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AS VIAS LITERÁRIAS DE LIMA BARRETO

No documento ANAIS – Mostra Científica 2019 (páginas 123-128)

EIXO 2 – Interlocuções entre Conhecimento e Saber no Campo das Ciências Sociais Aplicadas

3 AS VIAS LITERÁRIAS DE LIMA BARRETO

Quando o Brasil tornou- se independente de Portugal, teve que conquistar a própria identidade acompanhando o progresso e os desenvolvimentos dos países europeus. Entretanto, Lima Barreto (2009, p. 109) critica indiretamente a postura da capital nacional em se espelhar aos padrões europeus, “´[...] os passeios não eram muitos. Em geral, os nossos lugarejos são de uma grande pobreza do pitoresco; há um ou dois lugares célebres, assim como na Europa cada aldeia tem a sua curiosidade histórica”.

Segundo Pesavento (1999, p. 165) “[...] a cidade sofre um impulso urbano — tardio, frente ao desenvolvimento de outras cidades coloniais da América Latina, como Buenos Aires, a população cresceu e a cidade colonial se viu diante da tarefa urgente de aparelhar-se como a sede da monarquia portuguesa no Brasil”. A partir disso, o Rio de Janeiro torna- se a maior cidade colonial do império no século XIX, pois exibe consequências de um crescimento progressivo como, aterros para os esgotos, limpeza pública, a moradia e a iluminação da cidade para atender ao fluxo crescente de imigrantes. Com o desenvolvimento, no final do século XIX, tornou- se grande exportadora de café sendo mencionada como um local de pessoas e hábitos primitivos. Por consequência, as elites almejam uma cidade limpa e ordenada, pois consideram que a cultura e as manifestações populares atrasam a modernização. É bom que se frise que as manifestações populares que milindravam as elites eram aquelas não protagonizadas por pessoas brancas. Por fim, quando o Rio de Janeiro torna- se a capital da República é que busca criar uma relação mais sociável entre as classes opostas.

No início do século XX, com a intervenção urbana, logo reflete uma nova ordem social e as modificações na cidade encerram um ciclo marcado pela escravidão e pelo colonialismo, portanto estas modificações trazem novas perspectivas e realidades à vida urbana.

Em consequência, o processo de modernização não se limitou apenas nas intervenções urbanísticas, mas também na expulsão da população pobre no centro da capital com a demolição dos cortiços e a destruição das ruas mais antigas. Com esta exclusão, as pessoas passam a morar nos subúrbios e serem vistas como “estrangeiros” em sua cidade de origem, afinal está comedida das suas tradições culturais ficando inviável divergirem contra o governo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Lima Barreto é um cronista que retratou a modernização do início do século XX, demonstrando em seus relatos as experiências nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Portanto, descreve sobre o subúrbio com um conhecimento profundo, pois se trata de uma realidade que vivenciou ao longo da sua existência. É possível compreender através da leitura da sua literatura que a sociedade é extremamente afetada por modificações e até hoje é refletida com a migração da população para os morros, provocando o surgimento e crescimento das favelas.

Por fim, é através da análise das obras deste literato que se faz possível analisar com afinco as mudanças da cidade do Rio de Janeiro, por intermédio da relação entre Literatura e História cujo resultado é uma atitude crítica sobre o processo de modernização da então capital do Brasil e, principalmente, em relação aos problemas sociais ocorridos no seu país durante o final do século XIX e início do século XX.

REFERÊNCIAS

ANGELIM, Daniel Morais. Lima Barreto e a cidade do Rio. In: ENGEL, Magali Gouveia.

Crônicas cariocas e ensino de História. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2008. p. 20-32.

BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Avenida, 2009.

ENDERS, Armelle. A nova história do Brasil. Rio de Janeiro: Gryphus, 2012.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade. Visões literárias do urbano: Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS, 1999.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lima Barreto: triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

PROTAGONISMO FEMININO NEGRO: UMA INSERÇÃO DE GÊNERO E RAÇA NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Thais Hayana dos Santos Andrade193 Sara Rogéria Santos Barbosa194 EIXO 4 – Interlocuções entre Conhecimento e Saber no Campo das Ciências Humanas.

Palavras-chave: Literatura contemporânea. Protagonismo feminino negro. Gênero e raça.

1 INTRODUÇÃO

As mulheres têm passado ao longo dos anos por um processo doloroso de construção identitária e intelectual no Brasil. Essa situação se agrava quando nesse processo são inseridas as questões de gênero e raça na luta pelo protagonismo feminino literário, visto que existe, na sociedade contemporânea, apesar dos grandes avanços da luta feminista e antirracista, um bloqueio ainda de difícil solução a respeito de a mulher negra ser inserida igualitariamente no meio acadêmico, intelectual e literário. Quanto a esse bloqueio, Hooks (2010, p. 3) afirma que

“Mesmo antes que raça se tornasse uma questão debatida em círculos feministas estava claro para as mulheres negras [...] que elas nunca teriam igualdade dentro do patriarcado de supremacia branca capitalista existente”.

Essa pesquisa objetiva criar um pensamento crítico-reflexivo na sociedade contemporânea em favor da raça e do gênero a fim de fazer diminuir a distância entre ser uma mulher negra e pobre, condição essa que se relaciona à realidade cotidiana e inversamente à situação de mulheres negras bem-sucedidas no meio acadêmico-literário e com posições valorizadas na hierarquia social. Para alcançar o objetivo proposto neste trabalho, será feita uma análise a partir de pesquisa bibliográfica de como as mulheres vêm sendo inseridas, ainda que em pequena escala, no meio literário em busca de voz para os corpos negros, luta por representatividade, por igualdade de gênero ou por disseminação da cultura afro. Como afirma Souza, (2006, p.01), “os africanos deportados para várias partes do mundo empreenderam,

193 Graduanda em Letras pela Faculdade São Luís de França.

194 Doutoranda em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Bahia. Mestra em Educação com ênfase em História do Ensino de Línguas pela Universidade Federal de Sergipe. Especialista em Didática e Metodologia de Ensino Superior pela Faculdade São Luís de França e Licenciada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal de Sergipe. Endereço eletrônico: sararogeria@gmail.com.

desde os navios, esforços individuais e coletivos com intuito de preservar e reconfigurar contos, cânticos, performances, saberes”.

Outros aspectos abordados nesse artigo é uma das primeiras e principais obras literária assinada por uma mulher negra: Úrsula, publicado em 1859 por Maria Firmina dos Reis e Cadernos Negros: Coleções de cadernos literários, publicados pela primeira vez em 1978. Essa pesquisa utilizou como base os seguintes teóricos contemporâneos: Alves (2011), Hall (2006), Hooks (2010), Monteiro (2016), Souza (2006).

2 O LOCAL DE FALA: COMPREENDER O PROTAGONISMO NEGRO FEMININO A PARTIR DE SUA INSERÇÃO NO MEIO LITERÁRIO

Durante um longo período, desde que os negros foram trazidos ao Brasil forçadamente, a mulher negra tem lutado por um lugar de destaque na sociedade, mesmo com poucos avanços essas mulheres vêm travando batalhas diárias por um posicionamento mínimo de respeito e valorização social. A criação dos movimentos feministas foi citada de acordo com Hall (2006, p.44) como “um dos cinco avanços da ciência e do pensamento humano que descentram o sujeito contemporâneo, apontando para as mulheres como fonte sustentadora de uma transformação sociocultural”.

Na mesma linha de pensamento acerca dos passos avançados pelas mulheres surge uma das primeiras obras literárias escritas por uma mulher, Úrsula, foi publicada em 1859 por Maria Firmina dos Reis e trazia a perspectiva da escravidão pelos olhares de uma mulher afrodescendente, algo inédito na história da literatura negra. Posteriormente surge na década de 1970 em primeira edição a publicação de cadernos literários assinados por autores negros. De acordo com Alves (2011, p. 185), a primeira publicação de Cadernos negros é de 1978, apresentava oito autores, sendo dois deles do gênero feminino e objetivava, quanto à escrita,

“tirá-la da invisibilidade e do “só-menor” em que estava proscrita”.

Esses cadernos são publicados até os dias atuais pelo grupo Quilombo hoje literatura e revelam grandes nomes da literatura afro. Nesse contexto a mulher é inserida como agente de transformação social, e passa a buscar um lugar de fala para os corpos negros femininos, até então, postos em último plano. De acordo com Monteiro (2016, p. 3), a mulher negra é

encontrada de duas formas no texto literário: “primeiro sendo representada, depois ela mesma se escrevendo e participando dessa literatura”. Esses avanços levam a mulher negra à posição produtora literária contemporânea, numa batalha travada desde o final da escravidão no Brasil em busca de igualdade de gênero, lugar de fala e representatividade, mas não a leva a uma posição igualitária ao gênero feminino de raça oposta.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante muitos anos a literatura feminina negra, assim como o corpo negro, foi violada, escondida e maquiada para não se disseminar, o que evidencia que a questão racial negra no Brasil se manifesta, inclusive, no campo literário. Escritoras negras passam a usar sua identidade racial com o intuito de buscar voz para os seus corpos e a sua cultura. As primeiras obras surgem timidamente e da necessidade de vitrine para esses trabalhos surgem os Cadernos Negros que seguem após 40 anos inserindo o trabalho literário dos escritores negros no Brasil.

Evidentemente a batalha travada pela mulher negra por inserção na sociedade continua sendo travada contemporaneamente e o aspecto de desfavorecimento e desigualdade socio-racial prevalece, até porque não há um processo homogêneo entre ser negra e estar inserida na produção literária contemporânea. É preciso buscar alternativas e empreender para se colocar em evidência no mercado capitalista em busca de representação, voz e reconhecimento.

REFERÊNCIAS

ALVES, Miriam. A literatura negra feminina no Brasil: pensando a existência. Revista da ABPN, n.3, v.1, nov.2010-fev. 2011, p. 181-189.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A. 2006.

HOOKS, Bell. Políticas feministas: de onde partimos. Disponível em

https://negrasoulblog.files.wordpress.com/2016/04/politicas-feministas-de-onde-partimos-e28093-bell-hooks. Acessado em 02 de nov de 2019.

MONTEIRO, Liliane Souza. A representação a mulher negra na literatura brasileira. In: VIII Colóquio Internacional: as Amazônias, as Áfricas e as Américas na Pan-Amazônia. Rio Branco-AC 2016.

SOUZA, Florentina. Facetas literárias. Caderno especial saudações África. Jornal A tarde, Salvador, 2006- Jul, p.01.

ULHER E LITERATURA: A FIGURA FEMININA NO TEXTO LITERÁRIO.

Gresiane da Silva Oliveira195 Jética Santana Paiva196 Sara Rogéria Santos Barbosa197 EIXO 4 – Interlocuções entre Conhecimento e Saber no Campo das Ciências Humanas Palavras-chave: Literatura. Mulher. Patriarcalismo. Texto Literário.

1 INTRODUÇÃO

A literatura pode ser pensada como reflexo da sociedade, pois é capaz de questionar transformações sociais, tendo potencial de fazer o leitor conhecer e refletir acontecimentos de determinada época. Homens e mulheres ao longo da evolução social desempenharam papéis diferentes na sociedade, as diferenças sexuais são notáveis, principalmente a relação de inferioridade que a figura feminina assumia na convivência em sociedade, bem como na literatura.

Pensando nisso, este trabalho tem por objetivo propor uma discussão acerca da representação feminina nos textos literários e compreender como a literatura de autoria feminina e o movimento feminista contribuíram para desconstruir à visão tradicional imposta pelo cânone. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que foi embasada nos princípios de Rossini (2014), Sommer (1991). A problemática que conduz essa pesquisa refere-se à construção da imagem feminina no texto literário a partir de conservadorismo.

No documento ANAIS – Mostra Científica 2019 (páginas 123-128)