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Vetores de ação: instituições prioritárias para a difusão e implementação do português

Capítulo 5. Para a Definição de Uma Estratégia de Difusão do Português a Novas

5.2. Vetores de ação: instituições prioritárias para a difusão e implementação do português

A quantificação de alguns dos critérios enunciados na secção anterior constitui um desafio que, possivelmente, só poderá ter uma resposta mais cabal num estudo mais alargado e especializado desta questão. Podemos, contudo, tomar indicadores que nos ajudam a identificar algumas das organizações que deverão constituir os focos de ação prioritária para a difusão do português.

O critério da visibilidade foi medido através do volume de tráfego na internet das páginas oficiais das organizações ao longo do último mês (agosto de 2017).106 Paralelamente, a pré-seleção das OI que se tomaram aqui em conta, num total de doze instituições (dez organizações intergovernamentais, o Comité Olímpico Internacional a FIFA) baseou-se na perceção da relevância e visibilidade dessas instituições no mundo lusófono e, em particular, em Portugal, através dos media, bem como no facto de várias de entre elas serem há já algum tempo apontadas como possíveis alvos para a adoção do português. Por essa razão, iremos encontrar nesta lista a ONU e várias das suas agências, algumas das quais têm sido até referenciadas como já tendo adotado o português (nomeadamente a UNESCO), algo que ainda não aconteceu na sua plenitude.

O fator coerência, associado ao de relevância, foi também o pano de fundo para a seleção dessas doze organizações, tendo como base os Planos de Ação de Brasília e de Lisboa, os quais mencionam explicitamente a Conferência Geral da UNESCO, a Assembleia Geral da ONU (e, potencialmente, o Conselho de Segurança), a OMS, ou a UNICEF.

O critério de viabilidade/sustentabilidade foi, para já, avaliado através da existência de departamentos de tradução/interpretação nas instituições e está também associado à presença de países lusófonos, outro dos fatores considerados.107 Por fim, foi verificado o historial das organizações quanto à adoção de novas LO/LT.

106 Números obtidos pela consulta dos sites de cada uma das organizações, sendo os links fornecidos no final

do trabalho, nas páginas consultadas na internet. Faz-se, é claro, as devidas ressalvas quanto às variações típicas destes dados.

107 Por razões que se prendem com as condições de adesão da Guiné Equatorial à CPLP e a fraca difusão do

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Um dos dados foi incluído apenas a título informativo, sem que tenha sido tomado em conta como critério – a existência de documentos ou de informação disponibilizada em português, como relatórios anuais, que tende a ser um primeiro indicador de uma mudança de estatuto de uma língua. Neste domínio, o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tem uma página eletrónica em português (na variante brasileira), na qual são disponibilizadas informações em diferentes áreas de intervenção, o que aponta para que possa existir um regime de transição em vigor.

Tabela 5.1 Potenciais Organizações-Alvo para a Expansão do Português

Organização Tráfego Mensal (Web) Departamento de tradução? Historial de adoção de novas línguas Países- membros lusófonos Documentos/Relatório Anual em Português? OMS 5 929 900 8 países LOP Não

ONU Assembleia

Geral

6 148 200 8 países LOP Não

UNESCO 2 384 480 8 países LOP Não; PT é LO da

Conferência Geral

UNICEF 2 096 700 8 países LOP Não

CICV 491 600 8 países LOP Sim, site em português

FMI 1 263 500

Não, mas uso crescente das LO da ONU

8 países LOP Não

OMC 667 200 6 países de LOP, STP é observador, TL não é membro Não

OCDE 2 118 900 Portugal Não

NATO 519 700 Portugal Não

ASEAN 262 000 Sem dados claros Não TL candidato Não

COI 661 500 Sem dados claros

Não, mas LO temporárias

(JO)

8 países LOP Não

FIFA 4 165 700 Sem dados claros 8 países LOP Não; PT é LO da Conferência Geral Fonte: Páginas na internet das diferentes organizações, relatórios e documentos oficiais, indicados de forma

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Os resultados da tabela 5.1 apresentam-se já hierarquizados, se assim podemos dizer – com exceção do COI e da FIFA, que surgem no final da tabela por serem instituições de caráter desportivo – sendo o peso relativo de alguns dos critérios (como o do número de visitas às páginas web das organizações) e a sua conjugação suscetível de debate em termos de uma hierarquia absoluta, que não pretendemos aqui impor.

O objetivo desta tabela não é, de resto, o de apresentar um “ranking” de forma rígida, mas antes identificar linhas de ação, as quais deverão ser concertadas, e identificar as OI que correspondem ao máximo de critérios.

Assim, podemos identificar três grupos estratégicos:

i. organizações de primeira prioridade, que, respondendo a todos os critérios e tendo todos os países lusófonos como seus membros, se encontram na melhor posição para a expansão do português: OMS (Organização Mundial de Saúde), Assembleia Geral da ONU, UNESCO, UNICEF e CICV – coincidindo em grande parte com os vetores de ação do PAB e do PALis;

ii. organizações de segunda prioridade, o FMI e a OMC (Organização Mundial de Comércio que, sendo relevantes para o mundo lusófono e respondendo de forma satisfatória à maioria dos critérios, apresentam contudo alguns obstáculos à sua adoção (em particular o FMI, pela tendência para não adotar novas línguas) ou não contam com todos os países de LOP na sua estrutura;

iii. organizações de terceira prioridade, ou não prioritárias, em que a presença do português não é suficientemente forte para legitimar a sua adoção a curto prazo, sendo porventura preferível negociar na base de parcerias estratégicas para a tradução de documentos considerados mais relevantes para o mundo lusófono – OCDE, NATO e ASEAN.

Adicionalmente, a presença do COI e da FIFA nesta lista justifica-se pela visibilidade que os Jogos Olímpicos e os diferentes campeonatos internacionais de futebol possuem; apesar de haver uma política de não adoção de novas línguas no COI, com exceção da língua dos países anfitriões dos Jogos (a título temporário), e de essa abordagem ser também a prática por defeito da FIFA, o facto de os JO de 2016 terem tido lugar no Brasil e de Portugal ser o atual campeão europeu de futebol poderão constituir um argumento a favor do reequacionamento desta postura e uma ocasião para defender uma maior abertura a outras línguas, em particular o português.

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Como indicadores positivos e que poderão apontar um foco adicional em termos de prioridade para a difusão do português, é de assinalar que a FIFA tem o português como uma das LO da sua Conferência Geral, algo que também acontece na UNESCO.

Este último caso parece-nos de particular relevância, pois permite dar maior solidez à defesa da adoção do português como língua oficial de pleno direito da UNESCO, o que por sua vez conferiria legitimidade acrescida para a sua difusão a outras agências da ONU, em particular no Secretariado-Geral, num momento em que ele é liderado por um português.