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VARIÁVEL DEPENDENTE E VARIÁVEIS INDEPENDENTES

3 O ESTUDO PIONEIRO DE WILLIAM LABOV, DESENVOLVIDO NA ILHA DE

5.3 VARIÁVEL DEPENDENTE E VARIÁVEIS INDEPENDENTES

Na Teoria da Variação é precípua a relação entre linguagem e sociedade. É necessário, pois, considerar a linguagem em seu contexto social, a fim de que possamos apontar o efeito que as características sociais podem exercer sobre o desempenho linguístico do falante.

A variação da língua pressupõe a existência de escolhas linguísticas alternativas chamadas

variantes. Essas variantes são, de acordo com Labov (2008, p. 313), “a opção de dizer a

mesma coisa de várias maneiras diferentes, isto é, as variantes são idênticas em valor de verdade ou referencial, mas se opõem em sua significação social e/ou estilística”. Podemos, pois, definir variantes como as diversas formas de escolhas linguísticas, as quais se configuram em um fenômeno variável, que, por sua vez, recebe o nome de variável dependente.

A escolha das formas variantes não se dá de maneira aleatória, conforme aponta Scherre (1996, p. 40), em consonância com Labov, quando a autora aduz também que a variação da língua não é aleatória. E acrescenta “que os fenômenos lingüísticos variáveis, aqueles expressos por duas ou mais variantes, apresentam tendências regulares, passíveis de serem descritas e explicadas por restrições de natureza lingüística e não-lingüística”. A escolha das formas variantes se dá por influência dos grupos de fatores, também chamados de variáves

independentes. Essas variáveis podem ser de natureza interna (linguística) e externa

(extralinguísticas). Tanto uma quanto a outra influenciam sobremaneira o uso das escolhas linguísticas, podendo intensificar ou diminuir a frequência de sua ocorrência na fala.

A seguir mostraremos a variável dependente e as variáveis independentes selecionadas para este trabalho: para a variável dependente, foram controladas cinco possibilidades de variantes:

você (explícito), Ø de você (não-explícito), cê (explícito), Ø de cê (não-explícito), ocê

5.3.1 Variável dependente

Exemplos:

a) Você explícito: (Informante 5) - Eu gosto de ouvir você contar seus casos, viu? Mas Raul, você é um cara super alegre, onde você chega assim [...]

b) Cê explícito: (Informante 5) - Eu conheço esses músicos mais velhos: Papel, Rodrigo... Cê conhece Rodrigo Tristão? Ele tava lá na Abralin

(Informante 1) - Alguns eu conheço [...]

c) Te: (Informante 40) - Olha, é: é aquilo que eu te falei: ônibus eu tô meio por fora. Até preço de passage eu tô por fora.

d) Você implícito (antes do segundo verbo fazer):

(Informante 1) - Não que esse à vontade seja pra você fazer bagunça, Ø fazer baderna.

e) Cê implícito (antes do verbo ficar): (Informante 1) - Aí cê vai outro lugar que Ø fica a vontade.

f) Ocê explícito (Informante 14) - Cê viu que tanto de ônibus? Ó, começa su/ é... vem um-meia-um; um-meia-dois; um-meia-três; um atrás do outro. Aí vem um-oito- quatro; um-meia-quatro... Aí quando ocê chega aqui no quartel de Maruípe. saiu um-sete-um; um- sete-cinco e um-sete-dois, que sou eu.

g) Ocê implícito (antes do verbo olhar):

(Informante 14) - :Ah eles ligam um monte de coisa, é grande, fala um monte de coisa. Eu acho bonito o salmo 91. Se cês tivé uma Bíblia em casa, cês pega ocê vê os salmo e Ø olha o salmo 91. Ele é muito bonito, o salmo 91.

5.3.2 Grupos de fatores ou variáveis independentes

No grupo de fatores foram levados em consideração três aspectos, quais sejam: o social, o sintático e o semântico.

Os aspectos linguísticos controlados foram:

a) O aspecto sintático, dentro do qual selecionamos o sujeito; o complemento de preposição e o complemento sem preposição, com o intuito de observarmos qual posição sintática favorece o uso das variantes da variável dependente.

b) O aspecto semântico, para verificarmos a ocorrência do tipo de referência, se específica ou genérica.

Dentro dos fatores sociais, as escolhas das variáveis foram as seguintes:

a) A faixa etária:

A análise comparativa da linguagem entre pessoas de diferentes faixas etárias pode revelar diferentes estágios da língua. Segundo Oliveira e Silva e Paiva (1996, p. 350), a correlação entre idade e variação linguística aponta para duas possibilidades: uma diz respeito aos fenômenos variáveis, mas sem a ocorrência de uma mudança linguística e a outra é a existência de mudança na língua. Portanto, a variável faixa etária é um fator significativo para se observar se um fenômeno linguístico encontra-se em estado de variação estável ou de mudança na língua. Há uma hipótese de que pessoas de maior idade refletem a fala de anos atrás e as de menos idade refletem a fala atual. Com isso, é possível projetar o comportamento linguístico de falantes em um determinado momento.

Neste trabalho, os informantes foram divididos em faixas etárias com o objetivo de demonstrar se a diferença de idade interfere no emprego das variantes em análise e qual a tendência de uso de acordo com a idade.

Muitas pesquisas sobre variação e mudança linguística demonstram a existência de diferenças entre a fala de homens e mulheres, conforme postula Labov (2008, p. 281): “na fala monitorada, as mulheres usam menos formas estigmatizadas do que homens”.

Em se tratando de gênero, Labov (1990, p. 210, 213, 215) aponta alguns princípios sobre a influência da variável social gênero:

Princípio I: Em variáveis sociolinguísticas estáveis, homens usam uma frequência maior de formas não-padrão do que as mullheres.

Princípio Ia: Em mudança de cima (change from above), em níveis fortes de consciência, as mulheres favorecem a forma de prestígio inovadora mais do que os homens.

Princípio II: Em mudança de baixo (change from below), as mulheres são frequentemente as inovadoras.

Em síntese, em 1990, Labov coloca as mulheres como inovadoras. Na situação de mudança linguística as mulheres são mais propensas a usarem as formas inovadoras, quando estas não são percebidas. Os homens, por outro lado, tendem a usar as formas não-padrão quando se trata de uma situação de variação estável. Selecionamos a variável independente gênero para analisarmos o comportamento dos homens e das mulheres com relação ao uso da variável dependente, no sentido de responder qual deles possui a tendência de usar mais uma forma ou outra.

c) A escolaridade:

Naro (2003, p. 16) aponta que entre os fatores sociais a formação escolar é relevante para qualquer estudo da variação da língua. Oliveira e Silva e Paiva (1996, p. 337) citam o estudo de Labov desenvolvido com falantes de New York. O resultado do estudo aponta que o fator nível de escolarização pode estar ligado a variações fonológicas:

Falantes com mais escolarização empregam mais frequentemente as fricativas enquanto os menos escolarizados privilegiam africadas e oclusivas, formas não-padrão. Também a variação de –ing é condicionada pelo fator escolarização: falantes mais escolarizados usam menos a forma não-padrão, a pronúncia alveolar. (OLIVEIRA E SILVA; PAIVA, 337).

Com essa variável independente, em específico, o nosso objetivo é apontar qual é a tendência de uso das variantes da variável dependente de acordo com o grau de escolaridade, uma vez que o efeito da escolaridade pode, aliada aos outros fatores sociais, revelar a fala de uma mesma comunidade, apontando a ocorrência de variação da língua.

A expectativa é que, quanto maior for o nível de escolaridade, maior será a tendência de uso da variedade padrão, levando-se em consideração a hipótese de que os falantes com mais escolaridade tendem ao uso da variedade padrão, a exemplo dos resultados encontrados em Labov.