• Nenhum resultado encontrado

2.3 Monitorização de fauna bravia à distância

2.4. Vigilância de doenças

Como nenhum sistema natural condicionado pelo Homem segue um padrão ideal de

funcionamento e sendo o objectivo máximo em termos de conservação da natureza a

ser geridos para que os números de indivíduos de cada população se mantenham dentro dos

intervalos sustentáveis específicos de cada espécie. Um dos factores mais importantes neste

âmbito é a prevenção e vigilância de doenças, cuja existência e disseminação implicam riscos

para a saúde pública e vida selvagem, assim como levam a enormes perdas económicas

relativas à produção pecuária. É na prevenção e vigilância de doenças que este capítulo se

baseia, enquadrando os preceitos genéricos deste tema com aquilo que vivi enquanto

estagiário ao serviço do EWL.

O EWL tem a seu cargo um programa de vigilância de doenças, relativo à área que

abrange todas as reservas de vida selvagem privadas localizadas da área do GKNP e as

propriedades contíguas destinadas à produção de espécies pecuárias. Os objectivos deste

programa são:

-Determinar o estatuto epidemiológico e parasitológico da fauna bravia e dos efectivos

pecuários da região, assim como as causas de infecção e infestação cruzadas;

-Determinar o risco para a saúde pública referente a zoonoses;

-Criar um sistema de alerta precoce para que possam ser tomadas medidas no combate a

doenças infecto-contagiosas (Tuberculose, Brucelose, Raiva, Febre Aftosa);

-Instruir os produtores de gado em relação às práticas higio-sanitárias adequadas;

-Registar todas as ocorrências relevantes num sistema de mapeamento por GPS.

Todavia, é de assinalar que este programa está integrado num pacote comercial de serviços prestados pelo meu tutor sul-africano e, aquando da minha participação no decorrer do período de estágio, ainda se encontrava numa fase inicial de implementação. Por conseguinte, apenas alguns dos parâmetros estavam a ser avaliados. As actividades desempenhadas neste

âmbito foram as seguintes: Análises de água:

-parâmetros inespecíficos : pH, electro-condutividade (μs), quantidade total de partículas sólidas dissolvidas (total dissolved solids-TDS). Estas três medições são efectuadas recorrendo a um aparelho portátil medidor de múltiplos parâmetros; turbidez- obtida por um espectrofotómetro; titulações-dureza total, dureza calcaria, alcalinidade e cloro. As titulações são efectuadas manualmente em laboratório, recorrendo aos reagentes específicos para cada um dos aspectos. Estes parâmetros são avaliados mensalmente, nos empreendimentos turísticos e explorações pecuárias abrangidos pelo programa de vigilância de doenças em curso, sem custos adicionais. A água analisada é proveniente da rede, ou de furos subterrâneos, destinando-se ao consumo humano e dos efectivos pecuários. Estão estipulados intervalos de segurança para cada um dos parâmetros avaliados, assim, quando os resultados estão fora destes intervalos é dado o alerta e é levada a cabo uma investigação para averiguar qual é a causa do problema em curso, e orientada a resolução do mesmo, sendo que durante esse tempo a água é considerada imprópria para consumo.

-parâmetros específicos- estes só são efectuados caso haja uma suspeita de contaminação. É de referir que estas análises têm um custo adicional para o pacote de serviços- Identificação de: coliformes totais, coliformes fecais (pseudomonas, salmonella, E. coli) -a avaliação destes parâmetros é efectuada recorrendo à cultura em agár (específico, ou inter-específico para cada microrganismo) e posteriormente à permanência numa estufa a uma temperatura e humidade

controladas, é efectuada a contagem de colónias formadas; identificação, recorrendo ao MOC, de algas presentes nas amostras de água, assim como de outros microrganismos.

Neste âmbito, procede-se à recolha de amostras de fezes de herbívoros selvagens (no campo) e dos efectivos pecuários abrangidos no programa, para proceder à contagem de ovos pelo método de flutuação de Willis. Os resultados obtidos servem para qualificar e quantificar os graus de infestação nas respectivas espécies. No despiste de parasitoses em fauna bravia, a única medida a ser tomada é a eliminação do estrato herbáceo nas imediações das vedações que separam as reservas de vida selvagem de explorações pecuárias contíguas. Caso se verifiquem parasitoses nos efectivos pecuários, são instituídos os protocolos de desparasitação com recurso a fármacos;

Parte do teste da tuberculina - quando requerido, é efectuada a primeira parte do teste serológico da tuberculina, que consiste em colocar o soro de cada animal em contacto com quatro diferentes soros antivirais (aviário, bovino, fortuito e de controlo). Após este procedimento, as amostras são enviadas para outro laboratório, no qual é efectuada a segunda parte do teste-marcação por interferão gama- com equipamento adequado para o efeito. As espécies visadas são gado bovino (Bos taurus e B. indicos) e búfalos africanos (Syncerus

caffer) mantidos em cativeiro. Este teste foi muito requisitado pelas explorações pecuárias

com estatuto ‘livre de tuberculose’, com o objectivo confirmar o seu estatuto epidemiológico numa rotina mensal. No entanto, há relativamente pouco tempo este estatuto foi desacreditado pelo governo, levando a que não seja nem rentável, nem obrigatório continuar a fazer estes, sendo que actualmente só é efectuado esporadicamente;

Apreciações de campo - saídas de campo para observação de animais selvagens,

enquadrados no ecossistema envolvente, tendo particular atenção às espécies consideradas

sentinela, são elas a impala (Aepyceros melampus), o gnú (Connochaetes taurinus) e a zebra

(Equus burchellii), com o objectivo de: fazer um levantamento do número de indivíduos referentes a cada manada/grupo de animais (tendo em conta o rácio macho-fêmea, adultos-

juvenis e presença de animais gestantes); observar possíveis indícios de doença (ferimentos, exsudações, abcessos); avaliar a condição corporal pelo método de Berry (classificação da condição corporal em cinco categorias: muito magro, magro, normal, bom, excelente).

Consoante as ilações obtidas através destas observações, podem ser tomadas algumas medidas, contudo é de referir que a política instituída de ‘não interferir com a vida selvagem, a menos que o problema evidenciado tenha uma causa antropogénica’ não me parece ser encarada de forma coerente, porque caso se despistem alguns indícios de doença, a nossa acção limita-se a observar o curso normal da doença (para que melhoremos, de futuro, a forma de a prevenir), estando impossibilitados de agir, enquanto que se o número de machos for consideravelmente superior em relação ao número de fêmeas (tomando como referencia o rácio “natural”), é permitido abater parte deles selectivamente. Ainda que paradoxal (e

porventura até benéfico), esta tarefa gera uma fonte de rendimento considerável, que mesmo não estando explícito, na minha opinião é uma das razões para que seja empreendida.

Possivelmente seria produtivo desenvolver este capítulo de forma mais aprofundada,

analisando as diferentes variáveis focadas e tentando integrá-las num contexto geral do que

poderia ser levado a cabo para que os nossos esforços conservacionistas sejam mais benéficos

à respectiva natureza (e quiçá até sugerir eventuais melhoramentos e adaptações); no entanto a

perspectiva comercial com que grande parte destes esforços de conservação são empreendidos

é o principal factor limitante que por um lado não permite que alguns factores sejam avaliados

(por não ser rentável), e por outro me impede de explorar o assunto de forma mais minuciosa,