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2.2 DIFERENTES ABORDAGENS DOS ESTUDOS DE VALORES

2.2.3 Valores e comportamento

Valores são estruturas gerais que guiam o comportamento das pessoas. (PORTO, 2008). A ativação do valor pode ser consciente ou inconsciente. Quanto maior a consciência, mais relacionado está a um comportamento. Aspectos relacionados a valores em determinada situação podem ativar valores (ex.: uma proposta de emprego pode ativar o valor de superação e de segurança). Se se tratar de um valor prioritário, a chance de incentivar um comportamento aumenta. Focalizar a atenção em si mesmo também aumenta a ativação dos valores, que são centrais ao autoconceito. Ao ativar os valores, eles influenciam o comportamento e isso é relevante. Os valores, como fonte de motivação, como as necessidades básicas, induzem a possíveis ações (SCHWARTZ, 2006).

Agir torna-se mais atraente quanto mais essa ação viabiliza o atingimento dos objetivos do valor priorizado. As pessoas que valorizam a estimulação provavelmente seriam atraídas por uma oferta de um trabalho mais desafiador, enquanto que os que valorizam a segurança possivelmente veem essa oferta como ameaçadora. Os valores de alta prioridade são centrais ao conceito de si mesmo. Ao sentir uma possibilidade de atingir e obter esses valores, automaticamente se ativa uma resposta positiva a ações que servirão a esse propósito. E ao sentir uma ameaça aos valores prioritários, automaticamente se responde com ações que o evitariam. Os valores influenciam a atração por ações, mesmo sem a consciência de pesar os prós e contras e suas consequências. Raramente nos damos conta da influência de nossos

valores quando escolhemos a que programas assistir na TV, por exemplo. O pensamento consciente pode posteriormente modificar a atração por ações, ao trazer suas muitas consequências à mente (ex.: o impacto que aceitar um novo emprego traria à família) (SCHWARTZ, 2006).

Valores básicos também afetam as ações através das atitudes subjacentes. Mesmo quando os valores motivam as pessoas, elas provavelmente não agirão, a não ser que acreditem que têm a capacidade de atuar de modo a gerar os resultados esperados. Os valores prioritários são objetivos que levam as pessoas a buscarem aspectos relevantes desses valores nas situações. Uma mulher pode aceitar a oportunidade de emprego por seu senso de autodeterminação. Outra pode rejeitá-lo pelos limites que essa oferta impõe à sua vida social. Cada uma define a situação à luz de sua prioridade de valores.

Cada interpretação sugere uma linha diferente de ação como a desejada. A priorização de valores influencia o peso que cada pessoa dá a cada fator. Mesmo se ambas mulheres reconhecerem as mesmas oportunidades e limites, o peso que dão a eles vai depender de suas priorizações ou hierarquias de valores. Objetivos mais importantes induzem a uma motivação mais forte para planejar detalhadamente (SCHWARTZ, 2006).

Quanto maior a prioridade dada a um valor, maior a probabilidade de que as pessoas farão planos de ação que levem à expressão desse valor em comportamentos. O planejamento faz as pessoas enfocarem mais nos prós que nos contras da ação desejada. O planejamento incrementa a crença em suas habilidades em atingir o valor desejado e aumenta a persistência em face a obstáculos e distrações. Ao promover o planejamento, a importância do valor aumenta os comportamentos consistentes a esse valor (SCHWARTZ, 2006).

Rohan crê que os sistemas de valores são fundamentais para o entendimento das atitudes e dos comportamentos. Ela defende que valores pessoais são construtos incluídos numa proposta para o processo pelo qual as prioridades de valores causam decisões atitudinais e de comportamento e não são apenas para a sobrevivência. A relação entre valores e comportamento é mais ampla do que a proposta por Schwartz (1992, 2006) e inclui valores sociais, visão de mundo e ideologia (ROHAN, 2000).

O Interacionismo Simbólico é uma abordagem distinta da proposta por Schwartz (1992) e Rohan (2000) para compreender o comportamento humano: a realidade é vista como social, desenvolvida na interação com os outros (BLUMER, 1969). As pessoas não respondem a uma realidade física, mas a seu entendimento e interpretação dessa realidade.

Os seres humanos existem num mundo composto de objetos físicos, sociais e abstratos. Os indivíduos e a sociedade são criados pela interação social, e os termos indivíduo

e sociedade somente podem ser entendidos se pensados no mesmo contexto. O comportamento não é definido por forças do ambiente físico ou por forças interiores, como motivações, mas pela interpretação dos significados socialmente construídos (MELTZER; PETRAS; REYNOLDS, 1975).

Joel Charon organizou as cinco ideias centrais que embasam o Interacionismo Simbólico (MARSHALL, 1998):

1) o ser humano deve ser entendido como um ser social. É a constante busca por interação que nos leva para o que somos. Em vez de se concentrar na personalidade ou nos comportamentos derivados da situação social, o foco está nas atividades que existem entre os atores. A interação é a unidade básica do estudo. Os indivíduos são criados na interação e a sociedade é criada na interação. O que fazemos depende da interação com os outros desde muito precocemente em nossas vidas, e segue dependendo ao longo da vida toda; 2) o ser humano deve ser visto como um ser pensante. As ações não são se esgotam

na interação entre indivíduos, mas também são decorrentes da interação do indivíduo consigo mesmo, por meio do pensamento contínuo. Não somos somente condicionados, ou influenciados, ou produtos da sociedade. Somos animais pensantes, sempre em conversação conosco mesmos e com os outros; 3) os seres humanos não percebem seu ambiente objetivamente, mas definem a

situação na qual se encontram. O ambiente pode de fato existir, mas é a nossa definição do ambiente que é determinante. Tal definição acontece com base na interação social e no pensamento, ambos contínuos;

4) a causa da ação humana é o resultado do que está ocorrendo na presente situação. A causa se desdobra na interação social presente, no pensamento presente e na definição presente. Não se trata das interações, pensamentos e significados do passado, que somente têm pertinência ao se relacionar com fatos do presente.

5) os seres humanos são seres ativos em relação a seus ambientes. Palavras como condicionamento, resposta, controle, aprisionamento e formação não são utilizadas para descrever o ser humano, segundo a perspectiva do Interacionismo Simbólico (JOEL, 2004).

Ao analisarmos os diferentes autores citados, observamos que cada um explicita o comportamento de maneira diferente.

Para Thomas e Znaniecki, o que influencia o comportamento são as atitudes do indivíduo e as atividades em relação ao objeto, uma vez que o objeto seja reconhecido como valor social. É a atitude favorável a esse valor social que ratifica que aquele valor social é um valor para o indivíduo.

Como visto anteriormente, para Schwartz, os valores são fatores desenvolvidos pelo ser humano em sua busca de adaptação e sobrevivência. Existem três questões humanas universais, às quais indivíduos e sociedades devem responder: a) necessidades biológicas individuais, b) requerimentos coordenados de interação social e c) bem-estar e sobrevivência do grupo. Para Schwartz, os valores orientam a tomada de decisão e a percepção que o indivíduo tem de determinadas situações, como diante de escolhas e dilemas.

Rohan (2000), ao criticar a abordagem evolucionária de valores, afirma que mais que guias para a sobrevivência, valores prioritários vão além da sobrevivência, diferenciando desejos e necessidades a partir de sua visão de mundo ou das crenças conscientes dos indivíduos sobre a maneira que o mundo é ou deveria ser. As soluções que as pessoas dão aos problemas influenciam seu foco motivacional e a estrutura para a investigação dos coordenadores fundamentais de comportamento.