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As opiniões acerca do projeto de lei 4330/2004 mostram-se divergentes, porquanto alguns são favoráveis, enquanto outros são desfavoráveis.

O Deputado Sandro Mabel justificou a propositura do projeto de lei diante da revolução na organização da produção, e consequentemente na organização do trabalho. Mencionou que a terceirização vem a ser uma das técnicas que têm maior crescimento, porquanto a empresa necessita concentrar-se em seu negócio essencial, bem como em oferecer um produto ou serviço de maior qualidade possível (MABEL, 2004).

Menciona ainda, que a realidade em que vivemos acabou por “atropelar” a legislação vigente, que visa, antes de qualquer coisa, proteger os trabalhadores, menosprezando a terceirização, referindo a necessidade de regulamentação desta,

a fim de definir as responsabilidades do tomador e do prestador de serviços. Ademais, destacou a necessidade de serem estabelecidos requisitos mínimos para exercício das prestadoras de serviço, a fim de que o trabalhador possua garantias de que as obrigações trabalhistas e previdenciárias sejam adimplidas, tendo como propósito a proteção do trabalhador.

Outros justificam a necessidade de aprovação do projeto de lei a fim de que seja afastada a insegurança jurídica que paira, tanto para empregados, como para tomadores e prestadores dos serviços de terceirização, aumentando, assim, a produtividade e os empregos.

Nesse aspecto refere Leone Pereira, dispondo que o Projeto de Lei ocasionará uma otimização da produção, bem como a diminuição dos custos, possibilitando que as empresas brasileiras sejam concorrentes no âmbito internacional. Menciona ainda acerca da proteção que o projeto de lei ocasionará aos empregados (PEREIRA, 2015).

Por outro lado, alguns argumentam a necessidade de ampliação das possibilidades de terceirização diante da tendência social de que as vagas de trabalho e emprego sejam suprimidas pelo próprio contexto social da modernidade, como uma tendência social de nossos dias, extinguindo os postos de trabalhos.

Conforme analisado no capítulo anterior, a terceirização de atividade-fim é vedada pela jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho – TST, esclarecendo que a terceirização somente pode recair sobre atividades-meio, como vigilância, serviço de limpeza de e conservação, ressalvando a existência de subordinação e pessoalidade da empresa tomadora dos serviços, editando, para tanto, a Súmula 331, sendo que na hipótese de contratação de empregado terceirizado para exercer atividade-fim, ocorrerá a terceirização ilícita.

Segundo leciona Cassar “a maioria dos trabalhadores terceirizados ou subcontratados são verdadeiros empregados das empresas tomadoras, disfarçados por contratos simulados com cooperativas, associações ou empresas oportunistas”.

Atualmente a possibilidade de terceirização das atividades-meio se justifica pela possibilidade de a empresa tomadora se ater à atividade-fim da empresa, a fim de aperfeiçoá-la, diante da competitividade e exigências cada vez maiores do mercado, transferindo a execução de atividades não fundamentais para o objetivo essencial da empresa.

O projeto de lei em discussão afasta o atual entendimento, dispondo em seu artigo 2º, inciso I que a terceirização poderá ser objeto de qualquer das atividades da empresa contratante pela empresa contratada, afastando a vedação disposta na Súmula 331 do TST, representando uma mudança considerável acerca do tema. Cabe transcrever o referido artigo:

Art. 2º Para os fins desta Lei, consideram-se:

I - terceirização: a transferência feita pela contratante da execução de parcela de qualquer de suas atividades à contratada para que esta a realize na forma prevista nesta Lei;

Um dos pontos que vem sendo amplamente discutido trata-se da possibilidade de terceirização de serviços da educação e da saúde, serviços de extrema significância, em sendo aprovado o Projeto de Lei 4330/2004, conforme se depreende da redação do artigo acima citado.

Já a definição de prestador está elencada no inciso III do supracitado artigo, deferindo que: “as associações, sociedades, fundações e empresas individuais”, ressaltando, ainda, a necessidade de que “sejam especializadas e que prestem serviços determinados e específicos relacionados a parcela de qualquer atividade da contratante e que possuam qualificação técnica para a prestação do serviço contratado e capacidade econômica compatível com a sua execução”. Portanto, resta mantida a necessidade da contratada ser pessoa jurídica, excluindo a possibilidade de aplicação da legislação trabalhista na relação entre a contratante e a contratada.

Segundo o disposto no artigo 4º do PL 4.330/2004, será configurado o vínculo empregatício com a empresa contratante, caso estejam presentes os requisitos dispostos nos artigos 2º e 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, hipótese pela

qual o contratante será responsabilizado pelas obrigações decorrentes do vínculo, tanto trabalhistas, como tributárias e previdenciárias. No entanto, conforme previsto no § 2º do citado artigo, esta regra não se aplica nas relações em que a contratante for empresa pública ou sociedade de economia mista, bem como suas subsidiárias e controladas, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Inúmeras foram as manifestações contrárias ao projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados. O ministro do TST, Antônio José de Barros Levenhagen, manifestou-se contrário à proposta de regulamentação da terceirização, referindo que, se aprovado o projeto em debate, haverá um aumento de demandas trabalhistas, bem como “não dará segurança jurídica às empresas”. Refere ainda, que “os juízes trabalhistas terão muita dor de cabeça com as lacunas abertas e com a falta de parâmetros e de detalhamentos do documento” (PEDUZZI, 2015).

Conforme elencado pelo ministro, o teor do texto do PL 4.330/04 sequer preconiza sobre o limite de contratação de empregadores para exercício da atividade-fim, tampouco se o trabalhador terceirizado poderá ou não perceber salários inferiores a 80% do empregado efetivo, justificando o futuro acréscimo de ações na seara trabalhista, cabendo aos magistrados elucidar tais lacunas.

Em relação à responsabilidade solidária, dispõe o artigo 15º do PL 4.330/2004, que a empresa contratante somente se responsabiliza pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias decorrentes da execução do contrato, quais sejam:

I — pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso

semanal remunerado e décimo terceiro salário;

II — concessão de férias remuneradas e pagamento do respectivo

adicional;

III — concessão do vale-transporte, quando for devido;

IV — depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS;

V — pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos

empregados dispensados até a data da extinção do contrato de terceirização;

VI — recolhimento de obrigações previdenciárias.

O ministro Antônio José de Barros Levenhagen destaca, ainda, que os processos tornar-se-ão morosos, tendo em vista que o texto do PL 4.330/2004

primeiramente refere acerca da subsidiariedade e depois em solidariedade, portanto, nas demandas envolvendo trabalhadores terceirizados “será aberta mais uma etapa de discussões, primeiro, para analisar a subsidiariedade, a fim de saber se houve culpa. Só depois será invocado o critério da solidariedade, o que dará margem a um número ainda maior de ações trabalhistas”.

Conforme referido pelo ministro, verifica-se que, em que pese o artigo 15º do projeto de lei menciona a responsabilidade solidária da empresa tomadora em relação às obrigações trabalhistas e previdenciárias, o artigo 16º preconiza a necessidade de o tomador, ou seja, a empresa contratante, de fiscalizar mensalmente o pagamento de pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal remunerado e décimo terceiro salário; concessão de férias remuneradas e pagamento do respectivo adicional; concessão do vale-transporte, quando for devido; depósitos do FGTS; pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados dispensados até a data da extinção do contrato de terceirização, bem como o recolhimento de obrigações previdenciárias, sendo que desta análise se extrai a ideia de responsabilidade subsidiária.

Portanto, somente se comprovada a falta de fiscalização dos pagamentos referidos no artigo 16 do projeto, a empresa tomadora poderá ser condenada ao pagamento das verbas elencadas no artigo 15º do projeto, em não sendo comprovada a falta de fiscalização da empresa tomadora, pressupõe-se que esta estará isenta de responsabilização, sendo nítido o prejuízo que este artigo causará aos empregados, ou seja, estaremos diante de um retrocesso às normas e princípios basilares do direito do trabalho.

Conforme leciona Castro (2000, p. 149-150), quando o TST editou a da súmula 331, este adotou a responsabilidade subsidiária nas relações lícitas de terceirização, referindo, in verbis:

A responsabilidade subsidiária está contida na redação do Enunciado 331 do TST com o objetivo de garantir a aplicação das normas do Direito do Trabalho nas hipóteses de existência de terceirização. Estando a tomadora presente na ação desde o seu início, será responsabilizada pelo inadimplemento das verbas decorrentes da relação de emprego havida entre o trabalhador e a empresa que

tenha lhe prestado serviços ligados à atividade-meio. Essa responsabilização subsidiária garantirá a satisfação do crédito do trabalhador se a empresa prestadora de serviço não for encontrada, se essa não possuir patrimônio ou se este for insuficiente.

Em sendo aprovado o projeto de lei 4.330/04, repousará sobre o empregado, parte hipossuficiente da relação, uma insegurança jurídica. Se houver o fechamento da empresa terceirizada, do dia para a noite, o que é comum atualmente, mesmo que estejam preenchidos os requisitos do artigo 6° do PL, que prevê a necessidade de ser pessoa jurídica com registro na Junta Comercial e capital social condizente com o número de funcionários, o empregado estará desamparado.

Ademais, Luiz Antonio Colussi, diretor da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho do RS (Amatra/RS), afirma que o PL 4.330/2004 vem a ser um "retrocesso" para os empregadores, bem como que sua aprovação poderá gerar efeitos desfavoráveis à economia. Sobre este último, refere que havendo uma diminuição dos salários, consequentemente ocorrerá uma diminuição da arrecadação dos tributos, uma vez que este empregado reduzirá seus gastos e consumos, o que acaba por gerar, desde já, uma preocupação no Congresso Nacional (MELLO, 2015).

Conforme analisado no primeiro capítulo, inúmeras foram as lutas dos trabalhadores para alcançar os direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988 e na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com a flexibilização das relações de trabalho, tais conquistas acabam por ser ameaçadas. Conforme refere o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), Francisco Rossal de Araújo, o projeto propicia fraudes, mencionando que: “Lidamos com isso todos os dias. É muito comum vermos empresas desaparecerem e os trabalhadores ficando sem salários e Fundo de Garantia. Isso é muito triste, porque são danos a longo prazo” (RELF, 2015).

A aprovação do Projeto de Lei 4.330/2004 pela Câmara dos Deputados ocasionou grande repercussão, foram realizadas inúmeras manifestação desfavoráveis ao projeto. No dia 30 de maio de 2015, foi promovido um debate acerca do PL 4330/04, pela CUT-RS, CTB-RS, Anamatra, Amatra IV, Abrat, Agetra e

Sinpro/RS, com representantes de diversas categorias, no qual mencionou Dr. Rodrigo Trindade de Souza, juiz do Trabalho e vice-presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho da IV Região (Amatra IV), que apenas as pessoas que não vivenciam o mundo do trabalho confiam que a ampliação da terceirização é benéfica, porquanto esta prática trata-se de uma forma de “alugar pessoas”. Ainda, apresentou os seguintes dados: os terceirizados ganham 24% a menos, tem uma jornada de trabalho com três horas a mais, são 80% dos acidentados no trabalho e de cada 5 mortes, quatro são com trabalhadores terceirizados (MACHADO , 2015).

Outrossim, Eugênio Terra, Presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), afirmou que o projeto é um retrocesso para toda a sociedade, não apenas para o Direito do Trabalho, referindo que: “O Projeto de Lei 4.330 é um retrocesso no avanço civilizatório, não sendo admissível a precarização do mercado de trabalho pelos prejuízos que serão causados a toda sociedade” (SILVEIRA, 2015).

Outra importante discussão vem a ser a possibilidade da chamada quarteirização, ou seja, a possibilidade de contratação empresa terceirizada pela prestadora de serviços, para a realização de serviço técnico ou especializado para a empresa tomadora, assegurando o cumprimento das cláusulas do contrato de terceirização. Esta disposição está prevista no artigo 3º, §2º do projeto em análise.

Em relação a expansão da terceirização à administração pública direta, autárquica e fundacional, houve a alteração do texto que previa isso, este ponto foi retirado da matéria, porquanto houve um entendimento dos parlamentares de que esta disposição estaria contrariando a Constituição Federal de 1988, que prevê expressamente a realização de concursos.

Por derradeiro, é necessária uma análise constitucional do Projeto de Lei em debate, se este fere os princípios e garantias instituídos na Constituição Federal de 1988 em prol dos empregados, o que será analisado adiante.

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