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2.1 O valor de uma empresa

2.1.1 Visão baseada em recursos

Segundo Barney & Hesterly (2011), o modelo de desempenho VBR possui o foco nos recursos e nas capacidades que a empresa controla, os quais são fontes de vantagem competitiva. Dentre os recursos eles destacam os ativos tangíveis e intangíveis controlados pela empresa e que servem para criar e implementar as estratégias (fábrica, produtos, reputação entre os clientes e o trabalho em equipe.

Por outro lado, as capacidades são um subconjunto de recursos que podem ser utilizados para que a empresa aproveite por completo outros recursos: competências de

marketing, trabalho em equipe e a cooperação entre as gerências. Sozinhas são insuficientes para implementar as estratégias.

Neste modelo de desempenho, segundo os mesmos autores, as amplas categorias dos recursos e das capacidades são classificadas em quatro tipologias. Os recursos financeiros envolvem todo o dinheiro utilizado para implementar as estratégias, independente de sua origem ser de terceiros ou da própria empresa ou de seus sócios.

O segundo grupo se refere aos recursos físicos, onde está incluída toda a tecnologia física utilizada pela empresa, não sendo a mesma citada por Bonancim e Araújo (op.cit.) na figura 5. Naquela imagem, a tecnologia referida provém do capital intelectual e está dentro dos ativos intangíveis. A tecnologia física que Barney & Hesterly citam está por aqueles autores incluído no ativo do balanço oficial, e não na parte oculta.

O grupo dos recursos humanos no modelo de desempenho VBR é especificado pelos autores citados anteriormente como o treinamento, experiência, discernimento, inteligência, relacionamento e visão individual das pessoas, os quais fazem parte do capital intelectual, competência e goodwill constantes da figura 5. Alguns desses recursos podem estar diretamente relacionados à rotatividade e ao absenteísmo, numa constatação própria ainda introdutória.

O último grupo se refere aos recursos organizacionais, que para Barney & Hesterly (op.cit.) são os atributos de grupos de pessoas, não individualmente. Fazem parte de uma estrutura formal de reporte da empresa, com seus sistemas formais e informais de gestão, envolvendo cultura e reputação, bem como as relações informais internas e externas.

Esse tipo de competência também está presente no modelo usado por Bonancim & Araújo (op.cit.), bem como é considerada por Damodaran (op.cit.) e Bender (op.cit.), bem como pelos demais autores que pesquisam a valoração dos negócios.

Da mesma forma que os financistas atribuem valores diferentes ao longo do tempo para as empresas e também para empresas diferentes no mesmo momento, a VBR obedece a duas premissas fundamentais sobre os recursos e sobre as capacidades que por elas são controladas.

Barney & Hesterly (op.cit.) esclarecem que a premissa da heterogeneidade de recursos estabelece que cada empresa possui um conjunto diferente de recursos e capacidades, mesmo atuando no mesmo setor indicando que o grau de competência para utilizar os recursos varia entre organizações diferentes.

Também afirmam que algumas dessas diferenças podem ser duradouras, porque o custo de aquisição ou desenvolvimento dessas capacidades e recursos podem retardar seu uso por empresa que ainda não as possui.

Essa premissa é chamada pelos autores de imobilidade de recursos, fato que provavelmente fez Bender (op.cit.) considerar o tempo de duração da vantagem competitiva como um dos determinantes do valor das empresas, conforme foi ilustrado na figura 3.

As duas premissas juntas devem ser consideradas na valoração dos ativos intangíveis, porque uma vantagem competitiva sustentável provavelmente aumenta o valor da empresa, sendo que as métricas de gestão de pessoas importantes para esse fim, desde que atreladas à estratégia geral das organizações.

Consideradas em conjunto, essas duas premissas permitem explicar por que algumas empresas superam outras, mesmo que estejam todas competindo no mesmo setor. Se uma empresa possui recursos e capacidades valiosos que poucas possuem, e se essas poucas empresas consideram muito custoso imitar esses recursos e essas capacidades, a empresa que detém esses ativos tangíveis e intangíveis pode obter uma vantagem competitiva sustentável. (BARNEY & HESTERLY, op.cit., p.59).

Da mesma forma que a teoria contingencial afirma que não existe The Best Way, Bender (op.cit.) corrobora com Barney & Hesterly (op.cit.) sobre o fato de que a vantagem competitiva pode ser duradoura, mas não permanente, sustentável, mas não eterna. As empresas promovem inovação para que essas vantagens estejam não somente em evidência, mas em constante evolução.

Em relação à retenção de pessoas, pode-se concluir que a VBR proporcione o desenvolvimento de modelos que a considerem na valoração dos intangíveis. O modelo VRIO (Valor, Raridade, Imitabilidade e Organização), por exemplo, apresenta quatro perguntas chaves, segundo Barney & Hesterly (op.cit.).

Referem-se à questão do valor para verificar se o recurso permite a exploração de uma oportunidade ambiental ou se é capaz de neutralizar uma ameaça do ambiente. Os recursos humanos, por exemplo, podem ajudar a aproveitar uma oportunidade surgida no mercado, mediante o aproveitamento de relações interpessoais ou são transferidos para outras empresas quando ocorre a rotatividade.

A raridade se refere ao fato de apenas um pequeno número de empresas controlar algum recurso, como no desenvolvimento de uma nova tecnologia, tornando a empresa mais valiosa do que aquelas que ainda não a dominam.

No caso de um hospital, outro exemplo de raridade pode ser estabelecido, considerando a contratação de um médico exclusivo que domine algum processo cirúrgico inédito ou a associação com um laboratório que detenha a patente de algum medicamento que torne os custos dos insumos mais baratos.

A outra questão se refere à imitabilidade, que para Barney & Hesterly (op.cit.), considera a desvantagem de custo para obter ou desenvolver o recurso. Na projeção de fluxo de caixa utilizado na avaliação de empresas, os valores dos gastos com investimento são relevantes na determinação do valor. Se para manter o crescimento for necessário desenvolver novas tecnologias, o valor desse investimento é abatido do fluxo de caixa projetado, porque sem esse recurso as receitas não serão geradas e a empresa perderá vantagem competitiva.

Todas as outras políticas e procedimentos da empresa devem estar organizadas de forma a suportar a exploração de recursos valiosos, raros e custosos para imitar. Essa é a quarta questão enunciada pelos autores, que também estabelecem a relação dessas questões com o valor, mediante a geração de receitas líquidas garantidas pela vantagem competitiva sustentada.

Em relação à gestão de pessoas e suas métricas, encontra-se na VBR um aspecto que pode estar relacionado à rotatividade de pessoal.

Ao se referir às fontes de imitação custosa, esses autores citam a complexidade social como limitadora da imitação, estando nessa complexidade os relacionamentos interpessoais, confiança e cultura, aspectos que podem afetar ou ser afetados pela mudança do quadro de funcionários de uma organização.

Hancock et al (2011) identificaram estudos que estabeleceram relação negativa entre o desenvolvimento da homogeneidade e coletividade (pensar em grupo) e a rotatividade das pessoas, como também com a estagnação e inovação. Deduz-se com isso que a complexidade social também pode estar relacionada à movimentação de funcionários nas empresas.

Na questão da organização também se encontram aspectos relacionados à gestão de pessoas e ao desempenho organizacional, uma vez que nessa questão estão envolvidos os sistemas de controle gerencial e as formas de reporte (quem se reporta a quem). Na pesquisa que se desenvolveu nesta tese, por exemplo, tornou-se necessário moderar a análise com as características da gestão, sendo elas o controle externo e a existência da gerência médica e de recursos humanos.

Por outro lado, o modelo VBR considera diversos outros aspectos relacionados à gestão de pessoas, como as economias de curva de aprendizado, que pode ser custoso de duplicar e que estão diretamente relacionados aos indicadores de retenção de funcionários,

como o absenteísmo e a rotatividade. Funcionários mais assíduos tendem a aprender mais rápido e quanto maior a rotatividade, menor deve ser a inclinação inicial da curva de aprendizagem.

Depreende-se, portanto, que a VBR pode contribuir com os modelos de valoração dos ativos intangíveis, por tratar de recursos e capacidades físicos e imateriais, além de observar a perspectiva econômica na criação e nos retornos proporcionados pela vantagem competitiva.