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2.2 Delimitação do Corpus

2.2.3 Variáveis controladas

Devido à complexidade articulatória dos róticos – classe dos sons do fonema /r/ – estudar as suas realizações constitui-se um fenômeno relevante, pois apresenta uma gama de variantes: [Ȏ, x, dz, h, Ƕ, ȉ, r]. Em nossa pesquisa, levamos em consideração, também, o seu apagamento (zero fonético), ou seja, a ausência de articulação, a saber:

a) Vibrante alveolar (ou múltipla) – [r] – “carro” – [‘karu] b) Tepe alveolar (ou simples) – [Ȏ] – “caro” – [‘kaȎu]

c) Fricativa velar – [x], [dz] – “carta”, – [‘kaxta], “corda” [‘kǤdzda] d) Fricativa glotal – [h], [Ƕ] – “porta”, – [‘pǤhta], “corda” [‘kǤǶda] e) Retroflexa alveolar – [ȉ] – “porta” – [‘pǤȉta]

f) Zero fonético (não realização) – [Ø]- “amor” [a’moØ], “falar” [fa’laØ]

Foram controladas, três variáveis sociais e cinco lingüísticas.

2.2.3.1Variáveis sociolingüísticas

As variáveis sociolingüísticas selecionadas para análise foram: – Faixa etária;

– Grau de escolaridade; – Sexo.

2.2.3.2Variáveis lingüísticas

Ao lado das variáveis sociais, levamos em consideração as variáveis lingüísticas, procurando estabelecer possíveis correlações entre as variantes do r e os condicionadores fonéticos adjacentes, como:

– Tonicidade da sílaba que contém o fonema; – Dimensão do vocábulo;

– Classe do vocábulo;

– Natureza do contexto fonológico precedente (vogal nasal, oral, consoante ou pausa);

– Natureza do contexto fonológico subseqüente (vogal nasal, oral, consoante ou pausa).

Posteriormente, estas ocorrências foram distribuídas por quatro contextos: – CONTEXTO 1 – (pré- vocálico inicial) – rosa – /’rǤza/-[‘hǤza]

– CONTEXTO 2 – (intervocálico) – caro/carro – /’kaȎu/-[‘kaȎu], /’karu/-[‘kahu] – CONTEXTO 3 – (pós-vocálico medial) – carta, corda – /’kaRta/-[‘kahta],

/’kǤRda/-[‘kǤǶda]

– CONTEXTO 4 – (pós-vocálico final): mar – /’mar/ – [‘mah], [‘ma∅] Por exemplo – /por e’zêplu/ – [poȎe’zêplu], [po∅e’zêplu] mar calmo /’mar ‘kałmu/ – [mah‘kawmu] [maØ’kawmu]

2.3Coleta de Dados

A pluralidade de variantes, através das quais os fonemas /r/ e /Ȏ/ se manifestam, é analisada na fala fortalezense, levando-se em conta, além do aspecto contrastivo, presença versus ausência dos fonemas, a questão da norma de uso em seus contextos.

Na constituição do corpus do nosso trabalho foram utilizados os mesmos questionários do Atlas Lingüístico do Brasil (com adaptações), elaborados pelos membros do Comitê Nacional, testados e revistos pelos mesmos, procurando alcançar um nível de adequação e propriedade compatíveis com as necessidades de um projeto como o ALiB, de âmbito nacional.

Todas as questões têm uma formulação inicial, de modo a assegurar um grau razoável de uniformidade necessário à intercomparabilidade dos dados obtidos, acrescentando-se, em alguns casos, gravuras que visam a auxiliar o desenvolvimento do inquérito, conforme modelo em anexo. O número que vem após cada pergunta do questionário adaptado corresponde ao número da mesma pergunta no questionário de origem, versão 2001 do Projeto ALiB.

Para a coleta de dados, utilizamos gravador portátil mini cassete RQ-L11 – marca Panasonic, com microfone multidirecional embutido. Apesar de a qualidade ser boa, geralmente as fitas cassetes, originais ou cópias, apresentam ruídos provenientes, às vezes, do ato liga/desliga do gravador durante a entrevista, ou ainda outros tipos de problemas relacionados à percepção das características da fala, tais como: timbre, distância entre o microfone e o informante, variabilidade da velocidade (pilhas, fonte elétrica), dentre outros. As fitas cassetes foram digitalizadas através do Programa Sound Forge que permite limpar e reduzir ruídos, melhorando a qualidade das mesmas.

2.3.1Instrumentos de pesquisa

Como instrumentos de pesquisa foram utilizados do Projeto ALiB: – Ficha da Localidade

– Ficha do Informante (com adaptações)

– Questionário Fonético Fonológico (QFF) – com 159 questões – Questionário Semântico Lexical (QSL) – com 207 itens – Temas para Discursos Semidirigidos (TDS)

– Perguntas Metalingüísticas (PM) – Texto para Leitura

Ficha da Localidade foi preenchida no início da pesquisa. Como se trata de um só local, os dados essenciais e mais atualizados, tais como: número de habitantes, um pequeno histórico, dentre outros, estão reunidos, em anexo, sob o título – A Cidade de Fortaleza.

A Ficha do Informante foi preenchida em duas etapas. A primeira (questões 1 a 37), antes do início da gravação da entrevista. Contém, além de dados pessoais do informante (nome, alcunha, endereço, data do nascimento, naturalidade, escolaridade, estado civil, sexo),

naturalidade e profissão dos pais e do cônjuge, questões que se referem ao contato do informante com os meios de comunicação – rádio, TV, jornal, revistas, à sua participação em diversões locais e ao tipo de religião ou culto que pratica. A segunda etapa (questões: 38 a 49), preenchida após a gravação da entrevista, contém informação do inquiridor sobre características psicológicas do informante, tais como: espontaneidade, postura, grau de conhecimento entre ele e o inquiridor e pequeno comentário sobre o ambiente do inquérito (a interferência de circunstantes e suas características, ruídos), encerrando com local, data e o nome do inquiridor.

A partir do Questionário Fonético-Fonológico (doravante identificado por QFF) foi nossa proposta pesquisarmos, dentre outros aspectos, as diferentes realizações do /r/ e /Ȏ/ em posição inicial, intervocálica, medial e final do vocábulo, ora como fricativa, ora como aspirada, ora como vibrante, ora como retroflexa, ou ainda o seu apagamento, indicando marcas diferenciadoras regionais / sociais.

No QFF, a pergunta foi formulada de forma bem objetiva porque somente uma resposta deveria ser aceita. Das 159 perguntas interessaram-nos particularmente as que tinham como objetivo elicitar palavras contendo a consoante vibrante, como por exemplo: 1. TERRENO; 2. PRATELEIRA.

No Questionário Semântico-Lexical – QSL, as respostas são livres e nos permitiram obter o maior número possível de variantes faladas nessa comunidade. As perguntas deste questionário incidem sobre atividades do dia-a-dia e são agrupadas em esferas semânticas: acidentes geográficos, fenômenos atmosféricos, astros e tempo, atividades agro- pastoris, fauna, corpo humano, ciclos da vida, convívio e comportamento social, religião e crenças, jogos e diversões infantis, habitação, alimentação e cozinha, vestuário e acessórios, vida urbana.

Os Temas para Discursos Semidirigidos – (TDS) envolveram:

a) Relato pessoal (um acontecimento marcante da vida do informante); b) Comentário sobre os programas de televisão de que ele gosta mais; c) Descrição de sua atividade ocupacional;

Perguntas Metalingüísticas – (PM) – Nesta parte da entrevista o informante denomina a língua que fala (Questão 01), e tem a oportunidade de demonstrar se tem conhecimento de diferenças lingüísticas distópicas ou regionais (Questões de 02 a 05), ou diageracionais, que dizem respeito à faixa etária. (Questão 06).

Texto para Leitura – Parábola dos Sete Vimes – tradicionalmente utilizada em inquéritos fonéticos com o objetivo de analisar a variação entre a emissão oral e a leitura.

2.4Transcrição do Material

Uma vez gravados os dados, procedemos à transcrição grafemática e fonética dos mesmos.

- Transcrição grafemática do material

Na transcrição grafemática foi utilizada a fonte Times New Roman, tamanho 12 e, sem muitos detalhes quanto às marcas de oralidade, uma vez que isto é feito na transcrição fonética. Foram transcritos os itens que são objetos da questão e o contexto em que estão inseridos, ou seja, um vocábulo antes e um depois, a não ser que sejam separados por pausa. Como a transcrição fonética, a grafemática, também, tem suas convenções e/ou normas. Simplificando a transcrição grafemática, foram propostos os seguintes critérios:

a) Utilizar as normas de pontuação em vigor;

b) Não registrar graficamente os alongamentos vocálicos; c) Utilizar as reticências [...] para os casos de hesitação da fala; d) Assinalar:

- Os trechos em dúvida entre parênteses. Ex.: [...] - Os trechos ininteligíveis com (inint).

- Transcrição fonética do material

A transcrição fonética do material foi baseada na impressão auditiva. São muitos e diferentes, os alfabetos utilizados na descrição e no registro das línguas. Atualmente, o mais

utilizado, no mundo inteiro, é o Alfabeto Fonético Internacional da Associação Internacional de Fonética (IPA), fundada em 1886. Para a nossa transcrição fonética utilizamos alguns símbolos do IPA – 14, com adaptações necessárias ao nosso corpus, conforme lista de símbolos, constante no início deste trabalho. Foram transcritas todas as variantes emitidas pelo informante.