,20ab 2,40 ± 1,27ab C. fulva 15,6 ±0,01e 11,80 ± 0,17cd 13,27 ± 0,26a 234,15 ± 27,79a 3,85 ± 0,64ab H. aurolineatum 12,7 ± 0,06h 41,06 ± 4,02b 10,61 ± 2,36a 206,90 ± 9,33abc 2,45 ± 1,20ab H. parrai 14,8 ± 0,01f 57,97 ± 0,66a 9,82 ± 0,43a 182,10 ± 11,60bc 1,95 ± 0,21ab M. plumieri 16,1 ± 0,01d 11,82 ± 0,13cd 12,89 ± 2,33a 206,45 ± 0,35abc 4,40 ± 0,28a M. jacobus 19,1 ± 0,01c 14,17 ± 0,38cd 4,92 ± 0,37a 206,95 ± 5,59abc 2,85 ± 0,07ab S. chrysopterum 14,7 ± 0,01fg 42,15 ± 39,53c 11,65 ± 1,07a 232,30 ± 9,19ab 2,55 ± 1,06ab

Os dados são apresentados como a média ± desvio padrão e analisados por ANOVA seguido de teste de Tukey. (P < ,05). Letras iguais na vertical não diferem estatisticamente.

Comparando-se o conteúdo de macrominerais no filé e na cabeça de cada espécie individualmente, verificou-se que Na, Ca e Mg foram maiores nas cabeças do que nos filés das espécies estudadas, com exceção do L. synagris, com concentração maior de Mg na carne .

E apesar do P estar presente como um dos principais constituintes minerais dos filés dos peixes, suas concentrações são ainda maiores nas cabeças de B.

capriscrus, C. fulva, H. aurolineatum, H. parrai, M. jacobus, S. cavalla e S. chrysopterum.

O conteúdo de K foi maior na carne, com exceção apenas para S. brasiliensis, que apresentou nível inferior de K no filé, porém bem aproximado do conteúdo presente na cabeça.

Concentrações mais baixas de Na e maiores de K foram observadas nos filés tanto nas espécies mais valorizadas quanto nas espécies menos valorizadas, influenciando positivamente para a saúde humana, visto que trabalhos relatam que uma baixa relação Na/K produz efeitos benéficos em relação a pressão arterial e ao metabolismo lipídico (BU et al, 2012; PEREZ; ELLEN ;CHANG, 2014).

Em relação aos microminerais (Tabelas 4 e 5), Fe e Zn foram encontrados em maiores concentrações tanto nos filés, como nas cabeças dos pescados, predominando ainda nas cabeças.

Os filés das espécies H. parrai e C. fulva, classificadas como menos valorizadas do ponto de vista comercial, apresentaram os maiores níveis de ferro, 5,35 e 5,30 mg/100 g (53,50 e 53,00 mg/kg), respectivamente, enquanto que a espécie S. cavalla, apresentou o menor conteúdo, 2,15 mg/100 g (21,50 mg/kg), seguido de S.

brasiliensis, com 2,75 mg/100g (27,50 mg/kg).

Considerando que a IDR de Fe para adultos é de 14 mg, as espécies H. parrai e C. fulva podem ser consideradas boas fontes de ferro, aproximando-se muito do conteúdo desse mineral no fígado bovino cru, cuja concentração é de 5,60 mg/100 g (BRASIL, 2005; NEPA-UNICAMP, 2011).

A variação do conteúdo de Zn nos filés das espécies avaliadas foi de 2,05 a 3,86 mg/100 g (20,50 – 38,50 mg/kg), colocando também os peixes como boas fontes desse mineral, tendo em vista que a IDR é de 7 mg. No fígado bovino cru a concentração de é 3,5 mg/100 g (BRASIL, 2005; NEPA-UNICAMP, 2011).

A deficiência de ferro em humanos tem como resultado o desenvolvimento de algumas doenças, entre elas a anemia, que é um dos problemas nutricionais que representa riscos mais significativos para a saúde, particularmente quando ocorre durante a gravidez, ou em crianças.

Segundo Tureck et al. (2013), os minerais Zn, Cu e Mn possuem atividade antioxidante indireta, uma vez que atuam como cofatores para diversas reações enzimáticas que neutralizam radicais livres, e em estudo sobre a estimativa do consumo desses microminerais pela população brasileira, foi revelado que é consumido diariamente, em média, 11,7 mg de Zn, 1,35 mg de Cu e 2,9 mg de Mn.

De acordo com Liao et al. (2003), a acumulação de elementos metálicos em peixes de diferentes espécies depende de alguns fatores como tamanho, comprimento, e metabolismo de absorção dos componentes minerais. Além disso, outros fatores como o estado da espécie, hábitos alimentares e os fatores ecológicos devem ser levados em consideração.

Observou-se nos dados das Tabelas 2 e 4 que espécies menos valorizadas do ponto de vista comercial demonstraram maiores níveis de alguns minerais na carne.

H. parrai apresentou concentrações entre as maiores de P, K, Fe, Zn, Cu e Mn, C. fulva, de P, Fe, Cu e Mn, e M. plumieri, de P, K, Ca, Fe, Zn e Cu.

Tabela 4: Composição de microminerais da carne de peixes consumidos no Ceará, Nordeste do Brasil. Espécies Microminerais (mg/kg) Fe Zn Cu Mn B H. plumieri 48,50 ± 7,78ab 29,00 ± 1,41bcd 5,50 ± 0,71ab 26,50 ± 2,12a 7,00 ± 0,00a L. synagris 45,00 ± 5,66ab 27,00 ± 2,83cde 5,50 ± 0,71ab 23,50 ± 0,71ab 2,00 ± 0,00d S. brasiliensis 27,50 ± 2,12cd 20,00 ± 1,41e 1,50 ± 0,71d 16,50 ± 0,71c 0 S. cavalla 21,50 ± 0,71d 38,50 ± 4,95a 2,50 ± 0,71cd 3,00 ± 1,41d 0 B. capriscus 35,00 ± 0,00bcd 34,00 ± 0,00abc 4,00 ± 0,00bc 2,50 ± 0,71d 6,00 ± 0,00ab C. fulva 53,00 ± 1,41a 22,00 ± 1,41de 5,00 ± 0,00ab 20,50 ± 0,71bc 4,50 ± 0,71bc G. cirratum 23,50 ± 2,12d 24,50 ± 2,12de 1,00 ± 0,00d 1,50 ± 0,71d 0 H. aurolineatum 41,50 ± 0,71abc 24,00 ± 1,41de 6,00 ± 0,00ab 18,50 ± 0,71c 6,50 ± 0,71ab H. parrai 53,50 ± 0,71a 36,00 ± 2,83ab 6,00 ± 0,00ab 19,00 ± 1,41c 2,50 ± 0,71cd M. plumieri 47,50 ± 4,95ab 33,50 ± 0,71abc 5,00 ± 0,00ab 19,00 ± 0,00c 5,50 ± 0,71ab M. jacobus 45,50 ± 0,71ab 24,00 ± 0,00de 7,00 ± 0,41a 24,50 ± 0,71ab 2,00 ± 0,00d S. chrysopterum 49,00 ± 5,66ab 20,50 ± 0,71e 4,00 ± 0,00bc 19,00 ± 1,41c 4,50 ± 0,71bc

Os dados são apresentados como a média ± desvio padrão e analisados por ANOVA seguido de teste de Tukey. (P < 0,05). Letras iguais na vertical não diferem estatisticamente.

Espécies Microminerais (mg/kg) Fe Zn Cu Mn B H. plumieri 115,00 ± 1,41bc 66,50 ± 6,36c 9,00 ± 0,00bcd 33,00 ± 1,41ab 6,00 ± 0,00a L. synagris 85,00 ± 5,66de 69,50 ± 0,71c 7,00 ± 0,00cd 26,00 ± 5,66abcd 5,00 ± 0,00ab S. brasiliensis 89,50 ± 0,71cd 77,00 ± 1,41bc 1,00 ± 0,00e 3,00 ± 0,00e 0 S. cavalla 57,00 ± 9,90e 67,00 ± 8,49c 1,00 ± 0,00e 2,50 ± 0,71e 0 B. capiscus 88,00 ± 12,73cd 269,50 ± 0,71a 8,00 ± 1,41bcd 22,00 ± 2,83bcd 3,00 ± 0,00c C. fulva 95,50 ± 0,71bcd 94,00 ± 7,07b 10,00 ± 1,41ab 14,50 ± 0,71de 5,00 ± 0,00ab H. aurolineatum 80,50 ± 6,36de 69,50 ± 6,36c 6,50 ± 0,71d 18,50 ± 2,12cd 6,00 ± 0,00a H. parrai 106,00 ± 4,24bcd 77,50 ± 3,54bc 8,50 ± 0,71bcd 25,00 ± 4,24abcd 5,00 ± 0,00ab

M. plumieri 104,50 ± 2,12bcd 80,50 ± 2,12bc 9,5± 0,71abc 24,00 ± 1,41abcd 4,50 ± 0,71b

M. jacobus 123,00 ± 5,66b 83,50 ± 2,12bc 8,00 ± 0,00bcd 36,00 ± 2,83a 4,00 ± 0,00bc

S. chrysopterum 169,50 ± 13,44a 73,00 ± 0,00c 12,00 ± 0,00a 28,00 ± 5,66abc 4,50 ± 0,71b

Os dados são apresentados como a média ± desvio padrão e analisados por ANOVA seguido de teste de Tukey. (P < 0,05). Letras iguais na vertical não diferem estatisticamente.

Conclusão

Este estudo demonstrou que as espécies de pescado de menor valor comercial apresentaram importante qualidade nutricional. Além de todos os pescados poderem ser classificados como peixes magros e importantes fontes de proteínas, pescados menos valorizados, com maiores níveis de alguns minerais foram identificados.

A utilização das espécies de menor valor no mercado representa boa alternativa do ponto de vista social, econômico, ambiental e nutricional, devido ao melhor aproveitamento desses alimentos, dispondo nutrientes a população a custos mais baixos.

As cabeças dos peixes, que são pouco aproveitadas ou muitas vezes descartadas, também demonstraram um relevante conteúdo de P, Ca, Fe e Zn, podendo ser utilizadas no preparo de alimentos.

E ainda, algumas espécies menos atrativas na forma in natura, do ponto de vista sensorial, podem ser utilizadas para a elaboração de produtos de valor agregado para consumo humano, como minced fish e surimi.

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