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longo da vigência do RGIT, este não alterou e / ou retirou a “dispensa” do elemento da apropriação da prestação tributária 235 referente às declarações

mensais ou trimestrais

236

de IVA. Todavia, o Supremo Tribunal Administrativo

(STA), em 2008, inicia uma nova corrente jurisprudencial

237

interpretativa

238

que

culminaria com o Supremo Tribunal de Justiça a introduzir o elemento de

(453)], Lei n.º 64-A/2008 de 31/12 [DR I – Série, Suplemento, 252 (31-12-2008) 9300 (2) – 9300 (389)], Lei n.º 3-

B/2010 de 28/04 [DR I – Série, Suplemento, 82 (28-04-2010) 1466 (66) – 1466 (384)], DL n.º 73/2010 de 21/06 [DR I – Série, 118 (21-06-2010) 2170 – 2198], Lei n.º 55-A/2010 de 31/12 [DR I – Série, Suplemento, 253 (31-12-2010) 6122 (2) – 6122 (322)], Lei n.º 64-B/2011 de 30/12 [DR I – Série, Suplemento, 250 (30-12-2011) 5538 (48) – 5538 (244)], Lei n.º 20/2012 de 14/05 [DR I – Série, 93 (14-05-2012) 2481 – 2516], Lei n.º 66-B/2012 de 31/12 [DR I – Série,

Suplemento, 252 (31-12-2012) 7424 (42) – 7424 (240)], DL n.º 6/2013 de 17/01 [DR I – Série, 12 (17-01-2013) 344 – 347], Lei n.º 83-C/2013 de 31/12 [DR I – Série, Suplemento, 253 (31-12-2013) 7056 (58) – 7056 (295)], Lei n.º 75-

A/2014 de 30/09 [DR I – Série, Suplemento, 188 (30-09-2014) 5110 (2) – 5110 (59)], Lei n.º 82-B/2014 de 31/12 [DR I – Série, Suplemento, 252 (31-12-2014) 6546 (74) – 6546 (310)], Lei n.º 82-E/2014 de 31/12 [DR I – Série, 2.ª

Suplemento, 252 (31-12-2014) 6546 (339) – 6546 (418)].

235 «Da tipificação deste crime desaparece o elemento da apropriação da prestação tributária. O crime de abuso de

confiança fiscal passa a ficar preenchido com a falta de entrega total ou parcial, à administração tributária, de prestação deduzida nos termos da lei a que o sujeito passivo estava obrigado a entregar ao credor tributário. Por outro lado, pode afirmar-se que o dolo deixa de ser elemento essencial do crime, que se consuma findos 90 dias sobre o termo do prazo legal de entrega da prestação.» CATARINO, João Ricardo; VICTORINO, Nuno – Regime Geral das Infracções

Tributárias Anotado. Lisboa: Vislis Editores. Abril 2002. ISBN: 972-52-0141-8, p.557.

236 Aqueles que estão sujeitos a uma periodicidade mensal são os que têm um maior volume de negócios (igual ou

superior a € 650 000 anuais), a que normalmente corresponderão também maiores valores de IVA a entregar ao Estado, enquanto os que estão sujeitos a uma periodicidade trimestral são os que têm um menor volume de negócios (inferior a € 650 000 anuais), conforme preceito legal inserido no art. 41.º do CIVA.

237 «Embora o direito tenha conhecido sempre um profundo processo de evolução e de clarificação através da sua

aplicação pelos juízes, a jurisprudência, no entanto, não pode ser incluída entre as fontes do direito, porque, pelo princípio da divisão de poderes que está na base dos estados modernos, a magistratura apenas tem a função de interpretar a lei e de a aplicar para a solução dos conflitos, sendo a sua criação da exclusiva competência do poder legislativo. A interpretação de uma norma feita numa sentença transitada em julgado facit ius inter partes mas só relativamente àquela questão em concreto, e mesmo que, depois disso, se apresentasse um caso análogo, essa interpretação não vincularia de maneira alguma o juiz. Certamente que a rerum perpetue similiter indicatarum

auctoritas, que acaba por transformar-se em ius receptum, especialmente quando promana dos tribunais mais

elevados, adquire eficácia de facto, embora não de iure, mas dentro de um critério de estrita legalidade nada impede que cada juiz possa seguir uma orientação diferente; (…) Noutros Estados, como na Inglaterra, ao lado da lei (Statute) e do costume (Common Law) reconhece-se a jurisprudência como fonte de direito, porque as sentenças transitadas em julgado constituem precedentes (Case Law), com eficácia vinculativa para os casos semelhantes que se apresentem de futuro, segundo o princípio do stare decisis, quer dizer, da obrigação de os tribunais inferiores ou da mesma categoria se conformarem com as sentenças dos tribunais superiores, pronunciadas relativamente a casos semelhantes.» GROPPALI, Alessandro – Introdução ao Estudo do Direito. Trad. Manuel de Alarcão. Coimbra: Coimbra Editora, 1968, p. 103 e 104.

238 «O art. 114.º, n.º 1, do RGIT, que pune como contra-ordenação fiscal a «falta de entrega da prestação tributária», não

abrange na sua previsão situações em que o imposto que deve ser entregue não está em poder do sujeito passivo, por não ter sido recebido ou retido.» Ac. STA Processo n.º 0279/08, Relator: JORGE DE SOUSA. [Consult. 13 de

Novembro de 2015]. Disponível na

Internet:<URL:http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/c19ed72355c4c93d8025745f0056370b ?OpenDocument&ExpandSection=1#_Section1>.

“apropriação” quanto ao IVA através do Acórdão de Fixação de Jurisprudência

n.º 8/2015

239

, em que o Tribunal da Relação de Coimbra (TRC) seguiu esta

mesma orientação no Acórdão de 14 de Outubro de 2015

240

, sendo certo que,

mesmo em momento anterior, já apresentava esta mesma orientação

241

. Como

também, mesmo antes do AFJ n.º 8/2015, o Tribunal da Relação do Porto

(TRP) já apresentava este entendimento

242

em concordância com outra

239 «A omissão de entrega total ou parcial, à administração tributária de prestação tributária de valor superior a € 7.500

relativa a quantias derivadas do Imposto sobre o Valor Acrescentado em relação às quais haja obrigação de liquidação, e que tenham sido liquidadas, só integra o tipo legal do crime de abuso de confiança fiscal, previsto no artigo 105 nº1 e 2 do RGIT, se o agente as tiver, efectivamente, recebido.» DR I - Série, 106 (02-06-2015) 3502 – 3512.

240 «III - No caso específico do IVA, o tipo exige que o sujeito passivo tenha recebido a prestação tributária que tem a

obrigação legal de liquidar. IV - A não se entender como necessário ao preenchimento do tipo o prévio recebimento pelo sujeito passivo do imposto que deve entregar à administração fiscal, não se concebe a obrigação de entrega e muito menos a existência de abuso de confiança pois o depositário nada recebeu de que pudesse abusar. V - Dúvidas não subsistem, portanto, de que, agora e face à jurisprudência fixada [Acórdão Uniformizador n.º 8/2015], o fundamento jurídico que constitui a pedra angular do recurso interposto, isto é, que o efectivo recebimento da prestação tributária deduzida não é elemento constitutivo do tipo de ilícito – deixou de ter “validade”.» Processo n.º 92/09.7IDVIS.C2, Relator: VASQUES OSÓRIO. [Consult. 10 de Novembro de 2015]. Disponível na Internet:<URL:http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/9a9268a9b11bb4fd80257ee40045cd67 ?OpenDocument>.

241 Processo n.º 1638/09.6IDLRA.C1, Relator: PAULO GUERRA. 29-02-2012 [Consult. 13 de Novembro de 2015].

Disponível na Internet:

<URL:http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/d12dc70c55cddc66802579c3004d2a46?OpenD ocument>.

242 «Na sua configuração atual, deixou de ser elemento típico do crime de abuso de confiança fiscal a apropriação;

estamos perante um crime de omissão pura para cuja verificação basta a não entrega da prestação tributária devida (assim, na doutrina, entre outros, Susana Aires de Sousa, Os Crimes Fiscais, Coimbra Editora, 2006, pág., 123, e Isabel Marques da Silva, Infracções Tributárias, 2ª ed. Almedina, IDEF, Coimbra, 2007, pg. 179). De acordo com o Código do I.V.A., este imposto é devido logo que liquidado, logo que a transacção a ele sujeita se efectiva e se realiza (artigos 16º a 40º desse Código), independentemente de a quantia em questão ser recebida pelo devedor. Mas há que distinguir a responsabilidade tributária da responsabilidade criminal. Uma orientação da doutrina (ver, entre outros Susana Aires de Sousa, op. cit., pg. 126; e Isabel Marques da Silva, op. cit., pg. 168, e «Nullum Crime, Nulla Poena, sine Lege Praevia: a Inexistência de Infracção Tributária nos Casos de IVA não Recebido», in Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Paulo Pitta e Cunha, Vol. II, Almedina, Coimbra, 2009, pg. 260) e da jurisprudência (ver, entre outros, os acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 13 de Dezembro de 2011, proc. nº 01P3749, relatado por Hugo Lopes; da Relação de Coimbra de 27 de Junho de 2001, proc. nº 127/2001, relatado por Ferreira Diniz; de 15 de Dezembro de 2010, proc. nº 24/06.6IDGRD, relatado por Mouraz Lopes; de 29 de Fevereiro de 2012, proc. nº 1638/09.6IDLRA, relatado por Paulo Guerra; de 22 de Janeiro de 2014, proc. nº 4908.5IDAVR.C2, relatado por Jorge Dias; da Relação de Évora de 3 de Dezembro de 2009, proc. nº 1358/06.3RDLSB.E1, relatado por Fernando Ribeiro Cardoso; e da Relação de Guimarães de 9 de Junho de 2005, proc. nº 203/04.1, relatado por Ricardo Silva; de 13 de Junho de 2011, proc. nº 137/09.0IDBRG, relatado por Fernando Ventura; de 3 de Dezembro de 2012, proc. nº 113/11.6IDGRG.G1, relatado por Fernando Monterrosso; de 18 de Março de 2013, proc. nº 412/11.4DGRG.G1, relatado por João Lee Ferreira; e de 22 de Abril de 2013, proc. nº 520/11.1IDBRG.G1, relatado por Cruz Bucho; todos in www.dgsi.pt) vem considerando, precisamente porque são distintas e autónomas a responsabilidade tributária e a responsabilidade criminal, que só incorre no crime de abuso de confiança fiscal o agente que, estando obrigado a entregar à Administração Fiscal a quantia correspondente ao I.V.A. liquidado, já recebeu essa quantia. Esta tese foi

jurisprudência, na mesma senda o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL)

243

e o