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CAPÍTULO II: A REPRODUÇÃO DAS FORMAS COMERCIAIS NO CENTRO DE

2.3 O vestuário do centro

O agrupamento de sub-ramos de vestuários (feminino, masculino, geral, calçados e variedades) para, assim, poder identificar os lojistas a serem entrevistados. O resultado está apresentado na Tabela 06 onde pode ser observada a relação das lojas de vestuário de cada uma das ruas em análise.

Ao analisar o comércio das ruas-shopping, percebemos que o ramo de vestuário engloba cerca de 50% do total dos ramos comerciais, ou seja, a Rua- shopping Nova (68%), Imperatriz (40,0%) e Duque de Caxias (55,31%). Sendo assim, adotamos o ramo de vestuário para investigar as estratégias de sobrevivência

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do comércio formal dessas ruas, novos usos de um espaço que se renova sob relações comerciais antigas.

TABELA 06:

RUAS-SHOPPINGIMPERATRIZ, NOVA E DUQUE DE CAXIAS LOJAS DE VESTUÁRIO E SUB- RAMOS COMERCIAIS RESPECTIVOS

SEGUNDO PARTICIPAÇÃO ABSOLUTA E RELATIVA Julho- Setembro/2000 NÚMEROS RUA- SHOPPING Duque de Caxias SUB-RAMOS DE VESTUÁRIO L OJAS DE VESTUÁRIO ABS % Rebeka (50) Radical (83) Rebeka (s/n) Tropical (95) Tirateima (94) Farrapos (227) Emanuele (245) Vestuário Feminino Sub-total 07 23,33 Narciso (324)

Casas José Araújo (236/256/245) Variedade Sub-total 02 9,09 Sub-total 05 16,66 Malhas Famosas (233) Lojas Marçal (208) Ele e Ela (259) WBK (253) Marconi Modas(362) Bunnys (356) Branner(167) Marcus (276) Casa das Rendas (243)

Vestuário Geral Sub-total 09 28,12 Lingerie/Meias Bolsas e Cintos Duque de Caxias Total 22 100 NÚMEROS RUA- SHOPPING Imperatriz SUB-RAMOS DE

VESTUÁRIO L OJAS DE VESTUÁRIO ABS. % Rebeka (50) Radical (83) Rebeka (s/n) Tropical (95) Tirateima (94) Farrapos (227) Emanuele (245) Vestuário Feminino Sub-total 07 23,33

Esplanada (22) Marisa Narciso (77) Kilomania (217) Casas José Araújo (239) Variedade Sub-total 05 16,66 Cattan(28) Malhas Famosas (s/n) Ele e Ela (70) Cattan (102/) Cattan (118) Cattan (139) Via Jeans (208) Lojas Marçal (218) Ele e Ela (233) * Vestuário Geral Sub-total 09 30,0 Exótica (s/n) Elegância Calçados (s/n) Casa Pio Calçados (58)

Esposende (68) Marcus Sapatus (115) Estoril Calçados (185) Esposende (222) Veneza Calçados (257) Yang Calçados (254) Calçados Geral Sub-total 09 30,0 Lingerie/Meias Bolsas e Cintos Total 30 100 NÚMEROS RUA- SHOPPING Nova SUB-RAMOS DE

VESTUÁRIO L OJAS DE VESTUÁRIO ABS %

Radical (359) Radical (271) Tutti Barreti (271A) Emanuele (s/n) Emanuele (225) Arraso (230) Charme Modas (197) Kanys Modas (193) Tutti Barreti (181) Radical (171) Vestuário Feminino Sub-total 10 31,25 Marisa(163) Variedade Sub-total 01 3,12 Malhas Famosas (233) Lojas Marçal (208) Ele e Ela (259) WBK (253) Marconi Modas(362) Bunnys (356) Branner(167) Marcus (276) Casa das Rendas (243)

Vestuário Geral

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Exótica (318) Exótica (244) Exótica (226) Casa Pio Calçados (223)

Esposende (306) Esposende (294) Figueiras Calçados (286) Esposende (152) Esposende (218) Exótica (200) Calçados Geral Sub-total 10 31,25 Casas das Rendas (247)

Armazém das Rendas (175) Lingerie/Meias

Sub-total 02 6,25

Bolsas e Cintos

Total 32 100

*Lojas fechadas

FONTE: TRABALHO DE CAMPO APOIADO NO CADASTRO DE IMÓVEIS, Recife, 2000. Autora: COSTA, Kátia Cristina Ribeiro.

Identificamos como o novo uso, a criação de um sistema de condomínio para as ruas, onde os lojistas criam mecanismos de venda, tanto individualmente, como em conjunto. Cada rua-shopping apresenta um conjunto de lojas que, em geral, também vão estar presentes nas outras ruas, bem como apresentam mais de uma loja na mesma rua, como pode ser visto na Tabela 06, acima.

Essa multiplicação de lojas de um mesmo dono representa o processo de concentração do capital, uma das estratégias de sobrevivência do comércio do Centro. Tal fenômeno, ora aparece com lojas de um mesmo nome, ramo e tipos de mercadorias comercializadas ora aparece com lojas de nomes e ramos comerciais diferentes, impossíveis de serem percebidas apenas pela análise empírica.

A partir do conhecimento desses dados, buscamos obter informações quanto às características da loja, quanto à sua idade e origem espacial. Localizar as lojas de vestuário mais antigas foi nosso passo seguinte. Constatamos que a maioria das lojas de vestuário possuem menos de 12 anos.

Através dessa constatação, ou seja, que há um universo reduzido de lojas com grande tempo de existência nas ruas, selecionamos os dois critérios que iriam

nortear nossa entrevista: a) ser comerciante do ramo de vestuário em cada rua- shopping; b) com cerca de mais de 10 anos de existência; c) disposição em ser entrevistado e d) convivência com o Plano de Intervenção de 1992. Como resultado tivemos uma amostra de 05 comerciantes em cada rua.

Porém, com um universo da pesquisa restrito procurou-se elaborar um roteiro de entrevistas semi-estruturadas. A partir das primeiras visitas ao local, apresentava- se uma estrutura de questões que permitia ao comerciante, ou seu gerente, responder no intervalo de tempo que lhe fosse conveniente, pois nem sempre havia disposição dos participantes. Sempre que necessário, observações adicionais eram acrescidas ao roteiro original.

A análise das entrevistas tem como objetivo analisar as transformações e as persistências do comércio do CTR, a partir do tipo de mercadoria comercializada pelos lojistas das ruas-shopping. Para representar os dados obtidos nas entrevistas, a partir das respostas às questões: quais as mercadorias mais procuradas em sua loja? Indique três, apresenta-se os QUADROS 3, 4 e 5, a seguir.

QUADRO 3: MERCADORIAS COMERCIALIZADAS SEGUNDO COMERCIANTES DA RUA-SHOPPING IMPERATRIZ

MAIS VENDIDAS, RESPECTIVOS PREÇOS E ORIGENS RECIFE/ JULHO DE 2001

Lojas Yang Calçados Ele Ela Modas Emmanuelle Marçal Cattan Tipos de mercadorias Sandálias da Azaléia, Tênis Olympus e sandálias Dayser Blusas, Blusa de mangas compridas e calça de malha Blusa , Saias e calças em malhas Calça de sarja, Calça Jeans/brim, Calça com, lycra

Calça masculina, calça feminina em malha e blusa Preço (R$) 24, 30,00 e 8,00 19, 29,90 e 19,90 9,99, 7,99 e 14,99 39, 29,50, 49,50 19,90, 9,99 e 4,99 Origem RJ, SP,RS e Nordeste SP,RJ e Recife (PE) SP, RJ e Agreste PE RJ, MG, SP, RS e Agreste PE SP

FONTE: ENTREVISTAS AOS COMERCIANTES DAS RUA-SHOPPING IMPERATRIZ, JANEIRO A MAIO DE 2001. AUTORA: COSTA, KÁTIA CRISTINA RIBEIRO COSTA.

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Constatamos que a mercadoria mais vendida é do tipo "calça em malha" com valores que variam de R$ 19,90 a 9,90, destacada pelos comerciantes entrevistados em 3 das 5 lojas analisadas. As mercadorias de valores mais altos são comercializadas em lojas mais antigas, a exemplo das Lojas Marçal (37 anos) e das Lojas Ele Ela Modas (50 anos).

Segundo depoimento do proprietário das Lojas Marçal, Sr. Ramiro Lopes Marçal, português com 44 anos residindo no Recife, seu estabelecimento foi reduzido a 30% em 1993, pois:

"A Revalorização das ruas melhorou o comércio, com ruas mais limpas e seguras mas o consumidor de poder aquisitivo mais alto foi procurar segurança e conforto nos shopping centers. Atualmente o consumidor da loja encontra-se nas classes B e C, portanto não houve o esperado: o consumidor da década de 70. Vendemos algumas peças de roupas de qualidade, no fundo da loja, pois existem os clientes tradicionais que procuram o artigo mais caro, mais em geral, nossas mercadorias ficam expostas na entrada das lojas, e apresentam como composição básica o algodão e a microfibra. O produto vem 50% da região nordeste (Toritama, Santa Cruz do Capibaribe e Caruauru, municípios do interior de Pernambuco) e 50% do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul".

QUADRO 4: MERCADORIAS COMERCIALIZADAS SEGUNDO COMERCIANTES RUA SHOPPING NOVA

MAIS VENDIDAS, RESPECTIVOS PREÇOS E ORIGENS RECIFE/ JULHO DE 2001

Lojas Casas das Rendas

Marconi Modas Bunnys Sapatomania Branner

Tipos de mercadorias Blusas , Vestidos e Calças Calça masculina, Camisa de manga comprida e Camisa de manga curta Calça Jeans, Cuecas e Meias Sandálias Azaléia, Tênis Olympus e sandálias Ryder Calça feminina e blusa Preço (R$) 20, 50,00 e 30,00 10, 12,90 e 6,50 39,90 9,90 e 9,90 21,99, 39,00, 9,99 59,90 a 79,90 e 29,90 Origem SP(90%), e Nordeste (10%) RJ , CE e Agreste (PE) SP (fabricação própria) RS, CE e PE Curitiba (Sul e Sudeste)

FONTE: ENTREVISTAS AOS COMERCIANTES DAS RUA-SHOPPING IMPERATRIZ, JANEIRO A MAIO DE 2001. AUTORA: COSTA, KÁTIA CRISTINA RIBEIRO COSTA.

O Sr. Augusto Ramos, gerente da loja Marconi Modas, loja que há 32 anos existe na rua Nova, no ramo de vestuário masculino:

Antigamente, há 15 anos, a loja possuía 05 andares, sendo uma Loja Departamental . Há 12 anos ficou apenas restrito ao térreo. Vendia-se tudo de bom, artigos mais especializados, com exceção do 4.º andar, onde fazia-se o saldo. Hoje vende-se para todas as classes sociais, com mercadorias variadas. Após a retirada dos camelôs houve melhoria na infra-estrutura da rua. Naquela época as pessoas vinham ao Centro para ver as vitrines. As lojas fechavam mas deixavam as vitrines iluminadas. Atualmente, há um portão que fecha o acesso a única vitrine existente no lugar. Temos que colocar as roupas na entrada da loja, pois o consumidor não tem o hábito de entrar no fundo da loja. Naquela época tinha-se cerca de 35 funcionário e hoje temos apenas 12" (entrevista realizada no dia 20/07/2001, nas dependências da loja, pela autora).

Para o entrevistado, houve uma invasão das lojas populares que antes se restringiam ao bairro de São José, como os "Lojões de Cabeleireiro" e as lojas de vestuário que comercializam artigos de Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama - a sulanca. O Sr. Augusto lembra que a rua Nova possuía o melhor da cidade no ramo de vestuário, era a rua que ditava a moda, contribuindo, assim, na composição de um mapa histórico do comércio da Rua Nova:

Ao lado da minha loja, à direita, existia a loja de departamento Primavera, com 06 andares, sendo que cada andar tinha um departamento diferente (onde hoje funciona a Loja Arapuã). À esquerda sempre foi a Branner, seguida do Banco Nacional (onde funciona hoje a Sapataria Pio). Em frente, no lugar do atual Lojão do Cabeleireiro, localizava-se o Banorte, seguidas pela Camisaria Cruzeiro e a Loja D'Juan. Na outra esquina, havia a loja de departamentos Sloper (atualmente Sapataria Esposende) e a loja de tecidos Volga ( atualmente Loja Radical). Seguindo em direção à Praçinha do Diário, a Casa Etan de confecção feminina passou a dar lugar ao BCN, sendo atualmente a Loja Branner. Em frente, o Banco de Minas deu lugar a Sapataria Exótica.

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QUADRO 5: MERCADORIAS COMERCIALIZADAS SEGUNDO COMERCIANTES RUA-SHOPPING DUQUE DE CAXIAS

MERCADORIAS MAIS VENDIDAS, RESPECTIVOS PREÇOS E ORIGENS RECIFE/ JULHO DE 2001

Lojas Narciso Casas José

Araújo Sapataria Popular Marisa Tentação Tipos de mercadorias Blusa, Blusa e Calça Calça masculina, Camisa de manga comprida e Camisa de manga curta Sandália baixa e Sapato masculino Vestido, Vestido curto e Calcinhas e Sutiã Calça feminina e Blusa em elanca Preço (R$) 7,90, 4,90 e 7,90 39,90 9,90 e 9,90 9,99 e 5,99 9,99 Origem Coréia e Nordeste SP e Agreste (PE) MG, PB (Patos e Campina Grande) e PE (Timbaúba) SP Fortaleza (CE), Caruaru (PE) e SP

FONTE: ENTREVISTAS AOS COMERCIANTES DAS RUA-SHOPPING IMPERATRIZ, JANEIRO A MAIO DE 2001. AUTORA: COSTA, KÁTIA CRISTINA RIBEIRO COSTA.

O entrevistado Sr. Manoel Lopes, contribuiu também para o resgate do antigo comércio da rua. De origem portuguesa e sócio- proprietário das Casas das Rendas, loja do ramo de vestuário feminino e infantil, há 49 anos existente na outra extremidade da Rua Nova, com filiais na Rua da Imperatriz, nos Shoppings Recife e Tacaruna, em seu depoimento afirma que:

Antigamente o comércio era outro. Ao lado da igreja, chegava-se às Casas Martins, loja de tecidos finos; ao lado das Casas das Rendas e do Armazéns das Rendas, havia a antiga Ótica Universal; No local das Lojas Marisas e das Farmácias dos Pobres, existiu os Armazéns Caxias, de confecção e tecidos finos. Do outro lado, em frente às Casas das Rendas, existiam as Casas Pernambucanas, antiga Lojas Paulistas, onde hoje existe a Sapataria Exótica; na antiga Karblen, restaurante- lanchonete, há a Sapataria Esposende. Isso sem esquecer das Lojas de Departamento Mesbla e Viana Leal, existentes na Rua da Palma.(entrevista realizada no dia 20/07/2001, nas dependências da

Percebe-se que as ruas Nova, Imperatriz e Duque de Caxias tinham em seu comércio e serviços o culto pelos costumes, identificado pelos testemunhos dos entrevistados, expostos acima. Pois para Lipovetsky,

Enquanto nas eras de costume reinam o prestígio da antigüidade e a imitação dos ancestrais, nas eras da moda dominam o culto das novidades, assim como a imitação dos modelos presentes e estrangeiros - prefere-se ter semelhanças com os inovadores contemporâneos do que com os antepassados. Dessa forma a moda traduz uma descontinuidade histórica, ruptura maior que circunscrita, com a forma de socialização que se vinha exercendo: a lógica imutável da tradição.120

Em uma mesma rua encontram-se comerciantes que cultuam as relações tradicionais dividindo espaços com aqueles abertos às inovações, como pode ser analisado pelo testemunho do sócio - gerente das Casas José Araújo. Essa loja que há 111 anos existe na rua Duque de Caxias, com filiais no Shopping center Recife e no Bairro de Casa Amarela, enfatiza o orgulho que possuíam de seu país mas não de seu tempo atual, caracterizado pelo Plano Econômico Real e pelo Plano Energético. Diferentemente do gerente da Loja Emmanuelle, cujo testemunho pauta- se no orgulho de seu tempo atual, pois sua matriz localizada em São Paulo, o beneficia com as estratégias fiscais de comercialização de mercadorias do Sudeste para o Nordeste.

O Sr. José Araújo Neto, Diretor das Casas José Araújo, loja de Departamento, é de família pernambucana, descendente de portugueses, que passou por duas rupturas na Empresa (1996 e 1997). Instigado a falar do comércio do passado, o entrevistado lembra que as Casas José Araújo surgiram em 1890, tendo duas lojas no Centro (uma na Rua Duque de Caxias e outra na rua da Imperatriz - recentemente fechada), nos bairros da cidade (ainda existe uma loja, na Estrada do Arraial, bairro da Tamarineira), cidades do Estado, Estados da Região e em outras regiões brasileiras.

As lojas fora do Centro estão com padrões mais aproximados do que o consumidor espera. O Governo não controlou o contrabando das mercadorias que entram com notas baixas, chegam no Brasil e se oficializam. A roupa tipo

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sulanca, do Agreste Pernambucano, é a resposta que o Governo tem. De

1990 a 2001, houve demissão da Empresa de cerca de 1.110 funcionários nas 28 Casas José Araújo.Agora há apenas 05 lojas, que sofrem com a sobretaxa de impostos, o Brasil volta ao passado, criando privilégios. Há uma relação desigual entre as regiões. Por exemplo: uma mercadoria que chega de São Paulo vem com 7% do ICMS, é vendida aqui com 17% de ICMS sobre o preço de venda. A mercadoria que sai daqui para São Paulo, entra lá pagando 12% de ICMS. Por que não é 7%, também? Há um domínio de São Paulo. As franquias fizeram revolução mas tendem a desaparecer, principalmente no ramo de vestuário. O caso da C&A é diferente pois ela tem base territorial na Holanda e vende e financia suas mercadorias, feitas aqui, na região nordeste.(entrevista realizada no dia 25/05/2001, concedida nas dependências

do escritório central da Loja, localizada à rua Duque de Caxias).

No testemunho do Sr Araújo Neto, percebe-se que as relações sociais foram renovadas nos últimos anos, exigindo que os lojistas utilize-se de novas estratégias espaciais e sociais. "O espaço social da ordem tradicional se desfez em benefício de um elo inter- humano de um novo gênero, fundado nos decretos versáteis do presente" 121.

Entrevistando o gerente da Loja Emmanuelle, Sr. Edson Silva, loja do ramo de vestuário geral, localizada na Rua-shopping Imperatriz há 26 anos, com sede em São Paulo e mercado no Rio de Janeiro e todo o Nordeste, detectamos a veracidade do testemunho das Casas José Araújo. A Emmanuelle integra uma rede de lojas localizadas nas ruas-shopping e em outras ruas do Centro, como também nos shopping centers da cidade, totalizando 49 lojas, sendo que sua matriz é sediada em São Paulo. Quanto ao processo de dimensão de seus estabelecimentos, sua ampliação ou redução, o gerente da loja Sr. Edson, respondeu:

Ocorreram muitas reformas de nossas lojas, com introdução de ar - condicionado, porta de vidro e escada rolante, chegando a possuir lojas com cerca de 800 metros quadrados. Esses investimentos ocorreram há 04 meses atrás e foram destinadas às duas lojas do Centro (das ruas Duque de Caxias e Rua Nova). Houve melhorias após a retirada dos camelôs quanto à limpeza e segurança, pois havia suposição que os camelôs contribuíam com certas formas de roubo. Tem como objetivo concretizar o Projeto de Revalorização, criando o Pólo Imperatriz, precisando melhorar a infra-estrutura, com órgãos em conjunto. Procura-se adaptar o horário ao racionamento energético, criando o intervalo de 09:00 às 18:00. O consumidor tem um perfil que varia de rua para rua, mas na Imperatriz é de classe B, com renda que varia de R$

360,00 a R$ 400,00 nas outras ruas-shopping. Temos 02 lojas na Rua- shopping Nova; 02 na Rua-shopping Duque de Caxias; uma na Rua do Rangel e 01 na Avenida Conde da Boa Vista, com consumidores de classe C, em geral. O escritório de compras é em São Paulo, onde os representantes de vendam vão vender as mercadorias, muitas delas sendo daqui do Agreste Pernambucano. São mercadorias que variam de R$ 14, 00 a R$ 4,99, de composição em poliester com algodão em malha. (entrevista realizada no dia

31 de maio de 2001, nas dependências da loja).

Em seu depoimento, o Sr. Edson contribuiu para o entendimento das novas relações sociais das ruas-shopping, na medida em que esse lugar passa a ser o receptor das inovações dessas novas relações no comércio urbano no Brasil, pautado na desigualdade regional e na dependência com o mundo ocidental, representado pela moda:

"Com a moda aparece uma relação social que encarna um novo tempo legítimo e uma nova paixão ao Ocidente pelo "moderno". A novidade tornou- se fonte de valor mundano, marca de excelência social; é preciso seguir "o que se faz" de novo e adotar as últimas mudanças do momento: o presente se impôs como o eixo temporal que rege uma face superficial mas prestigiosa das elites 122.

Percebe-se que as lojas com matriz em São Paulo, ou mesmo de origem nordestina mas articuladas às redes de lojas, sobrevivem às transformações do comércio recifense. É o caso das Lojas Marisa, do ramo de vestuário geral, há 20 anos no Centro e filiais nas ruas: Imperatriz, Nova, Sete de Setembro e no Shopping center Recife. Em entrevista com o gerente Sr. Zeferino B. da Silva, foi constatado que para seu tipo de estabelecimento, com técnicas de auto- atendimento, aquela em que o cliente entra na loja e pega a mercadoria e vai direto ao caixa fazer o pagamento, não houve alteração do movimento após a saída do camelôs das ruas, por isso a loja não ampliou sua dimensão, fazendo apenas algumas reformas há 06 anos atrás.

Não houve mudança alguma quanto à Revalorização da rua, não conheço nem o Presidente da Associação. Nosso consumidor é o povão, àquele da classe B e C, que compra geralmente no início da semana, às terças-feiras, no horário das 14:00 às 15: 00 horas, quase sempre pessoas que trabalham no Centro. Nossas mercadorias são de São Paulo, com preços populares de R$ 9,99 (vestido) a R$ 5,99 (calcinhas e sutiãs). Uma das coisas que contribui

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para as vendas é a loja possuir cartão próprio e receber cartões de crédito e cheque pré-datados. (entrevista realizada no dia 20/07/2001, pela autora).

Um outra loja que possui auto-atendimento com cartão próprio, também corrobora com o depoimento do gerente das Lojas Marisa, é a gerente da Loja Narciso, Sr.ª Neide de Paula. Segundo a entrevistada, a Loja Narciso possui 134 anos de existência na rua-shopping Duque de Caxias, no ramo de confecção e tecidos, integrando uma rede de cerca de 51 lojas situadas em várias localidades brasileiras. No centro de Recife, além da Rua Duque de Caxias existem lojas na rua- shopping da Imperatriz, Rua Direita e no Cais de Santa Rita. Indagada se houve mudanças após a retirada dos camelôs, a S.a Neide respondeu:

Houve piora, pois quando havia camelôs as ruas do Centro tinham uma imagem de lugar mais barato (grifo nosso), estimulando o cliente a entrar nas lojas. Não havia atrapalho. Quanto a reforma do estabelecimento, todo ano tem quebra de paredes e ampliação das dependências, tendo sido a maior em 1985. As mercadorias mais vendidas são de valores baixos. São tecidos que variam de R$ 7,90 (crepe) a R$ 4,99 (bramante), comprados na Coréia. Nossos consumidores são os populares que se mantêm clientes desde o período dos camelôs. Em alguns dias, vê-se a classe média, como

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