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1

Como qualificaria a hora da refeição com a criança?

Respostas: “muito difícil” a “fácil”

Trocar a palavra “qualificaria”

Como é a hora da refeição com a criança?

Respostas: “muito difícil” a “fácil” 2

Quão preocupado está com a alimentação da criança?

Respostas: “não preocupado” a “muito preocupado”

Trocar palavra “quão”

Você se preocupa com a alimentação da criança?

Respostas: “não preocupado” a “muito preocupado”

3

Qual o grau de apetite (fome) da criança? Respostas: “nunca tem apetite” a “bom apetite”

Trocar o termo “qual o grau” por “como”

Como é o apetite (fome) da criança? Respostas: “nunca tem apetite” a “bom apetite”

4

Quando é que a criança começa a recusar- se a comer, à hora de refeição?

Respostas: “no início” a “no fim”

Trocar o termo “à hora”

Em que momento a criança se recusa a comer durante a refeição?

Respostas: “no início” a “no fim” 5

Quanto tempo dura a hora de refeição com a criança, em minutos?

Respostas: “1-10”a “>60”

Trocar o símbolo “>”

Quanto tempo dura a refeição com a criança, em minutos?

Respostas: “1-10” a “+60 minutos” 6

Como é que a criança se comporta durante a hora da refeição?

Respostas: “comporta-se bem” a “mal, faz birra”

Remover “a hora”

Como é que a criança se comporta durante a refeição?

Respostas: “comporta-se bem” a “mal, faz birra”

7

A criança fica nauseada, cospe ou vomita com determinados alimentos?

Respostas: “nunca” a “a maior parte das vezes”

Trocar a palavra “nauseada”

A criança regurgita, cospe ou vomita com alguns alimentos?

Respostas: “nunca” a “a maior parte das vezes”

8

A criança retém a comida na sua boca sem a engolir?

Respostas: “a maior parte das vezes” a “nunca”

Trocar palavra “retém”

A criança segura a comida na sua boca sem engolir?

Respostas: “a maior parte das vezes” a “nunca”

9

Tem de ir atrás da criança ou distraí-la (p. ex. com brinquedos, televisão) para que ela coma?

Respostas: “nunca” a “a maior parte das vezes”

Trocar o termo “Tem de ir”

Você tem que ir atrás da criança ou distraí-la (por ex. com brinquedos, televisão) para que ela coma? Respostas: “nunca” a “a maior parte das vezes”

10

Tem de forçar a criança a comer ou a beber?

Respostas: “a maior parte das vezes” a “nunca”

Trocar o termo “Tem de”

Você precisa forçar a criança a comer ou beber?

Respostas: “a maior parte das vezes” a “nunca”

11

Como qualificaria a capacidade de mastigação (ou sucção) da criança? Respostas: “boa” a “muito má”

Trocar a palavra “qualificaria”

Como você classifica a capacidade de mastigar (ou sugar) da criança? Respostas: “boa” a “muito ruim” 12

Como qualificaria o crescimento da criança?

Respostas: “crescimento inapropriado” a “crescimento apropriado”

Trocar a palavra “qualificaria”

Como você classifica o crescimento da criança?

“Crescimento não é adequado” a “crescimento adequado” 13

Como é que a alimentação da criança influencia a sua relação com ela? Respostas: “de forma muito negativa” a “não influencia”

Remover “é que” da pergunta e inserir a palavra “influencia”

na resposta

Como a alimentação da criança influencia a sua relação com ela? Respostas: “influência de forma muito negativa” a “não influencia”

14

Como é que a alimentação da criança influencia as relações familiares? Respostas: “não influencia” a “de forma muito negativa”

Remover “é que” da pergunta e inserir a palavra “influencia”

na resposta

Como a alimentação da criança influencia as relações familiares? Respostas: “não influencia” a “influência de forma muito negativa”

Na fase de equivalência semântica, foi realizado um pré-teste onde a versão foi aplicada a 10 pais/mães (cujos filhos não compuseram a amostra do estudo) na sala de espera do Ambulatório de Asma de Piracicaba com vistas à avaliação da aceitabilidade, compreensão e impacto emocional, e solicitando aos respondentes que parafraseassem cada item; a pesquisadora então anotou se houve ou não compreensão dos itens. Neste processo, verificou-se que 100% dos pais incluídos no pré-teste tiveram pleno entendimento do instrumento. A equivalência operacional não foi revista, uma vez que se pretendia utilizar os mesmos meios de aplicação do questionário original (Reichenheim & Moraes, 2007).

Por fim, a versão final do instrumento (Anexo 5) foi aplicada aos pais/cuidadores e o escore total foi calculado e interpretado conforme descrito no Anexo 3.

Análise Estatística

Os dados foram analisados estatisticamente por meio do software SPSS 24.0 (IBM Corp., NY, EUA), considerando-se um nível alfa de 5%.

A estatística exploratória consistiu de porcentagens, médias, desvio padrão, medianas e quartis. A normalidade foi testada pelo teste Shapiro-Wilk e observação dos gráficos quartil-quartil-plot (QQ-plot).

Os resultados obtidos pelo instrumento Escala de Alimentação do Hospital

Pediátrico de Montreal, adaptado para o Português Brasileiro e aplicado aos dois

grupos, foram testados quanto à confiabilidade obtendo-se o coeficiente Alfa de Cronbach para toda a escala, bem como a correlação item-escore total e o coeficiente alfa se cada item fosse excluído. O coeficiente alfa de Cronbach mede a correlação entre respostas em um questionário pela análise do perfil das respostas dadas pelos respondentes.

As frequências de dificuldades alimentares e alterações oro-miofuncionais foram comparadas entre os grupos por meio dos testes Qui-quadrado e Exato de Fisher. Comparações entre os grupos de variáveis sociodemográficas contínuas foram realizadas utilizando-se o teste “t” ou de Mann-Whitney.

Utilizando-se o Modelo linear geral - ANOVA de duas vias foi verificado o efeito do grupo (controle e asma) e do sexo (masculino e feminino) e a interação entre estes fatores (grupo*sexo) na variância observada das variáveis oro-miofuncionais,

dificuldades alimentares e paladar; foram também obtidos o tamanho do efeito (Eta parcial quadrado) e poder do teste para cada modelo. Os resultados do teste de normalidade e igualdade de variâncias de Levene foram avaliados como premissas da ANOVA.

5 RESULTADOS

No total foram incluídas 91 crianças; o Grupo Asma incluiu 46 crianças diagnosticas e classificadas segundo a gravidade como tendo asma intermitente (n=17), asma persistente leve (n=15), asma persistente moderada (n=11) e asma persistente severa (n=3). Ainda, 54% das crianças asmáticas apresentaram asma controlada (os demais parcialmente controlada ou não controlada) e 76% deles foram diagnosticados como tendo rinite alérgica.

A descrição dos grupos avaliados quanto às características sociodemográficas estão mostradas na Tabela 1.

Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra incluída

Grupo n Sexo† Idade

(anos) IMC (Kg/m2)† Escolaridade do chefe da família* (>8 anos) ABEP escore total† Renda declarada (Reais)†

F/M média (DP) média (DP) % média (DP) média (DP)

Controle 45 25/20 6,9 (0,3) 16,1 (2,7) 80 16,1 (6,0) 2238,6 (1304,3) Asma 46 16/30 6,3 (0,5) 17,0 (3,2) 70 17,2 (6,3) 2151,0 (1444,4)

DP, desvio padrão; IMC, índice de massa corporal.

* Chefe da família: pessoa que contribui com a maior parte da renda do domicílio (ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, 2014); X2=1,311, p=0,2521.

† p>0,05

Os dois grupos não diferiram quanto às características sociodemográficas avaliadas, como sexo, idade, escolaridade do chefe da família, renda e escore socioeconômico de classificação ABEP, nem quanto ao IMC, mostrando a homogeneidade dos grupos. No Grupo Asma, 19 de 46 crianças estavam acima do peso e 3 foram classificadas como tendo magreza ou magreza severa. No Grupo Controle, 11 de 45 crianças estavam acima do peso e 4 crianças foram classificadas como tendo magreza ou magreza severa.

As características oro-miofuncionais da mastigação e respiração, avaliadas por meio do protocolo AMIOFE em 85 crianças, estão descritas na Tabela 2. Duas

crianças foram excluídas da avaliação pela impossibilidade de análise dos vídeos (falta de qualidade). Foi possível observar que os grupos diferiram quanto à frequência de incisão normal do alimento (com os incisivos), maior no Grupo Controle, e quanto à frequência de escape de alimento, superior no Grupo Asma (p=0,007 e p=0,0011, respectivamente), embora o escore total de Mastigação do protocolo AMIOFE não tenha diferido entre os grupos. O escore do domínio Respiração também não diferiu entre os grupos (X2=1,050; p=0,3846).

Tabela 2. Comparação dos aspectos oro-miofuncionais da mastigação e respiração por meio do protocolo de Avaliação Miofuncional Orofacial expandido (AMIOFE–e) e limiar de sensibilidade gustativa

Grupo n Mordida Incisivos Tipo mastigatório bilateral Movimento da cabeça Postura alterada Escape de alimento AMIOFE escore total Mastigação AMIOFE Respiração nasal Limiar paladar sacarose Limiar paladar ureia

% % % % % média (DP) % média (DP) média (DP)

Controle 40 87,5 * 27,5 2,5 0 0 ** 15,9 (2,8) 87.5 29,2 (22,9) 133,0 (71,0) Asma 43 60,5 * 25,6 11,6 7 23,5 ** 15,2 (5,1) 79 111,4 (72,0) 528,3 (396,3)

ANOVA modelo de 2 vias p-valor

Efeito grupo 0,616 - <0,001 <0,001

Efeito sexo 0,351 - 0,932 0,103

Efeito interação grupo*sexo 0,552 - 0,398 0,141

* teste Qui-quadrado; X2=7,775; p=0,007 ** teste Exato de Fisher; p=0,0011

O limiar de sensibilidade gustativa testados utilizando-se sacarose (sabor doce) e ureia (sabor amargo) também diferiram entre os grupos, mostrando um efeito grupo significativo e tamanho do efeito grande (sacarose: p<0,001, Eta parcial quadrado = 0,368 e poder = 1,0; ureia: p<0,001, Eta Parcial quadrado = 0,360 e poder do teste = 1,0). Não foram observados efeito sexo e efeito de interação grupo*sexo significativos (p>0,05), o que demonstra que o efeito da asma sobre a sensibilidade gustativa não foi dependente do sexo.

Quanto aos aspectos tempo mastigatório e número de ciclos mastigatórios, observou-se que o Grupo Asma foi aquele utilizou mais tempo e maior número de ciclos mastigatórios desde o momento da incisão do alimento até a completa deglutição (Figuras 2 e 3). Observou-se também que os aspectos da mastigação não diferiram entre os sexos e não houve efeito de interação grupo*sexo, ou seja, o efeito

grupo (asma) observado sobre o tempo e o número de ciclos mastigatórios não foi

dependente do sexo.

Figura 2. Gráfico de interação grupo*sexo para o tempo mastigatório em segundos (médias estimadas). Efeito grupo significativo: F=4,282; p=0,042; Eta parcial quadrado

= 0,051; poder do teste=0,53. Efeitos sexo e grupo*sexo não foram significativos (p=0,209 e p=0,387, respectivamente). Te m po /s e gu n do s Sexo Grupo Asma Grupo Controle

Figura 3. Gráfico de interação grupo*sexo para o número de ciclos mastigatórios (médias estimadas). Efeito grupo significativo: F=8,552; p=0,005; Eta parcial quadrado

= 0,10; poder do teste=0,82. Efeitos sexo e grupo*sexo não foram significativos (p=0,628 e p=0,252, respectivamente).

A Tabela 3 mostra as características de comportamento alimentar e dietético reportadas pelos pais e/ou responsáveis e avaliadas por meio de anamnese, do guia de Avaliação de Marcadores de Consumo Alimentar na Atenção Básica preconizado pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2015) e da Escala de Alimentação do Hospital Pediátrico de Montreal – versão Português Brasileiro. De acordo com os resultados, foi encontrada uma diferença significativa na frequência de engasgos ou tosse durante a alimentação reportada pelos pais das crianças asmáticas, assim como uma frequência maior de crianças consideradas “seletivas” ou que consomem uma variedade muito limitada de alimentos em comparação ao Grupo Controle. No Grupo Asma, os pais reportaram que a alimentação se tornou uma preocupação aos 3 anos, em média; no Grupo Controle todos os pais/responsáveis, com exceção de um, responderam não se preocupar com a alimentação de seu filho(a).

Sexo Núm . de c ic lo s Grupo Asma Grupo Controle

Tabela 3. Descrição dos aspectos alimentares reportados pelos pais e avaliados por meio dos Marcadores de Consumo Alimentar (Ministério da Saúde) e Escala de Alimentação do Hospital

Pediátrico de Montreal – versão Português Brasileiro

Grupo Controle n= 45 Asma n= 46 p-valor Exato de Fisher ou Qui-quadrado Anamnese

Engasgo ou tosse com alguns alimentos n 0 10 0,0011

Vômito 2 5 NS

Seletividade 6 23 0,0004

Segura alimento na boca 3 9 NS

Alimenta-se à frente da TV 11 19 NS

Idade que alimentação se tornou uma

preocupação (anos) média

(DP)

- 3,1 (1,1) -

Idade que começou a alimentar-se com colher

(meses) 6,8 (2,8) 8,3 (5,8) -

Marcadores de consumo de alimentos no dia anterior

Feijão 37 34 NS

Frutas frescas 13 11 NS

Verduras e/ou legumes 23 14 NS

Hambúrguer e/ou embutidos 11 4 NS

Bebidas adoçadas 14 20 NS

Macarrão instantâneo, salgadinhos, biscoitos

salgados 24 22 NS

Biscoito recheado, doces ou guloseimas 4 11 NS

Escala de Alimentação do Hospital Pediátrico de Montreal

Escore bruto Média

(DP)

26,5 * (11,3)

40,0 *

(16,2) -

DP, desvio padrão; NS, não significativo.

* ANOVA modelo de 2 vias (efeito grupo significativo: F=21,207, p<0,001, Eta parcial quadrado=0,196, poder do teste=0,995; efeitos sexo e interação grupo*sexo não significativos: p=0,474 e p=0,871, respectivamente).

Em média, crianças do Grupo Controle começaram a se alimentar com colher aos 6 meses e no Grupo Asma aos 8 meses, sem diferença significativa (p>0,05; teste de Mann-Whitney). Quanto às características dietéticas, não houve diferença significativa entre os grupos no consumo de frutas, verduras e leguminosas, bem como no consumo de alimentos processados, ultra processados e doces.

A Tabela 3 mostra também o escore bruto total obtido pela Escala de Alimentação de Montreal; observou-se que o Grupo Asma apresentou maior escore, ou seja, maior dificuldade alimentar reportada pelos pais/responsáveis (efeito grupo significativo com tamanho do efeito grande; Cohen, 1988), ao mesmo tempo que não houve efeito do sexo nem efeito de interação grupo*sexo sobre a dificuldade alimentar.

Os pais/responsáveis de oito crianças asmáticas (do total de 46) classificaram a hora da refeição com a criança como “muito difícil” e que a alimentação da criança influenciava as relações familiares de forma “muito negativa”. No Grupo Controle, apenas um pai/responsável classificou a hora da refeição como “muito difícil”, e nenhum relatou que a alimentação da criança influenciava de forma muito negativa as relações familiares.

A Figura 4 abaixo mostra a distribuição das crianças quanto às dificuldades alimentares. No Grupo Controle, 89% das crianças foram classificadas como tendo “nenhuma dificuldade” alimentar, enquanto esta frequência foi de 62% no Grupo Asma. Nenhuma criança foi classificada como tendo dificuldade alimentar severa no Grupo Controle, enquanto no Grupo Asma 7 crianças foram assim classificadas. A frequência de crianças classificadas em nenhuma dificuldade, dificuldade leve, moderada e severa foi diferente entre os grupos (p=0,0014; teste Exato de Fisher).

Figura 4. Distribuição da amostra (n=91) quanto às dificuldades alimentares reportadas pelos responsáveis (Escala de Alimentação do Hospital Pediátrico de Montreal – versão Português Brasileiro) para os grupos “controle” (azul) e “asma”

(verde) (p=0,0014; teste Exato de Fisher).

A Tabela 4 abaixo mostra os resultados da avaliação de confiabilidade do instrumento Escala de Alimentação do Hospital Pediátrico de Montreal após adaptação cultural do Português Europeu para o Português Brasileiro. O coeficiente Alfa de Cronbach obtido para a escala de 14 itens foi de 0,79 (o intervalo de 0,70 e 0,90 tem sido recomendado) (Tavakol & Dennick, 2011).

91.1% 6.7% 2.2% 0% 62% 19% 5% 14% NENHUMA DIFICULDADE

DIFICULDADE LEVE DIFICULDADE

MODERADA

DIFICULDADE SEVERA

Tabela 4. Resultados da avaliação de confiabilidade do instrumento Montreal Children´s Hospital Feeding Scale após adaptação cultural do Português Europeu

para o Português Brasileiro

Item Média da escala se item for excluído Correlação de item total corrigida Alfa de Cronbach se item for excluído

1 33,4615 0,595 0,751 2 31,4286 0,408 0,771 3 33,5495 0,691 0,744 4 32,9670 0,537 0,755 5 32,9780 -0,015 0,797 6 33,7582 0,660 0,747 7 34,1978 0,361 0,773 8 33,8901 0,444 0,766 9 34,1209 0,380 0,771 10 33,6044 0,731 0,737 11 34,2308 0,312 0,777 12 34,3516 0,278 0,779 13 31,2308 -0,063 0,822 14 33,8022 0,438 0,766

De acordo com os resultados, as correlações item-escore total mostraram-se adequadas, com exceção dos itens 5 e 13 que obtiveram coeficientes muito baixos; no entanto, o coeficiente alfa não aumentou substancialmente a cada item excluído.

6 DISCUSSÃO

Os achados deste estudo descreveram, pela primeira vez, diferenças importantes em aspectos gustativos e do comportamento alimentar em crianças asmáticas. Mais importante, além das dificuldades alimentares reportadas pelos pais/responsáveis, aspectos objetivos da mastigação e gustação também mostraram alterações. Isto porque, naturalmente, pais de crianças que apresentam doenças crônicas são mais preocupados com aspectos relacionados à saúde, podendo ser mais tendenciosos, mas comportamentos como escape de alimentos e diferenças no tempo, número de ciclos mastigatórios e paladar poderiam estar relacionados às dificuldades reportadas, sendo de importância a respectiva avaliação clínica.

O estudo incluiu uma amostra de conveniência formada por crianças asmáticas em tratamento e um Grupo Controle cujas características sociodemográficas foram bastante similares, permitindo assim a comparação. Na maioria dos resultados obtidos, o tamanho do efeito foi considerado moderado a grande e o poder do teste adequado, mostrando que o tamanho da amostra incluída foi suficiente.

Paladar e asma

Os limiares de sensibilidade gustativa ao doce e amargo diferiram entre os grupos, sendo maior entre as crianças asmáticas com tamanho do efeito grande e sem relação com o sexo. Ou seja, as crianças asmáticas precisaram de concentrações mais altas para discriminar a solução do sabor da água destilada. Clinicamente, a redução do valor hedônico das sensações gustativas pode levar a queixas subjetivas de sabor e alterações no apetite; ainda, a menor sensibilidade gustativa ao doce e amargo observada nas crianças asmáticas pode ter como consequência a perda de interesse e recusa de certos alimentos, por se tornar menos agradáveis, o que também deve ser considerado.

A Iniciativa Global para a Asma (GINA, 2018) descreve as seguintes classes de medicamentos para uso em pacientes asmáticos: beta-agonistas de ação curta (SABA), corticosteróides inalatórios (ICS), beta-agonistas de longa duração (LABA), antagonistas dos receptores de leucotrienos (LTRA), corticosteroides sistêmicos (SCS) e imunomoduladores de IgE (Anti-IgE); os corticosteróides inalados são os medicamentos mais eficazes usados na asma para suprimir a inflamação das vias aéreas, mas seus efeitos adversos são, muitas vezes, subestimados na prática clínica

(Hossny et al., 2016).Dentre as causas de disfunção gustativa citadas na literatura estão os inalantes, sendo que os mecanismos envolvidos neste processo não estão completamente elucidados. Uma vez que a maior proporção da droga inalada é retida na cavidade oral e na orofaringe, ela pode interferir na fisiologia normal dos tecidos orais e, por consequência, no paladar (Godara et al., 2011). Os medicamentos mais comumente citados são os antibióticos (ampicilina, lincomicina, entre outros), anti- tireoidianos, diuréticos (captopril, enalapril, entre outros), anticolinérgicos, anti- histamínicos e corticosteróides, como a dexametasona e a hidrocortisona (Hummel et al., 2011).

Os corticosteróides inalados são ácidos orgânicos fracos e geralmente não são metabolizados pelas bactérias orais; os efeitos adversos podem ser atribuídos aos efeitos tópicos dessas drogas na mucosa oral, pois apenas 10% a 20% da dose de um inalador chega ao pulmão e o restante permanece na orofaringe (Barnes, 1995); a alteração na percepção do paladar parece ser devido à interação do metabólito da droga com a saliva e a mucosa (Ciancio, 2004). A redução do fluxo salivar (hipossalivação), provocada por drogas xerogênicas, também tem o potencial de produzir alterações na percepção do paladar (disgeusia) pela solubilização incompleta dos alimentos e diminuição do transporte de moléculas de saborizante para as papilas gustativas (Scully & Bagan, 2004; Klasser et al., 2008; Godara et al., 2011).

No estudo de Ribeiro et al. (2015), 80% dos 200 pacientes com asma moderada ou grave relataram ao menos um evento adverso local associado ao uso de corticosteroides inalatórios, entre eles a alteração do paladar.

Asma e comportamento mastigatório e respiratório

Um problema relativamente comum do sistema estomatognático é o distúrbio miofuncional orofacial, definido como um padrão que envolve as estruturas orais e/ou orofaciais e a musculatura e que interfere no crescimento normal, desenvolvimento ou função dessas estruturas. Este conceito coletivo inclui alterações disfuncionais da aparência, postura e/ou mobilidade dos lábios, língua, mandíbula e bochechas e das funções estomatognáticas de deglutição, mastigação, respiração e fala que possuem características vitais e sociais (Felício et al., 2012). O AMIOFE é um protocolo que permite ao examinador, de acordo com sua percepção, exprimir as características e comportamentos orofaciais observados em uma escala numérica (Felício et al., 2008), permitindo assim a análise quantitativa e de forma padronizada.

Os resultados aqui encontrados mostraram que os grupos diferiram quanto à frequência de incisão normal do alimento (com os incisivos), sendo maior no Grupo Controle e quanto à frequência de escape do alimento-teste, superior no Grupo Asma. Os demais aspectos, como tipo mastigatório (unilateral/bilateral) e frequência de alterações de postura, não diferiram do Grupo Controle. O estudo de Cunha et al. (2012) analisou o processo mastigatório de 30 crianças asmáticas com idades entre 6 e 10 anos por meio de observação clínica e eletromiográfica, utilizando como alimento-teste o pão francês. O tipo de mastigação (unilateral/bilateral), bem como a atividade eletromiográfica dos músculos masseter e temporal não diferiram do Grupo Controle.

O estudo de Castro et al. (2012) avaliou as funções do sistema estomatognático de mastigação, deglutição e fala em 27 crianças asmáticas utilizando como alimento- teste o “pão de queijo”, na quantidade de 50 gramas; uma porcentagem maior de crianças no Grupo Asma apresentou um tempo mastigatório reduzido, o qual foi considerado quando o tempo para completar a mastigação foi menor do que o tempo médio de um estudo anterior (Saconato & Guedes, 2009), de 10 segundos. O tipo mastigatório também diferiu, encontrando maior frequência de mastigação bilateralmente alternada no Grupo Controle. Os autores descreveram ainda alterações na deglutição de líquidos e alimentos sólidos, caracterizados por projeção anterior da língua, estase na cavidade oral após a deglutição e contração exagerada do músculo mentual para compensar a hipotonicidade do lábio inferior, mas sem diferenças de acordo com os níveis de gravidade da asma. Entretanto, comparações diretas com os resultados do presente estudo são difíceis pela falta de padronização das metodologias empregadas nos estudos prévios, em especial quanto ao tipo de alimento-teste, já que diferenças em textura e quantidade são determinantes para o comportamento mastigatório.

Quanto aos aspectos tempo mastigatório e número de ciclos, o presente estudo observou que o Grupo Asma foi aquele que utilizou mais tempo e maior número de ciclos mastigatórios desde o momento da incisão do alimento até a deglutição total, contradizendo os achados de Castro et al. (2012). Pela falta de ar durante as refeições que pode acometer a criança, cujo sintoma pode piorar à medida que o estômago está repleto ou na presença de rinite alérgica e respiração oral, o tempo mastigatório e a duração da refeição poderiam ser menores em asmáticos não controlados. Entretanto, à medida que se somam dificuldades e alterações na realização do processo

mastigatório, o tempo mastigatório pode também ser maior para completar a função. Observou-se também que os aspectos da mastigação não diferiram entre os sexos e que o efeito grupo (da asma) não foi dependente do sexo para esta faixa etária; entre

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