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Escrita de Artigo Científico

6.6 Veículos de Publicação

Os resultados de uma pesquisa podem ser publicados em uma série de veículos reconhecidos pela comunidade científica. Quanto maior o impacto do veículo, ou seja, o número de pessoas que ele efetivamente atinge, maior a dificuldade relativa de se conseguir publicar um artigo ali.

Então, dependendo da real contribuição e inovação do trabalho, diferentes veículos de publicação deverão ser escolhidos. O estudante não deve ficar desestimulado se sua primeira tentativa de publicação for frustrada. Usualmente avaliações críticas consistentes sobre o trabalho são entregues explicando os motivos da recusa. Essas avaliações podem e devem ser usadas como um estímulo e um guia para produzir uma versão melhorada do artigo visando à publicação em outro veículo.

Existem veículos que são bastante específicos de cada área, como, por exemplo, o Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software ou o IEEE Transactions on Software Engineering. Mas estes não são os únicos veículos em que se pode publicar. Há periódicos e eventos mais genéricos que em geral aceitam artigos de todas as subáreas da Computação, como, por exemplo, o SEMISH, que ocorre junto ao Congresso da Sociedade Brasileira de Computação e o periódico Communications of

Em relação ao estilo de veículo, pode-se fazer as seguintes distinções:

a) Periódico: É considerada a publicação mais importante por todas as áreas da ciência. Os melhores artigos usualmente são destinados aos periódicos mais reconhecidos dentro de cada área. A Ciência da Computação no mundo todo, entretanto, conta com poucos periódicos quando comparada a outras áreas do conhecimento. No Brasil, periódicos de qualidade em Ciência da Computação são praticamente inexistentes.

b) Eventos ou conferências: A Ciência da Computação privilegia a publicação em conferências, o que muitas vezes cria problemas em relação à avaliação relativa com outras áreas como Física e Química, cujos pesquisadores publicam quase que exclusivamente em periódicos. Embora não tão valorizados quanto

periódicos por outras áreas, as conferências em Computação podem ter peso relativo bastante relevante na produção científica de um pesquisador.

c) Workshops e seminários: Em geral, são eventos satélites de conferências maiores. Como são normalmente muitíssimo restritos em termos de

abrangência temática e número de participantes, são considerados publicações de menor impacto, embora alguns workshops tenham se firmado como boas conferências ao longo de uma história consistente de boas edições.

d) Livros e Capítulos de Livros: Embora bastante valorizados, livros e capítulos de livros são publicações que usualmente não resultam de teses e monografia (com poucas exceções), visto que, em geral, o objetivo desse tipo de publicação é

apresentar um conteúdo didático para compreensão por parte de um público bem mais amplo do que o conjunto de pesquisadores de uma determinada área da ciência.

Existe uma diferença fundamental no estilo de processo de revisão de eventos e periódicos. Como os eventos ocorrem em data predeterminada, as publicações em geral são submetidas até um determinado prazo (deadline) e então avaliadas por um comitê de programa. Trata-se normalmente de um processo competitivo em que os melhores artigos são aceitos para publicação, com algumas poucas sugestões de modificação no texto. A maioria dos eventos, especialmente os mais bem conceituados, aceitará uma porcentagem relativamente pequena dos artigos submetidos. Então, no caso de envio de artigo a um evento, o autor terá apenas uma chance de publicar. O artigo deve estar pronto e em condições de concorrer com outros artigos. Se estiver entre os melhores, será publicado, caso contrário, será rejeitado.

Já o processo de revisão em periódicos acontece de forma diferenciada. Exceto no caso de números especiais temáticos, os periódicos funcionam com regime de envio contínuo, ou seja, não há deadline. Assim, um artigo eventualmente aceito no periódico entra em uma fila e será publicado quando chegar a sua vez. O processo de revisão, então, pode ser bem mais interativo do que no caso de eventos.

Um artigo submetido será revisado pelo comitê editorial, e, possivelmente, várias sugestões serão feitas ao texto antes que este possa ser aceito para

publicação. Poderão, inclusive, acontecer várias rodadas de avaliação do texto, em que os revisores solicitam modificações e os autores as incorporam ao texto, se possível. Esse processo interativo de revisão de um texto pode até levar anos, em alguns casos, mas procura garantir que o material final estará adequado ao público leitor do periódico, de acordo com os critérios do comitê editorial.

Deve-se ter em mente também que o processo de revisão em periódicos é muito mais detalhado do que em conferências. No caso de conferências, os revisores trabalham com deadlines, e às vezes recebem um grande fardo de avaliações para fazer, estando, dessa forma, mais sujeitos a cometer erros de avaliação. No caso de periódicos, a revisão é feita com mais tempo e, portanto, é bem mais detalhada.

Além do tipo e publicação, a abrangência também deve ser considerada. Todos os diferentes veículos têm uma abrangência estimada, que pode ser:

a) Internacional: veículos publicados em língua inglesa que são distribuídos ou que contam com a participação de autores de vários países, sem predominância de nenhuma nação, como, por exemplo, a maioria dos periódicos e conferências da IFIP, ACM e IEEE.

b) Nacional: não são apenas os veículos publicados no Brasil, como se poderia pensar. Existem periódicos e eventos de abrangência nacional publicados em outros países. Caracteriza-se como um veículo nacional aquele que é publicado em uma língua diferente do inglês ou que, embora publicado em inglês, tenha participantes predominantemente de um único país ou região, por exemplo, a Conferência Latino-americana de Informática (CLEI) e a maioria dos simpósios da SBC.

c) Regional: são veículos que abrangem apenas uma fração de um país, por exemplo, um estado brasileiro e ou região geográfica. Exemplos desse tipo de veículo são os anais da Escola Regional de Bancos de Dados e o Seminário Catarinense de Imagens Médicas.

d) Local: são veículos publicados por uma única universidade ou faculdade. Em geral, contam com um comitê avaliador local ou de pouca abrangência, e a maioria dos autores de artigos pertence à própria instituição. Ex.: Semana de Informática da Universidade de Água Suja do Norte.

Existem então as combinações entre os diversos tipos de publicação e sua abrangência, como, por exemplo, periódico internacional, ou evento regional etc. O documento de área da Ciência da Computação na CAPES distingue os seguintes tipos: Periódico Internacional (PI), Periódico Nacional (PN), Conferência Internacional (CI), Conferência Nacional (CN), Livro Científico Nacional (LCN), Livro Didático Nacional (LDN), Livro Científico Internacional (LCI), Livro Didático Internacional (LDI), Capítulo de Livro Nacional (CLN) e Capítulo de Livro Internacional (CLI).

Deve-se prestar atenção ao seguinte: algumas conferências publicam seus anais como livros, com ISBN, inclusive. Não existe consenso na comunidade sobre se isso caracteriza uma publicação em livro ou se ainda seria publicação em evento.

Porém, pela lógica, deveria ser considerada como um livro apenas a obra literária que foi proposta e construída com esse propósito. Um livro tem uma estrutura sequencial e lógica, o que não ocorre normalmente com conferências, porque estas publicam os melhores artigos. Mas estes são submetidos de forma independente pelos seus autores, baseado no trabalho de pesquisa que tenham efetuado, sem uma sequência lógica predeterminada.

A era da informática, entretanto, tem facilitado tanto a criação de publicações que possivelmente as fronteiras claras que havia antigamente entre os diferentes tipos de publicação talvez não mais existam no futuro.