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CAPÍTULO 3 – CONCESSÃO E PARTILHA:UMA ANÁLISE COMPARATIVA

3.2. Atratividade Econômica de Libra e o GovernmentTake: Análise de Sensibilidade do

3.2.2. Valor Presente Líquido Apropriado pelo Concessionário

O VPL calculado para o projeto é obtido subtraindo da receita total, para cada ano do mesmo, o Capex (e respectivos impostos), o Opex (e respectivos impostos), os royalties, os gastos em P&D, o Bônus de Assinatura e o Lucro em óleo do governo, e trazendo para o valor presente, à taxa de desconto considerada (10%), o valor obtido da subtração. Neste sentido, o VPL é aqui interpretado como o valor presente do lucro gerado pelo projeto e que, portanto, será apropriado pela empresa (ou consórcio de empresas responsável pelo projeto).

Gráfico 11 – Valor Presente em Diferentes Níveis de Preço do Barril de Petróleo

Neste primeiro gráfico é possível notar como o VPL do projeto se comporta quando modificamos a hipótese de nível de preço adotada (US$ 90,00/barril). Como esperado, para níveis de preço menores, menor é a lucratividade do projeto, entretanto nota-se que o VPL é muito mais sensível aos diferentes níveis de preço do barril do que o governmenttake. É importante observar ainda que, dadas as hipóteses de custo, produtividade, etc definidas para o cenário de referência, se o preço do barril de petróleo se tornar inferior a US$85 o projeto se revela economicamente inviável. Esse valor parece muito elevado e, dado o atual cenário de preços do barril de petróleo, mesmo um dos projetos mais grandiosos do Pré-sal seria economicamente inviável.

Entretanto é importante notar alguns aspectos interessantes sobre as hipóteses adotadas no modelo. Em primeiro lugar, buscou-se adotar um número conservador para os níveis de produtividade (10 mil barris/dia por poço produtor), dada a natureza cautelosa que uma avaliação sobre a atratividade econômica de projetos apresenta. Mas, de acordo com dados dos poços produtores operados pela Petrobras no Pré-sal, o nível médio de produtividade é de 20 mil barris/dia por poço produtor. Alguns poços, por exemplo, atingem o dobro desta produtividade. O seguinte gráfico ilustra a mesma curva apresentada no gráfico anterior, com a diferença de que a hipótese sobre o nível de produtividade é de 20 mil barris/dia. Neste caso, o preço que inviabiliza o projeto é de aproximadamente US$75/barril.

Gráfico 12- VPL em Diferentes Níveis de Preço do Barril de Petróleo (se produtividade a 20 mil b/d)

Fonte: Elaboração própria

Entretanto, mesmo assumindo uma hipótese de produtividade menos conservadora, o projeto continua sendo pouco flexível à variável preços, uma vez que o preço mínimo que

mantém a viabilidade do projeto é muito elevado. Entretanto, um segundo fator deve ser observado: custos. As hipóteses de custo adotadas refletem os níveis praticados antes do processo de forte queda dos preços do petróleo. Neste ponto é importante enfatizar a relação entre o nível de preços do petróleo e os custos de exploração e produção.

De acordo com Viegas (2012), é possível observar uma correlação entre o nível de preço do petróleo e os custos de E&P (apesar da natureza distinta entre eles). Enquanto os preços do petróleo possuem maior volatilidade, uma vez que dependem do comportamento do mercado financeiro, os custos são mais rígidos. Uma vez que os investimentos em E&P constituem projetos de longa maturação e contratos de longo prazo, variações momentâneas de preço não são capazes de afetar os custos. Entretanto, se a mudança para determinado patamar de preço for confirmada a médio e longo prazo, o ritmo de investimentos na cadeia passará a ser ditado por tal patamar e, consequentemente, uma nova relação entre oferta e demanda de equipamentos e serviços se configurará (o que afeta os níveis de preços dos mesmos).

Os atuais níveis de preço do petróleo não possuem a perspectiva de curto prazo de retornarem a níveis muito elevados e, portanto, é possível que a atual composição dos custos de E&P esteja apresentando uma queda. Vale salientar ainda que a cadeia do petróleo é intensiva em derivados do próprio produto e este aspecto intensifica os efeitos das variações de preço da commodity sobre os custos de E&P.

Assim, como foi observado para o caso do governmenttake, será avaliado como o VPL responde a diferentes níveis de produtividade. Fazendo uma análise análoga à apresentada anteriormente, é possível observar que o VPL é mais sensível aos diferentes níveis de produtividade do que o governmenttake. Para níveis de produtividade muito baixos, o VPL atinge valores negativos (o mesmo não ocorre para o governmenttake).

Gráfico 13 – VPL em Diferentes Níveis de Produtividade dos Poços

Fonte: Elaboração própria

No que se refere à resposta do VPL a diferentes níveis de custos (Opex e Capex) nota-se que, mesmo considerando a obrigação do governo em permitir que o consórcio se aproprie do custo em óleo, os custos exercem um considerável impacto sobre o VPL. O seguinte gráfico ilustra justamente como o valor apropriado pelas empresas de petróleo é afetado se os custos se revelam x% maiores que aqueles assumidos no cenário de referência.

Gráfico 14 - Impacto dos Custos Totais sobre o VPL

A partir da simples observação do mesmo, fica evidente que o projeto possui pouca flexibilidade no que se refere aos níveis de custo. Se os custos aumentarem em aproximadamente 5% com relação aos níveis previamente assumidos no modelo, o projeto se inviabiliza.

Finalmente, o seguinte gráfico ilustra como o VPL responde à proporção de petróleo presente no campo. Uma vez que o valor do gás natural é menor do que o do petróleo, quanto menor a proporção de petróleo no campo (ou seja, quanto maior a participação de gás natural) menor será a receita obtida pelo projeto e, consequentemente, o VPL verificado no modelo. Este fator é capaz de inviabilizar o projeto (dadas as hipóteses assumidas no modelo), caso o gás represente mais que 25% da reserva do campo.

Gráfico 15 – Impactos da Porcentagem de Petróleo/gás no Campo sobre o VPL

Fonte: Elaboração própria

3.3. Análise de Sensibilidade do Projeto sob o Regime de Concessão: uma Comparação dos