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Variabilidade e alterações associadas ao Oceano Pacífico

3. Justificativa do tema e universo de análise

3.2 Variabilidade e alterações associadas ao Oceano Pacífico

No contexto deste estudo, as variações e flutuações são discutidas sobre o viés conceitual da variabilidade. Tendo em vista, que as alterações climáticas verificadas no estado do Paraná estão relacionadas muito mais aos aspectos dos impactos dos padrões e modos de variabilidade interanual e decadais de escala global, do que com os mecanismos e atributos que produzem mudanças climáticas.

Sobre esses aspectos, Nogarolli (2007; 2010), ao estudar a possibilidade de mudanças climáticas no Paraná, subsidiado em 29 anos de dados, observou que ocorreram alterações climáticas tal como a evolução decorrente de fatores endógenos e exógenos. Para esse autor, a paisagem do Paraná foi amplamente transformada, principalmente pela expansão agrícola, industrialização e urbanização, além dos fatores associados aos elementos de ordem planetária, tais como: o aquecimento global, eventos de El Niño e La Niña, a ODP, etc.

Esses fatores, também, destacados por Souza e Nery (2002) e Grimm et al. (2007) como responsáveis pelas ‘mudanças climáticas’ no Estado, são entendidos, nesses casos, como produto dos aspectos da variabilidade interanual e decadal do clima

Segundo Grimm (2009a) e Grimm e Sant’Anna (2010), o impacto da variabilidade interanual sobre as chuvas no Paraná é maior na primavera, quando o El Niño se inicia, no que tange os totais, as médias e o número de dias com chuva.

Durante o verão, a variação da precipitação durante eventos El Niño e La Niña ocorre principalmente no sudoeste do Rio Grande do Sul e, deve-se, principalmente, à variação da quantidade de chuva média nos dias chuvosos (GRIMM e SANT’ANNA

(2010). Para os autores, essa configuração pode sugerir a importância do maior ou menor suprimento de umidade para a região.

Ainda, conforme os autores, as alterações observadas no inverno se dão especialmente na porção sudeste da Região Sul do ano seguinte ao início dos ENOS. Nesse período, o ENOS altera tanto na quantidade de chuva em dias chuvosos como no número de dias chuvosos, havendo relativa prevalência deste último (GRIMM e SANT’ANNA, 2010).

Nery et al. (1997) observaram que as flutuações interanuais mais significativas da precipitação no Paraná estiveram fortemente associadas às fases extremas da Oscilação Sul. Para os autores, as secas mais significativas ocorreram no inverno e, nem sempre estiveram associadas com a fase de La Niña.

Segundo os autores (1997), a característica mais importante na manifestação da Oscilação Sul foi a persistência das anomalias negativas e moderadas por vários meses, além da correlação de que em uma única fase da Oscilação Sul, positiva ou negativa, pode resultar tanto em precipitações positivas como em precipitações negativas.

Parizotto e Nery (2008), que procederam a análises de correlação entre os índices de precipitações mensais para a bacia do Paranapanema com as anomalias das temperaturas da superfície do mar no Pacífico Equatorial, notaram significativa influência dos índices de anomalias de TSM em relação aos índices de precipitação pluvial calculados para a referida área, após quatro meses do início dos eventos El Niño e La Niña para a maioria dos casos analisados.

Azevedo et al. (2005) e Azevedo (2006) investigaram a precipitação na bacia do rio Iguaçu, e afirmaram que a variabilidade pluvial dessa bacia está fortemente vinculada, particulamente, aos fenômenos El Niño e La Niña. Azevedo et al. (2005) mostraram que em anos de ocorrência de tais fenômenos, as anomalias máximas chegaram a registrar o total de 2600mm no ano de 1985 – ano de El Niño. A média da série histórica estudada foi de 1000mm de precipitação pluvial.

Na bacia do rio Ivaí, os ENOS ficaram tão bem marcados quanto na ocorrência de máximas de precipitação nos anos de 1982, 1983 e 1998 e, de mínimas nos anos de 1978, 1985 e 1988. As ocorrências dos fenômenos El Niño e La Niña podem explicar essa variabilidade pluviométrica, pois os anos de máximas e mínimas precipitações são considerados anos da ocorrência de tais fenômenos, com significativa influência em toda dinâmica da Região Sul do Brasil (ANDRADE e NERY, 2003).

Baldo (2006), ao estudar, também, a bacia do rio Ivaí, constatou que a variabilidade interanual indicou a ocorrência de valores excepcionais de pluviosidade, tanto negativos como positivos e, esses apresentaram certa correlação com o fenômeno ENOS. Segundo a autora, os eventos de El Niño interferiram com maior intensidade no aumento dos valores pluviométricos do que os eventos de La Niña, que indicaram uma tendência de redução dos totais pluviais.

Souza (2006), utilizando dados de 42 estações pluviométricas distribuídas no espaço paranaense, verificou que os anos com maior variabilidade interanual corresponderam aos de 1982/83 e 1997/98 (El Niño) e 1985 e 1988 (La Niña). Foi observado que esses fenômenos não afetaram o Paraná nas mesmas proporções, tal como foi observado na região Centro-Sul.

Em síntese, na variabilidade temporal da precipitação no Paraná indica a atuação da ZCAS (com influência mais ao norte do estado, principalmente em anos extremos), dos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis - VCANs6, dos Complexos Convetivos de Mesoescala - CCM7 e dos sistemas extropicais, tropicais, intertropicais e polares como moduladores nas escalas diárias, semanais, mensais e trimestrais.

A Oscilação 30-60 dias ou Oscilações Madden-Jullian - MJO 8, e as monções de verão9, estão presentes nas escalas sazonais; na escala anual e interanual o principal

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Vórtice Ciclônico de Altos Níveis - VCAN - também denominado baixa desprendida, é um sistema de baixa pressão fechada na troposfera superior que se desprende completammente do escoamento de oeste. Usualmente, essas baixas desprendem-se da região da corrente de jato e são advectadas para o lado equatorial do escoamento básico de oeste. Um VCAN, geralmente, inicia seu ciclo de vida como um cavado na média e alta troposfera. Comumente, apresentam-se como depressões localizadas nas latitudes médias e caracterizam-se por contornos fechados no campo de altura geopotencial com isotermas mais ou menos concêntricas em torno do núcleo central. (NIETO, et al 2008).

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Os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) são caracterizados como um conjunto de nuvens tipo cumulonimbus - frias e espessas, que apresentam um pdrão circular e crescimento vertical explosivo. Seu prazo de variabilidade é rápido, ponde registrar intervalos temporais entre 6 a 12 horas. São geralmente associados a eventos de precipitação intensa, acompanhados de fortes rajadas de vento (MADOX, 1980; SILVA DIAS, 1987).

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A Oscilação de Madden e Julian é sistema caracterizado por um deslocamento de oeste para leste de uma célula zonal de grande escala termicamente direta, que causa variações na convecção tropical e extratropicais. Essa oscilação faz com que os fenômenos meteorológicos se intensifiquem ou enfraqueçam durante a sua atuação, podendo influenciar e modular o regime pluviométrico na escala intrasazonal (KAYANO et al., 1996; MADDEN e JULIAN, 1971; 1972) .

9 Os sistemas monçônicos referem-se a uma reversão nos campos de precipitação e vento e, à circulação

monçônica como um sistema climático com reversão sazonal dos ventos sobre e ao redor dos continentes. As monções se desenvolvem sobre regiões continentais de baixas latitudes em resposta a mudanças sazonais no contraste térmico entre o continente e regiões oceânicas adjacentes, são os maiores componentes dos regimes de precipitação do verão continental. A estação de verão na América do Sul mostra aspectos típicos de climas produzidos por esses sistemas, com um ciclo sazonal de precipitação sobre e grandes contrastes entre o inverno e o verão (GARCIA, 2006; TANAKA et al., 2004; GRIMM et al., 2004).

modulador é o ENOS; e na escala decadal, a ODP10 tem sido apontada mediante alguns sinais de influência.

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ENOS e ODP são dois padrões de variabilidade observados no Oceano Pacífico. Ambos serão detalhados e explorados no decorrer da dissertação.

4. Procedimentos Teóricos, Analíticos e Metodológicos