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Velocidade - precisão

No documento A CRIANÇA, O MEIO E O PERFIL PSICOMOTOR (páginas 86-91)

DESENVOLVIMENTO MOTOR

3) Velocidade - precisão

O último subfactor da BPM envolve a preferência manual e a coordenação visuográfica. Tem como objectivo a observação da integração de movimentos finos de um instrumento com as aquisições perceptivo-visuais da coordenação visuomotora, figura e fundo e posição-relação espacial (Fonseca, 1995).

Importa, a propósito, referir que os factores psicomotores descritos por Fonseca (1995), sendo independentes, funcionam de acordo com algumas propriedades:

Enquadramento teórico - Psicomotricidade

- Totalidade: o sistema psicomotor humano (SPMH), composto pelos sete factores psicomotores, funciona como um todo integrado.

- Interdependência: no SPMH, os factores psicomotores inter-relacionam-se e afectam-se mutuamente quer ao nível de maturação e organização neurológica, quer ao nível de planificação motora. Isto é, há uma correlação: a tonicidade e a equilibração combinam-se para assegurar o controlo postural; a lateralização, a noção do corpo e a estruturação espácio-temporal inter-relacionam-se para elaborar qualquer tipo de praxias. Este facto justifica que uma disfunção num factor psicomotor produza mudanças em todo o SPMH pois integram-se uns nos outros em diferentes graus de liberdade.

- Hierarquia: a noção de hierarquia mostra o desenvolvimento psicomotor, primeiro dependente da aquisição da postura bípede e do controlo postural, e só mais tarde da elaboração e expressão ideocinética, o que equivale a um progresso contínuo, quer filogenético, quer ontogenético.

- Auto-regulação e controlo: o SPMH regula o seu comportamento para atingir os fins a que se propõe, pressupondo uma cibernética e uma adaptação ao meio exterior, na base de múltiplos feedbacks.

- Interacção com o mundo envolvente: como sistema aberto, o SPMH, possui sistemas de alimentação (input) e de descarga (output), reforçando a impossibilidade separação dos processos de percepção, de pensamento e de acção. O SPMH afecta o meio ambiente e este afecta o SPMH, ao mesmo tempo. O perfil psicomotor do indivíduo está dependente quer da integridade dos substractos neurológicos quer da sua experiência passada.

- Equilíbrio: o SPMH possui uma homeostasia, qualidade associada à auto-regulação e à organização sistémica. Facto que evita a entropia, característica dos sistemas fechados. Estando, portanto, pronto para captar e corrigir desvios por meio de dinâmicas cibernéticas próprias.

- Adaptabilidade: o SPMH, como sistema avançado, deve estar capacitado para processar mudanças e reajustá-las consoante as exigências do meio envolvente.

- Equifinalidade: o SPMH, objectiva um fim e uma meta; realiza por conseguinte uma tarefa. Esse fim, essa meta, pode ser atingida de múltiplas e variadas formas: a macromotricidade para as funções locomotoras, posturais da actividade expressiva e lúdica, a micromotricidade para as funções artísticas, instrumentais e grafomotoras e a

Enquadramento teórico - Psicomotricidade

oromotricidade para as funções da linguagem. O estado final pode ser alcançado em condições envolvimentais variadas, ilustrando, assim, a adaptabilidade do SPMH.

Como vimos, o SPMH é, realmente, um sistema aberto, formado por um conjunto de factores psicomotores que se inter-relacionam com o meio envolvente a fim de formar um todo único – perfil psicomotor intra-individual.

3.5.2. COTAÇÃODOSFACTORESPSICOMOTORESDABPM

Feita a apresentação global dos factores psicomotores da BPM, vamos, neste ponto, fazer referência à cotação de cada um dos sete factores que a compõem.

Cada tarefa aplicada é pontuada numa escala de 1 a 4 pontos, sendo que cada ponto classifica o desempenho da criança.

Dividindo o valor total, obtido nos subfactores, pelo número de tarefas correspondentes a cada factor, obtêm-se valores que variam de um a quatro, correspondendo ao perfil psicomotor.

O quadro 2 apresenta a classificação do perfil psicomotor, detalhando cada um deles.

Quadro 2 – Escala de pontos dos perfis psicomotores

Escala de pontuação Perfil

1 Realização imperfeita, incompleta e descoordenada

(Fraco) Apráxico

2 Realização com dificuldades de controle (Satisfatório) Dispráxico

3 Realização controlada e adequada (Bom) Eupráxico

4 Realização perfeita, económica, harmoniosa e bem

controlada (Excelente) Hiperpráxico

Fonte: Fonseca, (1995, p. 120)

Em seguida, somando a pontuação dos sete factores, obtém-se uma segunda pontuação, permitindo classificar a criança quanto ao tipo de perfil psicomotor geral.

A cotação máxima da prova será de 28 pontos (4×7 factores), a mínima de 7 pontos (1×7) e a média de 14 pontos.

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O quadro 3 apresenta, nos respectivos intervalos pontuais, o perfil psicomotor geral.

Quadro 3 – Perfil psicomotor geral

Pontos da BPM Tipo de perfil psicomotor Dificuldades de aprendizagem

27-28 Superior ---

22-26 Bom ---

14-21 Normal ---

9-13 Dispráxico Ligeiras (específicas)

7-8 Deficitário Significativas (moderadas ou

severas) Fonte: Fonseca, (1995, p. 128)

Os perfis psicomotores superior e bom são classificados de hiperpráxicos. As crianças que os obtêm não revelam dificuldades específicas. Não deverão apresentar em nenhum factor ou subfactor uma pontuação inferior a 3.

O perfil psicomotor normal é classificado de eupráxico. É pouco provável que crianças, com este perfil apresentem dificuldades de aprendizagem significativas (porém não é exclusiva), podendo no entanto, apresentar factores psicomotores já mais variados e diferenciados, revelando imaturidade ou imprecisão no controlo.

O perfil psicomotor dispráxico, identifica a criança com dificuldades de aprendizagem ligeiras, apresentando já um ou mais sinais desviantes. Segundo Fonseca (1995) “a emergência do padrão dispráxico, revela que vários factores se encontram, em termos psiconeurológicos, hesitantemente integrados e organizados, suspeitando-se de uma disfunção psiconeurológica dos dados tácteis, vestibulares e propriocpetivos que interferem com a capacidade de planificar acções, daí a sua repercussão na aprendizagem” (p. 129).

O perfil psicomotor deficitário, classificado de apráxico, é obtido por crianças que não realizam ou realizam de forma imperfeita e incompleta a maioria das tarefas da BPM. As crianças com este perfil apresentam dificuldades de aprendizagem significativas do tipo moderado ou severo.

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A interpretação dos resultados da BPM, deve ter em conta que não é um teste, nem permite a localização da disfunção; que uma criança neurologicamente saudável terá pouca dificuldade em realizar qualquer das tarefas depois dos 8 anos de idade e que uma pessoa (criança, adulto, geronte) com uma síndrome cerebral orgânica falha em muitas tarefas da BPM.

Podemos, então, concluir que “a relação funcional dos factores psicomotores tende a revelar que a sua maturação psicomotora evolui da tonicidade à praxia fina, confirmando a hierarquia vertical que decorre da primeira à terceira unidade funcional” (Fonseca, 1995, p. 347). Tal facto permite tecer algumas considerações relevantes, não só em relação às três unidades funcionais de Lúria, bem como à implementação de um plano de intervenção.

PARTE II

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