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Tratando-se de leis federais, a uniformização do entendimento jurisprudencial é tarefa constitucionalmente atribuída ao Superior Tribunal de Justiça. Ocorre que o próprio STJ, durante algum tempo, divergiu em suas turmas sobre o prazo prescricional aplicável aos pleitos indenizatórios em face da Fazenda Pública.

Neste sentido, tanto a 1ª como a 2ª Turma do STJ, as quais compõem sua 1ª Seção, especializada no trato do Direito Público, já proferiram julgamentos favoráveis ao prazo de três anos, previsto no art. 206, §3º, V, do Código Civil de 2002, como prazo prescricional destinado às demandas reparatórias contra o Estado.

Ilustrando como já decidiu a 1ª Turma do STJ, veja-se:

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISÃO INJUSTA. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. PRAZO PRESCRICIONAL. CONTAGEM. NOVO CÓDIGO CIVIL.

I - Trata-se de ação de indenização por danos morais, ajuizada contra a União, pelo fato de a autora haver sofrido prisão injusta decretada pela Justiça Federal.

II - A teor do artigo 2.028 do novo Codex, a lei anterior continuará a reger os prazos, quando se conjugarem os seguintes requisitos: houver redução pela nova lei e, na data de vigência do novo Código, já se houver esgotado mais da metade fixado pela lei revogada (Decreto nº 20.910/32, no caso).

III - In casu, não foi observado o segundo requisito, porquanto entre a data do evento danoso (09.04.2002) e a vigência do novo Código Civil (janeiro/2003), transcorreu menos de 1 (um) ano, não chegando à metade do prazo anterior, ou seja, pelo menos dois anos e meio. Dessa forma, a contagem do prazo prescricional é a de 3 (três) anos, fixada pelo artigo 206, § 3º, V, do Codex, e deve ser contada a partir da vigência dele. Precedente citado: REsp nº 982.811/RR, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, julgado em 02.10.2008.

IV - Recurso especial improvido82.

Desta mesma decisão acima, interpuseram-se embargos de divergência, que foram julgados pela 1ª Seção do STJ, a qual, apesar de não os ter conhecido, assinalou à época que “o prazo prescricional para pleitear indenização contra a Fazenda Pública foi reduzido para três anos, nos termos do art. 206, § 3º, V, do CC.”83.

A 2ª Turma do STJ também já manifestou esse entendimento84:

82 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1066063/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, 1ª Turma, julgado

em 11/11/2008, DJe 17/11/2008.

83 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. EREsp 1066063/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, 1ª Seção,

julgado em 23/09/2009, DJe 22/10/2009.

84 Cf. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1238260/PB, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, 2ª

Turma, julgado em 26/04/2011, DJe 05/05/2011; e REsp 1182973/PR, Rel. Ministro Castro Meira, 2ª Turma, julgado em 14/12/2010, DJe 10/02/2011.

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ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESCRIÇÃO. DECRETO 20.910/1932. ADVENTO DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PARA TRÊS ANOS.

1. O legislador estatuiu a prescrição qüinqüenal em benefício do Fisco e, com manifesto objetivo de favorecer ainda mais os entes públicos, estipulou que, no caso de eventual existência de prazo prescricional menor a incidir em situações específicas, o de cinco anos seria afastado nesse particular. Inteligência do art. 10 do Decreto 20.910/1932.

2. O prazo prescricional de três anos relativo à pretensão de reparação civil - art. 206, § 3º, V, do Código Civil de 2002 - prevalece sobre o qüinqüênio previsto no art. 1º do Decreto 20.910/32. Precedentes do STJ.

3. Recurso Especial provido85.

Apesar de tais precedentes, a evolução da jurisprudência do STJ não manteve a adoção do prazo trienal, optando pela aplicação do Decreto n° 20.910/32 às ações indenizatórias contra o Poder Público:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL.

1. É de cinco anos o prazo para a pretensão de reparação civil do Estado.

2. Precedente da Primeira Seção (AgRgREsp nº 1.149.621/PR, Relator Ministro Benedito Gonçalves, in DJe 18/5/2010).

3. Embargos de divergência rejeitados86.

Sem sombra de dúvida, o ponto alto da discussão do tema no Superior Tribunal de Justiça veio com o julgamento, na sessão de 12/12/2012, do Recurso Especial n° 1.251.993/PR, afetado à 1ª Seção como representativo da controvérsia e submetido à sistemática do art. 543-C do CPC e da Resolução do STJ n° 08/2008 (recursos especiais repetitivos).

A partir deste julgamento, o STJ consolidou o entendimento de que se aplica o prazo quinquenal, previsto no Decreto n° 20.910/32, às ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública, em detrimento do prazo trienal contido no Código Civil de 2002.

O principal argumento levantado pelo Tribunal da Cidadania centrou-se na natureza especial do Decreto n° 20.910/32, mormente quando comparado à regra geral presente no CC/02. Por sua relevância para o enfrentamento jurisprudencial do tema, segue a ementa da decisão:

85 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1217933/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, 2ª Turma, julgado

em 22/03/2011, DJe 25/04/2011.

86 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. EREsp 1081885/RR, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, 1ª Seção,

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ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ARTIGO 543-C DO CPC). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL (ART. 1º DO DECRETO 20.910/32) X PRAZO TRIENAL (ART. 206, § 3º, V, DO CC). PREVALÊNCIA DA LEI ESPECIAL. ORIENTAÇÃO PACIFICADA NO ÂMBITO DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

1. A controvérsia do presente recurso especial, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC e da Res. STJ n 8/2008, está limitada ao prazo prescricional em ação indenizatória ajuizada contra a Fazenda Pública, em face da aparente antinomia do prazo trienal (art. 206, § 3º, V, do Código Civil) e o prazo quinquenal (art. 1º do Decreto 20.910/32).

2. O tema analisado no presente caso não estava pacificado, visto que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública era defendido de maneira antagônica nos âmbitos doutrinário e jurisprudencial. Efetivamente, as Turmas de Direito Público desta Corte Superior divergiam sobre o tema, pois existem julgados de ambos os órgãos julgadores no sentido da aplicação do prazo prescricional trienal previsto no Código Civil de 2002 nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública. Nesse sentido, o seguintes precedentes: REsp 1.238.260/PB, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 5.5.2011; REsp 1.217.933/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 25.4.2011; REsp 1.182.973/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 10.2.2011; REsp 1.066.063/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe de 17.11.2008; EREspsim 1.066.063/RS, 1ª Seção, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 22/10/2009). A tese do prazo prescricional trienal também é defendida no âmbito doutrinário, dentre outros renomados doutrinadores: José dos Santos Carvalho Filho ("Manual de Direito Administrativo", 24ª Ed., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2011, págs. 529/530) e Leonardo José Carneiro da Cunha ("A Fazenda Pública em Juízo", 8ª ed, São Paulo: Dialética, 2010, págs. 88/90). 3. Entretanto, não obstante os judiciosos entendimentos apontados, o atual e consolidado entendimento deste Tribunal Superior sobre o tema é no sentido da aplicação do prazo prescricional quinquenal - previsto do Decreto 20.910/32 - nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública, em detrimento do prazo trienal contido do Código Civil de 2002. 4. O principal fundamento que autoriza tal afirmação decorre da natureza especial do Decreto 20.910/32, que regula a prescrição, seja qual for a sua natureza, das pretensões formuladas contra a Fazenda Pública, ao contrário da disposição prevista no Código Civil, norma geral que regula o tema de maneira genérica, a qual não altera o caráter especial da legislação, muito menos é capaz de determinar a sua revogação. Sobre o tema: Rui Stoco ("Tratado de Responsabilidade Civil". Editora Revista dos Tribunais, 7ª Ed. - São Paulo, 2007; págs. 207/208) e Lucas Rocha Furtado ("Curso de Direito Administrativo". Editora Fórum, 2ª Ed. - Belo Horizonte, 2010; pág. 1042). 5. A previsão contida no art. 10 do Decreto 20.910/32, por si só, não autoriza a afirmação de que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública foi reduzido pelo Código Civil de 2002, a qual deve ser interpretada pelos critérios histórico e hermenêutico. Nesse sentido: Marçal Justen Filho ("Curso de Direito Administrativo". Editora Saraiva, 5ª Ed. - São Paulo, 2010; págs. 1.296/1.299). 6. Sobre o tema, os recentes julgados desta Corte Superior: AgRg no AREsp 69.696/SE, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 21.8.2012; AgRg nos EREsp 1.200.764/AC, 1ª Seção, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 6.6.2012; AgRg no REsp 1.195.013/AP, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 23.5.2012; REsp 1.236.599/RR, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 21.5.2012; AgRg no AREsp 131.894/GO, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 26.4.2012; AgRg no AREsp 34.053/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 21.5.2012; AgRg no AREsp 36.517/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 23.2.2012; EREsp 1.081.885/RR, 1ª Seção, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 1º.2.2011. 7. No caso concreto, a Corte a quo, ao julgar recurso contra sentença que reconheceu prazo trienal em ação indenizatória ajuizada por particular em face do Município, corretamente reformou a sentença para aplicar a prescrição quinquenal prevista no Decreto 20.910/32, em manifesta sintonia com o entendimento desta Corte Superior sobre o tema. 8.

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Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/200887.

Os fundamentos deste julgado permanecem vivos na jurisprudência do STJ, de modo que decisões posteriores do tribunal apenas reafirmaram o posicionamento da Corte quanto ao tema. Neste sentido são os termos, por exemplo, do AgRg no AREsp 655528/BA, julgado em 20/08/2015; do AgRg no AREsp 595.591/MG, decidido em 11/11/2014; e do REsp 1331703/RS, apreciado em 12/11/201388.

Na mesma direção, a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) também sustenta o entendimento de que o prazo prescricional a ser aplicado em ações indenizatórias contra a Fazenda Pública é quinquenal. A tese foi reafirmada no processo n° 2009.51.52.000620-4, julgado em 09/04/2014, de relatoria da juíza federal Ana Beatriz Vieira da Luz Palumbo89.

87 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1251993/PR, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, 1ª Seção,

julgado em 12/12/2012, DJe 19/12/2012.

88 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no AREsp 655.528/BA, Rel. Ministra Regina Helena Costa, 1ª

Turma, julgado em 20/08/2015, DJe 31/08/2015; AgRg no AREsp 595.591/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, 2ª Turma, julgado em 11/11/2014, DJe 21/11/2014; e REsp 1331703/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, 2ª Turma, julgado em 12/11/2013, DJe 20/11/2013.

89 BRASIL. CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Prazo prescricional em ações contra a Fazenda Pública é sempre de cinco anos. Disponível em: < http://www.cjf.jus.br/noticias-do-cjf/2014/abril/prazo-prescricional-

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