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VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DO SOLO ADUBADO COM

LIMA, E.S.; SOUZA, Z.M.; MONTANARI, R.; LOVERA, L.H.; TORRES, J.L.R.; ESTEBAN, D.A.A.; OLIVEIRA, I.N.; BARTIERES, E.M.M. Spatial and temporal variability of soil and plant attributes after application of cellulose residue. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, Recife, v.13, n.4, p.e5598, 2018.

RESUMO

As indústrias de celulose e papel têm gerado altas quantidades de resíduos sólidos e efluentes, que vem sendo utilizados como condicionadores do solo e como fonte de nutrientes para melhorar os atributos químicos e físicos das áreas que vem sendo cultivadas com espécies florestais. O objetivo deste estudo foi analisar a variabilidade espacial e temporal do Eucalyptus

urograndis em função dos atributos químicos do solo sob aplicação de resíduo da celulose como

fertilizante agrícola. O Neossolo Quartzarênico foi adubado com o composto Lama de Cal + Oxyfertil, em seguida instalou-se uma malha experimental de 2,0 ha, contendo 50 pontos amostrais e posteriormente foram coletados atributos de planta e solos em três anos consecutivos no município de Três Lagoas. Os atributos químicos avaliados foram matéria orgânica (MO), potencial hidrogeniônico (pH), teores de fósforo (P), potássio (K+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), acidez potencial (H+ + Al3+), alumínio (Al3+), valores de soma de bases (SB), capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V%) e saturação por alumínio (m%) na camada de 0,00-0,20. A análise da estática clássica foi realizada por meio do software R e a geoestatística pelo GS+. Os atributos de solo P, K+, Ca2+ e Mg2+ apresentaram baixos teores nos anos avaliados, no entanto, esses teores são suficientes para que a cultura de eucalipto se estabeleça em solos arenosos. Por outro lado, ocorreu variabilidade espaço- temporal entre os anos avaliados, visto que para um mesmo nutriente o alcance foi diferente entre os anos.

Palavras-chave: Eucalipto, fertilidade do solo, geoestatística, resíduos sólidos, Neossolo Quartzarênico.

SPATIAL AND TEMPORAL VARIABILITY OF SOIL AND PLANT ATTRIBUTES AFTER APPLICATION OF CELLULOSE RESIDUE

Abstract

The industries of cellulose and paper have generated large amounts of solid waste and effluents which have been used as soil conditioners and source of nutrients to improve physical and chemical attributes of areas growing forest species. This study analyzes the spatial and temporal variability of Eucalyptus urograndis regarding the chemical attributes of soil treated with cellulose residue. The Entisol Quartzipsamment fertilization of an experimental area in the Três Lagoas county used a lime sludge/Oxyfertil compound with a 2.0 ha. Experimental grid containing 50 sampling points set up over it. Plant and soil samples were collected during three consecutive years (2014/2015, 2015/2016; 2016/2017). The assessment encompassed the following chemical attributes organic matter (OM); potential of hydrogen (pH); phosphorus (P), potassium (K+), calcium (Ca2+), magnesium (Mg2+) and aluminum (Al3+) contents; potential acidity (H+ + Al3+), sum of the bases (SB), cation exchange capacity (CEC), base

saturation (V%), and aluminum saturation (m%), at the 0.00-0.20 m layer. Classical statistical analysis was performed using R software while geostatistical analysis used GS+. Low P, K+,

Ca2+, and Mg2+ contents were indicated along the assessment period. OM and Al were the

attributes that presented spatial and temporal dependence for all evaluated years. Also, the measured levels are considered sufficient for eucalyptus to establish in sandy soils. We also verified the space-temporal variability since nutrient ranges changed during the assessed period.

4.1 INTRODUÇÃO

Plantações de espécies de eucalipto no Brasil estão entre as florestas mais produtivas do mundo. A indústria brasileira de plantio de árvores emprega uma área total de 7.840.000 hectares, representando 91% de toda a madeira industrial do país e 6,2% do produto interno bruto (PIB). Isso faz do Brasil um dos maiores produtores de madeira do mundo e o segundo maior produtor de celulose. A maior parte da área total, 5,7 milhões de hectares, está reservada para o cultivo de Eucalyptus sp.

Este aumento de área plantada é justificado pelo rápido crescimento e desenvolvimento do eucalipto, pela diversificação no uso da madeira produzida e pela facilidade de adaptação do eucalipto às diferentes condições edafoclimáticas, entretanto, a produtividade das plantações comerciais de eucalipto no Brasil ainda é bastante variável, que tem atingido a produtividade média de 60 m³ ha-1, em rotações de sete anos (GALINDO et al., 2018).

A produção de papel e celulose gera grandes quantidades de resíduos sólidos, os quais tem causado significativa preocupação ambiental e econômica, pois para cada 100 toneladas de celulose produzidas, são geradas cerca de 48 toneladas de resíduos. Os principais resíduos gerados no processamento de madeira para produção de celulose são o lodo da estação de tratamento de efluentes, a cinza da madeira oriunda de caldeira auxiliar de geração de energia e a lama de cal, que de forma geral vêm sendo disponibilizados para uso em solos florestais (MAEDA et al., 2015).

Uma alternativa para o aproveitamento de resíduos da indústria de celulose e papel pode ser a sua aplicação em solos agrícolas, utilizando como condicionadores de solo e fonte de nutrientes que permite manter ou restaurar a qualidade do solo, diminuindo a necessidade de fertilizantes inorgânicos, resultando na melhoria de características do solo que são necessárias para o desenvolvimento econômico das plantações florestais (ALVARENGA et al., 2015).

A lama de cal, originada da clarificação do licor de cozimento da madeira para extração da celulose, apresenta teores elevados de cálcio (Ca) semelhantes aos encontrados no calcário calcítico, que segundo Simonete et al. (2013) e Maeda et al. (2015), ao ser aplicado no solo causam a redução da acidez e do teor de alumínio (Al), com elevação dos teores de Ca e sódio (Na) no solo. O reduzido teor de magnésio (Mg) presente na lama de cal é uma limitação para o uso desse material, conforme comprovado por Simonete et al. (2013) em estudo realizado com Eucalyptus saligna cultivado em Neossolo Quartzarênico.

O plantio de espécies florestais para exploração comercial da madeira ocorre predominantemente em áreas com solos de baixa aptidão agrícola, tanto pelas condições topográficas inadequadas para o cultivo mecanizado quanto pela baixa fertilidade do solo, caracterizado pelos baixos teores, principalmente, de Ca, Mg, potássio (K) e fósforo (P) (RUBILAR et al., 2018), que tem prejudicado a produtividade do eucalipto. Entretanto, as deficiências nutricionais que limitam o desenvolvimento das florestas de eucalipto plantadas podem ser minimizadas pela aplicação de resíduos orgânicos produzidos nas próprias indústrias para produção de papel e celulose (ABREU-JUNIOR et al., 2017).

Para avaliar as mudanças ocorridas na capacidade produtiva do solo e associar ao desenvolvimento do eucalipto é necessária a utilização da silvicultura de precisão, que utilizam à geoestatística como ferramenta para avaliar variabilidade espacial da produção e os fatores a ela relacionados (HEGDE et al., 2015). Para realizar a análise da dependência espacial de dados georreferenciados é necessário ajusta-los em semivariogramas em função das distâncias entre as observações, depois elaborar mapas de krigagem para cada atributo pesquisado do solo e da planta que representará a variabilidade espacial dos dados e em seguida obtêm-se as zonas específicas de manejo do solo para cada atributo (GOMES et al., 2017).

Novas oportunidades de estudos surgem no contexto de buscar soluções alternativas para a utilização desses resíduos em solos agrícolas em plantios florestais, permitindo seu aproveitamento e a diminuição do impacto ambiental. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi analisar a variabilidade espacial e temporal do Eucalyptus urograndis em função dos atributos químicos do solo sob aplicação de resíduo da celulose como fertilizante agrícola.

4.2 MATERIAL E MÉTODOS 4.2.1 Caracterização do Local

O estudo foi realizado na área experimental localizada no município de Três Lagoas (MS), entre a latitude 20o27' S e a longitude 52o29' W, a uma altitude aproximada de 318 metros. A área foi cultivada por cerca de 50 anos com pastagem de Brachiaria decumbens para bovinos de corte, sendo que se encontrava degradada no momento do preparo do solo para a implantação do sistema florestal.

4.2.2 Clima

O clima na região é classificado como Aw caracterizado como tropical úmido com

estação chuvosa no verão e seca no inverno (ALVARES et al., 2014). A precipitação e a temperatura média anual de 1.300 mm e de 22 a 24 °C, respectivamente.

4.2.3 Tipo de solo

O solo da área experimental foi caracterizado como Neossolo Quartzarênico (SANTOS et al., 2018). Em março de 2014 foi realizada a correção do solo com a utilização de 2,0 toneladas de calcário dolomítico, que apresentava 30% de CaO, 12% de MgO e poder relativo de neutralização total (PRNT) de 85%, para elevar a saturação por bases a 50%.

Em junho de 2014 foram coletadas 20 amostras indeformadas aleatórias nas entrelinhas do eucalipto nas camadas de 0,00-0,20 e 0,20-0,40 m da área visando à realização de análises químicas de rotina para caracterização da fertilidade do solo, de acordo com a metodologia proposta por Raij et al. (2001), com os resultados apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Caracterização de atributos químicos do solo antes da aplicação do composto lama de cal + oxyfertil em área de eucalipto.

Camada MO pH P K+ Ca2+ Mg2 + H+A l Al3+ SB CTC V m g dm-3 CaCl2 mg dm-3 ...mmolc dm-3... % 0,00-0,20 12 4,1 8 0,9 1 2 36 8 3,9 39,9 10 0,20-0,40 14 4,1 4 0,9 2 0 26 12 2,9 20,9 10

M.O. = matéria orgânica; pH = potencial hidrogeniônico; P = fósforo; K+ = potássio; Ca2+ = cálcio; Mg2+ =

magnésio; H++Al3+ = acidez potencial; Al3+ = alumínio; SB = soma de bases; CTC = capacidade de troca catiônica;

V = índice de saturação por bases; m = índice de saturação por alumínio.

No dia 25 de junho de 2014, a malha experimental recebeu 2,0 toneladas de corretivo do composto lama de cal + oxyfertil. Esse composto possuía 60% de lama de cal e 40% de oxyfertil (Tabela 5).

Tabela 5. Características dos produtos químicos utilizados para correção e adubação do solo em área de eucalipto.

Produtos químicos CaO MgO PRNT

---% ---

Lama de Cal 24 0,1 -

Oxyfertil 60 30 175

O Oxyfertil® 6030F é um fertilizante mineral simples que em contato com água forma uma reação exotérmica formando hidróxidos de Ca(OH)2 e parcialmente de Mg(OH)2,

liberando na ordem de 210 cal g-1 de calor. Possui solubilidade de aproximadamente 0,8 g L-1 (25 °C) com pH de 12,4 (solução a 25 °C). Fisicamente o produto possui uma distribuição granulométrica de 0,0-3,0 mm antes de reação com água e de 0,0-0,2 mm após reação com água.

O plantio das mudas de Eucalyptus urograndis clone E13 foi realizado no espaçamento de 3,0 m entre linhas e 2,5 m entre plantas.

4.2.4 Amostragens

Foram definidas as direções x e y do sistema de coordenadas UTM e de acordo com o espaçamento das plantas de eucalipto efetuou-se o estaqueamento global da malha experimental. A malha experimental foi constituída de cinco transeções, contendo 50 pontos amostrais que seguiu o plantio do eucalipto em linhas, que foi plantado formando curva de nível para uma melhor conservação do solo, sendo que o espaçamento amostral foi de 7,5 x 6,0 m.

Os atributos do solo e da planta foram coletados no entorno de cada planta representante do ponto amostral. As coletas ocorreram aos três, nove e vinte e quatro meses após a aplicação da lama de cal + oxyfertyl e, seis, quinze e vinte e sete meses após o plantio do eucalipto.

4.2.5 Avaliações

Os atributos de planta avaliados foram: altura das árvores (ALT), medida com o auxílio de uma régua graduada em metros, diâmetro à altura do peito (DAP), medido a uma altura de 1,30 m do solo com o auxílio de um paquímetro digital.

Os atributos do solo avaliados foram: fósforo (P), matéria orgânica (MO), valores de potencial hidrogeniônico (pH), teores de potássio (K+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+) e alumínio (Al3+), todos coletados na camada de 0,00-0,20 m (RAIJ et al., 2001).

4.2.6 Análise estatística

Para cada atributo estudado realizou-se análise descritiva pela estatística clássica. Utilizando o software R (R CORE TEAM, 2017), calculou-se a média, mediana, moda, valores mínimo e máximo, desvio padrão, coeficiente de variação, curtose e assimetria.

Foi efetuada a análise da distribuição de frequência dos dados. Desta forma, para testar a hipótese de normalidade dos atributos, utilizou-se o teste de Shapiro e Wilk a 1%. A matriz de correlação foi montada entre todos os atributos pesquisados, contendo todas as combinações pareadas possíveis objetivando detectar a existência de correlações significativas entre os atributos da planta (variáveis dependentes) com os do solo (variáveis independentes).

A análise geoestatística foi realizada com o software GS+ 7.0 (GAMMA DESIGN SOFTWARE, 2004), onde analisou-se a dependência espacial pelo cálculo do semivariograma, com bases nos pressupostos de estacionariedade da hipótese intrínseca.

Os ajustes dos semivariogramas simples, em função de seus modelos, foram efetuados prioritariamente pela seleção inicial de: a) o maior coeficiente de determinação (r2);

b) a menor soma dos quadrados dos resíduos (SQR), e c) o maior avaliador do grau da dependência espacial (ADE). Para cada atributo, foram estimados o efeito pepita, o alcance o patamar. A análise do avaliador da dependência espacial (ADE) foi efetuada conforme a seguinte expressão (GAMMA DESIGN SOFTWARE, 2004):

𝐴𝐷𝐸 = 𝐶

(𝐶+𝐶0) ∗ 100 (11)

em que, ADE = avaliador da dependência espacial; C = variância estrutural; C + Co = patamar.

A interpretação da ADE proposta foi a seguinte: para o semivariograma esférico: ≤ 7% → dependência espacial fraca; ≤ 15% → dependência espacial moderada; > 15% → forte dependência espacial. Para o semivariograma exponencial: ≤ 6% → dependência espacial fraca; ≤ 13% → dependência espacial moderada; > 13% → forte dependência espacial. Para o semivariograma gaussiano: ≤ 9% → dependência espacial fraca; ≤ 20% → dependência espacial moderada; > 20% → forte dependência espacial (SEIDEL; OLIVEIRA, 2016).

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os coeficientes de variação (CV) para os valores de altura da planta (ALT) foram de 18,23, 10,20 e 14,34%, enquanto os coeficientes de variação para diâmetro à altura do peito (DAP) foram de 23,45, 16,98 e 23,94%, para o 1º, 2º e 3º ano, respectivamente (Tabela 6).

Os valores de ALT obtidos podem ser considerados de média variabilidade, enquanto os valores de DAP podem ser considerados como de média a alta variabilidade (Tabela 6). Pimentel-Gomes e Garcia (2002) sugerem que um CV acima de 30% apresenta uma série de dados muito heterogênea, o que torna a média pouco confiável. No entanto, um CV

abaixo de 20% aponta para dados homogêneos e uma média significativa, representando os dados obtidos.

Tabela 6. Estatística descritiva dos atributos de eucalipto em um Neossolo Quartzarênico com aplicação de Lama de Cal + Oxyfertil.

Atributos Valor DP Coeficiente Probabilidade

Média Mediana Mínimo Máximo Var (%) CK CA Pr<w DF

2014/2015 ALT (m) 3,51 3,60 1,70 4,50 0,64 18,23 0,03 -0,63 0,0759 NO DAP (m) 0,027 0,028 0,010 0,036 0,006 23,45 0,20 -0,83 0,0120 IN P (mg dm-3) 2,98 3,000 2,00 5,00 0,69 22,98 1,83 0,82 0,0001 IN MO (g dm-3) 11,52 11,00 11,00 15,00 1,29 11,13 1,09 0,98 0,0001 IN pH 4,14 4,00 2,90 6,00 0,46 11,00 5,77 1,51 0,0001 IN K (mmolc dm-3) 0,60 0,50 0,20 1,40 0,29 48,65 0,13 0,79 0,0049 IN Ca (mmolc dm-3) 3,28 2,00 1,00 11,00 2,84 86,46 0,71 1,17 0,0001 IN Mg (mmolc dm-3) 4,20 3,00 1,00 18,00 3,53 84,15 5,80 2,23 0,0001 IN Al (mmolc dm-3) 10,30 12,00 0,00 16,00 4,91 47,69 -0,57 -0,73 0,0004 IN 2015/2016 ALT (m) 10,57 10,70 7,20 12,20 1,078 10,20 1,497 -1,166 0,0019 IN DAP (m) 0,097 0,102 0,056 0,122 0,016 16,98 0,441 -1,003 0,0012 IN P (mg dm-3) 4,66 5,00 2,00 9,00 1,318 28,30 1,625 0,732 0,0011 IN MO (g dm-3) 13,00 13,00 10,0 17,0 1,714 13,18 -0,567 0,350 0,0377 TN pH 4,18 4,10 3,90 4,90 0,237 5,67 1,532 1,300 0,0001 IN K (mmolc dm-3) 0,63 0,60 0,20 1,30 0,248 39,38 0,255 0,824 0,0045 IN Ca (mmolc dm- 3) 3,61 3,00 1,00 11,00 2,354 65,12 1,631 1,400 0,0001 IN Mg (mmolc dm-3) 3,74 3,00 1,00 9,00 1,827 48,9 0,765 0,967 0,0001 IN Al (mmolc dm-3) 6,12 6,00 0,00 10,00 2,471 40,4 -0,281 -0,617 0,0005 IN 2016/2017 ALT (m) 15,96 16,05 11,80 20,60 2,29 14,34 -0,98 -0,10 0,1642 NO DAP (m) 0,134 0,135 0,068 0,184 0,03 23,94 -1,08 -0,18 0,0752 NO P (mg dm-3) 2,32 2,00 5,00 1,00 0,68 29,45 4,54 1,89 0,0001 IN MO (g dm-3) 15,06 15,00 11,00 27,00 2,69 17,87 7,07 1,98 0,0001 IN pH 4,06 4,00 3,70 5,40 0,33 8,13 4,72 1,80 0,0001 IN K (mmolc dm-3) 1,30 1,20 0,50 2,60 0,50 38,17 0,71 0,94 0,0100 IN Ca (mmolc dm-3) 3,20 3,00 1,00 6,00 1,40 43,74 -0,12 0,65 0,0003 IN Mg (mmolc dm-3) 3,18 3,00 1,00 7,00 1,53 48,25 0,11 0,85 0,0003 IN Al (mmolc dm-3) 6,8 8,00 0,00 11,00 2,98 43,77 -0,75 -0,51 0,0060 IN

ALT = altura das árvores; DAP = diâmetro à altura do peito; P = fósforo; MO = matéria orgânica; pH = potencial hidrogeniônico; K = potássio; Ca = cálcio; Mg = magnésio; Al = alumínio; DP = desvio padrão; DF = distribuição de frequência; NO = normal; IN = indeterminado; TN = tendendo ao normal; Var = Variação; CK = coeficiente de curtose; CA = coeficiente de assimetria.

Durante um experimento com Eucalyptus camaldulensis, Galindo et al. (2018), realizaram uma análise de variabilidade espacial de propriedades dendrométricas de eucalipto e atributos físicos de um Latossolo e, verificaram variabilidades médias de CV de 23,3 e 22,9%,

respectivamente. Em um estudo semelhante, Lima et al. (2010), encontraram valores médios de ALT e DAP variando de 12 a 11,8%, respectivamente. Esses estudos de Eucalyptus

urophylla registraram valores abaixo das faixas obtidas no presente estudo.

Para os atributos do solo a variabilidade do fósforo foi alta nos três anos avaliados com CV’s entre 19,45 e 22,98% (Tabela 6). A MO apresentou média variabilidade com valores entre 11,13 e 17,87% e, para o pH foi média no primeiro ano e baixo nos anos consecutivos ficando entre 5,67 e 11,00%. Os teores de K, Ca, Mg e Al apresentaram variabilidade muito alta em ambos os anos variando entre 38,17 e 86,46%, ressaltando que essa variabilidade decresceu com o passar dos anos. Segundo Reis et al. (2018), as variações dos atributos químicos do solo estão relacionadas a alterações provocadas por adubações e calagens irregulares. Estatisticamente, pode ser traduzida pela alta heterogeneidade em torno da média entre os atributos químicos na área avaliada. Essa heterogeneidade está associada à formação, acúmulo e distribuição de partículas do solo em função da topografia e do fluxo de água e, principalmente, pela aplicação da lama de cal.

Observa-se que os teores médios encontrados para o fósforo (2,98, 4,66 e 2,32 mg dm-3), MO (11,52, 13,00 e 15,06 g dm-3), K (0,60, 0,63 e 1,30 mmol

c dm-3), Ca (3,28, 3,61 e

3,20 mmolc dm-3) e Mg (4,20, 3,74 e 3,18 mmolc dm-3) respectivamente, nos anos avaliados,

apresentaram baixos teores (Tabela 6). Estes valores estão abaixo das faixas de teores recomendados por Raij (2011) para culturas agrícolas e por Gonçalves et al. (2002) para a cultura do eucalipto. No entanto, esses teores estão de acordo com Silveira et al. (2001) que estabeleceram valores médios para solos arenosos cultivados com eucalipto, onde teores de fósforo (5,6 mg dm-3), MO (12,00 g dm-3), pH (3,8), K (0,4 mmolc dm-3), Ca (2,8 mmolc dm-3)

e Mg (0,9 mmolc dm-3) são ideais para o desenvolvimento da espécie.

Considerando que os eucaliptos clonais são pouco exigentes em nutrientes, quando comparados à maioria das culturas agrícolas e mesmo em relação a muitas espécies arbóreas de rápido crescimento, como o Pinus spp (RODRIGUES et al., 2016). Mesmo assim, há necessidade de corrigir a fertilidade do solo quando os níveis críticos dos nutrientes estiveram abaixo do adequado para a espécie (GUIMARÃES et al., 2015).

O teor de matéria orgânica (MO) aumentou passando de 11,52 g dm-3 no primeiro ano para 15,06 g dm-3 no terceiro ano (Tabela 6). Este aumento de MO pode ser explicado pelo elevado aporte de serapilheira depositado sobre o solo nas áreas sob plantação de eucalipto, que causam alterações positivas nos atributos físicos, químicos e biológicos, que favorecem a ciclagem de nutrientes e a manutenção de maior umidade na área (BARRETO et al., 2011).

Pereira et al. (2018), avaliando frações orgânicas no solo para plantações de eucalipto, observaram alta taxa de decomposição da serapilheira quando comparada a outras espécies de árvores. Segundo Alvarenga et al. (2015), outro fator que pode contribuir para aumentar o teor de MO é que os resíduos gerados a partir da produção de celulose e papel possuem alto teor de MO, o que potencializa as altas mudanças no teor de matéria orgânica do solo.

Os teores de Ca e Mg no solo, antes da aplicação do composto lama de cal + oxyfertil eram considerados baixos nas camadas de 0,00-0,20 e 0,20-0,40 m (Tabela 4), concordando com os dados obtidos por Maeda et al. (2015), que observaram baixos teores para estes nutrientes em um Neossolo Regolítico para implantação florestal. Esse comportamento dos nutrientes, baixos teores, é favorecido pela textura arenosa e consequentemente pela alta macroporosidade que ocorre nos Neossolos Quartzarênicos. No entanto, este processo pode ser potencializado, dada a baixa coesão entre as partículas e o baixo teor de agentes cimentantes (REIS et al., 2018). Para esses autores, os baixos teores de Ca e Mg encontrados, seriam suficientes para incrementos médios anuais de no máximo 20 m3 ha-1 ano-1 de madeira.

Após a aplicação do composto lama de cal + oxyfertil houve um acréscimo nos teores de Ca (3,28, 3,61 e 3,20 mmolc dm-3) e Mg (4,20, 3,74 e 3,18 mmolc dm-3), quando

comparados a caracterização inicial do solo (Tabelas 4 e 6). Esse equilíbrio entre o Ca e o Mg é importante para o adequado desenvolvimento das plantas, indicando a necessidade da aplicação de corretivo que tenha em sua composição ambos os nutrientes em uma relação equilibrada. Essa relação é importante para que haja adsorção destes nutrientes no solo e absorção das plantas. Simonete et al. (2013) e Maeda et al. (2015) observaram que houve aumento significativo nos teores de Ca e Mg quando aplicado lama de cal em Neossolo Quartzarênico cultivado com eucalipto.

Durante o período experimental houve um decréscimo no teor de alumínio (Al) no solo após a aplicação do composto (10,00, 6,12 e 6,8 mmolc dm-3), no entanto, não houve

aumento do pH (4,14, 4,18 e 4,06) (Tabela 6). A aplicação de 2,0 toneladas do composto lama de cal + oxyfertil não alterou o pH, mas diminuiu o Al trocável e elevou os teores de Ca e Mg trocáveis, o que resulta na diminuição da saturação por alumínio.

Os elevados teores de Al e baixo pH do solo estão associadas as precipitações intensas ao longo dos anos que promovem grande lixiviação das bases, permanecendo no complexo de troca, predominantemente, os cátions H e Al (REIS et al., 2018). Kochian et al. (2015) relatam que, em regiões tropicais, os solos ácidos são geralmente heterogêneos em relação ao pH e saturação de alumínio, onde o pH pode ter grande variabilidade em pequenas

áreas. Além dos processos naturais, algumas práticas agrícolas como a retirada da cobertura vegetal, a lixiviação do nitrogênio e o uso indiscriminado de fertilizantes acidificam ainda mais os solos agrícolas (SADE et al., 2016).

Segundo Gmach et al. (2018), as áreas usadas para produzir eucalipto no Brasil são geralmente em solos ácidos, pobres em nutrientes e matéria orgânica. Espécies do gênero

Eucalyptus são mais tolerantes a altos níveis de Al+3 no solo do que a maioria das culturas agrícolas, além de requerer níveis de Ca e Mg inferiores aos estabelecidos como críticos para a maioria das culturas (RODRIGUES et al., 2016). Isso permite que o plantio de eucaliptos seja realizado em solos de baixa aptidão agrícola, como o Neossolo Quartzarênico (GMACH et al., 2018).

Ocorreram correlações positivas e negativas entre os nutrientes avaliados (Tabela 7). As correlações negativas evidenciaram a ocorrência de relação linear entre as medidas de acidez do solo para o Al x Ca (r = -0,836**, -0,625** e -0,363*), Al x Mg (r = -0,803**, -0,601** e -0,363*) e Al x pH (r = -0,712**, -0,797** e -0,887**) ambos para os respectivos anos

avaliados.

Portanto, o teor de um nutriente só aumenta quando o teor do outro diminui (Tabela 7). Essa correlação inversa comprova que a diminuição dos teores de cálcio e magnésio, é decorrente do aumento substancial dos teores de alumínio (Al) no solo, que prejudicam o desenvolvimento da planta. Ressaltando que a toxidez por alumínio é um dos fatores limitantes a produção em solos ácidos (MARQUES JUNIOR et al., 2014).

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