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VIVÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS SOBRE VIOLÊNCIA NA ESCOLA

ANEXO E – Quadro de Análise

VIVÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS SOBRE VIOLÊNCIA NA ESCOLA

SIRLEI MARIA KRINDGES WAGNER Data de nasc.: 02/02/1968 Tempo magistério: 16 anos Formação e ano: Pedagogia Ed. Infantil (1993), Especialização em Informática Educacional (2000)

O que eu conheço é o que a gente vivencia nos cursos. A escola que protege que a gente já conhecia, e outros cursos que envolvem essa temática. Eu trabalho somente na escola rural, mas eu tenho colegas que trabalham em outras escolas que me dizem que a minha escola é um paraíso, em relação à violência. A gente ainda consegue controlar, amenizar as situações de violência e visitar as famílias, chamar os pais. Fiz magistério e graduação em pedagogia. Na graduação tive certos trabalhos voltados para isso. Mas eu acho que a realidade é bem diferente, quando a gente vai trabalhar com os alunos e com as suas realidades. Eu acho que teria que ter uma disciplina que tratasse com esse assunto em específico. Eu tenho um exemplo, de uma conhecida que se formou em pedagogia e que hoje revela que se deparou com a realidade da escola e desistiu de ser professora, argumentando que não irá agüentar ser professora. Essa conhecida diz

Eu costumo questionar bastante a família, faço visitas nas casas.. Teve o caso das irmãs que eu já relatei, a avó dela não estava comparecendo na escola, então eu resolvi ir na casa delas. Antes disso eu falei paras as meninas que eu ia na casa delas e elas desacreditaram, disseram que eu era mentirosa. Na saída da aula, elas embarcaram no ônibus, e eu fui de carro. Quando elas chegaram em casa eu já estava a espera delas, a avó até mexeu com elas dizendo que a professora não era mentirosa. Elas ficaram super envergonhadas, mas ao mesmo tempo ficaram felizes, me mostraram o quarto delas. Uma realidade muito triste, pois são 5 crianças, mais os avós, totalizando umas 7 pessoas. Agora elas já sabem que devem se comportar devido essa proximidade que eu demonstrei indo até a casa delas. Elas até falam que: Né profê que se agente não se comportar tu vai lá falar com a vó? E desde a minha visita na casa elas brigam menos em sala de aula.

O que a gente procura trabalhar na escola

PROFISSIONAL:

A violência que eu percebo bastante é na família, pai que bate no filho, as crianças comentam isso na sala de aula. E isso reflete neles, os pais batem nos filhos e conseqüentemente eles batem nos colegas. Eles são crianças bem carentes, abandonadas pelos pais, temos crianças que moram com os avós. Eu tenho duas alunas, uma de 4 e outra de 5 anos que foram abandonadas ainda quando mamavam no peito. De vez em quando uma delas me chama de mãe. O abandono é uma violência com a criança. O que eu posso fazer enquanto professora é dar carinho e atenção

Além da violência física, a emocional pelo fato de abandonar os filhos é a que mais afeta os meus alunos. Temos dois ou três pais que se drogam, temos pais separados. Por exemplo, eu tinha um aluno que o pai era usuário de droga e a mãe o tirou da escola, porque eu comecei a questionar o porque dele ser tão violento? Eu perguntava para ele: Por que tu bate tanto nos colegas? E ele

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que faz qualquer coisa, menos ser professora. Hoje, ela trabalha em uma papelaria, porque não quer ser professora. Eu acho que deveria ter uma disciplina específica pra trabalhar com a realidade. Não é só na periferia que a gente encontra situações de violência, na particular também.

é bastante a questão dos valores. Porque se nós formos falar de paz, a criança não entende muito bem o que é. Então nós temos uma proposta anual. Esse ano o tema é o meio ambiente. Toda a terça feira os professores reúnem as crianças no salão e nós lançamos o desafio para trabalhar durante a semana. Por exemplo, amizade, o amor e o carinho. Eu na pré- escola, tenho trabalhado a questão de respeitar o outro, e aceitação do colega como ele é. Tento mostrar que ninguém é igual e que é preciso respeitar, porque nós temos que conviver todo o ano juntos. Essa é uma forma de conviver de forma harmônica. Na medida do possível, a gente busca envolver as famílias nisso, fazer um trabalho para os alunos levarem para casa, onde os pais trabalhem com os filhos para nós verificarmos se existe uma boa relação entre pais e filhos.

respondia? Ah professora! Porque meu pai e minha mãe me batem o tempo inteiro em casa. Um dia eu chamei a mãe na escola e a questionei sobre isso, e ela disse que não batia no filho. Então, cheguei a conclusão de que tinha alguém errado, o aluno ou mãe, um dos dois estava mentindo. Ele me contava que o pai batia na mãe. Outra colega professora que mora na mesma localidade afirmou que a mãe apanha diariamente do pai. Talvez, ela tenha tirado o filho da escola por medo de uma interferência da escola junto à família. O meu aluno conversava muito, e ele me contava várias vezes que tentava interferir quando o seu pai batia na mãe, mas o pai dizia: “Não te mete”. Os pais vieram diversas vezes na escola para ajudar a controlar o menino, pois eles sabiam o filho que tinham. O aluno brigava até com os colegas maiores, batia, empurrava, cuspia água nos outros.

Eles correm muito, extrapolam as suas energias e acabam empurrando uns aos outros. Mas, o que eu acho mais grave é a questão da família, o que traz mais trauma para a criança.

Eu fiz uma coisa uma vez. Eu fiz porque estava cansada. Foi logo no início que eu comecei a trabalhar como professora. Eu tinha um menino especial. Ele era muito violento. Nós tínhamos cadeirinhas de madeira na sala e ele atirava nos outros. Eu tinha medo que ele matasse alguém. Eu falava com ele

149 e ele me cuspia sempre no rosto. Um dia eu peguei uma fita e fechei a boca dele. E uma professora entrou na minha sala e peguntou: O que houve Sirlei? E eu respondi: Eu colei a boca dele porque ele não pára de me cuspir. Ela pediu para eu tirar e ainda me perguntou se eu queria ser processada pelo fato de ter colado a boca do aluno. E eu perguntei por que? Ela disse que isso era uma violência contra a criança? E eu insisti que ele me cuspia no rosto. Aí eu tirei. Fiz aquilo sem pensar em conseqüência nenhuma, e as crianças da turma me apoiaram. A professora disse para mim que eu não podia fazer aquilo, mas eu estava somente tentando dar um jeito nele. E a partir disso a gente foi procurar ajuda da família, do conselho tutelar, e chegamos até a visitar a família. Logo depois ele foi para uma escola. O pai dele dizia para mim que com ele era só com o relho, com eu não pegava o relho ele me desobedecia. Essa é a única coisa que eu me lembro de ter feito com uma criança. Mas eu não me dei por conta, porque ele me cuspia muito, e isso foi me cansando, até que eu colei a boca dele com uma fita larga. Mas, isso que aconteceu foi algo que serviu para a gente procurar ajuda para o menino. Eu já não sabia mais o que fazer com ele, as crianças me deram apoio e eu fiz aquilo com ele, foi sem pensar em conseqüência nenhuma.

PESSOAL:

O que eu consigo me lembrar é que – eu sou de origem alemã- então, a gente

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falava alemão, e era proibido. Então, eu lembro que tinha uma pedra que quem falasse o alemão tinha que carregar na mochila e levar para a casa. Eu lembro disso. Isso eu nunca esqueci. Eu estava nos primeiros anos, e isso me chocou bastante, porque era um castigo. E hoje, com as coisas mudaram, naquele tempo a gente não podia falar o alemão, hoje em dia, tem aula de alemão na escola. E antigamente era uma vergonha, ao invés de valorizar essa língua.

MARIA GORETTI ROCHA