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Vantagens e Limitações

No documento Confiança em votação electrónica (páginas 32-36)

1. Introdução

2.2.3. Vantagens e Limitações

A VU é um sistema que apresenta já uma maturidade e quantidade de utilizações elevadas que lhe conferem um elevado grau de confiança à vista de todos. No entanto este sistema de votação apresenta ainda certas limitações, ao nível da garantia dos requisitos e na comparação com outros sistemas de votação, que dificilmente serão alvo de correcção.

Começando pelas limitações e no que diz respeito ao cumprimento dos requisitos apresentados pode-se constatar o seguinte:

A autenticidade, que visa garantir que apenas pessoas com as devidas permissões (recenseadas) possam votar. Pretende-se garantir este requisito através da identificação perante a mesa de voto, que pode ser contornada. O método de autenticação está longe de ser seguro pois é permitido à pessoa que se identifique com o número de eleitor e bilhete de identidade, caso o tenha consigo, ou por qualquer outro documento oficial

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com fotografia [Mendes e Miguéis 2001], sendo os mais utilizados o cartão de cidadão, título de residência, título de identificação militar, carta de condução ou passaporte. Todos estes documentos podem ser utilizados por outras pessoas que não os proprietários com o intuito de votar em nome destes. Perante essa situação a única maneira de levantar suspeitas seria pela pequena fotografia que todos estes documentos contêm, que normalmente, devido às alargadas datas de renovação dos mesmos, se encontra desactualizada. Menos comum, mas que também levanta graves questões de segurança, é a possibilidade de um eleitor poder não apresentar nenhum documento de identificação e mesmo assim poder votar, desde que este seja identificado por outros dois cidadãos eleitores que atestem sob compromisso de honra a sua identidade [República 2005]. A resolução desta quebra poderia ser conseguida pela implementação da autenticação por meio mais seguro, como uma combinação entre palavra-chave e biometrias, que poderiam provar de forma mais robusta que a pessoa em causa é o real detentor do direito de voto que pretende exercer. É claro que esta situação levantaria outras questões relacionadas com os custos de implementação do sistema e o aumento da morosidade do processo, bem como tornava o SVU num SVE;

A não-coercibilidade, que visa garantir que ninguém consegue provar em que opção votou (requisito com o propósito principal de evitar a venda de votos ou a violentação da vontade individual de opção) é outro requisito que pode estar em causa no sistema de votação em urna. Apesar de, no momento exacto da votação, ser mais complicado provar qual a opção de voto, com o avanço das tecnologias e os dispositivos móveis de captura de imagens serem cada vez mais simples, qualquer pessoa, estando sozinha na câmara de voto, pode registar imagens do seu boletim de voto com a sua opção seleccionada, podendo até transmitir em tempo real essas informações para o exterior para outras pessoas. Apesar de mais raro e sem registos de ocorrências em Portugal, é também possível em alguns locais que os eleitores, por opção própria, transmitam a sua intenção de voto pela televisão e é permitido o acesso da comunicação social à zona da cabine de voto [Mercuri 2001]. Isto é um problema que põe em causa o referido requisito, e que também apresenta grandes dificuldades em ser combatido pois os dispositivos de captura de imagem são cada vem mais pequenos e indetectáveis. Porém

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este é um problema que alcança proporções ainda maiores quando o sistema é de votação electrónica, mais especificamente a remota – como se discutirá na secção da Não-coercibilidade;

A Integridade do voto e a Verificabilidade/Auditabilidade visam garantir, respectivamente, que o conteúdo dos votos não é alterado nem eliminado durante e depois das votações, que o sistema pode ser auditado e que é possível provar que todos os votos foram devidamente contados. Estes requisitos têm a sua garantia de cumprimento nas mãos da mesa de voto e demais intervenientes nestas operações. Apesar de ser uma situação complexa, pois a mesa de voto é constituída geralmente por elementos afectos a ―lados opostos‖ da votação, a verdade é que pode existir uma associação fraudulenta entre os vários intervenientes e até equipas externas de auditores que podem pôr em causa o cumprimento destes requisitos através da alteração dos votos em fases mais restritas das eleições, onde apenas estes elementos estão presentes. Esta é uma situação que se pode sempre melhorar com a introdução de novas pessoas, rotatividade de funções e aumento do número de presentes, mas a verdade é que existe sempre esta possibilidade.

Além destas questões relacionadas com os requisitos, a votação em urna apresenta também outras desvantagens em relação a outras arquitecturas. Alguns investigadores referem as seguintes:

Votos contados manualmente proporcionam ao processo de contagem uma maior probabilidade de erro devido à intervenção humana [Frith 2007] e tornam o processo muito mais demorado – num SVE procede-se muito mais rapidamente à contagem dos votos e reduz-se o erro de contagem devido à intervenção humana na contagem;

Requerem o transporte seguro dos boletins de voto, votos e outros documentos - SVEs não implicam grande parte desses custos;

Preparação prévia dos locais de voto, distribuição dos boletins de voto pelas várias localidades – SVEs, principalmente remotos, não implicam esses custos.

Os boletins de voto em papel ―sofrem‖ de falloff (há estudos que indicam que as opções colocadas nas posições finais do boletim têm menor probabilidade de serem escolhidas)

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[Costa 2006] - os SVE conseguem facilmente gerar boletins de voto com posições aleatórios para os candidatos, coisa que também poderia ser feito para os boletins de votação em papel mas que implica um esforço muito maior.

Problemas de acessibilidade como a disposição confusa da informação no boletim, fontes pequenas ou a existência de apenas uma linguagem [Costa 2006] - todos estes problemas são hoje facilmente resolutos com SVEs, tornando-se mais complexa a sua implementação na VU.

É uma votação presencial o que faz com que as pessoas tenham que se deslocar a um local específico para poderem votar - esta é uma questão impossível de resolver neste tipo de arquitectura, sendo que apenas a VER apresenta uma alternativa a esta característica.

No entanto, como já foi referido, e apesar dos problemas encontrados – alguns dos quais já têm propostas de solução, outros para os quais ainda não se encontrou uma solução prática – o SVU continua a ser o sistema mais utilizado para a realização de votações nacionais para eleição de representantes governamentais, e como tal uma referência para todos os sistemas que possam surgir, como os sistemas que serão apresentados seguidamente. A quantidade de vezes que foi utilizado e testado, a materialização do processo (que também pode ser indicativo de que este é um sistema antiquado) e principalmente o facto de qualquer pessoa poder se grandes conhecimentos atestar a qualidade do sistema simplesmente observando as várias fases, constituem-se como os principais factores para este ser um sistema de votação aceite, no qual a generalidade dos eleitores confia sem grandes restrições ou questões.

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